29.1.11

A situação das mulheres no século XIX

Depoimentos e Reportagens de Época

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Esposa: John! Onde está o resto de nosso salário?
Como eu vou pagar o aluguel e comprar comida para as crianças?
Marido: Cale a boca! O que eu faço com meu dinheiro não é problema seu.

Charge publicada no jornal "The Vote", da Womens Freedom League, Fevereiro de 1911

"Em 1857 a lei do divórcio foi aprovada e, como é bem conhecido, definiu legalmente diferentes parâmetros morais para homens e mulheres. De acordo com essa lei, um homem poderia obter a dissolução de seu casamento se ele pudesse provar um ato de infidelidade de sua esposa; porém uma mulher não poderia desfazer seu casamento a não ser que pudesse provar que seu marido fosse culpado não apenas de infidelidade, mas também de crueldade".
(Millicent Garrett Fawcett, em seu livro "O voto das mulheres", publicado em 1911)


"Era um período estranho, insatisfatório, cheio de aspirações ingratas. Eu a muito sonhava em ser útil para o mundo, mas como éramos garotas com pouco dinheiro e nascidas em uma posição social específica, não se pensava como necessário que fizemos alguma coisa diferente de nos entretermos até que o momento e a oportunidade de casamento surgisse. melhor qualquer casamento do que nenhum, uma velha e tola tia costumava dizer.

A mulher das classes superiores tinham que entender cedo que a única porta aberta para uma vida que fosse, ao mesmo tempo, fácil e respeitável era aquela do casamento. Logo, ela dependia de sua boa aparência, nos conformes do gosto masculino daqueles dias, de seu charme e das artes de sua penteadeira".
(Charlotte Despard, memórias não publicadas, registro de 1850)

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O filme "A Época da Inocência", do diretor Martin Scorsese, baseado em obra da escritora Edith Wharton, nos mostra o cotidiano das mulheres norte-americanas no século XIX. Nele podemos ver que as mulheres tinham que se preparar para um bom casamento e para o exercício da maternidade, como no caso de May (Wynona Ryder). Por outro lado, mulheres de comportamento considerado liberal, como Madame Olenska (Michelle Pfeiffer) eram desconsideradas socialmente.

"Permanecer solteira era considerado uma desgraça e aos trinta anos uma mulher que não fosse casada era chamada de velha solteirona. Depois que seus pais morriam, o que elas podiam fazer, para onde poderiam ir? Se tivessem um irmão, poderiam viver em sua casa, como hóspedes permanentes e indesejados. Algumas tinham que se manter e, então, as dificuldades apareciam. A única ocupação paga aberta a essas senhoras era a de governantas, em condições desprezadas e com salários miseráveis. Nenhuma das profissões eram abertas as mulheres; não havia mulheres nos gabinetes governamentais; nem mesmo trabalho de secretaria era feito por elas. Até mesmo a enfermagem era desorganizada e desrespeitada até que Florence Nightingale a tornasse uma profissão ao fundar a Nightingale School of Nursing (Escola Nightingale de Enfermagem) em 1860".
(Louisa Garrett Anderson, depoimento escrito de 1860)

"...os pais acreditavam que uma educação séria para suas filhas era algo supérfluo: modos, música e um pouco de francês seria o suficiente para elas. Aprender aritmética não ajudará minha filha a encontrar um marido, esse era um pensamento comum. Uma governanta em casa, por um breve período, era o destino habitual das meninas. Seus irmãos deviam ir para escolas públicas e universidades, mas a casa era considerada o lugar certo para suas irmãs. Alguns pais mandavam suas filhas para escolas, mas boas escolas para garotas não existiam. Os professores não tinham boa formação e não eram bem educados. Nenhum exame público (para escolas) aceitava candidatas mulheres".
(Louisa Garrett Anderson, depoimento escrito de 1839)


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A Educação das mulheres se restringia a atividades que fossem úteis no ambiente doméstico, desprovidas de valor no mercado de trabalho da época, como costurar, aprender música ou desenvolver habilidades artísticas.

