No ano de 1859, foi dado o mais radical dos golpes contra a "ordem mundial divina". O cientista inglês Charles Darwin publicou Sobre a origem das espécies através da seleção natural, obra na qual ele havia trabalhado por 20 anos. Foram impressos 1.250 exemplares, esgotados já no dia seguinte. A história da criação do mundo proposta por Darwin tornou-se um best-seller da noite para o dia.
Apesar de todos os protestos, a teoria darwiniana impôs-se no meio científico. As provas apresentadas pareciam por demais concludentes para serem contestadas: variação, seleção, estabilização da seleção e, repetidamente, o acaso.
Darwin afirmava que as espécies são criadas e exterminadas a partir do "princípio da tentativa e do erro"; seres vivos superiores desenvolvem-se, assim, a partir de formas menores. A evolução, que tem como base esse princípio, foi também considerada válida para os seres humanos.
Segundo Darwin, não somos nada mais que mamíferos que caminham eretos. O choque do século foi perfeito: o homem deixando de ser a imagem e semelhança de Deus, para tornar-se um sucessor do macaco. Na época, Darwin não teve a coragem de dizer isso abertamente, embora certamente deva ter especulado a respeito.
Levado pelo espírito pesquisador de seu tempo, o cientista inglês passou cinco anos dando a volta ao mundo a bordo do navio Beagle. Nessa viagem, Darwin recolheu toda gama de informações e observações que depois viriam a ser sistematizadas e categorizadas ao longo de sua vida. Para isso, o pai da Teoria da Evolução examinou as mais variadas formações geológicas, bem como a multiplicidade de organismos e fósseis encontrados nos diversos continentes e ilhas que visitou.
Lei do mais forte
Ao passar pelas Ilhas Galápagos, por exemplo, Darwin anotou em seu diário de pesquisas que em cada ilha do arquipélago havia diferentes espécies de tartarugas, graúnas e tentilhões. Apesar de parentes próximos, os animais encontrados em cada ilha diferenciavam-se no tamanho e na forma de alimentação.
Baseando-se nessa obervação, Darwin concluiu que todas as espécies semelhantes entre si desenvolveram-se a partir de uma origem comum. Esse mecanismo, que leva as espécies a modificarem-se para adaptar-se ao meio ambiente, foi chamado por ele de "seleção natural". Esta seleção faz com que apenas os mais fortes sobrevivam.
Em suas viagens pelo mundo, Darwin chegou à conclusão de que o homem não surgira como criação divina. Mais do que isso, o ser humano foi considerado por ele como produto final – mas ainda provisório – de uma linha de evolução biológica.
A teoria darwiniana questionava assim as explicações bíblicas de criação do mundo descritas no Gênesis. Um deus que faz diversas tentativas, comete erros e, após uma série de tempestades pelo caminho, se vê obrigado a recomeçar tudo de novo, não combinava definitivamente com a imagem do criador todo-poderoso encontrada na Bíblia.
O ateísmo propagado pelo espírito científico abalou os fiéis, para os quais os "hereges" arruinavam o mundo. O clero, no entanto, havia se tornado mais cuidadoso. A Igreja, afinal, já tinha sido obrigada a reconhecer, dois séculos antes, que o Sol realmente não girava em torno da Terra, contradizendo uma ordem do papa e os tribunais da Inquisição. E agora mais esta: Deus não havia criado todos os seres; estes seriam meras obras do acaso!
Darwin roubou do ser humano sua condição especial no universo, colocando-o sob o jugo da biologia. Segundo a teoria darwiniana, também o homem precisa adaptar-se às exigências do habitat natural. A prova disso é que, no correr dos séculos e milênios, ele acabou por modificar-se em função desse meio.
A teoria de Darwin trouxe sérias conseqüências, acima de tudo para o mundo cristão. No entanto, apesar do progresso científico, não foram derrubadas todas as crenças religiosas que envolvem a criação do mundo.
Criacionismo
Ao contrário disso, nos últimos anos tem crescido o número de fundamentalistas religiosos que crêem na veracidade absoluta das palavras bíblicas em todos os sentidos.
Nos Estados Unidos, os chamados criacionistas declararam guerra à "teoria do macaco" de Darwin, desde sua publicação. E com sucesso. A influência dessa corrente faz com que em alguns Estados norte-americanos o criacionismo seja ensinado nas escolas.
Ainda hoje, é terminantemente proibido em alguns Estados do país a simples menção nas escolas da existência da Teoria da Evolução de Darwin. Em seu lugar, ensina-se dogmaticamente uma interpretação literal da teoria da criação presente na Bíblia.
Entretanto, como a origem do mundo e do ser humano vai além das rivalidades entre cientistas, a controvérsia entre evolucionistas e criacionistas acabou por atingir a esfera política e social. O presidente norte-americano, George W. Bush, defendeu durante sua campanha eleitoral no ano 2000 um tratamento igualitário das duas correntes nas escolas norte-americanas.
O interesse de Bush estava provavelmente atrelado ao fato de que 45% dos cidadãos do país afirmam acreditar no criacionismo. Observe-se aqui que até mesmo o papa João Paulo 2º anunciara em Roma, em 1996, que a Teoria da Evolução de Darwin seria compatível com a fé cristã.
Fonte:DW-World
Disponível em:http://www.dw-world.de/dw/article/0,,335433,00.html