A guerra de Tróia foi um episódio sangrento da antigüidade, que teve lugar muito provavelmente entre 1300 a.e.c. e 1200 a.e.c, que culminou com a destruição da cidade de Tróia e facilitou o fim da Idade do Bronze no Mediterrâneo. A causa daquele conflito de mais dez anos, Segundo a mitologia foi o rapto de Helena esposa de Menelau, rei de Esparta por Páris, príncipe de Tróia. A cidade de Tróia acabou por ser tomada após um longo cerco através do uso do Cavalo de Tróia. O Mais provável é que a Guerra de Tróia tenha ocorrido devido à concorrencia comercial que esta impunha aos Aqueus Micênicos, que destruiram e saquearam a então riquíssima cidade de Tróia.
Os gregos antigos acreditavam que a guerra de Tróia era um fato histórico, ocorrido no período micênico, mas durante séculos os estudiosos tiveram dúvidas se ela de fato ocorreu. Até a descoberta do sítio arqueológico na Turquia acreditava-se que Tróia era uma cidade mitológica.
A Ilíada, de Homero, descreve os acontecimentos finais da guerra, que incluem as mortes de Pátroclo, Heitor e Ajax que se matou com a espada que Heitor lhe deu. A obra Odisséia é a continuação da Ilíada, que conta a volta de Odisseu a Ítaca, onde passou mais dez anos até chegar a seu destino.
Henrique Schliemann (1822- 1890 d.e.c.)
Henrique Schliemann (1822-1890) era um alemão de origem humilde, natural de Mecklenburg. Depois de uma carreira acidentada de viajante e negociante em que conseguiu enorme fortuna, consagrou se a Antiguidade Grega corn a idéia fixa de reencontrar os vestígios de Tróia e, na peninsula helênica, os rastros dos principes homéricos. "A grande ilusão de sua infância nunca o abandonou. Continuava decidido a fazer escavaçôes em Tróia e estava convencido de que ali encontraria a cidade de Homero. Com este propósito decorou os grandes poemas épicos que ele lia como se tratasse de História e não de poesia". Um dos traços característicos da personalidade de Schliemann era sua espantosa capacidade para aprender novos idiomas. Já aos trinta e três anos dominava quinze idiomas.
Em 1868 Schliemann pisou, pela primeira vez, o solo homérico na ilha de Itaca, onde, segundo suas próprias palavras, dedicou-se "a estudar os arredores lendo, de quando em vez, na Odisséia, as emocionantes cenas ali narradas.. ."
De Itaca Schliemann partiu para o Peloponeso, fez uma breve visita a Micenas, atravessou osDardanelos e percorreu a cavalo a planície de Tróia. O general inspecionava o futuro campo de batalha.
As Escavações de Schliemann
De 1871 a 1873 Schliemann ia, de certo modo, realizar seu velho sonho: ressuscitar a Tróia de Homero. Note-se que O Mecklen burguense não foi o prirneiro a tentar localizar a Tróia homérica. Desde o século XVIII os habitantes da região em que se situa a famosa planície (na Turquia) estavam acostumados a verem sábios europeus submergindo termômetros em fontes ali existentes a procura dos mananciais de água térmica e de água fria a que aludem os versos da Illada no Livro XXII.
As opiniões dos entendidos sobre a localização da Ilion de Homero variavam: uns indicavam a aldeia de Bunarbaschi situada no extremo meridional da planície, outros preferiam a colina de Hissarlik que se levantava mais próxirna do mar. Quando em 1868 Schliemann visitara o lugar com a Iliada nas mãos, declarara-se pela segunda opinião baseado na descricão da perseguição de Heitor por Aquiles ao redor da muralha de Tróia. A façanha teria sido irrealizável na de Bunarbaschi devido a proximidade da rochosa colina de Bali Dagh situada atrás da aldeia. A tradicão histórica estava a favor de Schliemann. Nas cercanias de Hissarhik existira outrora a cidade helénica (mais tarde romana) de Novum Ilium(Nova Tróia), cujas ruínas podiam ser examinadas.
Alexandre Magno, antes de conquistar o Oriente, visitara o templo da cidade considerada como sucessora daquela cantada por Homero. De setembro a novembro de 1871 estendeu-se a primeira etapa das escavações. "Deve-se levar em conta que, quando Schliemann iniciou esse trabalho monumental, carecia de toda experiência, nem podia orientar-se pela experiência de outros arqueólogos de campo porque nunca se havia tentado nada em semelhante escala. Naquele tempo não existia nenhuma técnica especial de escavação".
