Na madrugada do dia 1º de setembro de 1939, um milhão e meio de soldados alemães, fortemente apoiados pela aviação e por divisões mecanizadas, adentraram pelas fronteiras da Polônia e em pouco tempo colocaram fora de combate as forças armadas daquele pequeno país europeu. Deram início com aquela invasão a mais pavorosa das guerras até então vistas pela humanidade, uma tragédia que se estendeu por seis anos até a capitulação final do Terceiro Reich e de seus aliados entre maio-agosto de 1945. A Segunda Guerra mundial foi a maior catástrofe provocada pelo homem em toda a sua longa história. Envolveu setenta e duas nações e foi travada em todos os continentes 9direta ou indiretamente. O número de mortos superou os cinqüentas milhões, havendo ainda uns vinte e oito milhões de mutilados. É difícil calcular quantos outros milhões saíram do conflito vivos, mas completamente inutilizados devido aos traumatismos psíquicos a que foram submetidos (bombardeios aéreos, torturas, fome e medo permanente). Outra de suas características, talvez a mais devastadora, foi a supressão da diferença até então existente e respeitada entre aqueles que combateram no fronte de guerra e a população civil na retaguarda. O cenário que levou à catástrofe
A Grande Catástrofe
Ela não isentou ninguém, foi brutal com todos. Como disse Joseph Goebbels, no seu famoso discurso pronunciado no Sport Palace de Berlim em 18 de fevereiro de 1943, o conflito transformou-se numa Totaler krige, numa Guerra Total, visto que, conforme o choque foi se prolongando, nenhum dos envolvidos selecionou seus objetivos militares excluindo os civis. Atacar a retaguarda do inimigo, suas cidades, suas indústrias, suas estradas de ferro e de rodagem, seus hospitais e casas de repouso, suas usinas e reservatórios de água, matar suas mulheres, crianças e velhos passou a fazer parte daquilo que os estrategistas eufemisticamente classificavam como “guerra psicológica” ou “guerra de desgaste”. Naturalmente que a evolução da aviação e das armas autopropulsoras permitiu que a antiga separação entre linha de frente e retaguarda se visse na prática abolida.
Custo e mobilização
Se a Primeira Guerra Mundial causou um custo de 208 bilhões de dólares, a de 1939-1945 atingiu a impressionante cifra de um trilhão e 500 bilhões de dólares, quantia que, se investida no combate à miséria humana, teria suprido da fase da terra. Aproximadamente 110 milhões de homens e mulheres foram mobilizados, dos quais apenas 30 % não sofreram morte ou ferimento. Como em nenhuma outra, o engenho humano foi mobilizado integralmente para criar instrumentos cada vez mais mortíferos, sendo empregados a bomba de fósforo, o napalm e, finalmente, a bomba atômica (lançada sobre as cidades nipônicas de Hiroxima e Nagasaki). Como nunca em qualquer outro conflito generalizado, estabeleceu-se uma política de genocídio em massa construindo-se campos especiais para tal fim.
Como bem disse o historiador R.A.C. Parker: “O conceito que a humanidade tinha de si nunca voltará a ser o mesmo”.
“... a decisão de qualquer guerra nem sempre deve ser considerada como um caso absoluto: muitas vezes o Estado vencido vê na sua derrota um mal transitório a que as circunstancias políticas anteriores poderão fornecer um remédio.” Pôster alemão: ‘trabalhe pela vitória’
- Von CLAUSEWITZ -
Causas diplomáticas
Quase todos os historiadores concordam que a causa diplomática mais profunda da Segunda Guerra Mundial tem sua origem nos Tratados de Paris, assinados entre as potências vencedoras da Primeira Guerra Mundial (Estados Unidos, Inglaterra franças) e as vencidas (a Alemanha e a Áustria) em Versalhes. A Alemanha se viu despojada da Alsácia-Lorena (que havia conquistado na guerra franco-prussiana de 1870), como teve de ceder à Polônia uma faixa de território que lhe dava acesso ao Mar Báltico. A cidade alemã de Danzig passaria ao controle da Liga das Nações e o território do Sarre, rico em carvão foi cedido por um período de 15 anos à França. Também foi vedado à Alemanha possuir um exercito superior a 100 mil homens; exigindo-se a desmilitarização da Renânia região fronteiriça com a França, assim como o desmantelamento das fortificações situadas a 50 km do rio Reno. A outrora grande potência da Europa viu-se compelida a entregar todos os navios mercantes cujo peso ultrapassasse a 1.600 toneladas assim como ceder gado, carvão, locomotivas, vagões cabos submarinos, etc. sendo que a sua dívida sonante para com os aliados foi fixada na Conferencia de Bologne (21 de junho de 1920) em 269 bilhões de marcos-ouro a serem pagos em 42 anualidades.