"Nós eramos ensinadas a ser jovens senhoras católicas na mesma linha da educação dada a nossas avós. Não havia lições orais, não existiam demonstrações, análises ou resolução de problemas. Nós nos sentávamos e ficávamos silenciosas em nossas fileiras de carteiras, aprendíamos dos livros e nossas tarefas eram corrigidas por uma freira, que era a professora naquele momento, a partir das respostas na parte final de um livro similar ao nosso... Nós tínhamos longos períodos de instrução religiosa... Sexta feira a tarde era devotada exclusivamente a comportamento. Os Modos fazem uma dama nos era dito, não o dinheiro ou o ensino, não a beleza. Então praticávamos como abrir uma porta, entrar e sair de um cômodo; a trazer uma carta, uma mensagem, uma bandeja ou um presente; a pedir permissão às mães de nossas amigas para que elas pudessem participar de uma festa; a receber visitas na ausência de nossos pais, e assim por diante!"
(Teresa Billington, em autobiografia não publicada, 1884)

"A presença de jovens mulheres no local de operações é ultrajante para nossos instintos naturais e calculadamente vai destruir nosso respeito e admiração pelo sexo oposto".
(Documento emitido pelos médicos do Hospital Middlesex, em 1863, a respeito da admissão de médicas)

"Um argumento comum contra a prática da medicina pelas mulheres é que não há demanda para isso; Que as mulheres, como regra, têm pouca confiança em pessoas de seu próprio sexo e que preferem ser atendidas por homens... Isso é provavelmente um fato, até recentemente não tem existido demanda por médicas, pois não ocorre para a maioria das pessoas querer algo que não existe; mas que muitas mulheres desejam ser atendidas por pessoas de seu próprio sexo, eu tenho certeza, e sei de mais de um caso em que senhoras passaram por dificuldades, sem atendimento apropriado, por acharem repugnante a idéia de serem atendidas por homens.
Eu tenho, repetidas vezes, encontrado até mesmo médicos, não favoráveis ao presente movimento, concordar que consideram que os homens ficam deslocados ao tratar de mulheres; e um eminente médico americano uma vez me disse que ele nunca entrava no quarto de uma senhora para atendê-la em particular sem se desculpar pela "invasão" (de privacidade).
Na Inglaterra, no momento presente, há somente uma mulher legalmente qualificada para exercer a medicina, e eu entendo que o tempo dela é muito mais que totalmente ocupado, e seus ganhos muito maiores, do que é o caso de muitos médicos que começaram a atuar a pouco tempo".
(Shophia Jex-Blake, no livro "Medicina como uma profissão para mulheres", em 1869)

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Dentista: Segure-se eu vou chamar mais ajuda.

Charge que procura ridicularizar a atuação profissional das mulheres no século XX, na Inglaterra. Publicada pelo Punch Magazine em 1907.

"A idéia de mulheres exercendo a medicina na Grã-Bretanha era angustiante para a rainha Vitória. Então, em 1881, o médico particular da rainha anunciou que o apoio real a um congresso internacional de medicina a ser realizado em Londres seria retirado se médicas fossem admitidas, então as mulheres foram impedidas de participar".
(Louise Garrett Anderson, depoimento escrito, 1881)

"Eu tenho escutado freqüentemente comentários sarcásticos quanto às mulheres que trabalham em fábricas do tipo oh, ela é apenas uma operária; o que dá ao mundo a impressão que nós não temos o direito de sonhar com uma outra realidade a não ser a nossa. Eu lamento que ainda não estejamos atentas aos fatos e que percebamos que contribuímos muito para aumentar a riqueza da nação e, que em função disso, temos direito a respeito e não insultos. Pois em muitas casas de Lancashire há heroínas cujos nomes nunca serão conhecidos; ainda assim, é consolador saber que nós, como classe, contribuímos para o mundo".
(Selina Cooper, em artigo intitulado "The Lancashire Factory Girl", 1898)

Obs.: Os depoimentos acima foram traduzidos do site educacional Spartacus, especificamente no link http://www.spartacus.schoolnet.co.uk/women.htm

Fonte:http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=203