Marcel Verrumo
Beethoven declarou-se a uma amada imortal, desconhecida até hoje. Napoleão errou a mira e escreveu cartas de amor para uma pretendente infiel. Marx trocou mensagens românticas com sua noiva para driblar as proibições dos pais da moça. Lewis Carroll, escritor de Alice no país das maravilhas, declarou-se para uma menina que conheceu quando ela tinha 9 anos e ele já estava na casa dos 30. Yoko Ono continuou declarando seu amor para John Lennon 27 anos após o cantor ser assassinado.
O História sem fim reuniu cinco cartas de amor de quem marcou a História. São documentos de diferentes épocas, escritos por personagens de diferentes áreas, vivendo em contextos diferentes. Confira como cada um expressou seu amor e conte: qual é sua favorita?
1. De Beethoven para sua Amada Imortal
Após a morte do gênio em 1827, seu assistente, Anton Schindler, encontrou uma carta de amor guardada entre os pertences do compositor. Em 1840, Schindler publicou uma biografia sobre Beethoven e divulgou o material. Somente o dia e o mês estão registrados na carta. O local em que a carta foi escrita e o nome da destinatária – identificada na carta como “Amada Imortal” – não aparecem. A história inspirou o filme “Minha Amada Imortal”, de 1995.
Em 1880, a carta foi comprada pela Biblioteca Estatal de Berlim, onde permanece até hoje. Leia:
“Meu anjo, meu tudo, meu próprio ser – Hoje apenas algumas palavras à caneta (à tua caneta). Só amanhã os meus alugueres estarão definidos – que desperdício de tempo… Por que sinto essa tristeza profunda se é a necessidade quem manda? Pode o teu amor resistir a todo sacrifício embora não exijamos tudo um do outro? Podes tu mudar o fato de que és completamente minha e eu completamente teu? Oh Deus! Olha para as belezas da natureza e conforta o teu coração. O amor exige tudo, assim sou como tu, e tu és comigo. Mas esqueces-te tão facilmente que eu vivo por ti e por mim. Se estivéssemos completamente unidos, tu sentirias essa dor assim como eu a sinto. [...] Nós provavelmente devemos nos ver em breve, entretanto, hoje eu não posso dividir contigo os pensamentos que tive nos últimos dias sobre minha própria vida – Se os nossos corações estivessem sempre juntos, eu não teria nenhum… O meu coração está cheio de coisas que eu gostaria de te dizer – ah – há momentos em que sinto que esse discurso é tão vazio – Alegra-te – Lembra-te da minha verdade, o meu único tesouro, o meu tudo como eu sou o teu. Os deuses devem-nos mandar paz… Teu fiel Ludwig”
2. De Napoleão Bonaparte para Josefina
É como dizem: sorte no front, seca no amor. Napoleão era desses. Até que conheceu Josefina de Beauharnais, viúva de um visconde e seis anos mais velha que ele. Não demorou muito até que o baixinho subisse ao altar com a dama. Enviado para o campo de batalhas, Napoleão declarava em cartas o seu amor pela esposa. O problema é que Josefina não estava na mesmavibe que o cara: além de não retribuir as correspondências, começou a traí-lo. Ao tomar conhecimento do chifre, Napoleão decidiu dar o troco: começou a se relacionar com uma mulher que se disfarçava de homem para lutar. Confira a carta que Napoleão escrevia, enquanto Josefina o traía…
“Já não te amo: ao contrário, detesto-te. És uma desgraçada, verdadeiramente perversa, verdadeiramente tola, uma verdadeira Cinderela. Nunca me escreves; não amas o teu marido; sabes quanto prazer tuas cartas dão a ele e ainda assim não podes sequer escrever-lhe meia dúzia de linhas, rabiscadas apressadamente. Que fazes o dia todo, Madame? Que negócio é assim tão importante que te rouba o tempo para escrever ao teu devotado amante? Que afeição abala e põe de lado o amor, o terno e constante amor que lhe prometeste? Quem será esse maravilhoso novo amante que te ocupa todos os momentos, tiraniza seus dias e te impede de dedicar qualquer atenção ao teu esposo? Cuidado, Josefina: alguma bela noite as portas se abrirão e eu surgirei. Na verdade, meu amor, estou preocupado por não receber notícias tuas; escreve-me neste instante quatro páginas plenas daquelas palavras agradáveis que me enchem o coração de emoção e alegria. Espero poder em breve segurar-te em meus braços e cobrir-te com um milhão de beijos, candentes como o sol do Equador. Bonaparte”
3. De Karl Marx para sua esposa Jenny von Westphalen
O intelectual alemão escreveu cartas à mulher que viria a ser sua esposa e mãe de seus filhos, Jenny von Westphalen, filha de um barão da Prússia. Os dois se conheceram ainda na universidade e, para driblar a proibição familiar de namorar, mantiveram durante anos uma relação de amor por meio de cartas. Confira uma delas.
“Meu amor, enquanto nos separa um espaço, estou convencido de que o tempo é para o meu amor como o sol e a chuva são para uma planta: fazem crescer. Basta você ir, meu amor por você apresenta-se a mim como ele realmente é: gigantesco; e nele se concentra toda minha energia espiritual e toda a força dos meus sentidos …. Você vai sorrir, meu amor, e te perguntarás por que eu caí na retórica. Mas se eu pudesse pressionar contra o meu coração o seu, puro e delicado, guardaria em silêncio e não deixaria escapar nem uma só palavra.”