A impaciência e inexperiência de Schhiemann impediam-no de examinar importantes restos de épocas mais recentes. A colossal trincheira aberta na colina de Hissarlik ia direto aos níIveis mais baixos. O que impedisse essa marcha era demolido sem maiores cerimônias. Schliemann distinguiu na colina vestIgio de sete "cidades", mas se encontrou em dificuldades para determinar qual teria sido a mencionada na Ilíada. Finalmente decidiu-se pela Tróia n° II (contando de baixo para cima). Schliemann amava o sensacionalismo: "A criança impaciente que existia em Schliemann se sobrepôs sempre ao arqueólogo sensato. Esforçara-se por encontrar o que desejava achar, e, agora, depois de trés anos de laboriosos trabalhos, parecia que sua fé fora justificada. Sem deter-se a comprovar suas deduções nem a consultar as opiniões de outros sábios, anunciou ao mundo que havia descoberto a Porta Escea e o Palácio de Príamo".
Abramos um parêntesis. Na colina de Hissarlick foram identificadas nove camadas de ruínas sobrepostas indicando nove períodos distintos de História.
Nove Cidades
Posteriormente a esses nove períodos foram subdivididos em numerosos subperíodos (contam-se cerca de quarenta e seis camadas de habitaçôes sucessivas). A primeira instalação, ao contrário do que se pensava, não remonta a época neolItica e nem mesmo a idade do cobre; data, mais ou menos, do III milênio a.e.c. O incêndio da Tróia n° I deu-se por volta de 2300 a.e.c. A Tróia n° II poasuía um recinto mais imponente que a anterior e deve ter sido destruída pelo ano 2250, talvez por um terremoto. Essa Tróia nº II não foi evidentemente a famosa cidade de Príamo. Sobre a identificação desta surgiu uma Questão de Tróia. Alguns, entre os quais Dörpfeld, identificaram as ruínas nº VI como sendo a Tróia Homérica. Ao que parece, entretanto, a Tróia nº VI, cercada de possantes fortificaçöes, foi destruída por um terremoto em 1350 a.e.c. Admite-se, hoje, após as escavaçöes de Blegen que a Tróia Homérica corresponderia as ruínas nº VII, situadas entre os anos 1350-1200 a.e.c. Sob essas ruínas encontram-se significativos vestígios de incêndio, o que parece confirmar a tese de que ai, outrora, lutaram gregos e troianos. Esta luta — a guerra de Tróia — teria acontecido no início do século XIII a.e.c.
Micenas
O dia 14 de junho de 1873 constitui um ponto alto nos trabalhos do escavador alemão: a descoberta de riquissimos objetos de ouro nas ruínas da Tróia nº II. A imaginacão de Schliemann viu nas jóias o tesouro de Príamo, abandonado precipitadamente nas derradeiras horas de Tróia. Não cabe aqui narrar os aborrecimentos trazidos ao arqueólogo improvisado pela inesperada descoberta. As artimanhas com que o mesmo conseguiu despistar a "Sublime Porta" seriam dignas do esperto Ulisses.
No ano de 1876 encontramos Schliemann num vale solitário do Peloponeso fazendo uma descoberta cujas conseqüências seriam bem mais importantes que os resultados das escavações de Hissarhik: a revelacão da antiga civilizaçào miceniana. Desde então em todo o mundo civilizado, nas aulas das universidades, nas revistas culturais, nos periódicos mais famosos, outro nome homérico se havia convertido em centro de interesse: Micenas.
Como acontecera com a planície de Tróia, Schliemann tivera, em Micenas, precursores. Lord Elgin, Lorde Sligo e um turco de nome Veli Pasha tinham estado na região sem que obtivessem maiores êxitos. Schhiemann porém cultivava uma fé especial nas tradições clássicas como, de Esquilo e de Pausânias.
Agamenon, tragédia clássica de Ésquilo, inspirada na lenda do retorno de Agamenon, "rei dos homens" e "senhor de Micenas", versa sobre o assassínio do herói por sua esposa Clitemnestra.
