10.7.12

JOHANN HEINRICH PESTALOZZI






Zurique (Zürich) é a maior cidade da Suíça, localizada ao norte do país. Fala-se alemão

Johann Heinrich Pestalozzi nasceu em Zurique, na Suiça, aos 12 de janeiro de 1746.

Seu pai, Johann Baptist Pestalozzi, era cirurgião, descendente de italianos. Estudou ali mesmo, em Zurique, cursando Filosofia e Lingüistica no famoso Collegium Carolinum. A influência de Jean-Jacques Rousseau foi enorme

A vida de Pestalozzi foi um exemplo fantástico de amor e devoção à educação, entre fracassos sucessivos e uma persistência gloriosa em sua missão de educador.

Seu pai morreu quando ainda era novo, tendo sido criado pela mãe. Na Universidade de Zurique associa-se ao poeta Lavater num grupo de reformistas.


Casou-se aos 23 anos com Anna Schulthess. Em seguida, comprou um pedaço de terra, transformando a propriedade rural de Neuhof em uma escola. No entanto, tão pobre como os meninos que agasalha, reparte com eles o que mal lhe chegava. Em 1780, esgotados todos os seus recursos, teve que fechar a escola.

Nesta época escreveu “As Horas Noturnas de um Ermitão” (The Evening Hours of a Hermit – 1780), contendo uma coleção de pensamentos e reflexões.

A este livro seguiu-se sua obra-prima: Leonardo e Gertrudes (“Leonard und Gertrud” – 1781), um conto onde narra a reforma gradual feita primeiro numa casa, depois numa aldeia, frutos dos esforços de uma mulher boa e dedicada.

Anna Schulthess Pestalozzi, esposa. (Detalhe do quadro na Galeria)


A obra foi um sucesso na Alemanha, e Pestalozzi saiu do anonimato

Os órfãos de Stans


A invasão francesa da Suíça em 1798 revelou-lhe um caráter verdadeiramente heróico. Muitas crianças vagavam no Cantão de Unterwalden, às margens do Lago de Lucerna, sem pais, casa, comida ou abrigo. Pestalozzi reuniu muitas delas num convento abandonado emStans, e gastou suas energias educando-as.

Em um período muito curto de tempo realizou transformações surpreeendentes naquelas crianças órfãs, abandonadas na maior miséria material e moral, que Pestalozzi amou como seus próprios filhos.

Cuidava delas pessoalmente com extremada devoção mas, em junho de 1799, o edifício foi requisitado pelo invasor francês para instalar ali um hospital, e seus esforços foram perdidos.


Em 1799 obteve permissão para manter uma escola em Burgdorf, onde, segundo diziam, utilizava processos com 100 anos de avanço. Permaneceu trabalhando até quando exigiram-lhe a desocupação do Castelo onde funcionava a escola, para nele instalar o governo da cidade. Continuou sua obra no castelo de Munchenbuchsee.

Em 1801 Pestalozzi concentrou suas idéias sobre educação num livro intitulado “Como Gertrudes ensina suas crianças” (Wie Gertrude Ihre Kinder Lehrt). Ali expõe seu método pedagógico, de partir do mais fácil e simples, para o mais difícil e complexo. Continuava daí, medindo, pintando, escrevendo e contando, e assim por diante.

Em Como Gertrudes Ensina Seus Filhos (tradução em espanhol por Lorenzo Luzurriaga - 1927), destacamos:

"É indiscutível que a mania de palavras e livros, que tem absorvido tudo em nossa instrução popular, chegou tão longe que não podemos permanecer por muito tempo como estamos. Tudo me faz acreditar que o único meio de sair deste caos civil, moral e religioso, é abandonar a superficialidade, a fragmentação e a presunção de nossa instrução popular, e reconhecer a intuição como a verdadeira fonte do conhecimento".

