2.9.11

Segunda Guerra Mundial: as motivações para a batalha

Tropas alemãs marcham em direção a Praga durante a invasão da Tchecoslováquia. Foto: Three Lions/Getty Images

Tropas alemãs durante a invasão da Tchecoslováquia


A Segunda Guerra Mundial, iniciada setembro de 1939, foi a maior catástrofe provocada pelo homem em toda a sua longa história. Envolveu setenta e duas nações e foi travada em todos os continentes (direta ou indiretamente). O número de mortos superou os cinqüenta milhões havendo ainda uns vinte e oito milhões de mutilados.

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É difícil de calcular quantos outros milhões saíram do conflito vivos, mas completamente inutilizados devido aos traumatismos psíquicos a que foram submetidos (bombardeios aéreos, torturas, fome e medo permanente). Outra de suas características, talvez a mais brutal, foi a supressão da diferença entre aqueles que combatem no fronte e a população civil na retaguarda. Essa guerra foi total. Nenhum dos envolvidos selecionou seus objetivos militares excluindo os civis.

Atacar a retaguarda do inimigo, suas cidades, suas indústrias, suas mulheres, crianças e velhos passou a fazer parte daquilo que os estrategistas eufemisticamente classificavam como "guerra psicológica" ou "guerra de desgaste". Naturalmente que a evolução da aviação e das armas autopropulsadas permitiu-lhes que a antiga separação entre linha de frente e retaguarda fosse suprimida.

Se a Primeira Guerra Mundial provocou um custo de 208 bilhões de dólares, esta atingiu a impressionante cifra de 1 trilhão e 500 bilhões de dólares, quantia que, se investida no combate da miséria humana, a teria suprimido da face da terra. Aproximadamente 110 milhões de homens e mulheres foram mobilizados, dos quais apenas 30% não sofreram morte ou ferimento.

Como em nenhuma outra, o engenho humano foi mobilizado integralmente para criar instrumentos cada vez mais mortíferos, sendo empregados a bomba de fósforo, a napalm e finalmente a bomba política de genocídio em massa, construindo-se campos especiais para tal fim. Com bem disse o historiador R.A.C. Parker: "O conceito que a humanidade tinha de si mesmo, nunca voltará a ser o mesmo".

Causas Gerais
"... a decisão de qualquer guerra nem sempre deve ser considerada como um caso absoluto: muitas vezes o Estado vencido vê na sua derrota um mal transitório, a que as circunstâncias políticas ulteriores poderão fornecer um remédio." - Clausewitz

Causas diplomáticas
Quase todos os historiadores concordam que a causa diplomática mais profunda da Segunda Guerra Mundialtem sua origem no Tratado de Versalhes, assinado entre as potências vencedoras da Primeira Grande Guerra(Estados Unidos, Inglaterra e França) e as vencidas (Alemanha e Áustria). A Alemanha se viu despojada da Alsácia-Lorena (que havia conquistado na guerra franco-prussiana de 1870), como teve de ceder à Polônia uma faixa de território que lhe dava acesso ao Mar Báltico (o chamado "corredor polonês").

A cidade alemã de Danzig passaria ao controle da Liga das Nações e o território do Sarre, rico em carvão, foi cedido por um período de 15 anos à França. Também foi vedado à Alemanha possuir um exército superior a 100 mil homens, exigiu-se a desmilitarização da Renania (região fronteiriça com a França), assim como o desmantelamento das fortificações situadas a 50 km do Reno. Viu-se compelida a entregar todos os navios mercantes cuja tonelagem ultrapassasse 1.600 toneladas, e a ceder gado, carvão, locomotivas, vagões, cabos submarinos, etc.

A quantidade da sua dívida para com os aliados foi fixada na Conferência de Bologne (21 de junho de 1920) em 269 bilhões de marcos-ouro, a serem pagos em 42 anualidades. Não poderia ainda desenvolver pesquisas bélicas, possuir submarinos ou realizar projetos militares (aviões, canhões, etc.).

O velho Império Austro-Húngaro foi desmembrado pelo tratado de Paz de St. Germain-en-Laye, em que teve de entregar o Tirol do Sul para a Itália, e reconhecer a independência de Hungria, Tchecoslováquia, Polônia e Iugoslávia, além de lhe ser vedada a união com a Alemanha. A Áustria foi proibida de possuir um exército superior a 30 mil homens.

Estas sanções aplicadas pelos vencedores tornaram-se fonte de amargos rancores, que facilmente foram explorados pela extrema direita nacionalista (nazistas e capacetes-de-aço, que começam a proliferar na Alemanha em 1919). O grande erro do Tratado de Versalhes foi ter ferido profundamente o sentimento nacional dos alemães, e, por outro lado, não lhes ter suprimido o potencial industrial.

Com 65 milhões de habitantes e uma tradição militar, a Alemanha fatalmente viria reivindicar o seu lugar no rol das potências européias. Os diplomatas burgueses se esqueceram da lição do Congresso de Viena (1815), quando os vencedores de Napoleão procuraram não humilhar a França, a nação mais povoada da Europa Ocidental naquela época. Esta contradição entre potencial demográfico e industrial e o não reconhecimento diplomático de um estatuto privilegiado para a Alemanha, terminaram por fazer com que a ascensão de Hitlerfosse possível.

O novo sistema defensivo: os aliados ocidentais, principalmente a França, ao estimularem o surgimento de novos estados-nacionais na Europa Centro-Oriental, visavam substituir a Rússia (então em plena guerra civil) como um fator de dissuasão para qualquer tentativa alemã de agressão. A Tchecoslováquia e a Polônia assinaram tratados de defesa mútua com a França e com a Inglaterra. Esperava-se que estes dois países obrigassem os alemães a lutar em duas frentes - como ocorreu durante a Primeira Guerra Mundial - caso tentassem repetir o erro de 1914.

A França, por sua vez, iniciou a construção da "Linha Maginot", um complexo sistema defensivo que partia da fronteira suíça até a Bélgica. Desta forma, esperava evitar um ataque de surpresa por parte do poderoso vizinho. No entanto, os efeitos morais e psicológicos desta atitude tiraram-lhe qualquer alternativa ofensiva, limitando-se a ter que agir caso os alemães o fizessem primeiro.

A Inglaterra, no período entre-guerras, tornou-se cada vez mais apaziguadora, segura de ser uma ilha e de possuir a mais poderosa frota naval do mundo dando-lhe proteção suficiente caso houvesse um novo conflito. Os Estados Unidos voltaram nos anos vinte a adotar a política do isolacionismo, não querendo envolver-se nas querelas dos países europeus. Estas ambigüidades e atitudes defensistas seriam habilmente exploradas por Hitler na década dos anos trinta.

Fonte:

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