No início da II Guerra Mundial a política de isolamento do povo judeu e a determinação de bairros próprios para esse povo iniciou uma série de cerceamento das liberdades dos judeus em território sob o domínio alemão. Na Polônia e fundamentalmente em Varsóvia, a adoção dessas políticas caracterizou o período mais repressivo que culminou no desenvolvimento de campos de concentração espalhados por grande parte do território polonês.
Os primeiros bairros judeus começaram a aparecer no outono de 1939. Um ano depois os alemães decidiram organizá-los em MURANÓW, ao norte do centro de Varsóvia, zona que foi oficialmente denominada de Conjunto Residencial Judeu (Jüdischer Wohnbezirk). Quase 450 mil pessoas chegaram a ocupar essa área formada por 73 ruas, 27 mim apartamentos, igrejas, fábricas, cemitério e campo de jogo. O bairro foi isolado com um mudo de aproximadamente 3 metros de altura e 18 km de comprimento.
Em 1941 o bairro foi dividido em duas partes: o grande e o pequeno gueto. O comissário alemão Heins Auerswald foi nomeado responsável pelo gueto e as funções administrativas executadas pelo Conselho Judeu (Judemat) e pelo Serviço de Ordem Pública (Polícia Judaica). Estes órgãos representavam e executavam ordens das autoridades nazistas.
As condições sanitárias, de moradia e alimentação no gueto eram deploráveis. Superpovoamento e doenças como tifo passaram a fazer parte do cotidiano do povo judeu. Havia racionamento de comida, de medicamentos e de produtos de higiene. O comércio clandestino desses produtos foi dirigido por grupos organizados de contrabando.
Até 1942 cerca de 100 mil pessoas morreram por conta dessas péssimas condições. A população polonesa, mesmo sabendo dos riscos que corriam, procurava ajudar o povo judeu isolados no gueto. Estes subornavam os policiais alemães e enviavam para o gueto comida e medicamentos. Muitos poloneses tentaram ajudar em fugas, principalmente de crianças. As estatísticas mostram que cerca de 20 mil pessoas foram salvas do gueto.
Apesar das dificuldades de toda ordem no interior do gueto as organizações políticas e partidos funcionavam. Jornais clandestinos e grupos de resistência organizavam educação secreta e atividades culturais.
No ano de 1942 as grandes ações de deportação começaram. Cerca de 265 mil judeus foram transferidos para o campo de concentração de Treblinka e assassinados. Não podemos deixar de mencionar que, a Organização de Luta Judaica e a União dos Combatentes Judeus procuraram organizar a população civil impondo contribuições e ensinando os jovens a manusear as armas na tentativa de organizar ações subversivas contra os alemães.
A Revolta de Varsóvia
Setembro de 1939 pode ser considerado um mês trágico no destino da cidade de Varsóvia e de sua população. O início da II Guerra Mundial significou também o começo de um período trágico na vida de milhares de judeus que ali viviam.
Na sua história, mais uma vez, ficaria registrado um período de subjugo e dominação que marcariam para sempre seu perfil.
A capital conseguiu resistir por um mês das investidas e bombardeios alemães, quando a 28 de setembro foi totalmente tomada. Milhares de pessoas foram detidas, mortas a tiro ou levadas a campos de concentração.
Perseguições, pobreza e fome se abateram sobre a população, mas não diminuíram o ímpeto de luta desses habitantes. Muito embora fosse difícil lutar contra um inimigo tão poderoso organizações de resistência foram formadas, como por exemplo, a Zwiazek Walki Zbrojnej (Associação de Luta Armada) transformada posteriormente em Armia Krajowa (Exército Nacional) subordinada a organização dos escuteiros Szare Szaregi (Fileiras Cinzentas).
Essas organizações se ocupavam da edição de jornais clandestinos que tinham como função conscientizar a população local e reunir o máximo de adeptos à causa. Varsóvia era, para os alemães, o maior foco de resistência e sobre ela recairiam toda a destruição física e moral do povo polonês.
