Em 2009, comemoram-se os 20 anos da queda do muro que separava a antiga Alemanha Ocidental da Oriental. Até seis meses antes de ele cair, em novembro de 1989, ainda valia o comando de atirar naqueles cidadãos da antiga Alemanha Oriental que tentassem fugir para o Ocidente.
Segundo os pesquisadores do Centro de Pesquisa de História Contemporânea, em Potsdam, 134 pessoas morreram – entre fugitivos, soldados e acidentados – junto ao Muro de Berlim. Dessas, 99 foram assassinadas ao tentar atravessá-lo.
A última dessas vítimas foi o alemão-oriental, então com 20 anos, Chris Gueffroy, que ousou tentar a fuga em fevereiro de 1989. Foi um erro fatal que o levou a correr esse risco: um soldado conhecido de Gueffoy lhe dissera que a ordem de atirar havia sido suspensa.
Antiga RDA tentou esconder o caso
Cruz em memória de Chris Gueffroy em frente ao prédio do Reichstag, em BerlimCom a iminência do serviço militar obrigatório, Gueffroy decidiu tentar a fuga, juntamente com um amigo. Na noite de 5 de fevereiro de 1989, os dois se esconderam num pequeno loteamento de jardins arrendados pelo governo, diretamente junto à fronteira. Equipados somente com uma pequena escada, eles tentaram escalar o muro, mas o alarme disparou. Testemunhas do Ocidente relataram, mais tarde, que escutaram pelo menos dez tiros e viram um homem sendo transportado.
Chris Gueffroy morreu em poucos minutos; seu amigo ficou seriamente ferido e foi levado à prisão. As autoridades da antiga Alemanha Oriental tentaram esconder a morte de Gueffroy. Somente dois dias mais tarde, sua família foi informada da morte.
Em um comunicado vago, o Ministério de Segurança do Estado (Stasi) informou à família que o rapaz teria morrido ao invadir a zona militar interditada. No entanto, a família de Gueffroy, que vivia nas cercanias do Muro de Berlim, escutara os tiros durante a noite.
Mídia ocidental esteve no enterro
Duas semanas mais tarde, os familiares publicaram no diário Berliner Zeitung um anúncio de morte que se referia a um "caso acidental", seguindo a terminologia ditada pelo regime.
Muitos jornalistas ocidentais estiveram presentes no enterro de Gueffroy. A antiga emissora RIAS, rádio do setor americano de Berlim Ocidental, noticiou na mesma noite que, além das informações no jargão oficial, nada fora comentado sobre a causa da morte de Gueffroy.
A RIAS informou também que agentes do serviço secreto se espalharam pelo cemitério. Muitos deles também teriam participado da cerimônia fúnebre na capela.
Questão de justiça
Chris Gueffroy foi o último morto no Muro de Berlim. Meio ano mais tarde, a ex-RDA desmoronava. No começo dos anos de 1990, o soldado que atirou em Gueffroy foi condenado a três anos e meio de prisão. Em 1997, o último politburo da antiga Alemanha Oriental teve que responder pela ordem de atirar. Egon Krenz, chefe de Estado da antiga RDA, foi condenado a seis anos e meio de detenção.
Karin Gueffroy, mãe do jovem assassinado, assistiu ao julgamento. Sobre a sentença, Gueffroy comentou: "Não falem em compensação. Nenhum sobrevivente pode tê-la. Mas isso faz parte daquilo que sempre queríamos ter: justiça. Aquilo que sempre nos foi negado".
Transeuntes e ciclistas passeiam hoje no local onde Chris Gueffroy tentou atravessar o Muro. A faixa ao longo do Muro de Berlim foi transformada em um parque. Em junho de 2003, no dia em que Chris Gueffroy completaria 35 anos, o Senado de Berlim inaugurou um memorial em sua homenagem.
Fonte:DW- WORLD.DE
Disponível em:http://www.dw-world.de/dw/article/0,,4004269,00.html