No entanto, o termo intuição tem sido interpretado de muitas maneiras, o que pode gerar equívocos. Compayré nos diz que, para Pestalozzi "intuição não é somente a percepção externa dos sentidos. A intuição estende-se às experiências da consciência interna, aos sentimentos e às emoções tanto quanto à sensações."

Em 1802 foi como deputado a Paris, e fez de tudo para fazer com que Napoleão se interessasse em criar um sistema nacional de educação primária; mas o conquistador disse-lhe que não podia perder tempo com o alfabeto.

A Escola de Yverdon



Em 1805 ele mudou-se para Yverdon, no Lago Neuchâtel, e por vinte anos dedicou-se ao seu trabalho continuamente. Ali era visitado por todos que se interessavam pela educação, como Talleyrand, d'Istria de Capo, e Mme. de Staël. Foi elogiado por Humboldt e por Fichte. Dentre seus discípulos incluem-se Hippolyte Denizard Rivail, Ramsauer, Delbrück, Blochmann, Carl Ritter, Froebel e Zeller.


Em 1825, depois de 20 anos de atividade, deixa Yverdon, num clima de graves dissensões internas entre dois colaboradores da obra: Schmidt e Niederer, liderando cada um o seu grupo.

Retorna a Neuhof e, já octogenário, num gesto nobilíssimo, procura empregar todo o dinheiro arrecadado do produto de seus livros na criação de um orfanato para crianças pobres.

Escreveu seu último trabalho: “O canto do cisne”, vindo a morrer em Brugg.

Em seu túmulo, em Birr, lêem-se as seguintes palavras:

Aqui jaz

Henrique Pestalozzi, nascido em Zurique a 12 de janeiro de 1746,

falecido em Brugg a 17 de fevereiro de 1827.

Salvador dos pobres em Neuhof.

Pregador do povo em "Leonardo e Gertrude"

Pai dos órfãos, em Stanz,

Criador da nova Escola Elementar, em Burgdorf e Munchenbuchsee;

em Yverdon, educador da Humanidade.

Homem, cristão, Cidadão.

Abençoada seja a sua memória.

O MÉTODO INTUITIVO

A criança será levada a perceber intuitivamente, ou seja, pela sua própria cabeça, o fenômeno que a atividade lhe apresenta. O educador não vai apresentar definições à criança, mas levá-la a perceber, compreender e sentir o real significado do conteúdo em estudo.

O método intuitivo leva a criança, através da percepção, a chegar à conclusão lógica através da observação, comparação e análise, onde ela vai perceber e sentir a realidade em seu íntímo.

A percepção, para Pestalozzi, tem um sentido global e não se restringe apenas à percepção sensorial. Além dos sentidos, ela atinge o intelecto e o sentimento.

A razão, o sentimento e os sentidos devem ser estimulados simultaneamente. Todas as capacidades interiores se interagem organicamente e precisam ser estimuladas simultaneamente para ocorrer o desenvolvimento integral e harmonioso do ser.

Por exemplo, na atividade em que iniciamos o tema Deus, levamos a criança a um contato direto com a obra Divina, a natureza. Visitamos uma chácara, onde a criança pode caminhar descalça na grama, olhar os pássaros e os animais, sentar debaixo das árvores, comer os frutos, sentir o perfume das flores e explorar os recantos maravilhosos que a natureza sempre oferece. O educador apenas orienta discretamente, deixando a criança vivenciar cada momento.

Pelos sentidos, ela entra em contato direto com a obra Divina, olhando, tocando, cheirando, ouvindo, saboreando...

Pelo intelecto, ela analisa e compara: Deus criou tudo isso... os minerais, as plantas e todos os seres vivos. Somente Deus cria a vida...

Ao mesmo tempo, ela vai sentir o ambiente, perceber o amor de Deus para com suas criaturas, vibrar na mesma sintonia.

Embora tendo utilizado poucas explicações teóricas, apenas as indispensáveis para o momento, a atividade interior da criança foi intensa. A percepção em seu sentido global, ou seja, sensorial, intelectual e afetiva foi acionada e a criança pode perceber, sentir, concluir...

