24.5.12

África: Continente com ou sem “História”?


Mapa Antigo do Continente Africano antes da chegada dos europeus



A contestação do passado científico e tecnológico dos africanos e o exagero das características “fantasiosas” desse povo foi, certamente, uma das principais proezas do eurocentrismo. Observamos, ainda nos dias de hoje, a autoestima da população africana muito frágil, em razão da partilha do continente e do processo de descolonização.

Pesquisadores europeus reproduziram para o resto do mundo que o povo africano não cooperou de forma alguma para a composição do saber universal. O Continente Africano é visto a todo o momento como um lugar aonde o civilizado ainda não chegou, cujos moradores, em geral, apresentam-se como seres selvagens, repugnantes, debilitados, imorais e, por isso, incapacitados de edificar ou propagar qualquer tipo de conhecimento válido.

Muitos não sabem que a África é um continente antigo e muito menos o quanto é bem localizado geograficamente e que a população que ali vivia, e vive, tem história. Grandes reinos africanos ali imperavam com um senso de comando e organização notável; baseando-se em uma ordem de clãs, de linhagem, por classificação de idade e ainda por unidades políticas, sob várias formas. Algumas grandes chefias, consideradas Estados tradicionais, são conhecidas desde o século IV, como o Império do Gana e depois o Império do Mali; Império Ioruba; Império do Benin; Império Songai; Império Kanem-Bornu.

A dificuldade em desconstruir essas inverdades a respeito dos povos africanos é complexa, pois existe uma visão, sempre de sentido pejorativo, preconceituoso, sobre o continente africano. É como se tudo de ruim estivesse lá (selvagens, escravos, doenças, fome, guerras...). O fato de a História oficial da humanidade ser baseada nos padrões europeus, ou seja, eurocêntricos, nos distancia de uma visão otimista e impede a identificação dos traços do passado intelectual e científico desses povos em nossa realidade.

Observamos na escrita da história que a maioria dos pesquisadores sobre o tema “África” ainda persistem no modelo da história oficial. O africano é o diferente, e lidar com isso é muito dificil para quem acredita que a cor da pele é o que prevalece em termos de sabedoria, ou melhor, de tudo. A visão do outro, é um fator muito significativo em termos de dominação, ela cria estratégias para tal através do preconceito e da crença de que a brancura é sinal de aptidão e inteligência.

Felizmente, existe um movimento revisionista e de debate dessa “hipotética” história oficial. São cientistas e historiadores, muitos de nacionalidade africana, preocupados em quebrar os paradigmas tradicionais preconceituosos da análise histórica. Através de pesquisas percebeu-se que o Continente Africano esteve sempre à frente do crescimento da humanidade. Foram encontrados, no continente, vários sítios arqueológicos, demonstrando assim a existência dos povos africanos há mais de cem mil anos naquela região. De lá surgiu o que muitos chamam de primeira civilização humana: o Egito, com todo mistério, fascínio e incredulidade que perpassa os tempos.

Quem teria a capacidade e a inteligência de construir obras tão magníficas como as pirâmides? Quem detinha tanto conhecimento na arquitetura, matemática, astronomia? Dominava as cheias do Rio Nilo, sabendo aproveitar-se delas para uma excelente colheita? Um povo de pele negra? Jamais, eles eram inaptos na visão eurocêntrica, assim o eurocentrismo exibiu a civilização egípcia como sendo a de um povo branco, todavia, historiadores revisionistas já se manifestaram e comprovaram que se tratava de povos de pele negra; certamente constituídos de uma mescla de vários povos africanos existentes ao sul e norte do vale do rio Nilo.

E por falar em mistura, mescla, não podemos esquecer que somos frutos do encontro da diversidade de grupos étnicos ameríndios, europeus e africanos. Como brasileiros, devemos ser conscientes de que a história da África e a história do Brasil são intimamente ligadas, e o resgate histórico do Continente Africano se faz necessário.

Por Lilian Maria Martins De Aguiar




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