4. De Lewis Carroll para Gertrude Chataway
Gertrude Chataway foi a mais importante criança que o escritor Lewis Carroll teve como amiga.O poema A caça ao Snark, inclusive, é dedicado a ela e aberto com um acróstico com seu nome. Biógrafos de Carroll, conhecido por escrever Alice no país das maravilhas, revelam que ele conheceu a garota quando ela tinha apenas 9 anos e que, desde então, os dois mantiveram uma amizade que se estendeu até a vida adulta. Meio estranho? Espere até ler a carta.
“Minha querida Gertrude, você vai ficar admirada, surpresa, desolada ao saber que terrível indisposição eu senti quando você partiu. Mandei chamar um médico e lhe disse: ‘Dê-me um remédio contra o cansaço porque eu estou cansado’. Ele me respondeu: ‘Nunca! Você não precisa de remédio! Se você está cansado, vá para a cama!’ ‘Não’, repliquei, ‘não se trata desse tipo de cansaço que passa quando se deita. Eu estou cansado no rosto.’ Ele ficou muito sério e depois disse: ‘Sim, estou vendo, é seu nariz que está cansado; e isso acontece por que você mete o nariz em tudo’. E eu respondi: ‘Não, não é bem o nariz. Talvez tenha sido um gole de ar’. Então ele fez uma expressão de espanto e disse: ‘Agora estou entendendo: naturalmente você tocou muitas árias em seu piano’. ‘De forma nenhuma, protestei. Nada de árias, mas de alguma coisa que fica entre o meu nariz e o meu queixo’. Aí ele ficou muito sério e perguntou: ‘Ultimamente você tem andado muito com seu queixo?’ Eu disse: ‘Não’. ‘Bem!’ disse ele, ‘isso me preocupa muito. Não sente alguma coisa nos lábios? ‘Claro!’ exclamei. É exatamente isso que eu sinto!’ Então ele ficou mais sério do que nunca e disse: ‘Acho que você andou dando muitos beijos’. ‘Bem’, respondi, ‘na verdade eu dei um beijo numa menininha que é muito minha amiga.’ ‘Pense bem’. disse ele, ‘você tem certeza de que foi somente um?’ Eu pensei bem e disse: ‘Talvez tenham sido onze’. Então o doutor respondeu: ‘Você não deve dar nenhum beijo até que seus lábios tenham descansado bastante’. ‘Mas o que devo fazer’, repliquei, ‘se ainda estou devendo a ela cento e oitenta e dois beijos?’ Nessa hora ele ficou tão triste, mas tão triste, que as lágrimas começaram a rolar em seu rosto. E ele disse: ‘Você pode enviálos numa caixa’. Então eu me lembrei de uma pequena caixa que eu havia comprado em Dover, pensando em poder um dia oferecê-la a uma menininha. Por isso é que eu lhe envio essa caixa depois de ter colocado nela todos os meus beijos. Diga-me se eles chegaram bem, ou se algum se perdeu pelo caminho.”
5. De Yoko Ono para John Lennon
Às vésperas do 27º aniversário de morte de Lennon, Yoko Ono escreveu em seu blog uma declaração de amor para o músico. Ora dirigindo-se a John, ora ao leitor, Ono pediu Paz, como fizera anos antes ao lado do cantor, lutando pelos direitos das mulheres, dos trabalhadores e pelo fim da Guerra do Vietnã. Falou das saudades, do vazio ao olhar para a cama vazia, do filho órfão. Falou da dor de amar quem não está ao nosso lado.
“Sinto saudades, John. 27 anos se passaram e ainda desejo poder voltar no tempo até aquele verão de 1980. Lembro-me de tudo – dividindo nosso café da manhã, caminhando juntos no parque em um dia bonito, e ver sua mão pegando a minha – que me garantia que não deveria me preocupar com nada, porque nossa vida era boa. Não tinha ideia de que a vida estava a ponto de me ensinar a lição mais dura de todas. Aprendi a intensa dor de perder um ser amado de repente, sem aviso prévio, e sem ter o tempo para um último abraço e a oportunidade de dizer “Te amo” uma última vez. A dor e o choque de perder você tão de repente está comigo a cada momento de cada dia. Quando toquei o lado de John na nossa cama na noite de 08 de dezembro de 1980, percebi que ainda estava quente. Esse momento ficou comigo nos últimos 27 anos – e vai ficar comigo para sempre. Ainda mais difícil foi ver o que foi tirado de nosso lindo filho Sean. Ele vive com uma raiva silenciosa por não ter seu pai, a quem ele tanto amava e com quem compartilhou sua vida. Eu sei que não estamos sozinhos. Nossa dor é compartilhada com muitas outras famílias que sofrem por serem vítimas de violência sem sentido. Esta dor tem de parar. Não percamos as vidas daqueles que perdemos. Juntos, façamos o mundo um lugar de amor e alegria e não um lugar de medo e raiva. Este dia em que se comemora a morte de John, tornou-se cada vez mais importante para muitas pessoas ao redor do mundo como um dia para lembrar a sua mensagem de Paz e Amor e fazer o que cada um de nós podemos fazer para curar este planeta que nos acolhe. Pensem em Paz. Atuem em paz. Compartilhem a Paz. John trabalhou para ele toda a sua vida. Ele costumava dizer: “Sem problemas, somente soluções”. Lembre-se, estamos todos juntos. Podemos fazê-lo, devemos. Eu te amo! Yoko Ono Lennon.”
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