21.9.09

Collor imortal

Sem nenhum livro publicado, Collor é o novo membro da Academia Alagoana de Letras. Em 1926, igualmente sem experiência, Graciliano Ramos assumia a prefeitura de uma cidada do estado.


A ausência de concorrentes deve ter facilitado a disputa. Sem livros publicados, o ex-presidente Fernando Collor de Mello conseguiu recentemente assumir uma cadeira na Academia Alagoana de Letras (AAL), que já contou com membros como o lexicógrafo Aurélio Buarque de Holanda.

Único candidato ao posto, o atual senador apresentou artigos, textos publicados em jornais e discursos para a análise dos imortais. No passado, Alagoas viveu uma situação inversa. Em 1926, igualmente sem experiência, um autẽntico escritor chegava a um cargo público. Era o início da gestão de Graciliano Ramos na cidade de Palmeira do Índios.

"O dinheiro do povo poderia ser mais útil se estivesse nas mãos, ou nos bolsos, de outro menos incompetente do que eu; em todo o caso, transformando-o em pedra, cal, cimento, etc., sempre procedo melhor que se o distribuísse com os meus parentes, que necessitam, coitados", assumia Graciliano em seus relatórios, onde exercitava seu talento literário antes mesmo da publicação de seu primeiro romance. A prefeitura de Graciliano foi o tema do
'Manual do bom político', publicado na Revista de História no ano passado.

Apesar de considerar despreparado, a prefeitura de Graciliano se destacou pela ética. Tanto que não lhe "davam três meses para levar um tiro". A reportagem continua: - Esse tipo de ameaça é bom levar a sério. Quem se lembra do Joãozinho Malta, irmão da ex-primeira-dama Rosane Collor? Aos 15 anos matou o genro do prefeito de Mata Grande, aos 18 deu um tiro no prefeito de Canapi. Isso nos anos 1980. Nos 20, o faroeste já reinava em Alagoas.

A própria chegada de Graciliano ao poder foi marcada por balas. Após o assassinato do prefeito de Palmeira dos Índios, Graciliano Ramos foi sugerido como sucessor pelos poderosos locais. A princípio, o escritor não vê com bons olhos a proposta, mas acaba aceitando e nem precisou fazer campanha. “Assassinaram o meu antecessor. Escolheram-me por acaso. Fui eleito naquele velho sistema das atas falsas, os defuntos votando”, disse o autor de Vidas Secas.

Além da coletânea de textos, Collor apresentou à Academia Alagoana a promessa do livro 'A crônica de um golpe'. Como o nome sugere, a obra se propõe a versão de Collor sobre o impeachment de 1992 e está em fase de produção. Presidente da AAL, bispo Dom Fernando Iório destacou o "enorme dom da síntese" do senador e afirmou que sua indicação transcorreu democraticamente: foram 22 votos a favor, oito em branco e nenhum contrário. A posse de Collor ocorerrá no mês de outubro em sessão solene sem data definida.

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