1.4.12

Por que lutavam os gladiadores

Regras de conduta, treino com armas e trabalho duro: o que faz parte da vida dos lutadores e o cinema não revelou.


Coliseu: 50 mil pessoas acompanhavam as lutas. Nos meandros embaixo da arena (hoje descobertos), os gladiadores esperavam a vez de combater



Quando eles entravam na arena do Coliseu romano era para matar ou morrer. Gladiadores eram escravos, prisioneiros de guerra condenados à morte ou criminosos. As batalhas que encaravam na arena do Anfiteatro Flávio, como era conhecido o Coliseu no segundo século da era cristã, representavam a chance de salvar a pele. Aos gladiadores era permitido fugir da pena capital massacrando os oponentes. Se tivessem êxito, poderiam ganhar, além da fama, dinheiro para recuperar a liberdade.

Nunca se soube de um gladiador que tivesse desafiado diretamente o poder do imperador, como foi retratado no filme do inglês Ridley Scott (Gladiador, EUA, 2000). A História conta que Cômodo, filho louco de Marco Aurélio, até fingia lutar na arena. Mas tomava cuidado em neutralizar seus oponentes. Foi assassinado em 192 d.C. a mando dos inimigos.

Os gladiadores sobreviveram até por volta de 400 da era cristã. Tiveram seus dias de glória durante o império, quando vários centros de treinamento nos arredores de Roma chegaram a receber mil homens. Naquela época, eram divididos em oito categorias definidas em função das armas: redes, punhais, tridentes, espadas, escudos e capacetes. As regras das batalhas eram rígidas e, mesmo com armamentos diferentes, na arena deveria haver um certo equilíbrio para que o resultado fosse incerto. O fascínio desse tipo de luta ficou na história e inspirou mais do que filmes épicos. As lutas greco-romanas, por exemplo, uma modalidade olímpica, seguiram algumas de suas regras.

Carne e bastante vinho

Como os atletas de hoje, os lutadores da Roma Antiga também se preparavam com afinco antes dos combates. Um dos cuidados era obedecer a uma rígida dieta. Alimentavam-se basicamente de cereais e farináceos, que ajudavam a manter os músculos em forma. Como prêmio, no dia anterior às batalhas, eles tinham direito ao que os romanos chamavam de cena libera (jantar livre). No cardápio, carne à vontade, frutas e vinho, muito vinho, como era praxe na capital do Império Romano. Além da dieta rigorosa, os gladiadores ainda praticavam exercícios para apurar a forma física e aprendiam a combater e morrer com bravura e dignidade. Vacilar jamais. Esperava-se do bom lutador coragem absoluta. Ele deveria sempre matar e não ferir ou mutilar o oponente. Por isso mesmo, algumas partes do corpo, como braços e pernas, em que uma ferida não seria mortal, eram protegidas apenas por uma couraça. Mas fazia parte da disputa ser vulnerável e deixar o peito descoberto, protegido apenas por um pequeno escudo de madeira ou couro.

No dia das lutas, os gladiadores eram conduzidos de carro com toda a pompa até o Coliseu. Davam uma volta pela arena em ordem militar, vestidos com mantos tingidos de púrpura e bordados com ouro. Atrás, vinham os escudeiros carregando suas armas. Quando chegavam à altura da tribuna, dirigiam-se ao imperador e, com a mão direita esticada, o saudavam com entusiasmo. Era o sinal de que o show estava para começar.

Ao redor da arena, cerca de 50 mil espectadores passavam o dia assistindo às lutas. Os romanos torciam com entusiasmo e gostavam de ver sangue na arena. Em geral, eram recompensados. Mas, às vezes, os dois oponentes conseguiam chegar inteiros ao fim da luta e tinham o direito de sair da arena vivos. O mais freqüente, no entanto, era um deles receber um golpe preciso e ficar incapacitado. Nesse caso, o vencido, atordoado ou ferido, depunha as armas, deitava-se de costas e erguia a mão esquerda para pedir perdão. A princípio, cabia ao vencedor decidir. Se o imperador continuasse presente, era dele o veredicto final. Caso o vencido tivesse lutado bravamente, os espectadores agitavam lenços e pediam perdão para o derrotado. Não existe registro de que levantassem o polegar como se vê nos filmes. Se a platéia considerasse que o gladiador havia sido medroso e merecesse a derrota, optava pela degola. O imperador ordenava então a morte recebida com alívio pelo combatente.

Arenas de Roma em Hollywood

Gladiador (Gladiator, EUA, 2000. Direção de Ridley Scott, com Russel Crowe, Joaquin Phoenix, Richard Harris)
O ano é 180 d.C. O general Maximus (Crowe) está prestes a ser indicado como novo imperador. Mas ele é traído e tem que fugir para não morrer. Acaba se tornando um gladiador vencedor e só pensa em vingança.
Anote : Internet http://www.gladiator-thefilm.com




Spartacus (Spartacus, EUA, 1960. Direção de Stanley Kubrick. Com Kirk Douglas, Lawrence Olivier)
A trama se passa em 73 a.C., quando Spartacus torna-se um gladiador que lidera uma revolta de escravos contra os poderosos nobres romanos.





Ben-Hur (Ben-Hur, EUA,1959. Direção de William Wyler.
Com Charlton Helston,Stephen Boyd) Amigos de infância, o hebreu Judá Ben-Hur e Messala tornam-se rivais quando o primeiro se recusa a trair os judeus em favor do Império Romano e torna-se cristão.

A tradição ainda sobrevive

Na Itália, o berço da cultura romana, desde 1994 funciona uma escola que prepara gladiadores modernos. É o Istituto Ars Dimicandi, localizado próximo à cidade de Bergamo, que organiza combates parecidos com os de antigamente. As regras e armas usadas pelos gladiadores modernos são idênticas àquelas da Roma Antiga. Mas não há sangue nem mortes

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