22.5.11

A HISTÓRIA DA CIÊNCIA DO CONHECIMENTO




Durante a história do pensamento humano vemos que este encarou o conhecimento de maneiras diversas. Podemos começar, para compreender bem esta história, pela Grécia Antiga.

O primeiro encontro que vamos ter será com Parmênides de Eléia, no final do século VI, início do século V a. C. Ele afirmava que há dois caminhos que o espírito humano pode percorrer: o da "episteme" (verdade) e o da "doxa" (opinião).

Este pensador grego afirmava que o que vemos aí, no mundo, na sua multiplicidade e movimento é mera "doxa", pois o verdadeiro deverá ser uno e imóvel, além de imutável. Se for múltiplo não será verdadeiro porque é cópia e se for móvel (mutável) também não o será porque já não é mais o que era. Portanto a ciência dos objetos deste mundo não nos revela a verdade, somente a contemplação o fará.

Contemporâneo a Parmênides encontramos Heráclito de Éfeso, que afirmou que o verdadeiro só é aquilo que se move (ao contrário de Parmênides), pois faz parte da essência da natureza o movimento. É dele a famosa frase: "Ninguém pode banhar-se duas vezes no mesmo rio." Para este pensador o "logos" (sentido) do mundo é a unidade nas mudanças e nas tensões entre os opostos (quente e frio, dia e noite, paz e guerra, etc.).

Embora o leitor possa achar que Heráclito está muito mais próximo do pensamento contemporâneo, na sua época ele não teve muito sucesso. Parece que Parmênides convenceu melhor os gregos.

Mais tarde (séc. IV a. C.) surgiu Platão, que afirmava que o mundo conhecido por nós não é a verdade: o múltiplo e o móvel são mera representação do verdadeiro, que se encontra num mundo à parte, o "Mundo das Idéias". Portanto, para se conhecer a essência das coisas não se deve ir ao encontro da natureza, mas, pela reflexão filosófica, procurar penetrar no Mundo das Idéias.

Discípulo de Platão, Aristóteles introduziu uma concepção que perdura até hoje: a de que a essência de cada coisa está na própria coisa. Como defendia essa concepção, Aristóteles foi um dos primeiros a fazer pesquisas científicas, buscando conhecer a coisa na própria coisa.

Parecia que Aristóteles tinha descoberto o verdadeiro sentido do conhecimento, até que, na Idade Moderna, René Descartes (1596-1650) pôs em dúvida o pensamento de Aristóteles, pois começou a questionar até que ponto conhecíamos "mesmo" a verdade da realidade. Os homens se baseavam muito em opiniões, mas estavam longe de ter certezas. Descartes procurava, então, evidências: "idéias claras e distintas". Daí sua famosa frase que expressa a primeira evidência a que podemos chegar: "Penso, logo existo."

A partir desta época surgem as ciências empíricas, e foi o advento do movimento filosófico chamado Empirismo. De acordo com esta escola só é verdadeiro aquilo que é demonstrável pela experiência, ou seja, pelos sentidos.

A princípio tudo indicava que os empiristas tinham plena razão, e a física de Newton vinha comprovar isso. Só que tal posição conduzia inevitavelmente a um ceticismo, no qual caiu David Hume (1711-1776). Hume não aceitava nem sequer a compreensão das relações entre os fatos, pois tais relações não podem se demonstradas diretamente.

Para esclarecer este ceticismo podemos citar o exemplo usado por Hume na sua argumentação: se temos uma vela acesa e pomos o dedo nessa chama, o nosso dedo ficará queimado. No e3ntanto não podemos afirmar que a chama queimou o dedo. Apenas sabemos que num primeiro momento havia a chama e o dedo são e num segundo momento a chama e o dedo lesionado, pois a relação de causa e efeito não é mais que uma abstração que se faz e, portanto, não é cientificamente verdadeira.

As ciências estavam, assim, derrotadas. Não era possível o conhecimento dos fatos com suas relações.

No século VIII surge Immanuel Kant que vem afirmar que o conhecimento humano é relativo ao próprio homem.

Ao conhecer algo não é o homem, ou melhor a mente humana que vai se adequar ao objeto, mas o objeto que se adapta à mente humana. Na verdade conhecemos, não as coisas em si, mas a imagem que produzimos das mesmas e a esta imagem nossa mente aplica uma série de categorias (espaço, tempo, número, causalidade, etc.) que são "a priori", ou seja, que estão na mente antes mesmo de havermos conhecido algo. Deste modo, portanto, é possível conhecer os fatos e suas relações.

Mesmo com a conclusão brilhante de Kant, o fantasma do empirismo permanecia, e surgiu, então na virada do século (XIX-XX) a escola chamada Positivismo, tendo como seu principal representante Augusto Comte. Esta corrente, que até hoje exerce grande influência no meio científico, afirma que só se pode ter como verdadeiro aquilo que aparece aos nossos sentidos e que pode ser mensurado.

Mesmo antes do nascimento do Positivismo, que anula a Filosofia e transforma as ciências em mera descrição dos fatos, tivemos na história o pensamento de G. W. F. Hegel, que demonstrou que o conhecimento só é real quando abarca a totalidade que, ao contrario do que dizia o empirismo, quanto mais objetivo o conhecimento, mais abstrato ele é, pois se quero conhecer um objeto, deixando de lado todas as implicações que este objeto sofre ou exerce, estou tirando-o do mundo, portanto fazendo uma abstração. Assim, por exemplo, um conhecimento concreto de um lápis não implica só em conhecer a quí8mica do lápis, mas tudo que diz respeito ao mesmo: sua função, seu simbolismo em nossa cultura, , o lenhador que cortou a árvore, a mina de onde fora extraído o grafite, o mineiro, a fábrica e assim por diante. Portanto o conhecimento é sempre uma tarefa inconclusa (movimento dialético).

Seguindo um pouco a linha do pensamento hegeliano surgiu na Filosofia, também na passagem do século XIX para o XX, a Fenomenologia, que propõe a análise dos fenômenos a ponto de procurar descobrir a sua essência. Busca assim, não apenas descrever como o objeto é, mas o que realmente ele é.

Hoje em dia estamos aí, entre positivistas, fenomenólogos e dialéticos (e agora também pós-modernos...).

Já se sabe que a ciência não consegue ser puramente descritiva, pois de jeito nenhum é neutra, como queriam os positivistas. O posicionamento do cientista, se não influencia diretamente nos resultados, influi na maneira de procurá-los.

Afinal, de que nos serve um conhecimento que propicia apenas a descrição da coisa, sem nos apontar para o sentido da própria coisa? Por isso Filosofia e Ciência precisam dar-se as mãos para chegar-se a um conhecimento mais satisfatório do homem e do mundo da natureza.

Sérgio Roberto Kieling Franco (1986)

Fonte:http://www.pgie.ufrgs.br/alunos_espie/espie/franco/public_html/textos/histconh.htm