20.7.12

Origem do Golpe Militar


A presença do apoio civil: um dos elementos centrais para a eficiência do golpe militar


Deflagrado no dia 31 de março de 1964, o golpe militar não foi estabelecido em uma ação impensada ou sem nenhum histórico capaz de justificá-lo. Desde muito tempo, já nos tempos de Getúlio Vargas, tínhamos a presença frequente de discursos que demonizavam as tendências políticas de esquerda e que colocavam o país sob a ameaça de um governo comunista. Não por acaso, em 1937, Getúlio Vargas empregou dessa justificativa para constituir o Estado Novo.

Chegando à década de 1960, percebemos que as tensões que deflagraram o regime militar giraram em torno da chegada de João Goulart na presidência da República. Considerado um herdeiro político do próprio Vargas, João Goulart chegou ao governo pressionado por forças conservadoras que refutavam a sua atuação política. Tal situação de tensão chegou ao seu auge no ano de 1963, quando o presidente começou a articular e discursar um amplo projeto de mudanças que ficariam conhecidas como as chamadas reformas de base.

Já quando as reformas foram anunciadas, setores da direita brasileira, do empresariado e das classes médias começaram a atacar o projeto presidencial. Por um lado, acusavam que as reformas de base seriam um princípio de mudanças que articulariam a construção de um governo socialista no Brasil. Por outro, Jango era acusado de constituir uma base política que o permitiria alargar o seu mandato através de um possível golpe que se assemelharia ao anterior regime varguista.

Nessa época, segundo alguns estudiosos, o Brasil vivenciava a articulação de vários movimentos sociais simpáticos às reformas propostas por João Goulart. Entre tais movimentos, podemos destacar a mobilização estudantil através da UNE (União Nacional dos Estudantes), a organização do proletariado na CGT (Comando Geral dosTrabalhadores) e, entre os trabalhadores rurais, a existência das Ligas Camponesas.

Quando as reformas foram anunciadas, os setores contrários se articularam nas chamadas “Marchas da Família, com Deus, pela Liberdade”. Esses atos públicos expuseram a insatisfação desses setores e, ao mesmo tempo, sinalizaram a presença de um apoio na sociedade civil para o golpe de Estado que os militares já discutiam internamente. Além disso, é importante apontar que, no campo diplomático, os EUA sabiam da possibilidade do golpe e ofereceram apoio logístico e militar em uma ação que ficou conhecida como operação “Brother Sam”.

Mediante a exposição desses elementos, podemos aqui pontuar que as tensões políticasdesenvolvidas antes de 1964 foram de suma importância para a eficiência do novo regime que chegava ao poder. Ao mesmo tempo, contrariando as antigas noções sobre esse período, temos que destacar que a nossa ditadura teve uma feição de ordem militar e que teve significativo amparo de grupos influentes da sociedade civil.


Por Rainer Gonçalves Sousa

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