O Golpe de 1964: a crise política que tirou João Goulart da Presidência do Brasil.
A intervenção política dos militares no Brasil aconteceu de maneira gradual. De fato, desde a inesperada renúncia do presidente Jânio Quadros, alguns setores militares se mostravam favoráveis ao estabelecimento da Ditadura Militar. A primeira ação tomada nesse sentido aconteceu em 1961, quando o vice-presidente João Goulart teve sua posse ao cargo presidencial ameaçada por militares que o considerava um político comprometido com as esquerdas nacionais.
Contrários ao anseio militar, diversos democratas e trabalhadores saíram em defesa da posse do novo presidente. No Rio Grande do Sul, o governador Leonel Brizola, cunhado de João Goulart, organizou uma campanha legalista a favor da oficialização do cargo assumido por Jango. A essa altura, vivia-se uma situação conflituosa que ameaçava a organização de uma guerra civil no país. Coincidentemente, Jango tinha feito uma visita à China, país que representava uma das maiores forças do socialismo mundial.
Para contornar a situação, Jango resolveu estender a sua viagem diplomática fazendo uma parada estratégica nos EUA. Tal ação tinha o intuito de enfraquecer as desconfianças que recaíam sobre sua figura política e aproximar Jango dos interesses capitalistas. Além disso, Jango aceitou que o Congresso limitasse os poderes do Executivo ao impor um regime parlamentarista capaz de limitar o papel presidencial. Só assim, Jango conseguiu assumir a presidência em setembro de 1961.
Em 1963, um plebiscito restabeleceu as normas do regime presidencialista e deu fim a todas as limitações políticas impostas pelo parlamentarismo. Com isso, teve seus poderes restaurados e passou a adotar uma série de medidas reformistas onde instituiu o 13º salário, o controle sobre a remessa de lucros para o exterior e o monopólio do Estado sobre a importação do petróleo. No ano seguinte, João Goulart organizou o polêmico comício na Central do Brasil.
Durante o discurso realizado no evento, João Goulart se comprometeu a tomar uma série de medidas que integravam as chamadas reformas de base. Entre outras medidas, Jango prometia iniciar a reforma agrária, ampliar o voto aos analfabetos e remodelar o sistema educacional vigente. Tais propostas deixaram em alerta as elites empresariais, militares e demais conservadores da época. Por outro lado, despertou o apoio aos setores de esquerda, dos grupos nacionalistas e líderes trabalhistas.
Inconformada com as diversas medidas defendidas pelas Reformas de Base, os conservadores paulistas organizaram, em 19 de março de 1964, uma grande passeata com o nome de “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”. No final daquele mês a oposição ao governo só piorou com um levante de tropas mineiras que se deslocavam para o Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, os governadores de São Paulo, Minas e Rio de Janeiro apoiaram a ação golpista dos militares rompendo politicamente com Jango.
No dia 1º de abril de 1964, João Goulart abandonou a presidência e buscou apoio entre os políticos gaúchos, principalmente de Leonel Brizola. Naquele mesmo dia, de maneira inconstitucional, a cadeira de presidente foi considerada vaga e foi logo reassumida por Rainieri Mazzieli. Sem poder buscar uma alternativa, o ex-presidente buscou asilo no Uruguai.
Dessa maneira, o “Golpe de 1964” foi conseqüência de várias questões que tomavam conta da nação. Nos anos de 1960, a economia brasileira estava corroída por uma onda de desemprego, inflação e queda nos investimentos. Além disso, o populismo entrou em crise ao perceber que as reivindicações concedidas aos trabalhadores não poderiam ser impostas sem primeiro atender os interesses das elites. Por último, devemos ainda destacar o apoio logístico e militar dos EUA à ação dos militares brasileiros.
Por Rainer Sousa
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