15.5.12

14 mitos e fatos do Titanic


Nos últimos 100 anos, muito se falou sobre o naufrágio mais famoso do mundo - inclusive algumas mentiras

Fernando Duarte


Nos números, o naufrágio do Titanic, que este mês completa 100 anos, não é a maior tragédia marítima da história. Suas 1 514 vítimas fatais correspondem a menos da metade das mais de 4 mil pessoas que morreram no incêndio da embarcação filipina Doña Paz, em 1987. Em seu tempo, o Titanic não era o navio mais veloz nem o mais resistente, mas tornou-se o naufrágio mais famoso dos oceanos graças a fatores tão variados como afundar na viagem inaugural depois de colidir com um iceberg no meio do Atlântico Norte e a presença de celebridades a bordo. O navio acumulou uma vasta coleção de histórias coladas à narrativa principal, já tão explorada em Hollywood e adjacências. Algumas flertam abertamente com a ficção, outras nem tanto. Indiscutível é o fascínio que elas ainda provocam. A seguir, alguns mitos e fatos sobre o Titanic que sobrevivem ao longo de um século.



O Titanic na viagem inaugural, que seria a última: busca por novidades gerou mitologia desmascarada por historiadores (foto: reprodução)

1 - Champanhe amaldiçoada

Nos batizados de navios, se a garrafa de champanhe batida contra o casco não quebra de primeira, é um sinal de mau agouro. Isso teria ocorrido com o Titanic. Não procede. A White Star, dona do navio, não costumava realizar a cerimônia.

2 - Concerto embaixo d`água?

Uma das histórias mais comuns sobre o Titanic fala sobre a bravura e resignação dos músicos. Eles teriam tentado serenar os ânimos tocando valsas e mesmo um hino gospel durante o naufrágio. Jornais americanos e britânicos, com base em depoimento de passageiros e rumores, falavam até em acordes soando quando os músicos tinham água pela cintura. Historiadores como Richard Howells, autor de O Mito do Titanic, apontam para impossibilidades físicas óbvias, como o fato de o navio estar adernando e prestes a se partir. Mas o fato de nenhum dos 13 músicos a bordo do Titanic ter sobrevivido deu carga dramática especial à história. O enterro do maestro Wallace Hartley reuniu 40 mil pessoas. O corpo de Hartley teria sido resgatado com o estojo do violino a tiracolo. Justiça seja feita, só ter tentado tocar já poderia ser considerado um feito heroico.

3 - Smith x Schettino

Diferentemente de Francesco Schettino, o infame capitão cuja pressa em abandonar o navio Costa Concordia deu fama à expressão vada a bordo..., os oficiais do Titanic não tiveram a honradez questionada. O comandante, Edward John Smith afundou com o navio. Smith, porém, pode ser comparado a Schettino no que diz respeito à habilidade no timão. O inquérito do naufrágio concluiu que o capitão foi imprudente ao não diminuir a velocidade depois de receber informações sobre a presença de icebergs na rota e ao permitir que os botes saíssem parcialmente ocupados, o que teria contribuído para a morte de pelo menos 500 pessoas, um terço das vítimas da tragédia.

4 - Ismay, o crápula

O Titanic não violou a lei ao zarpar com apenas 20 botes salva-vidas - suficientes para 30% do total de passageiros e tripulantes. A legislação britânica tinha como parâmetro navios de 10 mil toneladas, 5 vezes menores que o Titanic. O projetista do navio, Thomas Andrews, previu 64 botes. Seus planos foram vetados por J. Bruce Ismay, diretor da White Star, por causa dos custos e da estética: botes extras teriam de ser alojados no convés da 1ª classe. Ismay também teria ignorado a regra de preferência para mulheres e crianças ao se alojar num dos botes. Passou o resto da vida como pária e viajava incógnito em trens e navios.

5 - O navio que não afunda

A história do navio inafundável surgiu em publicações especializadas da indústria naval, depois de executivos da White Star terem ressaltado a preocupação com a segurança de cargas e passageiros na concepção do projeto.