Pausânias, no sec. II a.e.c., esteve em Micenas e deixou uma interessante descrição das ruínas, mencionando a Porta dos Leões e os túmulos daqueles que haviarn sido assassinados ao regressarem da guerra de Tróia. Clitemnestra e seu amante Egisto "foram enterrados fora das muralhas porque nâo mereciam ser enterrados dentro, onde jaziaM AgaMenon e os que com ele haviam sido assassinados". Dando uma interpretaçäo particular ao escrito de Pausânias, Schliemann resolveu fazer escavações num local em que ninguém esperava encontrar algo irnportante. Possivelmente foi a decisão de Schliemann de explorar um lugar tão pouco prometedor na aparência que levou o governo grego a permitir o inicio, ali, das escavações. Sabia se que a Sociedade Arqueológica Grega, que assessorava o governo, tinha ciúmes de Schhiemann, temerosa de que lhe roubasse a glória que deveria ser dela.
Os trabalhos do incansável explorador tiveram urn êxito surpreendente: esqueletos de homens, rnulheres e crianças repletos de jóias de ouro; sabres com cabos de ouro ricamente cinzelados, facas, lancas, bolas de âmbar, folhas circulares de ouro, placas do mesmo metal, taças de prata e de ouro, vasos de alabastro, diademas, etc., etc... um tesouro imenso sepulto havia milênios vinha a luz do dia testemunhar a existência de uma civilização muito anterior a época clássica da Grécia. Como no caso do tesouro encontrado em Hissarlik, Schhiemann não atinou que as descobertas de Micenas remontavam a vários séculos antes da época em que teriam vivido Agamenon e seus companheiros. Ao fazer o descobrimento, Schliemann não se deu conta da verdadeira antiguidade desses objetos. Para ele, eram indiscutivelmente homéricos, a justificação triunfante de sua fé. Foi urn momento de emoção suprema que Ihe proporcionou uma indizivel satisfação.
Dörpfeld, jovem professor e arquiteto que se associara a Schhiemann como seu ajudante e que muito influIra para que seu amigo utilizasse métodos mais cientIficos, já notara o erro de Schliemann. Este erro ficou comprovado mais tarde quando descobertas posteriores revelaram grande nümero de antigos centros "micênicos" cuja cerâmica permitiu o estabelecimento de uma escala cronológica por meio do método comparativo.
A Tróia Histórica
A esplendorosa civilização micênica, que, lato sensu, se estendeu do século XVI ao XII a.e.c., e cuja expansão colonizadora já havia atingido o litoral asiático, culminou com a histórica Guerra de Tróia. “Dez anos míticos” de um assédio sangrento teriam posto fim a gloriosa Ilion ou Tróia.Hodiernamente, não se põe mais em dúvida não apenas a existência de Tróia, que deve ter sido uma superposição de cidadelas muito importantes, desde o terceiro milênio ate o século XII a.e.c., mas sobretudo a sua destruição histórica pelos aqueus. O primeiro grande passo para o descobrimento da “Tróia homérica” foi dado por Heinrich Schliemann, que, a partir de 1870, fazendo escavações na colina de Hissarlik, na atual Turquia, a noroeste da Ásia Menor, encontrou várias cidades sobrepostas, nada menos que sete, a que seu extraordinário ajudante, o arqueólogo Wilhelm Dörpfeld, acrescentou mais duas.
Schliemann, a princípio, pensou que a Tróia II fosse a homérica, mas a cultura e a experiência de Dörpfeld fizeram-no incinar-se para a Tróia VI, que possula restos de cerâmica muitíssimo semelhantes a de Micenas e Tirinto. Por este e outros indícios concluí-se que a Tróia VI fora erigida em 1900 a.e.c., por um povo sem dúvida proveniente também do mundo indo-europeu para a Ásia Menor.
Cultivando a cerâmica mínia, esse povo não apenas mantinha um comércio ativo corn os micênicos, mas, o que é mais importante, devia ter um possível parentesco corn os primeiros gregos. Trata-se, segundo todas as probabilidades, dos hititas.
Cercada por magnifica muralha, Tróia VI era uma cidade opulenta, cuja prosperidade se baseava na fertilidade de seu solo, na pecuária e na criação de cavalos. Os troianos são chamados comumente por Homero de “domadores de cavalos”, como atesta o íltimo verso da Illada, em que o maior dos heróis de Tróia recebe este epiteto:
— Assim, eles (os Troianos) fizeram os funerais de Heitor, domador de cavalos. (It., XXIV, 804).
