A partir de 1862 os Guaranis e os Jesuítas reiniciam a segunda fase das Reduções Jesuíticas denominada de Sete Povos. A finalidade desta ocupação era deter o avanço português em direção ao litoral sul, para tal o governo espanhol determinou a fundação de povoados a partir do Uruguai, ocupando as terras com estâncias e lavouras.
A organização dos Sete Povos assemelhava-se à estrutura dos povoados espanhóis: com uma praça central tendo em volta as diferentes edificações. Num dos lados da praça erguia-se o complexo formado pela igreja, residência dos padres, cemitério, cotiguaçu, colégio, oficinas e horta.
A praça era um espaço cívico-religioso com uma cruz latina em cada canto, tendo também uma coluna com o orago do povoado. Aos domingos e dias santificados os nativos realizavam procissão, jogos, danças e teatros. Na saída da missa os adultos recebiam a ração diária da erva-mate. Depois da refeição noturna, a comunidade se reúne na igreja para orar.
No primeiro dia de cada ano elegia-se o CABILDO que governaria o povo naquele ano, sendo os eleitos, por formalidade, aprovados pelo governador de Buenos Aires.
Cada povo dividia-se em classes, segundo o oficio, tendo cada um seu ALCAIDE privativo. As mulheres, também segundo o oficio, tinham alcaides próprios: velhos de conduta exemplar. Os meninos e meninas a partir dos 5 anos, eram confinados a alcaides ou aias, respectivamente, que os deveriam assistir tanto material como espiritualmente, bem como procuravam habitua-los desde pequenos aos trabalhos a que seriam destinados.
Cada povo dividia-se em PARCIALIDADES que levaram nomes de santos, de 8 a 10, conforme a população. Cada PARVIALIDADE era assistida por 4 a 6 caciques, a quem eram confiadas de 40 a 50 famílias para zelar, determinar e controlar o trabalho, distribuir terras, etc.
O cacicado era hereditário, continuação do cargo de quando ainda não eram missioneiros e constituía certa nobreza. No entanto no trabalho não havia privilégios.
Quarenta anos haviam passado no exílio os nativos fugidos dos bandeirantes e no RS, o gado estava se multiplicando prodigiosamente. Este gado era considerado por eles de sua propriedade.
Quando este gado começou a ser explorado por espanhóis e portugueses, depois do cerco da Colônia do Sacramento, em 1680, os Tapes que ainda sofriam a saudade da pátria, decidiram retornar. Fato que foi reforçado com a fundação pelos portugueses em 1686 da cidade de Laguna.
Não se localizavam precipitada ou desordenadamente nativos liderados pelos missionários, se antecediam escolhendo cuidadosamente o lugar: alto de uma coxilha, com boas terras cultiváveis para a agricultura e águas abundantes. A distancia entre um povo e outro devia ser de 25 a 30 km, um dia de caminho para a época. A torre da igreja se via a torre da igreja do Povo vizinho, o que facilitava a comunicação por sinais convencionais em caso de perigo e necessidade de socorro mútuo.
Escolhido o lugar, vinham os homens, sempre auxiliado pelos demais povos, construíram as casas de madeira e palha no inicio. Plantavam as primeiras lavouras e quando essas começavam a produzir, chegava toda a população que daria inicio ao povo.
São Francisco de Borja
Fundado em 1682, a principio era apenas era apenas uma espécie de colônia do Povo de São Tomé, de onde partiram 195 pessoas.
Agregou-se a este Povo, uma pequena aldeia, construída pouco antes, com nativos genoas: a Jesus Maria dos Genoas.
Recebendo nova leva de São Tomé formou-se um povo a parte, em 1687. O fundador deste Povo foi o Padre Francisco Garcia. Menção especial merece o irmão José Brazanelli que orientou a construção da Igreja e das casas do Povo, bem como treinou e comandou os nativos em vários combates contr a Colônia do Sacramento e a Confederação dos Genoas, instigados pelos portugueses. São Francisco de Borja contava em 1707 com 2814 habitantes.
São Luiz Gonzaga
Descendentes das antigas reduções de São Joaquim e Santa Tereza, cujos retirantes haviam sido recolhidos pelo Povo de Conceição (o mais antigo da Banda Ocidental do Uruguai) eram as 2.922 pessoas que iriam formar São Luiz Gonzaga, em 1687. Presidiu o retorno o Padre Alonso de Castilho. Superior de todos os Povos e foi o 1º Cura o Padre Miguel Fernandes. Em 17007 contava com 1997 habitantes.
São Nicolau
Ante a investida bandeirante os habitantes da redução de São Nicolau ladearam o rio Uruguai onde, em 1651, formaram um só Povo, com o nome de apóstolos, com os nativos também fugidos do Tape e da redução desse mesmo nome.
