Há 35 anos, o presidente Richard Nixon (1969-1974) anunciava sua renúncia enquanto o Congresso encaminhava um processo de impeachment, motivado pelo escândalo de Watergate, um dos fatos mais marcantes da história dos Estados Unidos.
Em 9 de agosto de 1974, Nixon assinou sua carta de renúncia. O líder republicano, eleito em 1968 e reeleito em 1972, encerrou dessa forma uma das crises políticas mais graves registradas no país.
Devido ao escândalo que começou em 17 de junho de 1972, quando cinco ladrões entraram no quartel-general do Partido Democrata, no edifício Watergate de Washington. Seu propósito não era roubar, mas arrumar escutas eletrônicas instaladas três semanas antes.
O escândalo estourou vários meses depois graças à imprensa e acabou provocando, em outubro de 1973, a abertura de um processo de impeachment contra o presidente, acusado de envolvimento direto nas escutas telefônicas ilegais.
Em 24 de julho de 1974, a Suprema Corte exigiu que Nixon enviasse à Justiça os registros de suas conversas privadas, que comprovavam que tinha orquestrado desde junho de 1972 os esforços da Casa Branca para dificultar a ação da justiça e por ter mentido à nação.
Três dias depois, a Comissão de Justiça da Câmara de Representantes recomendou a destituição do presidente e abriu três processos: obstrução da Justiça, abuso de poder e desacato às ordens judiciais.
Nixon foi o único presidente dos EUA que renunciou. O democrata Bill Clinton (1993-2001) foi alvo de um processo de impeachment em 1999 por perjúrio e obstrução da Justiça para tentar ocultar um relacionamento sexual com Monica Lewinsky, uma jovem estagiária da Casa Branca, mas acabou sendo absolvido pelo Senado.
Nixon faleceu em 1994, aos 81 anos de idade, mas sua renúncia ficou gravada na memória dos americanos e ofusca o resto de seu legado presidencial.
Segundo Allan Lichtman, professor de história política da American University de Washington, o escândalo e a renúncia deixaram um verdadeiro 'ceticismo' na opinião pública americana em relação à política e à Presidência.
O caso Watergate levou os americanos a "reverenciar" menos o cargo presidencial, declarou George Edwards, professor de Ciências Políticas na A&M University do Texas.
"Isso certamente reduziu a confiança nas instituições durante muito tempo", disse também, apesar desta confiança ter sido minada pela guerra do Vietnã e a efervescência dos anos 60.
Segundo Stephen Hess, especialista em política da Brookings Institution, apesar disso o cargo presidencial não sofreu uma desvalorização nos anos seguintes, e teve sua autoridade reafirmada especialmente durante o mandato de Ronald Reagan (1981-89).
"Watergate também deixou a imprensa muito menos complacente com o presidente", estimou Edwards. "Os veículos de comunicação mostraram que podiam ser poderosos investigadores", destacou Hess.
A identidade do "Garganta profunda", o informante misterioso que ajudou os repórteres do jornal "The Washington Post" Bob Woodward e Carl Bernstein a revelar o escândalo Watergate, permanece até hoje envolvida em mistério. Os jornalistas lhe prometeram não revelar seu nome até sua morte.