Regiões da África e Ásia foram principais fontes de escravos e pimenta.
Conheça a história das colônias, além do Brasil.
Angolanos assistem a uma reunião política no dia da independência de Portugal, em 15 de novembro de 1975 (Foto: AFP)
Portugal, hoje, não é o país mais poderoso da União Europeia e nem tem a maior economia do mundo. Mas, um dia, nossos colonizadores já estiveram no topo, dominando um verdadeiro império global e se posicionando como a nação mais empreendedora do planeta. Foi nos séculos XV a XVIII, quando as grandes navegações ajudaram a encontrar terras novas - e a explorar tudo o que se podia delas.
Nessa época, territórios foram dominados e um intercâmbio mundial de produtos tomou conta dos mares. Portugal submetia os povos pela força das armas, estimulando rivalidades internas, e pelo comércio.
Além do Brasil, que, como sabemos, foi provedor de matérias-primas para a nação portuguesa a partir do século XVI, outras regiões também ajudaram a concentrar a riqueza do mundo na Europa - os portugueses chegaram até ao Tibete!
Muitas das colônias ficaram sob comando dos lusitanos por séculos - Timor Leste, por exemplo, comemora neste domingo (30) dez anos de independência. Depois de terem se desvinculado de Portugal, em 1975, os timorenses foram submetidos pelos indonésios por mais 24 anos. O país era fornecedor de sândalo e, depois da expulsão dos portugueses da China, foi palco para contrabando.
"As colônias asiáticas tinham um papel muito mais importante para Portugal, porque eram o principal meio de obter capital, aí que estava o lucro, uma lucratividade imensamente maior do que na América Portuguesa. Enquanto na Ásia eles tinham um lucro que chegava a mais de 40.000% principalmente com a pimenta, a porcelana e a prata", explica em entrevista aoG1 Fábio Pestana Ramos, doutor em história social pela USP e professor da Fundação Santo André.
Segundo o professor, que também é autor de "Por Mares nunca dantes navegados - as aventuras dos descobrimentos" (Ed. Contexto), a África teve uma importância fundamental para os portugueses no início das grandes navegações, no século XVI, como produtora de pimenta malagueta. "Esse produto era uma alternativa de consumo da pimenta do reino, monopolizada pelos italianos. Foi em parte com o dinheiro da venda dessa pimenta que as grandes navegações do século XVI foram financiadas. Depois, a África teve o papel de ser fornecedora de mão-de-obra escrava."
As viagens
Muitos fatores permitiram o pioneirismo português nos descobrimentos. Entre eles, a posição geográfica e a centralização precoce da nação, que possibilitou investimentos. Na era do mercantilismo, aventurar-se pelos mares e se tornar um império marítimo era um sonho para os portugueses, que tinham poucas riquezas internas. "Porém, monstros e medos povoavam o imaginário europeu. Enfrentar os mares desconhecidos, por exemplo, não era fácil", escreve Fábio Ramos.
A ida a uma terra nova geralmente vinha com uma exploração de reconhecimento. Depois vinham as carreiras - rotas regulares entre a nova terra e Lisboa. As maiores carreiras eram as que iam para a Índia e demoravam um ano. As embarcações, as maiores do mundo, geralmente partiam superlotadas. A fome e a doença eram problemas constantes. Não havia instalações sanitárias e muitas vezes se morria por pragas.
As conquistas
Ao chegar em uma nova região, os portugueses geralmente enfrentavam dificuldades no encontro com as culturas locais. Havia ainda a intolerância religiosa. Os angolanos, quando viram os lusitanos pela primeira vez, acharam que eram mortos vivos, zumbis que vinham das águas. "Os portugueses se acostumaram a resolver os impasses com os nativos através do bombardeio às povoações que se recusavam a servir aos seus interesses", escreve o professor Ramos.
Uma das primeiras conquistas portuguesas foi Ceuta em 1415 e a ilha de Madeira em 1418. Madeira tornou-se grande produtora de trigo e açúcar. Já o arquipélago dos Açores, encontrado em 1427, foi escolhido para servir de base para uma armada fixa, que protegeria as embarcações que saíssem de Lisboa de ataques piratas - frequentes na época.
Mulheres oferecem flores a combatentes pela independência após libertação de Moçambique do domínio português, em 1975 (Foto: AFP)
O território de São Tomé e Príncipe, descoberto em 1471 e primeiramente chamado de Ano Bom e Fernão do Pó, foi usado como verdadeiro laboratório de tipos de colonização. Portugal conquistou a região e depois só aparecia para despejar populações de escravos, crianças judias tiradas dos pais e homens livres.
A ilha de Santa Helena foi útil para a navegação para as Índias. Descoberta em 1502, ela se tornou um ponto de apoio às longas viagens.
Os portugueses também chegaram na China em 1509. No Japão, aportaram em 1543 e foram os primeiros ocidentais a desembarcar na região, embora nunca tenham conseguido estabelecer uma base firme.
As independências
A decadência do império marítimo português ocorreu quando a Inglaterra e a Holanda, principalmente, começaram a correr atrás do prejuízo e se lançar aos mares. Esses países passaram a construir embarcações melhores e mais rápidas, enquanto os portugueses continuavam com suas frotas antigas.
"Havia um desleixo em relação à frota naval. Não havia manutenção. Há registro de vários navios que ficaram 24 anos em serviço. Além disso, há a fuga de profissionais qualificados pra fazer essa manutenção, pois os portugueses não os remuneravam adequadamente. Os ingleses foram bem mais espertos. Eles faziam navios menores, mais ágeis e mais bem armados. Eperavam os portuguese chegarem, atacavam os navios, roubavam tudo, raptavam as pessoas pra pedir resgate e queimavam as embarcações", conta Fábio Ramos. O índice de naufrágios nessa época, em navios vindos da Índia, era de 40% - a maioria por ataques piratas.
Após a abolição da escravatura, Portugal manteve suas colônias o máximo que pode. Segundo Fábio Ramos, os portugueses "passam a tentar transformar as colônias africanas em colônias agrícolas."
Na década de 1970, muitas colônias se libertaram: Timor Leste, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
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