A riqueza material pode ser um sinal da salvação eterna
João Calvino (1509-1564) nasceu em Noyon, na Franca, país em que estudou Teologia e Direito. Influenciado pelo pregador Guilherme Farel, aderiu ás idéias protestantes. Quando, em 1534, as autoridades católicas francesas caçavam os suspeitos de heresias, Calvino fugiu para a Suíça, onde o movimento reformador já se desenvolvia, sob a liderança de Zwinglio (1484-1531).
Em suas pregações, Zwingho dava muita importância à crença na predestinação dos homens para a salvação, valorizando menos o aspecto da justificação pela fé. Homem prático e racionalista, Zwinglio conquistou o apoio da burguesia comercial da Suíça. Seu trabalho religioso preparou o caminho para que lá se desenvolvessem as idéias de João Calvino.
Em 1536, Calvino publicou sua principal obra, a Instrução da religião cristã crista, na qual afirmava que o ser humano estava predestinado, de modo absoluto a merecer o céu ou o inferno. Explicava que, por culpa de Adão, todos os homens já nasciam pecadores (pecado original), mas Deus tinha eleito algumas pessoas para serem salvas, enquanto outras seriam condenadas à maldição eterna.
Portanto nada que os homens pudessem fazer em vida poderia mudar-lhes o destino, previamente traçado. Mas a fé, existente em algumas pessoas, podia ser interpretada como um sinal de que elas pertenciam ao grupo dos eleitos por Deus à salvação. Tais pessoas, os eleitos, sentiriam dentro do coração um irresistível desejo de combater o mal do mundo, simplesmente para a glória de Deus. A prosperidade econômica de algumas pessoas, sua riqueza material, era interpretada pelos seguidores de Calvino como um sinal da salvação predestinada.
Governo autoritário e valores burgueses
Em 1538, Calvino foi expulso da Suíça, devido a seus excessos de rigor e de autoritarismo. Entretanto conseguiu retornar em 1541 e consolidou seu poder na cidade de Genebra, tornando-se senhor absoluto do governo e da nova Igreja calvinista até o ano de 1561. Durante esse período, Genebra ficou submetida a um governo teocrático, que dirigia a sociedade misturando política e religião.
Entre os órgãos criados pelo governo calvinista destacava-se o Consistório, encarregado de vigiar e punir os cidadãos. O calvinismo condenava práticas corno o jogo, o culto a imagens de santos, a dança, o adultério. As penas impostas aos infratores eram geralmente duras e cruéis. Muitos foram condenados à morte, entre eles, o médico espanhol Miguel de Servet, queimado vivo por negar o pecado original.
Com base no calvinismo, criou-se um modelo de homem burguês que cultivava o trabalho, a religião, a poupança e o lucro máximo. Para esse homem calvinista, o sucesso econômico e a conquista de riquezas eram um sinal da predestinação divina. Essa ideologia foi bem recebido pela burguesia comercial por uma razão simples: a ganância do lucro era justificada pela ética religiosa calvinista.
Identificando-se com os valores da burguesia, o calvinismo espalhou-se por diversas regiões da Europa, como França, Inglaterra, Escócia e Holanda – países onde se expandia o capitalismo nascente.