1.10.09

Há 60 anos, Revolução Comunista criou as bases para a China moderna

Discurso de Mao Tsé-tung em 1949 fundou a República Popular da China.
Saiba mais sobre a história do país que se tornou a 3ª economia do mundo.

No dia 1º de outubro de 1949, o Partido Comunista chegava ao poder na China. Liderada por Mao Tsé-tung (1893-1976), a agremiação formada por camponeses, operários e estudantes, fundada em 1921, propunha a reforma agrária e uma política econômica e social anticolonialista, rompendo com o passado do país, até então terra dominada por imperadores e senhores feudais.


Ao discursar na Praça da Paz Celestial, em Pequim, o líder comunista implantava a República Popular da China. Mas o caminho que levou a nação mais populosa do mundo a se tornar a terceira maior economia global ainda teria enormes percalços.

O regime comunista daria início a uma série de reformas com o objetivo de tentar industrializar o país. Mas o programa econômico mais ambicioso de Mao, conhecido como o “Grande Salto para a Frente”, cujo objetivo era acelerar a industrialização do país entre 1958 e 1963, teria resultados desastrosos, aumentando a fome e provocando mortes, principalmente nas zonas rurais.

A despeito do fracasso, o analista político Wladimir Pomar acredita que muitos dos métodos esboçados no plano ainda estão presentes na prática do regime comunista. “Na realidade, apesar das criticas a Mao, todos os métodos que ele instalou durante o processo da revolução continuam sendo utilizados e muito presentes nos documentos do Partido Comunista chinês”, diz o autor de “A Revolução Chinesa” (Ed. Unesp).

Revolução cultural

A tentativa de Mao Tsé-tung de recuperar a liderança no partido após a frustração com o plano levaria, na década de 1960, à Revolução Cultural, período marcado pela radicalização das teses maoístas e pela intensa perseguição política aos críticos do regime. Os líderes mais moderados do Partido Comunistas foram derrubados por estudantes integrantes da Guarda Vermelha de Mao.


Então secretário do partido, Deng Xiaoping foi preso e torturado. Mestre em relações internacionais pela universidade chinesa de Zhejiang, o brasileiro Ivan Quagio considera este período o ponto de inflexão no processo desencadeado pela revolução, após o “clímax” com as reformas anunciadas nos anos 50.


“[A Revolução Cultural] foi a evidência de que o regime não estava mais funcionando. Com a morte de Mao e o fim da revolução, em 1976, o país estava um caos completo, a população estava insatisfeita apesar de toda a propaganda comunista, a economia estava em frangalhos”, disse ao
G1 de Xangai, onde vive há cinco anos, o autor do recém lançado “Olhos Abertos – A História da Nova China” (Ed. Francis).

Foto: Feng Li / AFP

Vista geral do banquete oficial das comemorações do 60º aniversário da Revolução Chinesa, no Grande Salão do Povo, em Pequim (Foto: Feng Li / AFP )

Foi esse o contexto que, segundo o escritor, promoveria a ascensão de Deng Xiaoping ao poder, após uma dura disputa dentro do partido, entre o escolhido por Mao como seu sucessor, Hua Guofeng, e o Grupo dos Quatro, liderado pela viúva do ex-chefe do partido, Jiang Qing, e outros três líderes comunistas.


Insatisfeitos com as ações do grupo, considerados os principais autores das ações mais violentas durante a Revolução Cultural - pelo qual foram condenados à prisão perpétua no início dos anos 80 - os comunistas escolheram Deng Xiaoping como o novo líder do regime.


“Durante os anos 80, Deng foi peça de equilíbrio entre a parte conservadora e mais avançada do partido economicamente”, afirma Quagio. O país finalmente começava a avançar economicamente, mas sob um regime que se fechava cada vez mais politicamente. “Nos anos 80 houve uma campanha contra a poluição do espírito burguês – toda a influência ocidentalizada era considerada negativa à população chinesa“, diz o autor.

Massacre na Praça da Paz

A luta pelas liberdades pessoais levaria milhares de jovens chineses às ruas em junho de 1989, no episódio que ficou conhecido como o Massacre da Praça da Paz Celestial. Durante os protestos, que se estenderam por semanas, o governo empreendeu uma dura ação de repressão. A visita do então líder soviético Mikhail Gorbachev no mesmo período levou grupos de mídia do mundo inteiro ao país, o que deu aos protestos uma escala global.


As imagens ganharam o mundo e afastaram investidores do país. “Deng percebeu que se não fizesse nada pela imagem da China, o país pararia de crescer ou até retroceder. Foi aí que deixou os conservadores de lado e começou as reformas, iniciando uma série de viagens pela China para enaltecer o que havia sido construído, as fábricas, o lucro, a riqueza. Nos anos 90, ele foi o grande promotor da liberalização”, afirma Ivan Quagio.


A partir de então, o país encontraria o caminho do crescimento. Nos anos 90, o partido anuncia um programa de privatizações. A China iniciava um ciclo de crescimento com impressionantes índices em torno de 10% ao ano, sem recuar do forte controle político, o que inclui até mesmo a internet.

Potência global?

Se as contradições internas vão impedir que a China, que ultrapassou a Alemanha como a terceira maior economia do mundo, se torne um líder global, os pesquisadores sobre país ainda divergem.


“A China vai se transformar na maior potencia econômica do mundo. Está jogando pesadíssimo para resolver seus problemas ambientais. À medida que for criando uma nova cultura social, pode conseguir ser mais democrática até que outros países. Se isso vai acontecer é outro problema, já que as contradições internas muito grandes”, acredita Wladimir Pomar.


Para Ivan Quagio, é impossível prever se o impulso econômico levará o país a se tornar um líder global. “A China tem um crescimento enorme, invejável, mas a um custo muito grande que é o da liberdade de pensamento da população. Se este tipo de regime vai dar certo, se esse país vai ser uma potência global, só o futuro nos dirá.”


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