As escavações em Ilion ou Tróia terminararn sob a direcao de W. Blegen e, consoante o grande mestre da Universidade de Cincinnati, Tróia VI foi destruída por um tremor de terra, seguindo Ihe, sem nenhuma solução de continuidade nem de cultura, embora sem a opuléncia da anterior, Tróia VIla com todas as possibilidades de ser a cidade de Príamo, a Tróia homérica, a Tróia histórIca.Alias, alguns outros fatos rigorosamente históricos, relacionados por Page, confirmam a historicidade da Guerra de Tróia. Há registros hititas de uma alianca de cidades da Asia Menor, entre as quais aparece Ition ou Tróia, contra uma coligacão de reinos aqueus, pelo século XIII a.e.c., exatamente no momento do grande poderio de Micenas, e, coincidentemente, da destruicão de Ilion, que deve ter-se processado entre 1230 e 1225 a.e.c., segundo os arqueólogos americanos, com uma diferenca de poucos decênios em relaçao a data tradicional da Guerra de Tróia. Esta, consoante o geógrafo e philologus alexandrino do século III a.e.c., Eratóstenes de Cirene, fora em 1183 a.e.c.
A Iliada funde, pois, o fausto da Tróia VI coa a ruína da Tróia VIIa. Com a VI, que trouxera consigo o cavalo, se dera início a uma civilização diferente da anterior. Tróia VIII, que ainda se sobrepôs a Tróia VIIa, culturalmente nada apresenta de importante e Tróia IX é de data muito tardia.
Causas da Guerra
Discutem-se ainda as causas dessa guerra. Uma vasta operacão de pilhagem ou uma bem planejada operacão de expansão imperialista, para se apossar de vastos dominios territoriais no Mediterrâneo Oriental e assegurar o monopólio aqueu de um grande e rico empório? Na realidade, é grande o número de objetos micênicos encontrados nas margens do Mediterrâneo, o que atesta a sua expansão comercial. Para o agressivo comércio helênico não bastavam, porém, as “praças” conquistadas no Mediterrâneo Oriental. Avançaram também em direcao ao Egito, com o qual mantiverarn excelentes relações comerciais. Descobrimentos arqueológicos mostraram inúmeros objetos egípcios chegados a Grécia nos séculos XIV e XIII a.e.c. e, em contrapartida, desenterram-se no país dos Faraós numerosos vasos micênicos, principalmente em Tell-el-Amarna, a célebre Akhetaton, a efêmera capital do “herético” Akhnaton ou Amenófis IV.
Disputaram com o Egito e os hititas, já em decadência, as praças da Síria e da Fenícia. Penetrando pelo interior, chegararn ate Jerico. Os aqueus, por conseguinte, não se satisfizeram com a ocupacão de Creta, Rodes e Chipre, mas conquistaram estabelecimentos comerciais em toda a costa do Mediterrâneo Oriental, desde Tróada ate o Egito e isto sem falar em sua “expansão ocidental”, que atingiu, comprovadamente, Tarento e Siracusa. Ora, um tal império marítimo haveria, mais cedo ou mais tarde, que chocar-se com interesses de outros povos. E foi exatamente o que aconteceu. Os micênicos, que se haviarn instalado em Mileto e Cólofon e que tinham em Tróia um excelente cliente, para a qual vendiam punhais de bronze, pontas de flecha, mármore, objetos de marfim e sobretudo vasos, acabararn chocando-se com o império hitita e com o reino vassalo de Asuwa. Daí, possívelmente, a supracitada coligação de vinte e duas cidades da Ásia Menor, entre as quais se alinhava Tróia, contra os aqueus. Esta é, em síntese, a tese de Denys Page.
Pierre Lévêque, apoiado em outros autores, julga que seria um método muito estranho o empregado pelos aqueus, para ampliar seu negócio: destruir precisamente uma cidade que com eles mantinha um comércio ativo e regular. Opina o ilustre Professor de Besancon que a Guerra e a conseqüente destruição de Ilion se deveram simplesmente “a uma gigantesca operação de pilhagem. É mister, no entanto, não esquecer que a riquíssima cidadela de Tróia (as escavações o mostrararn), no momento, fazia parte de uma coligacão contra os micênicos. Estes, astutamente, teriam aproveitado a oportunidade para destruir um inimigo e confiscar-Ihe as riquezas.
Referência Bibliográfica:
- BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega Vol I 18ª Edição, Petrópolis-RJ, Ed. Vozes, 2004;
- GIORDANI, Mario Curtis. Historia da Grécia, Petrópolis-RJ, Ed. Vozes, 2000;
- MORKOT Robert, Historical Atlas of Ancient Greece, London, Penguin Group, 1996;
- www.wikipedia.org