5.9.12

Anos 80: Terror trash, filmes B, diversão e sustos


por jeferson scholz

Eis uma modesta ode a nudez gratuita, o humor tosco, a personificação do medo nonsense e os banhos de sangue. Sejam bem-vindos novamente ao terror cinematográfico dos anos 80. Peguem seus mullets e sua nostalgia, e preparem-se para uma viagem por alguns dos mais icônicos filmes de horror, com o melhor do pior que a sétima arte produziu durante a década.



© Pesadelo em Elm Street.

Se Charles Dickens tivesse vivido durante os anos 80, poderia muito bem dedicar ao cinema fantástico da época o memorável início de seu livro Um Conto de Duas Cidades: Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos. Claro que isso não só por causa dos filmes! É provável que a década tenha sido uma das mais bregas, estranhas, divertidas e memoráveis. Mas voltando a eles, poucos gêneros foram tão marcantes quanto o terror. Foram toneladas de obras, e mesmo que não muitas tenham um lugar na memória de fãs e saudosistas de plantão, a magia da época marcou vários títulos, esbanjando violência e a provocação de risos não intencionais.

E o que citar Charles Dickens tem a ver com esse artigo? De certa forma nada, mas ao mesmo tempo tudo. O escritor foi um mestre da literatura no passado. E daí? Falar sobre as produções trashs dos anos 80 sem citar suas inspirações, é quase um crime para qualquer cinéfilo que se preze. Muito antes de Sean S. Cunningham dar vida a Jason Voorhees e sua carnificina e Wes Craven personificar os pesadelos com Freddy Krueger, é preciso fazer jus a nomes e obras que inspiraram muitos filmes B deste período. Longas como A Noiva do Monstro (1955) e Plano 9 do Espaço Sideral (1956) de Ed Wood. E como esquecer 1963, quando Herschell Gordon Lewis presenteou o mundo com Banquete de Sangue e Zé do caixão fez o clássico Á Meia-Noite Levarei sua Alma? Referências básicas para terror e a direção experimental e semiamadora.

Assim sendo, as particularidades que diferenciam a produção do cinema fantástico oitentista do restante que vaga no contínuo espaço e tempo, são numerosas e já vinham de anos. É importante lembrar que na época o rádio e a TV ditavam as regras da cultura POP, baseadas basicamente na música eletrônica, na moda New Wave, no exagero, na inconsequência juvenil e na popularização da nudez gratuita (melhor dos tempos, pior dos tempos lembra?). A guerra fria continuava a assombrar os EUA, e a violência começou a ser temática constante em filmes do mundo todo. Os efeitos especiais, agora considerados no mínimo toscos por culpa da tecnologia digital, ainda estavam engatinhando, e não eram privilégio de todos os diretores.



© Poltergeist.

Naturalmente, nada disso influenciou o fluxo criativo dos cineastas de terror. Pelo menos não negativamente. Enquanto o respeitado Tobe Hooper dirigia sob a tutela de Steven Spielberg uma interessante e assustadora reflexão do sobrenatural com Poltergeist (1982), Dan O’Bannon fazia sua própria versão trash de um ataque zumbi com A Volta dos Mortos-Vivos (1985). John Carpenter trouxe uma arrepiante versão sobre extraterrestres com O Enigma de Outro Mundo (1982) e um dedicado Sam Raimi estreante elevou o lado B a um novo patamar com A Morte do Demônio (1981). Curioso, mas essa relação de via dupla entre o terror sério e o sem noção foi o que tornou o cinema fantástico da década surpreendentemente aclamado.



© A Mosca.

E se por acaso você acha que estes clássicos oitentistas são privilégio apenas da terra do Tio Sam, engana-se. Durante essa década, havia belas obras, como o indigesto Antropophagus (1980) de Joe D’Amato e o surreal Phenomena (1985) de Dario Argento, ambos italianos. O diretor canadense David Cronenberg trouxe ao mundo a inesquecível ficção A Mosca (1986), enquanto o alemão Jörg Buttgereit estreou Nekromantik (1987), uma perturbadora reflexão sobre necrofilia. Lembrando que na época era o auge do estilo violento apelativo Exploitation, a contribuição japonesa para o sub-gênero foi a série Guinea Pig. E é claro, o lado trash não ficou de fora do resto do mundo. Jack Bravman do Canadá fez o icônico Zombie Nightmare (1986) e o neozelandês Peter Jackson produziu a comédia de horror Náusea Total (1987).



© Gremlins.

Deixando o melhor para o final, fique tranquilo caro leitor, os filmes mais memoráveis dos anos 80 não foram esquecidos. Além dos já referenciados Sexta-feira 13 (1980) e A Hora do Pesadelo (1984), é hora de falar das marcas registradas do terror dos anos 80. Para começar, temos Stanley Kubrick com o iluminado (1980) e Colheita Maldita de Fritz Kiersch (1984). Joe Dante e seus Gremlins (1984) que não é bem um terror, mas ainda uma grande obra B e James Cameron com Alien (1986). Não tão conhecidos, mas igualmente trashs e divertidos, figura na lista Chopping Mall de Jim Wynoski (1986), A Bolha de Chuck Russel e Palhaços Assassinos do Espaço Sideral de Stephen Chiodo e seus irmãos (1988). Excelentes exemplares da época.



© Alien - O Oitavo Passageiro.



© Palhaços Assassinos do Espaço Sideral.

Antes de acabar este revival sangrento e nostálgico, duas coisas. Todos os filmes aqui citados retratam melhor do que este artigo jamais conseguiria descrever o que foi a década de 80, tanto seus pontos positivos quanto negativos. E se você deu falta de títulos obrigatórios da época, lembre-se que essa é só uma pequena análise, e que são tantas obras e tão pouco espaço que o assunto careceria um trabalho de conclusão de curso. Mesmo assim, que os filmes, o laquê e as roupas chamativas da época tragam memórias, suspiros e curiosidade.

Fonte:http://obviousmag.org/archives/2012/08/anos_80_terror_trash_filmes_b_diversao_e_sustos.html#ixzz25e3NtufC