Após tomada do poder, Guevara foi ministro das Indústrias do país.
Ele atuou no rompimento com os EUA e na formação de laços com a URSS.
Che Guevara caminha pela Praça Vermelha durante visita a Moscou em 1964 (Foto: Reprodução)
A imagem clássica é a do revolucionário, idealista, um dos primeiros a chegar em Havana após a tomada do poder em 1959, mas Che Guevara também teve uma atuação política direta na formação de Cuba após a Revolução. Ele assumiu funções burocráticas vitais para a economia do Estado comunista que se formou no início dos anos 60.
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Logo após a instauração do novo regime, o argentino Ernesto Guevara de la Serna, nascido em 1928, filho de uma família da classe média, foi declarado “cidadão cubano por nascimento”. Tratava-se de uma homenagem a seu papel na guerrilha liderada por Fidel Castro, que ele passou a integrar oficialmente em 1956.
Che ocupou postos-chave da economia cubana após a revolução. Ele assumiu uma série de funções dentro do governo revolucionário, começando pelo comando da fortaleza La Cabaña (que foi usada como prisão). Em seguida se tornou presidente do Banco Nacional e depois ministro das Indústrias. Além disso, ele continuou sendo o principal conselheiro de Fidel, que assumiu o governo da ilha pós-revolução.
No governo, ele foi responsável pelo processo de nacionalização das indústrias do país, além de cortar os tradicionais laços que Cuba tinha com os Estados Unidos e de construir uma relação comercial com o bloco soviético. Ele tentou implementar um plano de industrialização que valorizava os incentivos morais acima dos financeiros.
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Se no mundo a ação política de Che acaba sendo diminuída em nome do mito que se gerou com sua imagem, em Cuba, ele continua sendo lembrado como ministro, segundo o pesquisador Tirso Saenz, engenheiro químico cubano que atuou como vice-ministro de Indústrias de Che durante os primeiros anos após a revolução. Segundo ele, que é autor do livro “O Ministro Che Guevara” este lado político é menos “espetacular”, mas de muita importância.
“O trabalho no Ministério poderia não parecer heroico, porém na realidade o era, pois ali também se tratava de um campo de batalha, já que significava dormir duas, três horas por noite, incluindo sábados e domingos, e carregar a enorme responsabilidade de que qualquer erro poderia trazer grandes transtornos ao país”, disse, em entrevista à Secretaria de Comunicação da Universidade de Brasília, onde vive.
Para a enciclopédia norte-americana de história militar, ele se comprometeu com a ideia de que o voluntarismo substituiria os incentivos, o que teria comprometido a industrialização do país. De tendência contrária ao governo revolucionário, o livro acusa a atuação política de Che de fracassada, e diz que em meia década o país estava tão endividado em relação à União Soviética que não podia mais ser considerado plenamente independente.
Segundo o Dicionário Político dos EUA, Che criticava a política ortodoxa dos comunistas da América Latina e opunha-se à cópia direta do modelo soviético, alegando que a teoria revolucionária deveria se basear na experiência de cada país.
Apesar de assumir a função burocrática, Che manteve uma postura combativa em seus discursos e viajou por vários países para levar a experiência da revolução. Em 1964, ele esteve na Assembleia das Nações Unidas, e depois, ao voltar a Cuba, começou a planejar a expansão do movimento revolucionário para outros países. Um ano depois, ele partiu para a Bolívia tentando exportar o modelo guerrilheiro, mas acabou sendo morto em 1967.
Fonte:G1