por Ranielly Marques
Antes de Cristo, várias divindades em épocas e regiões bem diferentes entre si foram descritas sofrendo o mesmo castigo. Essa punição era muito popular na Antiguidade para reprimir escravos, ladrões e indivíduos que ameaçassem o poder do Estado. A coincidência de ter sido adotada em vários relatos de figuras messiânicas pode ser explicada pelo registro oral dessas histórias – que eram contadas, mudadas e recontadas até, enfim, serem registradas por escrito anos depois. Nesse meio-tempo, acabavam influenciando umas às outras. Para alguns pesquisadores, esses casos provam como o cristianismo absorveu outras referências anteriores para “montar” a simbologia em torno de Jesus.
PEGARAM PRA CRISTO
Histórias de crucificados muito parecidas com a de Jesus
SERPENTE ALADA
DIVINDADE Quetzalcóatl
ONDE México
QUANDO 587 a.C.
Venerado por astecas, toltecas
e maias, seu nome combina “quetzal” (uma ave nativa, com belas plumas) e “cóatl” (serpente). Também nasceu de uma mãe virgem para livrar os homens de seus pecados. Foi batizado na água, ungido com óleos e jejuou por 40 dias. Crucificado entre dois ladrões, renasceu e subiu aos céus.
ENTRE OS ANIMAIS
DIVINDADE Hesus
ONDE Bretanha
QUANDO 834 a.C.
Nasceu da virgem Mayence, hoje representada como uma santa envolta em 12 estrelas e uma serpente aos pés. Foi crucificado em um carvalho, considerada “a árvore da vida”, entre um elefante (que simbolizaria a magnitude dos pecados da humanidade) e um cordeiro (alusão à pureza de quem se oferece para o sacrifício divino).
SOFRIMENTO SEM FIM
DIVINDADE Prometeu
ONDE Grécia
QUANDO 500 a.C.
Foi o Titã que libertou e “iluminou” a raça humana
ao lhe dar o fogo dos deuses. Por essa ousadia, foi condenado por Zeus a viver pregado numa rocha, com o fígado devorado por uma águia. Para os gregos, era nesse órgão que ficavam os sentimentos, e não no coração.
TRÊS EM UM
DIVINDADE Bali
ONDE Índia
QUANDO 725 a.C.
Segundo o historiador Godfrey Higgins, a cidade de Mahabalipore, na Índia, traz registros dessa crucificação, que também teria servido para limpar nossos pecados. “Bali” significa “Segundo Senhor” – ele integrava uma trindade que compunha um só Deus. Era cultuado como Deus e como filho Dele.
AMAI A TODOS
DIVINDADE Indra
ONDE Tibete
QUANDO 725 a.C.
Sua mãe, virgem, era negra. Indra também. Acreditava
-se que ele tinha poderes extraordinários, como prever o futuro, andar sobre as águas e levitar. Pregou o amor e a ternura para com todos os seres vivos, mas defendia que a castidade era o único caminho para se tornar santo.
JÁ VI ESSA HISTÓRIA...
DIVINDADE Krishna
ONDE Índia
QUANDO 900 a.C.
Tem muitos pontos em comum com Jesus. Segundo textos hindus, como oBhagavata Purana e o Mahabaratha, seu nascimento estava previsto em um livro sagrado. Para evitar que a profecia se concretizasse, o governante da região mandou matar todos os recém-nascidos. Sua mãe era uma virgem de origem humilde, que recebeu a visita de pastores quando deu à luz. Krishna peregrinou por regiões rurais dando sermões, curando doentes e operando milagres, como
a multiplicação de peixes. Recomendava
aos discípulos que amassem seus inimigos. Segundo alguns relatos, teria sido crucificado – assim como Jesus, entre dois ladrões e aos 33 anos. Ressuscitou no terceiro dia e subiu aos céus, mas avisou que ainda voltaria à Terra.
ESPOSA EXEMPLAR
DIVINDADE Alcestos
ONDE Grécia
QUANDO 600 a.C.
É o único caso de que se tem relato sobre uma mulher sendo crucificada para livrar a humanidade dos próprios pecados. Ela também era parte de uma Santíssima Trindade. A morte da deusa gera controvérsia: algumas versões defendem que ela deu a vida para salvar o marido, Eurípedes. Como recompensa, teria ressuscitado ainda mais bela.
MÃO SANTA
DIVINDADE Sakia
ONDE Índia
QUANDO 600 a.C.
Nasceu para expiar os pecados
do mundo e sua mãe era chamada por seus seguidores de Virgem Sagrada. Assim como Jesus, operou milagres e curou doentes. Foi tentado pelo diabo e deixou mandamentos como “não matarás”, “não roubarás”, “não pecarás”, “não cometerás adultério” e “não mentirás”. Ficou eternizado pelo símbolo da cruz.
FONTE The Odd Index, de Stephen J. Spignesi; CONSULTORIA André Leonardo Chevitarese,
professor do Instituto de História da UFRJ e autor de Cristianismos: Questões e Debates Metodológicos.