20.7.09

EUA, caçando Pancho Villa

EUA, caçando Pancho Villa


reprodução

Pancho Villa (1879-1923)

Em retaliação ao ataque que o revolucionário mexicano Pancho Villa fizera em março de 1916 à pequena cidade americana de Columbus, situada nos limites dos Estados Unidos com o México, o presidente Woodrow Wilson ordenou que o general John Pershing, comandante da fronteira, fizesse uma expedição punitiva para responder à audácia do aventureiro mexicano. Desta forma, Pancho Villa tornou-se o primeiro inimigo dos Estados Unidos a ser caçado implacavelmente no exterior. Tratou-se da maior operação militar que os americanos fizeram desde o fim da guerra contra Espanha em 1898.

Os turnos revolucionários


reprodução

Soldado mexicano e uma vivandeira

Desde 1910, o México, vizinho dos Estados Unidos, estava em convulsão revolucionária. No final daquele ano, Francisco Madero recrutara as mais diversas forças de oposição à ditadura de Don Porfírio Dias, um regime que se prolongava por décadas e estava em agonia, para pôr um fim à autocracia. Entre os arrebanhados estava Pancho Villa, homem famoso na região de Dourado e Chihuahua pelo seu passado pouco recomendado de ladrão de gado e assaltante de bancos, mas figura muito popular entre os humildes locais. Neste primeiro turno da Revolução Mexicana, que no total estendeu-se por sete anos, encerrado-se por exaustão de todos em 1917, Dias foi deposto e Madero empossado como o novo presidente do México. Logo a seguir, em fevereiro de 1913, foi a vez de Madero ser assassinado a mando do general Huerta, um ex-porfirista que era chefe do exército, ensejando a abertura de um segundo turno revolucionário. Venustiano Carranza, um dos governadores de província, dizendo-se chefe constitucionalista, juntamente com Álvaro Obregon e Pancho Villa pegaram em armas contra o general Huerta, que, isolado, exilou-se do país em 1915. Então deu-se o desentendimento entre os três vitoriosos, Carranza, Obregon e Villa, e um terceiro turno revolucionário se iniciou.

Celaya e Agua Prieta


reprodução

O revolucionário como vingador dos oprimidos

Numa só batalha, seguida de uma emboscada, fizeram com que Pancho Villa, o caudilho da Divisão do Norte, perdesse a maior parte dos seus efetivos. Em Celaya, ele travou combate com as forças de Álvaro Obregón, que, com suas metralhadoras, ceifaram os villistas aos milhares. Estima-se que Pancho perdeu, entre mortos e feridos, 14 mil seguidores. Pouco depois, ao aproximar-se à noite com os seus remanescentes do lugarejo de Agua Prieta, ele foi emboscado pelas forças do governo, que, recorrendo aos fogos luminosos, puderam fartar-se em atirar à vontade contra os villistas, desprotegidos em meio ao clarão. Estes dois sucessos militares foram possíveis porque os Estados Unidos, ao reconhecerem o governo de Venustiano Carranza, não só permitiram que o governo utilizasse as vias férreas americanas para derrotar Villa, como também ofertaram-lhe as armas modernas. Para o revolucionário que seguiam o caudilho, os americanos passaram a ser seus maiores inimigos.

O massacre de Santa Ysabel


reprodução

Os Villistas incendeiam Columbus

A primeira operação que Villa ordenou diretamente contra os americanos foi terrível. Tratou-se de um ato de vingança bárbaro. Ao encontrar 17 engenheiros texanos que estavam no México a convite do governo para reativar as minas do Estado de Chihuahua, e que vinham a bordo do trem que se dirigia a Santa Ysabel, o caudilho determinou que, atacado o comboio, todos eles fossem fuzilados a sangue frio. Somente um sobreviveu. A opinião pública norte-americana ficou estupefata, mas o presidente Wilson negou-se a empreender naquele momento qualquer ato de represália. Villa então foi adiante, justificando seu ato como uma reparação aos estragos que as metralhas do presidente Wilson haviam feito nos mexicanos. E, também, para deixar mal o governo de Carranza, que ele acreditava ter vendido o México aos "gringos".