No outono de 1943 o terrorismo alemão se tornou mais frequente e as ações de captura nas ruas da cidade comuns. Em contrapartida as organizações clandestinas realizavam e sentenciavam execuções dos mais cruéis agentes de Hitler. Essas ações fizeram com que os alemães repensassem as execuções sumárias que promoviam nas ruas porque ficavam mais expostos a serem tratados da mesma forma.
Varsóvia estava na linha de fogo. Os combates entre alemães e o Exército Vermelho ecoavam na cidade. O medo alemão diante do Exército Vermelho deu um sopro de esperança aos líderes das organizações clandestinas de Varsóvia que tentaram lutar pela liberdade e pela independência da Polônia. Tentativa logo frustrada. A entrada em 1944 do Exército Vermelho na Polônia fazia aparecer novamente o velho fantasma da subordinação agora representada pela União Soviética.
O salvamento da capital das mãos dos alemães pelo exército Nacional Polonês, antes da entrada das forças soviéticas, era a última chance antes do domínio efetivo de Stalin sobre a região.
Nessa encruzilhada as autoridades polonesas decidiram iniciar uma revolta em Varsóvia. O comandante do Exército Polonês Tadeusz Komorowski (alcunha Bór) declarou:
“Lutamos pelo mundo inteiro, não podíamos ter permanecido passivos na nossa própria terra (…). A nação que quer viver em liberdade não pode permanecer passiva nos momentos em que se decide seu futuro” (Pequeno folheto sobre Auschwitz, p. 12)
No dia 26 de julho de 1944 o governo polonês que estava no exílio em Londres autorizou o general Bór-Komorowski e Jan Stanislau, delegado de governo, a iniciar uma ação armada pela libertação de Varsóvia. Considerando a aproximação das tropas soviéticas, o general Bór-Komorowski, em 31 de julho de 1944 deu ordem de revolta. Em seguida o comandante da Área de Varsóvia, o coronel Antoni Chrusciel designou o dia 1º de agosto às 17:00 horas para a explosão da revolta.
A Força Aérea de Varsóvia contava com aproximadamente 50 mil soldados. Os combates eram de lado a lado. Ainda no mês de agosto o comandante da SS Heinrich Himmler deu a seguinte ordem:
“Matar cada habitante, é proibido levar prisioneiros. Varsóvia deve ser reduzida aos escombros” (Pequeno folheto sobre Auschwitz, p.15)
A revolta de Varsóvia é considerada a maior e a mais dramática ação na capital do Exército Nacional. Combates sangrentos ocorreram por toda a cidade. Durante os combates o Exército Nacional se juntou com outras forças organizadas como o Exército Popular (Armia Ludowa), o Corpo de Segurança e as Forças Armadas Nacionais (Korpus Bzpieczentwa i Narodowych sit Zbrojnych). A população civil e até mesmo crianças aumentaram as fileiras do exércitoo que deu à Revolta o caráter de Nacional.
Para sobreviver em meio a um ambiente de guerra e devastado pela miséria foi criado um sistema de distribuição de alimentação. Criou-se também a rádio-estação da revolta.
O Exército Vermelho não apoiou a Revolta de Varsóvia como também não autorizou a prestação de qualquer ajuda. As tropas soviéticas que se encontravam a apenas alguns quilómetros de Varsóvia permaneceram passivas, deixando os alemães destruírem impunemente a cidade.
Após 40 dias, a Revolta começava a enfraquecer e as lutas em Varsóvia contra os alemães foram assumidas pelos soviéticos. Os aviões forneciam os produtos que estavam em falta e os “caça” soviéticos atacavam os bombardeiros alemães.
Nos dias 13, 14 e 15 de setembro de 1944 as tropas russas e as unidades polonesas já haviam derrotado os alemães e subordinado o país aos desígnios soviéticos.
Fabiana Scoleso
Fonte:http://sala19.wordpress.com