Não poderia, por igual, desenvolver pesquisas bélicas, possuir submarinos ou realizar projetos militares (aviões, canhões, etc.), enquanto isto, o velho Império Austro-Hungaro foi desmembradas pelo tratado de Paz de St. Germain-em-Laye, tendo que entregar o Tirol do Sul para a Itália e reconhecer a independência da Hungria, Tchecoslováquia, Polônia e Iugoslávia, além de lhe ser vedado a união com a Alemanha. A republica austríaca, proclamada em 1918, viu-se proibida de possuir um exercito superior a 30 mil homens.
Estas sanções aplicadas pelos vencedores tornaram-se fonte de amargos rancores que facilmente foram explorados pela extrema direita nacionalista, (nazistas e capacetes-de-aço, que começaram a proliferar na Alemanha em 1919). O grande erro do Tratado de Versalhes foi ter ferido profundamente o sentimento nacional dos alemães, e, por outro lado, não lhes ter suprimido o potencial industrial. Com 65 milhões de habitantes tendo um enorme parque fabril à disposição era inevitável que a Alemanha, mais tarde ou mais cedo, voltasse a querer ocupar o seu lugar no rol das potencias européias. Os diplomatas de 1919 se esqueceram da lição do Congresso de Viena (1815), quando os vencedores de Napoleão procuravam não humilhar a França, a nação mais povoada da Europa Ocidental naquela época para que um espírito de vingança não deitasse raízes no coração dos seus cidadãos de então.
Esta contradição entre potencial demográfico e industrial e o não reconhecido diplomático de um estatuto privilegiado para a Alemanha terminou por fazer com que a ascensão de Hitler fosse possível.
Perdas territoriais da Alemanha em 1919.
1. Região de Eupen – Malmedy: entregue à Bélgica
2. Região da Renânia: desmilitarizada
3. Bacia carbonífera do Sarre: entregue à França por 15 anos
4. Região da Alsácia e Lorena: devolvida à França
5. Região do Schleswig: entregue à Dinamarca
6. Cidade de Danzig: controlada economicamente pela Polônia e administrada pela Liga das Nações
7. Região da Prússia: entregue à Polônia
8. Cidade de Memel: controlada pela Liga das Nações
9. Região da Silésia Superior: explorada economicamente pela Polônia.
Obs.: O resultado direto das perdas territoriais impostas pelo Tratado de Versalhes fez com que a Alemanha perdesse 14,6% de suas terras aráveis, 74,5% de suas reservas de ferro, 68,1% do seu zinco e 26% dos seus recursos carboníferos.
(Fonte: Passant, E.J. – A Short History of Germany: 1815-1945,
Cambridge, 1976, p.153-156).
Um cordão de ferro ao redor da Alemanha
A Inglaterra, no período entre-guerras, tornou-se cada vez mais apaziguadoura, segura de sua situação estratégica e de possuir a mais poderosa frota naval do mundo, dando-lhe a proteção suficiente caso houvesse um novo conflito. Os Estados Unidos – governados por uma série de presidentes republicanos - voltaram nos anos 20 a adotar a política do isolacionismo, não querendo envolver-se nas querelas dos paises europeus. Estas ambigüidades e contradições dos vencedores de 1918 foram habilmente exploradas por Hitler na década dos anos 30.