Clique nas imagens para ampliar (Design: Leandro Guima)

6 - Drama para as câmeras

Dorothy Gibson, assim como vários outros sobreviventes do Titanic, relatou o horror do naufrágio. Porém precisaria revisitar seus fantasmas pouco tempo depois de pisar terra firme. Ela estrelou Salva do Titanic, filme lançado apenas um mês após a tragédia e uma produção que mexeu com a sanidade da atriz - nas filmagens, usou a mesma camisola que trajava quando embarcou num dos botes salva-vidas. Salva do Titanic, por sinal, nem de longe foi uma tentativa isolada de lucrar com o naufrágio. Mais de 100 produções cinematográficas ou televisivas sobre os acontecimentos da noite gelada de 15 de abril foram realizadas, incluindo a dirigida por James Cameron, o mais lucrativo filme da história. A arrecadação de US$ 1,8 bilhão aumentará este ano com a chegada da versão em 3D.

7 - Titanic, a palavra

Titanic é a terceira palavra na língua inglesa mais reconhecida ao redor do mundo, atrás apenas de Deus (God) e Coca-Cola.

8 - Cofre cheio

Rumores de que os cofres do Titanic estavam cheios de ouro, joias e dinheiro alimentou a ambição de muitos caçadores de recompensas - afinal, diversos membros da alta sociedade europeia e americana estavam na 1ª classe. No entanto, em 1987, o cofre foi resgatado e aberto diante das câmeras de uma equipe de TV americana: nele havia um único bracelete de diamantes. Só.

9 - Os que escaparam

Assim como na final da Copa do Mundo de 1950, em que o Maracanã teria de ser várias vezes maior para abrigar todas as pessoas que alegam ter assistido à vitoria do Uruguai sobre o Brasil, é bem possível que o Titanic precisasse de mais espaço para os que supostamente perderam a viagem. Há casos verídicos, como o do italiano Guglielmo Marconi, dono das patentes do telégrafo e do rádio, que recebeu a oferta de bilhetes porque sua empresa prestava serviços à White Star. Ele viajou para Nova York 3 dias antes no Lusitania, que em 1915 seria afundado por um submarino alemão.

10 - Pressa do capitão

Os depoimentos dos sobreviventes não podem ser considerados ao pé da letra se levado em conta o estresse e a confusão. Adicione à mistura o afã da imprensa dos dois lados do Atlântico e está pronto um bolo de informações em que a licença poética não raramente ofuscou fatos. Exemplo? A pressa do capitão: a versão de que a negligência do comandante do Titanic foi alimentada pelo desejo de estabelecer um novo recorde para a travessia do Atlântico durante anos foi veiculada como uma das razões pelas quais o navio trafegava em alta velocidade numa zona cheia de icebergs. Mas o inquérito que investigou o desastre concluiu que o Titanic seguia a 22 nós no momento do choque, pelo menos 2 nós abaixo de sua velocidade máxima. E o navio não era uma embarcação construída para ser veloz - seu sistema de propulsão o fazia mais lento do que vários transatlânticos da época.

11 - Tiro fictício

Na versão de James Cameron para o desastre, o imediato do Titanic, William Murdoch, mata a tiros um passageiro da 3ª classe que tentava escapar. Embora alguns tripulantes mais graduados tivessem recebido armas como uma forma de garantir a segurança e controlar as multidões em caso de pânico, historiadores que estudaram o naufrágio geralmente concordam que o episódio jamais ocorreu. E o fato de a produtora Fox ter pedido desculpas oficialmente à família de Murdoch é um sinal evidente do exagero.

12 - Suicídios

Dez sobreviventes cometeram suicídio, incluindo Frederick Fleet, o vigia que estava de plantão na noite em que o Titanic bateu no iceberg e que alertou o capitão sobre o ocorrido. Outro caso célebre foi o de Annie Robinson, tripulante que havia sobrevivido a um naufrágio anterior, também envolvendo uma colisão com um iceberg. Ela se atirou de um navio prestes a atracar no porto de Boston - o som da buzina de alerta para nevoeiro teria despertado memórias da noite gelada no Atlântico Norte.

13 - Travestis oportunistas

A história de que homens teriam se disfarçado de mulher para conseguir vaga nos botes salva-vidas esbarra no fato de que muitos barcos foram ao mar sem lotação esgotada, algo que historiadores explicam ter sido motivado também pela relutância de muitos passageiros em deixar o navio.

14 - Centenário lucrativo

Entre as muitas celebrações do centenário, há um cruzeiro memorial, que recriará a rota que deveria ser cumprida pelo Titanic, e que incluirá missa campal nas coordenadas do naufrágio - todas as passagens foram vendidas. Bolsos mais profundos garantem um passeio privilegiado: uma viagem de minissubmarino aos destroços do Titanic, que repousam a quase 4 mil metros de profundidade. O preço da passagem? US$ 60 mil.




Fonte:Aventuras na História