11.3.10

Gengis Cã e a conquista da Europa

Gengis Cã e a conquista da Europa


O que teria acontecido na historia européia e. por conseqüência, em todo o Ocidente, se aquele continente tivesse caído a partir do século XIII nas mãos dos conquistadores mongóis? O que se segue é um hipotético e imaginativo relato dos efeitos daquela conquista que não se realizou.

A horda mongol

Gengis Cã e seus guerreiros
Quem os viu chegando às planícies magiares ficou impressionado, simplesmente aterrorizado. Desde os tempos de Átila, o huno, que assolara a Europa no século V, ninguém mais vira algo igual. Ágeis, montados no que pareciam ser pôneis, nuvens de cavaleiros mongóis, de espada e escudo, formavam-se no horizonte, cobrindo-o em toda a sua amplitude. Num repente, a formação compacta daquela tempestade humana, como se fosse uma nuvem assediada pelos ventos, se dissolvia pela planície, separando-se em cinco ou dez outras, galopando em qualquer direção.


Disciplinados por Gengis Cã, o Conquistador do Universo, que os liderava, as tribos nômades dos planaltos da Sibéria, os keraitas, os naimanos, os merkitas, os oirates, os chamados mongóis azuis, mostraram uma eficácia espantosa quando, unidas pelo grande guerreiro desde 1206, começaram a assombrar o mundo com sua marcha triunfal. Nada os detinha.


Nem perdiam tempo em alimentar-se com carne cozida. Esmagavam carne crua num pote e a misturavam com pedaços de cebola, alho e sal, extraído do suor dos seus cavalos – inventaram o bife à tartar. Comiam-no a trote mesmo. Num nada as ger, as tendas mongóis, eram erguidas para que repousassem. Em seguida, de volta às selas, empreendiam a viagem sem fim a que estavam acostumados. Usavam lanças fáceis de serem manejadas e uma cortante espada curta que traziam à cinta, nada que os atrapalhasse na investida.


Se, por acaso, as cidades resolviam resistir-lhes, colocavam em trabalho de sapa os seus engenheiros chineses e árabes, peritos em sítio que eles traziam consigo de longe. Gente capaz de, com um par de minas bem colocadas e com o trabalho de milhares de pás e picaretas, fazer ruir qualquer muralha. Era a maior máquina militar que o mundo já vira. O sucesso deles devia-se a dois fatores: o destemor e o movimento contínuo.

No coração da Europa

Mongóis submetendo a tudo
Foi assim que Batu Cã, o neto de Gengis Cã, penetrou no coração da Europa. A sua linha de ataque foi dividida em três direções: a nuvem norte, um enxame de cavaleiros mongóis, dirigiu-se para a Polônia, Prússia e Dinamarca, a nuvem do centro ocupou a França, sem ousar dali assaltar a Inglaterra, pois os mongóis eram avessos ao mar; mas a nuvem do sul sim chegou a Portugal, depois de devassar a Ibéria e a Itália.

Por volta de 1240-45, a Europa quase que inteira estava ocupada pela gente de pequena estatura, olhos oblíquos e tez de amarelo-oliva. Em todos os lugares a paisagem logo denunciava a presença deles. As chomchong, as grandes tendas, dominavam o cenário. Batu Cã, antes de retirar-se para a margem do rio Volga na Rússia, em 1251, determinou que uma série de príncipes europeus, – nomeados por ele como Ejen, senhor - , comprometidos a pagar o tributo ao conquistador, poderiam agir em nome da Horda de Ouro, governando cada um deles um ulus, o feudo mongol.


As igrejas cristãs foram fechadas e o papado abolido. Batu estimulou que o xamanismo substituísse a liturgia convencional, enquanto ordenava a demolição dos mosteiros. No lugar deles determinou que fosse celebrado o obbo, um antigo ritual nômade que se fazia em frente a uma pilha de rochas ou pedras, enquanto os párocos e outros sacerdotes foram substituídos pelos böge, os xamãs.

Influências étnico-raciais

As crianças européias, que cada vez mais nasceriam com olhos amendoados, puxados, e maçãs salientes, avermelhadas, impressionavam-se com as histórias de Garuda, o espírito da montanha Bogdo Ula, e, mais ainda, com as assombrações de Songgina, o velho homem escuro, senhor das quatro montanhas da Grande Mongólia. Mesmo na Inglaterra não ocupada, a Magna Carta, de 1215, foi derrogada para seguir o restante do continente obediente ao Ysak, a dura lei dos chefes nômades que servia como uma espécie de tirânica constituição mongol. A língua franca dessa Europa domada tornou-se o tártaro, escrita rebuscada feita por escribas chineses especialmente trazidos para organizar o Canato da Europa, que assim, somado aos demais - aos Canatos de Kipchak, o de Il, o de Chagatai, obedientes todos a um só Khaqan, a um só governante mongol - , integravam-se num mercado comum universal, ao Império Yuan, que se estendia das margens do Atlântico até o Mar do Japão, sendo percorrido de leste a oeste pela Rota da Seda e pela velha Estrada Imperial do Chá, tudo isso protegido pelo escudo da Pax Mongolica. Assim, no século XIII - sem poder-se conhecer o Humanismo, o Renascimento, e muito menos o Iluminismo - , começou-se a globalização, garantida pela adaga dos descendentes de Temudjin, o nome de berço de Gengis Cã, aos acordes do moriin huur, o lendário violino mongol, que fazia todo mundo dançar segundo o som das suas cordas.


Fonte:História por Voltaire Schilling