2.3.10

Grécia e Roma: dois Mundos

A história antiga de Grécia e Roma é contextualizada no mundo ocidental. Isso para diferenciá-la da história oriental. Mas, o que é o oriente e o que é o ocidente? Na realidade são duas concepções culturais. Apesar de existir concretamente um espaço geográfico que a convenção chama de oriente, este é uma criação do ocidente com a finalidade de extrojetar uma denominação ao mesmo tempo caracterizadora de uma região e de uma expressão cultural que o ocidente passou a explorar. Como sugere Caldas (2005) a orientalidade é uma "criação colonial", portando daquele que se considera superior denominando algo para o que olha como sendo seu inferior.

Desde uma análise materialista olha-se para o antigo oriente a partir da categoria Modo de Produção, chamando o primeiro de Modo de Produção Asiático enquanto o mundo ocidental é analisado como Modo de Produção Escravista. Mas seriam somente essas as diferenças? É evidente que não. Qualquer sociedade é muito mais do que aquilo que dela podemos falar ou que se possa delimitar em conceitos. E mesmo estes são apenas as nossas conjecturas a respeito de uma realidade efetivamente inatingível (BLOCH, 2001; CARNEIRO, 2008), dado que pertence ao passado. Trata-se, portanto de nossos conceitos e nossa palavra; aquilo que temos a respeito do que não temos acesso.

O mundo oriental é uma extensa região que incorpora o continente asiático e parte da África. Ali se desenvolveram as primeiras aglomerações urbanas que se conhece. Compreende as culturas indo-chinesas, mesopotâmicas acrescida da Palestina e do Egito. Mas, além disso, oriente é muito mais um conceito ideológico-cultural do que geográfico. Trata-se de uma representação que o "ocidente" faz de um "outro" que lhe é estranho, mas que necessita de um reconhecimento, não só como "bárbaro", mas como realidade passível de ser conhecida e, porque não, explorada, como de fato ocorreu, ao longo de alguns séculos.

Grécia e Roma, como entram nessa história? Inicialmente constatando que estas duas regiões se desenvolveram mais tardiamente do que o oriente. Temos notícias de que os mundos mesopotâmico e egípcio apresentam sinais de urbanização a partir de 4.000 a.C., enquanto na Grécia os primeiros sinais de organização social humana manifesta-se a partir do segundo milênio antes de Cristo; e no mundo latino o processo é ainda posterior.

Se nos fosse perguntado o que caracteriza o mundo grego, ser-nos-ia muito difícil chegar à resposta, uma vez que a Grécia, como hoje é concebida, não existia na antiguidade. O que hoje chamamos de mundo grego é uma construção da modernidade e foi se formando muito lentamente. Mesmo a Grécia Clássica, ou "o conjunto de traços que se articularam para compor o que conhecemos como Grécia Clássica começou a se desenvolver a partir do século X" (Florenzano, 1986, p. 9). Em virtude dessa e de outras dificuldades é que se periodiza a história, e neste caso a história grega, para facilitar a compreensão do homem contemporâneo, não como reconstrução de um passado inalcançável, mas um sentido dado pelo homem de hoje àquilo já não tem sentido em si mesmo.

Ainda sobre os períodos da história é necessário dizer do perigo inerente a toda periodização. Ela é falha por natureza e pode induzir a equívocos ou universalizações de características específicas de um povo ou de uma época, como se isso se aplicasse à totalidade dos povos e todos os períodos. Um exemplo dessa universalização é falar sobre a "democracia grega", sem considerar que essa é uma experiência específica de Atenas, a partir do século V a.C.

Em relação aos períodos resta dizer, que a Grécia descrita por Homero não é a mesma que se estuda no período arcaico e estes são distintos da Grécia Clássica. Entretanto algumas características podem ser encontradas em todos os períodos da história grega: a crescente centralidade e importância da cidade. Além disso, o mundo grego também se caracteriza pela presença cada vez mais marcante não mais de um soberano todo poderoso e representante das divindades, mas pelas decisões colegiadas de um grupo – uma aristocracia – dominante, proprietária das terras. Grupo esse que será ao longo dos séculos, cada vez menos trabalhador e cada vez mais dependente e explorador do trabalho escravo. Na história grega, portanto, é que se configura o modo de produção escravista.

No mundo romano o processo não foi diferente. Em períodos distintos as estruturas sociais e econômicas se diferenciam e cada uma tem sua especificidade. Todas elas formando a sociedade romana. O fato é que quanto mais antigo for o período estudado menos complexidade possuirá e, do lado oposto, quanto mais próximo de nós estiver o período e a sociedade, mais complexo será. Comparando com o mundo grego isso fica evidente. Em relação a este as estruturas romanas foram bem mais complexas. Não deixou, entretanto de manter algumas características: mundo urbanizado, fundamentado em atividades agrícolas e no trabalho escravo. A cidade romana, como havia sido a cidade grega, existe como um espaço administrativo da atividade rural. Nesse ambiente havia comércio e manufatura, mas estes

"desenvolveram-se somente até certo ponto, não conseguindo inverter a posição de predominância com relação à agricultura. E, finalmente, as cidades, apesar de todo o seu brilho e desenvolvimento, não conseguiram alcançar sua autonomia sobre o campo. Continuavam sendo prolongamentos do mundo agrícola e centros das decisões referentes à terra". (FLORENZANO, 1986, p. 94).

Em síntese podemos dizer que o mundo Greco-romano é um mundo urbanizado, mas se trata de uma urbe, ou polis, que se estrutura para e pelo mundo rural. Por isso é que Aristóteles, em Política, diz que a cidade "deve ser próxima do mar e do campo; assim a ajuda seria fácil de um lugar para outro" (ARISTÓTELES, 2010, p. 62). A proximidade com o mar é por causa do comércio; e próxima do campo, em virtude da produção agrícola que lhe dá sustentação.

ARISTÓTELES, A Políticahttp://www.clube-de-leituras.pt/upload/e_livros/clle000021.pdf>, acesso em 10/02/2010

BLOCH, Marc, Apologia da História ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar. 2001.

CALDAS, Alberto Lins. A criação da história. In. Primeira Versão. ano V, nº 180 - fevereiro - Porto Velho, 2005. Disponível em:

CARNEIRO, Neri P. Estudar História in: www.webartigos.com, publicado em: http://www.webartigos.com/articles/5228/1/Estudar-Historia/pagina1.html>

CARNEIRO, Neri P. Porque A Filosofia Nasceu Na Gréciain: www.webartigos.com, publicado http://www.webartigos.com/articles/5150/1/Porque-A-Filosofia-Nasceu-Na-Grecia/pagina1.html>

FLORENZANO, Maria B. B. O mundo antigo: economia e sociedade. 6 ed. São Paulo: Brasiliense. 1986

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.

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Fonte:
http://www.webartigos.com/articles/32858/1/Grecia-e-Roma-dois-Mundos/pagina1.html.