14.9.11

Meio século após a renúncia

Há 50 anos, Jânio Quadros saía da presidência, após uma passagem curta: leia os artigos publicados na RHBN sobre essa figura peculiar de nossa política recente.


Jânio Quadros, e o presidente argentino Arturo Frondizi, com quem o brasileiro se encontrava quando foi eternizado em foto com as pernas trocadas / Wikimedia-cc

Jânio Quadros, e o presidente argentino Arturo Frondizi, com quem o brasileiro se encontrava quando foi eternizado em foto com as pernas trocadas / Wikimedia-cc

Há meio século, Jânio da Silva Quadros se tornou o primeiro presidente eleito pelo voto do povo a renunciar ao posto máximo do país. Após o ato surpreendente, o ex-presidente “passou três décadas tentando explicar a renúncia”, que jogou o país numa crise política que quase antecipou o golpe de 1964, como escreveu o historiador Marco Antonio Villa, para a “Folha de S. Paulo” desta quinta-feira, em que se lembra os 50 anos da saída de cena de Jânio.

A crise, aliás, era já esperada por Jânio, que, inclusive, contava com ela para voltar ao poder – segundo a versão mais aceita pela historiografia, e que é repetida por seu neto em artigo também para a “Folha” desta quinta-feira. Jânio Quadros Neto afirma que seu avô era tinha uma “personalidade misteriosa, histriônica, surpreendente”, que geralmente agia “com ironia ou agressividade intelectual” às perguntas sobre as suas razões para sair do poder. Apenas em 1991, já no fim da vida do ex-presidente, que seu neto diz ter tido coragem de tocar no assunto.

“Aqueles que os deuses querem destruir, eles primeiro os fazem presidentes do Brasil”, teria respondido o avô a seu neto de quase mesmo nome. “Quando assumi a Presidência, não sabia a verdadeira situação político-financeira do país. A renúncia era para ter sido uma articulação, nunca imaginei que ela seria de fato executada. Imaginei que voltaria ou permaneceria fortalecido. Foi o maior fracasso da história republicana do Brasil, o maior erro que cometi. Esperavaum levantamento popular e que os militares e a elite não permitissem a posse do Jango, que era politicamente inaceitável para os setores mais influentes da nação na época.”

A história a seguir, todos sabem: Jango, que estava em viagem à China, é ameaçado de ser preso caso voltasse ao país. Começa uma campanha pela legalidade, liderada por Brizola, no Sul. Após duas semanas, Jango consegue assumir, mas com seus poderes diminuídos pela instauração de um parlamentarismo, cujo primeiro-ministro era Tancredo Neves

Na “Revista de História da Biblioteca Nacional”, há diversos artigos que abordam a figura de Jânio Quadros. Um dos textos, “Condecorando Che”, demonstra uma das características mais marcantes de seu governo, a diferença entre uma política externa independente e uma política interna conservadora. Jânio “fez um governo bipolar”, como escreve Villa, citando uma das características mais retrógradas do presidente, de legislar sobre as liberdades individuais, chegando a proibir o biquíni.

Como prefeito de São Paulo, já no fim da carreira e após ter derrotado “um futuro presidente da República” – como faz questão de citar seu neto –, no caso FHC, Jânio tomou outra atitude que se intrometia nos direitos básicos, como o ir e vir. “Em 1988, Jânio Quadros decidiu proibir definitivamente a prática do skate em São Paulo”, anota o historiador Leonardo Brandão, no artigo “Rodinhas duradouras”.

Por fim, a imagem que imortalizou o político. “Os presidentes Jânio Quadros, do Brasil, e Arturo Frondizi, da Argentina, caminham lado a lado pela cidade de Uruguaiana (RS), em plena performance política, acompanhada por jornalistas. Surpreendido por um ruído, Jânio se vira e é flagrado pela câmera atenta de Erno Schneider em uma pose inusitada: cada perna parece querer ir para um lado, os pés também indicam sentidos opostos, num desequilíbrio que sugere a iminência de uma queda, ou de um nó”, como escreveu a professora Ana Maria Mauad.

A foto, “tão forte era a fotografia, e tão fiel ao momento histórico” que “ficou para sempre associada ao personagem. (...) Aquela fotografia jornalística sintetizava o conturbado período político por que passavam o Brasil e o mundo. E iria além, cumprindo um papel quase premonitório.”

A premonição, infelizmente, que todos sabemos sobre o quê.

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