Por: Marcos Bragança
A educação ergueu-se, a princípio, como um produto para um pequeno segmento da sociedade, com um currículo limitado e, no Brasil, só passou a abranger a todas as pessoas quando se percebeu a necessidade de aprimorar a classe trabalhadora, no início do século XX. O intuito real era de se obter, por meio dessa instrução, uma maior produtividade. Foi neste cenário que surgiu o que chamamos hoje de educação profissional.
Na década de 20, o ensino profissional passou a ser atribuição do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio o que fomentou o desenvolvimento do ensino industrial, comercial e agrícola. Nos anos 30, foi intensa a instalação de escolas comerciais e foi também nesta época que as escolas profissionalizantes foram tratadas como um dever do Estado em benefício das classes menos favorecidas, mas deveriam receber o apoio das indústrias e sindicatos. Em 1942 são regulamentas as Leis Orgânicas da Educação Nacional e surgem o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI e, em 1946 o SENAC, Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial. Ainda neste ano, o governo Vargas criou o conceito de menor Aprendiz que, agregado aos fatores já descritos, consolidou o ensino profissional no Brasil.
Durante todo o seu percurso, o surgimento de novas tecnologias e as consequentes mudanças no setor produtivo faz com que a área educacional tenha de estar sintonizada com as necessidades das empresas e as supra com profissionais bem capacitados. É a ampliação do escopo de atuação do ensino profissional imposta pela realidade e evolução do mercado. Com este novo desafio, a educação profissional bem conduzida tem suma importância.
Para acompanhar esta necessidade de adequação faz-se necessária a reinvenção dos conceitos e a busca por ferramentas que propiciem eficiência ao ofício da educação profissional. Neste contexto, levando-se em conta a constante atualização, existem alguns aspectos a ser considerados ao ensinar algo ou ao promover desenvolvimento de competências e habilidades a alguém, principalmente quando falamos de Aprendizes. São eles:
1. verificar se o que vai ser ensinado e aprendido é necessário para sua inserção naquele mercado de trabalho;
2. ampliar, no que for viável, o escopo de ensinamentos visando a formação mais global do Aprendiz;
3. confirmar se os Aprendizes conhecem o assunto que se pretende ensinar;
4. especificar de forma clara os resultados que se quer alcançar;
5. selecionar e organizar experiências de Aprendizagem;
6. avaliar o desempenho dos Aprendizes de acordo com os resultados esperados.
A análise e resolução destes aspectos incidem na construção estratégica do modo de ensinar. Assim, para ter a educação profissional como uma estrutura fundamentada, é primordial responder às seguintes questões:
1. Para onde vou?
Determinação do objetivo que se quer atingir, onde se quer chegar.
2. O que ou quem estamos formando?
Analisar o público que recebe esta informação para utilizar a melhor forma de falar com ele.
3. Como chegarei lá? De que forma vou atingir o meu objetivo?
Planejamento: ferramentas e métodos que serão utilizados para atingir o objetivo determinado.
4. Como saber se cheguei? Qual o resultado do meu trabalho?
Monitoração das ações. Critérios para mensuração de resultados.
A própria definição de educação profissional auxilia na composição destas respostas: a educação profissional busca integrar escola e trabalho levando-se em conta técnicas de produção e critérios de produtividade e requer, além do domínio operacional de um determinado fazer, a compreensão global do processo produtivo, a compreensão do saber tecnológico, a valorização da cultura do trabalho e a mobilização dos valores necessários à tomada de decisões. É um processo educacional planejado para obtenção de Aprendizagem aproveitável nos processos produtivos. Para iniciar a abordagem estratégica da educação profissional é necessário que esta definição seja desmembrada em ações que possibilitem cumprir cada um de seus aspectos.
Uma das possibilidades de melhor traduzir este conceito para um aspecto prático e que funcione, é também um grande desafio das entidades de ensino profissional – aqui contemplamos escolas técnicas e ONGs – e que está, inclusive, sendo praticado pelo Espro: transformar o ensino de conteúdos em competências para o trabalho. O conhecimento é entendido como simplesmente saber. A habilidade refere-se ao saber fazer relacionado com a prática do trabalho. É aí que entra a competência como um conjunto de recursos cognitivos, afetivos e psicomotores que a constituem. É usado como sinônimo de capacidades.
Competência pode ainda ser definida como um conjunto de capacidades e conhecimentos organizados para realizar uma tarefa ou um conjunto de tarefas, satisfazendo exigências sociais precisas. Essas capacidades são transversais; exprimindo as potencialidades de uma pessoa, independentemente dos conteúdos específicos de determinada área. As capacidades não são atitudes inerentes ou dons; elas se manifestam e se desenvolvem para favorecer a Aprendizagem. As capacidades não são diretamente observáveis, nem avaliáveis e nunca são totalmente dominadas, uma vez que se desenvolvem ao longo da vida.
A educação profissional realizada por competência desenvolve no jovem a percepção “do quê e do por quê?” dos fatos. Faz com que ele aprenda “como fazer” e ainda estimula o “querer, a determinação” em realizar. Assim, aqui temos a prática do famoso CHA: Conhecimento, Habilidade e Atitudes.
Nos nossos programas de Pré-Qualificação Profissional e de Aprendizagem, adotamos como primordiais, as questões postural e comportamental com destaque para a responsabilidade, saber trabalhar em equipe, ser colaborativo e organizado, ter proatividade, bom relacionamento interpessoal, adaptabilidade, dentre outras tantas competências e habilidades. Dessa forma, o desenvolvimento de competências e habilidades tem sido estruturado onde a prioridade é “o fazer”, e não “o saber”. Os programas são estruturados como “estudos de caso”, em dinâmicas comportamentais que auxiliam o Aprendiz a romper com o modelo mental de relacionamento familiar e passar ao modelo de relacionamento profissional, baseado na observação da realidade, reflexão e ação.
O propósito é que com esta prática, o jovem venha assumir em sua vida profissional uma postura de protagonista, buscando constante profissionalização, responsabilize-se por suas ações, trabalhe pelo sucesso coletivo e se proponha a agir, resolver e fazer acontecer. Quem tem competência profissional está aberto à soluções criativas e à inovação.
Portanto, é missão da educação profissional ser a ação educativa que desenvolve competências para o trabalho. Assim, os jovens profissionais estarão preparados para suprir as necessidades das empresas e da sociedade, que necessita de trabalhadores capacitados e engajados no crescimento pessoal e também do nosso país.
Marcos Bragança
Fonte: http://meuartigo.brasilescola.com/educacao/um-olhar-sobre-conceito-pratica-educacao-profissional.htm