Causas econômicas
A crise econômica que se abateu sobre o sistema capitalista mundial, a partir de outubro de 1929, foi o fator mais poderoso para que um novo rearranjo do poder em escala mundial seja ambicionado. A depressão econômica da década de trinta levou os paises capitalistas a tomar medidas protecionistas, visando a salvar os mercados internos das importações estrangeiras, ocorrendo uma verdadeira guerra tarifária. A produção mundial reduziu-se em 40%, sendo que a diminuição do ferro atingiu a 60%, a do aço 58%, a do petróleo 13% e a do carvão 29%. O desemprego grassou nos principais países industrializados: 11 milhões nos Estados Unidos, seis milhões na Alemanha, dois milhões e meio da Inglaterra e um número um pouco superior na França. Não está longe da verdade o fato de ter provocado a aflição e o desemprego em mais de 70 milhões de pessoas (contando-se os seus dependentes). Como a economia já estava suficientemente internacionalizada (com exceção da URSS, que se lançava nos Planos Quinquenais) todos os continente foram atingidos, aumentando ainda mais a miséria e o desemprego ao redor do mundo. A América Latina, por exemplo, teve que reduzir em 40% suas importações e sofreu uma queda de 17% em suas exportações. É nesse contexto caótico que a Alemanha no ocidente e o Japão no oriente, dominadas pela retórica hiper-nacionalista, vão tentar explorar o debilitamento de seus rivais, todos grandes impérios coloniais. Uma nova luta por mercados e novas fontes de matérias-primas levaria o mundo à Segunda Guerra Mundial.
Causas políticas
Desfile militar alemão em Varsóvia (28-30 de setembro de 1939) |
O Japão, que igualmente passou por convulsões internas graves, deu inicio, em 1931, a uma política externa agressiva, explorando o enfraquecimento dos Impérios Coloniais europeus que se mostram impotentes para superar a crise econômica. Em 1937, após ter ocupado a rica região da Manchúria, invade o resto do território chinês, começando deste modo ao longo conflito na Ásia. Seu expansionismo vai terminar por choca-se com os interesses norte-americanos na Ásia (Filipinas) e levar á guerra contra os Estados Unidos.
A Polônia destruída
Às 4h40 da madrugada do dia 1º de setembro, uma colossal força de guerra alemã, partindo de três pontos da fronteira polonesa, rumou rapidamente para a região central do país. Ela obedecia ao comunicado expresso por Hitler um dia antes que afirmava: ‘Por ordem do Führer e do Supremo Comando da Wehrmacht, as forças armadas alemãs assumiram a defesa ativa do Reich. Dando cumprimento a sua missão de resistir à ameaça polonesa, tropas do exército alemão hoje cedo lançaram um contra-ataque. Simultaneamente, esquadrões da força aérea voam em direção à Polônia com a ordem de esmagar objetivos militares. ’
O governo polonês do presidente Ienacy Móscicki havia disposto suas forças militares justo bem próximos da fronteira ocidental com a Alemanha, numa inútil tentativa de deter a máquina militar que agora se movia célere contra as defesas do seu país.
Divididos em dois grandes grupos de exército, o do Norte (com 630 mil soldados) e o do Sul (com 882 mil soldados), ambos sob comando do general Walther Von Brauchitsch, apoiados por 2.400 tanques distribuídos entre 14 divisões mecanizadas, com o céu coberto pelos bombardeios convencionais e de pique que decolavam em massa dos aeroportos alemães, os exércitos invasores não tiveram muita dificuldade em cercar e aniquilar os poloneses dentro do espírito do que os altos-comandos germânicos chamavam de Vernichtungsgedanke (operação de aniquilação). Quatro dias depois do ataque inicial praticamente a guerra estava decidia. Os alemães registram 45 mil baixas (entre mortos, feridos e desaparecidos, menos de 3% das tropas usadas na Operação Fall Weiss).
No dia 27 de setembro a capital Varsóvia negociou sua capitulação com o comando vencedor. As esperanças que os poloneses guardavam de receber algum tipo de apoio da Grã-Bretanha ou da França se esvaíram totalmente. Para cumulo da infelicidade deles, obediente a clausula secreta do Pacto Germano-Soviético de agosto de 1939, a URSS, vinda do Leste, também atacou a Polônia apenas 17 dias depois dela ter sido invadida pela Alemanha nazista. Em menos de trinta dias a republica da Polônia deixara de existir vítima da maior batalha de cerco e aniquilação até então conhecida na história moderna.
Por tudo isto, o mês de setembro de 1939 revelou-se uma data negra na história da humanidade, um momento infeliz que deu a largada para o destroçar de grande parte do patrimônio cultural e civilizatória das nações envolvidas pela guerra.
Bibliografia
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Liddell Hart, B.H – As Grandes Guerras da História.São Paulo: Ibrasa, 1967.
Liddell Hart, B.H – History of the Second World War. Londres: Pan Books, 1970.
Townshend, Charles- Modern War. Oxford: Oxford University Press, 1997.