O assalto a Columbus


reprodução

Columbus, depois de ocupada por Villa em 1916

A gota d'água veio a seguir, quando Villa conduziu sua gente a um grande assalto contra Columbus. Esta era uma cidadezinha situada no Novo México e que abrigava, nas suas proximidades, um forte de cavalaria em Camp Furlong, com uns 350 milicianos. Na madrugada do dia 9 de março de 1916, uma tropa de villistas, uns 500 homens montados, tendo à frente o próprio caudilho, tomou o forte, pego na mais completa surpresa. Em seguida, em tropelia, Villa dirigiu-se à cidade para pô-la ao saque e ao fogo, permanecendo nela por cinco horas. Bandos de cavaleiros, pilhando o que encontravam pela frente, percorriam as ruas aos gritos de Viva Villa! Viva México! Muerte a los americanos! No pó ou nas calçadas contaram-se 17 mortos e inúmeros feridos, soldados e civis. Quando os villistas finalmente se retiraram, a população de Columbus, furiosa, empilhou os mexicanos mortos, uns 70 ou 75, e tocou-lhes fogo. No dia seguinte, as manchetes dos jornais norte-americanos estamparam com estardalhaço o sensacional acontecimento. Villa havia sido o primeiro mexicano em toda a história a invadir os Estados Unidos. Foi um pandemônio. Desta vez o presidente Wilson não contemporizou. Columbus mesmo tornou-se a base de onde partiu a expedição punitiva.

A expedição punitiva

O encarregado da missão de capturar Villa foi o general John Pershing, militar experiente, veterano da guerra de 1898 e da recente repressão aos filipinos, que aproveitou-se da ocasião para fazer uma série de experiências com novas táticas militares. Levou consigo, atrás da trilha de Villa, aviões, caminhões e veículos de combate, além de uma força expedicionária de 4.800 homens, penetrando quase 480 quilômetros no interior do território de Chihuahua. Tudo inútil, O caudilho, experiente como um puma, ocultara-se nos altos da Sierra Madre e nem os vôos de reconhecimento revelaram quaisquer pistas dele. Inevitavelmente, os atritos entre americanos e mexicanos não cessaram de trazer desconforto ao governo Carranza, que se mostrara muito cuidadoso em dar liberdade total às manobras de Pershing. Em 21 de junho de 1916, deu-se o chamado Affair Carrizal, quando um destacamento norte-americano desentendeu-se com a população do lugarejo que resistiu à passagem de soldados estrangeiros por dentro da sua cidade, havendo troca de tiros com algumas baixas de parte a parte. Embaraço que quase levou a que o presidente Wilson, mobilizando 75 mil integrantes da Guarda Nacional, a declarar a guerra contra o México.


reprodução

Tropas de artilharia montada participaram da operações de caça a Villa

A retirada


reprodução

Villa, uma lenda do México

Por fim, reconhecendo a inutilidade da expedição punitiva e o desgaste que a presença das tropas americanas trazia para ambas as administrações, a de Wilson e a de Carranza, e com a aproximação crescente das nuvens da guerra européia, iniciada em 1914, os americanos decidiram-se por retirar seus soldados do solo mexicano. Alcançar Villa, naquela vastidão dos descampados áridos, era o mesmo que localizar uma agulha no palheiro. Àquela altura os expedicionários chegavam a 10.690 homens que começaram a voltar para o outro lado da fronteira em 27 de janeiro de 1917. Com a reconcentração da expedição em Columbus, terminara a aventura. Villa, por sua, vez, anistiado em 1920 pelo governo, retirou-se para uma propriedade em Parral, onde foi assassinado em 1923. Sua popularidade entre os mexicanos reforçara-se ainda mais depois do ataque a Columbus, pois viram-no, metaforicamente, além de ser uma espécie de Robin Hood, o grande vingador das tantas derrotas passadas dos mexicanos frente aos poderosos "gringos", um símbolo da resistência nacional, alguém que ninguém conseguira colocar a mão, uma lenda, "un hombre"!

(*) ironicamente, hoje, ao lado de Columbus, existe um lugarejo chamado Pancho Villa, bem como um parque nacional com o seu nome.


reprodução

Uma guerra móvel, atrás da trilha de Villa



Fonte: