O paletó de seda do pijama que Getúlio Vargas (1882-1954) usava quando deu um tiro no coração voltará a ser exibido no Museu da República a partir de segunda-feira, 55 anos após o suicídio do presidente. A peça havia sido retirada em 9 de dezembro do quarto presidencial, no terceiro andar do antigo Palácio do Catete, para sua primeira restauração.
A responsável pela restauração e higienização foi a museóloga Helena Lúcia Antunes Cardoso. Especializada em têxtil e papel, ela venceu uma licitação aberta pelo museu. O trabalho durou três meses e custou R$ 11.592 (foram gastos mais R$ 2.280 na vitrine). Helena recomenda que o pijama volte para a reserva técnica após 3 meses de exibição, no máximo, e lá fique guardado por no mínimo 9 meses, sob condições mais propícias.
PROCISSÃO
O Museu da República não abre para o público às segundas, mas fará uma exceção no dia 24. "Esperamos a data. O pijama voltará exatamente 55 anos após o suicídio de Getúlio", conta a museóloga Magaly Cabral, diretora do museu. Atualmente, há uma foto no lugar do paletó - que voltará para o quarto quando a peça seguir para a reserva.
"O ideal seria ter uma réplica para o rodízio, mas em vez de gastar com isso prefiro restaurar outra peça. É preferível cuidar do que está se deteriorando, como era o caso do pijama. Temos muitas necessidades, e há prioridades", afirma Magaly.
A historiadora Maria Helena Versiani conta que no dia 24 de agosto costuma ocorrer "uma procissão" para o quarto de Getúlio, onde também está exibido o Colt calibre 32 usado por ele. "A importância no imaginário popular é impressionante. É incrível como vem gente", diz ela, lembrando que o ex-presidente, "personagem controverso", suscita "paixão em uns" e "ódio em outros", por conta do período ditatorial.
Para ela, o pijama "não é uma peça de pano solta na história". "O objetivo do museu é reconstituir uma época, resgatar e estimular a memória a partir de representações. Não se trata de um objeto a ser exaltado, mas que ajuda a entender o País", avalia a historiadora.
"Permite articular ideias, provocar a reflexão. Um museu existe não só para conservar e preservar, mas para comunicar. A alma é o público." Maria Helena conta já ter conversado com muitos visitantes que "acreditam que ele (Getúlio) não morreu". "Dizendo que ele foi assassinado tem metade do mundo." Magaly destaca a reviravolta política provocada pela morte de Vargas. "Tudo era contra ele, e passou a ser a favor."
O Museu da República foi criado após a transferência da capital para Brasília. Recebeu cerca de 50 mil visitantes no ano passado, e 33 mil até julho deste ano. O ingresso custa R$ 6 - às quartas e aos domingos a entrada é gratuita.
Fonte: Estadão