O método intuitivo está intimamente ligado ao desenvolvimento do pensamento intuitivo (vide item 30) e trabalha, ao mesmo tempo com o subconsciente, com a bagagem que o Espírito traz de suas vivências passadas e, com o superconsciente, com a inspiração superior que flui do mais alto e abre caminhos em sua própria razão, ampliando de maneira fantástica sua compreensão da vida, do mundo em que vive e de si mesmo.

Trabalhando ao mesmo tempo com o sentimento, com a inteligência e com os sentidos, estimula o desenvolvimento integral do Espírito, como ser que pensa, sente e age. O método é construtivista em sua essência, mas vai muito além da definição de "construtivismo" pela educação contemporânea, pois atinge também o seu sentido espiritual.

Saber, sentir e querer formam a síntese evolutiva da educação do futuro, a educação que a Doutrina Espírita nos apresenta, e que Pestalozzi já antevia em sua visão de Espírito superior e nobre.

Embora pouco compreendido até hoje, Pestalozzi é o precursor legítimo da Educação do Espírito.

O DESENVOLVIMENTO MORAL SEGUNDO PESTALOZZI

No que se refere ao desenvolvimento moral as idéias de Pestalozzi são semelhantes às de Piaget. Mas vai além, ao identificar o germe de toda a potencialidade e ao entrar no campo fantástico do sentimento e da vibração.

Para Pestalozzi, a moral é o fim supremo da educação, pois o homem é um ser essencialmente moral, pois possui dentro de si mesmo a essência Divina.

Define três estados ou etapas do desenvolvimento moral do homem:

Estado NATURAL ou PRIMITIVO: corresponde à natureza animal, aos impulsos instintivos de sobrevivência e dominação, procurando satisfazer suas necessidades básicas. O homem é egoísta por natureza. Corresponde ao estado primitivo do homem.

Estado SOCIAL: corresponde à moral social, à lei social, ao que se aprende na sociedade. Por necessidade criou-se a sociedade, o governo, as leis, para coibir a manifestação dessa animalidade e garantir ao homem (ainda na animalidade) a satisfação de seus próprios prazeres. Apenas coíbe, impede a manifestação - não transforma os instintos básicos do homem.

Estado MORAL: ao atingir o estado moral o homem é capaz de trabalhar seus instintos animais, transformá-los, canalizar essa força num sentido positivo e é capaz de construir sua própria moral. A moral não vem de fora - é interior. O homem não é apenas um ser animal, ou um ser social. Antes, acima e além de tudo ele é um ser espiritual, é um ser moral por excelência, pois traz a essência Divina em si mesmo.

Facilmente identificamos os estados citados por Pestalozzi com as fases morais de Piaget.

No entanto, Pestalozzi exalta o amor, que é a base sobre a qual assenta toda a sua pedagogia, entrando no campo deslumbrante do sentimento.

Afirma que, através da vibração, do impulso de alguém que se descobriu como ser Divino, que é um ser moral, que já trabalhou ou trabalha suas camadas íntimas, seus instintos elevando-os ao nível do amor, esse é capaz de despertar no educando o amor que ele já possui em si mesmo. O educador contagia, desperta essa essência que se encontra em estado latente.

O papel do educador é despertar essa essência Divina no educando para que ele, uma vez consciente de si mesmo, possa se modificar, trabalhar consigo mesmo e não ser governado ou dirigido por igrejas, instituições ou pelo estado. O educador acende a centelha ou desencadeia um processo através do qual o educando vai atingir a sua autonomia moral, o estado moral, despertando a consciência moral, a essência Divina que existe em si mesmo, como filho de Deus.

O homem que atingiu o estado moral não é aquele que se adaptou a uma sociedade, mas é aquele que constrói sociedades dignas que sintonizam com as Leis Divinas, com o Criador.

Fonte: Pedagogia Espírita