7.8.12

Quem mais matou índios foram os próprios índios


Marcel Verrumo

Esqueça aquela ideia romântica de que, quando os portugueses chegaram ao Brasil em 1500, os índios que viviam em harmonia com a natureza foram brutalmente exterminados pelos colonizadores por séculos a fio. Publicações recentes defendem que, longe de serem passivos e vítimas do “vilão português”, muitos índios aliaram-se aos brancos por interesses pessoais, desfrutaram de festas e bebedeiras, venderam outros índios em troca de mercadorias e também foram os responsáveis pelo extermínio de seu povo.

Uma dessas publicações é o livro Guia politicamente incorreto da História do Brasil, no qual o jornalista Leandro Narloch defende que “uma das concepções mais erradas sobre a história do Brasil é acreditar que os portugueses fizeram tudo sozinhos”. Narloch apresenta trabalhos que mostram que, antes mesmo de os portugueses chegarem aqui, o extermínio indígena já havia começado: em busca de melhores regiões de habitação, tribos se locomoviam pelo território que seria o Brasil e iam expulsando – e exterminando – os índios inimigos que encontravam pela frente.



Quando Cabral desembarcou em território verde-amarelo, tribos começaram a travar guerras para disputar quem se aliaria aos recém-chegados. Índios vendiam índios inimigos aos portugueses em troca de especiarias. Documentos históricos endossam a tese apresentada, como uma carta datada de 1605 em que o Padre Jerônimo Rodrigues mostra-se surpreso com índios dispostos a trocar gente da própria família por mercadorias. “Trazem a mais desabrigada gente que podem, scilicet, moços e moças órfãs, algumas sobrinhas, e parentes, que não querem estar com eles ou que os não podem servir, não lhe tendo essa obrigação; outros trazem enganados, dizendo que lhe farão e acontecerão e que levarão muitas coisas [...] outros venderam as próprias madrastas, que os criaram e mais estando os pais vivos.”

Durante as bandeiras, expedições realizadas pelos colonizadores para capturar índios e escravizá-los e que contribuíram para ampliar as fronteiras territoriais do país, os portugueses não estiveram sozinhos. Narloch diz que essas expedições tinham, no mínimo, duas vezes mais índios do que portugueses (geralmente, dez vezes mais).

Em bandeiras ou em guerra tribais, por que os índios capturavam os próprios índios e os vendiam aos portugueses? Talvez uma das explicações seja o fato de que o conceito de identidade única de índios ainda não existisse quando os portugueses chegaram por aqui. Ou seja, para um tupinambá, um índio botocudo era tão estrangeiro quanto um português. Aliar-se a um ou a outro era uma questão de estratégia.

Fonte:  Superinteressante