De apóstolo saíram 3000 pessoas em 1687, voltando para o lugar primitivo a que deram o mesmo nome, isto é, São Nicolau.
Duas desgraças marcam o inicio deste novo Povo: um furacão devastador e um incêndio que destruiu quase tudo, a partir da Igreja. Refizeram-se logo desses revezes e, em alguns anos o Povo e a Igreja já estava reconstituído com pedra. Foi seu construtor o Padre Anselmo de La Mata. Em 1707 contava com 5386 pessoas.
São Miguel Arcanjo
A primitiva redução de São Migel fora fundada em 1632 pelo Padre Cristóvão de Mendonça, à margem direita do rio Ibicuí. Fugindo dos bandeirantes, sua população refugiou-se nas proximidades de Conceição.
Em 1587, alegando falta de espaço para a expansão de suas lavouras, resolveram retornar 4195 pessoas fixando-se na Bacia do rio Piratini, no local onde conhecemos hoje as ruínas desse povo.
Já em 1690 os nativos estavam construindo uma ampla casa de seis aposentos para os padres... estando bem adiantadas outras cem, destinadas aos nativos, todas cobertas de telhas de barro, que fabricavam na doutrina.
A famosa igreja das atuais ruínas foi construída pelo arquiteto irmão João Batista Primoli, que construira antes a catedral de Córdoba, o Cabildo e a Igreja de São Francisco de Buenos Aires. Dirigiu a construção da Igreja de São Miguel de 1735 a 1744 com o auxilio exclusivo de pedreiros e carpinteiros Guaranis em numero de 1000.
Em 1697 parte da sua população 2832 pessoas desmembrou-se, indo fundar São João Batista. Em 1707 possuía 3110 habitantes.
São Lourenço Mártir
Foi fundada em 1690 com nativos do Povo de Santa Maria Maior, descendentes dos fugitivos do Gaíra. Esse Povo foi liderado pelo Padre Bernardo de La Veja, instalando no inicio 3510 pessoas. Em 1707 eram 4519 os habitantes deste Povo.
São João Batista
Em 1597, considerou-se que as redondezas do povo de São Miguel já não bastavam para prover a população: dele saíram então, 2832 pessoas dando origem ao Povo de São João Batista.
Foi fundador desse Povo, talvez o mais genial dos missioneiros que trabalhavam nos povos missões, o Padre Antonio Sepp. Era musico, com sólida formação de musica vocal e instrumental. Artista: os instrumentos de sua orquestra foram todos feitos por ele e seus discípulos.
A Igreja teve inicio em 1708, ano em que já havia mais de 3400 nativos neste povo. Arquiteto construiu o Povo e a “Igreja, que nada ficava devendo às Igrejas BAvarias”, segundo testemunho da época. Extraiu o primeiro ferro das Missões, fazendo instrumentos de toda a espécie, bem como os sinos da Igreja do seu Povo. Sua obra-prima foi o relógio da torre da Igreja que ao dar as horas, fazia desfilar pelo mostrador 12 apóstolos. No povo de São João Batista havia artista em todas as profissões, todos orientado pelo Padre Sepp.
Santo Ângelo Custódio
Conceição fora o Povo que abrigava maior numero de nativos que haviam fugido dos bandeirantes. Dele se desmembrou, em 1687, o Povo de São Luiz Gonzaga.
Considerando ainda em excesso de população, nova leva partia em 1706 e, depois de atravessar o rio Uruguai, localizava-se na confluência do rio Ijuizinho com o rio Ijuí. No entanto, por ser reduzido o espaço para a expansão do povo no ano seguinte, em 1707, transpondo o rio Ijuí radicou-se onde hoje se ergue à cidade do mesmo nome. Eram 2879 os seus primeiros habitantes. Deve-se ao Padre Diogo de Hasse a fundação do Povo de Santo Ângelo Custódio.
Estes Sete Povos, com os 23 Povos da Banda Ocidental do Uruguai formavam uma província, sob a jurisdição do Provincial dos Jesuítas. No entanto, cada a relativa autonomia interna.
Este texto foi escrito por Patrícia Barboza da Silva.
Referencias bibliográficas:
FLORES, Moacyr. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Nova Dimensão 1996, 5ª ed.
_______________ . Colonialismo e Missões Jesuíticas. Porto Alegre, EST, 1983.
LAZAROTTO, Danilo. Historia do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Sulina, 1982.
QUEVEDO, Julio. Rio Grande do Sul Aspectos das Missões. Porto Alegre, Martins livreiro,
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• LAZAROTTO, Danilo. Historia do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Sulina, 1982.
QUEVEDO, Julio. Rio Grande do Sul Aspectos das Missões. Porto Alegre, Martins livreiro, 1991.
Texto escrito por Patrícia Barboza da Silva.
23.10.09
Povos das Missões
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