A compreensão do passado serve como instrumento de reflexão do agora.
Durante uma aula de História é bastante comum ouvir os alunos reclamando sobre qual a função que coisas que já aconteceram teriam em nosso cotidiano. Mesmo sendo desconcertante e, algumas vezes, depreciativa, a questão deve ser problematizada pelo professor em sala de aula. Afinal, enquanto mediador do campo de conhecimento em questão, o professor de História é a figura que tem a habilitação e o dever de demonstrar o valor dos saberes que ele repassa diariamente.
Para discutir tal assunto, o professor pode iniciar um debate falando sobre como o valor das informações influenciam na compreensão de um determinado acontecimento. Tomando um exemplo bastante simples, como uma contenda entre duas pessoas ou um acidente de trânsito, o professor pode demonstrar que, mesmo quando duas pessoas presenciam um mesmo fato, a forma de se repassar aquilo que aconteceu pode variar bastante.
Contudo, qual seria a relação de tal fato com a compreensão da História? Percebendo que as formas de se narrar um fato corriqueiro variam, o professor tem chances de apontar que a nossa compreensão do presente possa ser completamente variada por meio dos vários documentos que falam sobre o passado. Nesse sentido, sugerimos que a discussão prossiga com o trabalho de um fato histórico que recentemente se desenvolveu.
Pegando a Guerra do Iraque como exemplo, podemos ver que essa mesma questão das “narrativas que contam os fatos” pode ser retomada. Para tanto, sugerimos que o professor trabalhe com um pequeno texto do professor Demétrio Magnoli, onde ele faz a seguinte constatação sobre o recente conflito:
A guerra contra o Iraque detonou outra: a guerra de notícias na mídia global. Agências anglo-americanas divulgaram para o mundo frases e imagens produzidas por repórteres a serviço do governo norte-americano. As agências árabes ou de países contrários à guerra veiculavam a morte de civis e o bombardeio de escolas, hospitais, museus e residências, de tal forma que um estudioso afirmou em um artigo publicado no quarto dia da guerra: “Olhe para as imagens como uma seleção parcial da realidade. Desconfie de todas as notícias. (...) A ofensiva da informação está em curso.” (Magnoli, Demétrio. “Desconfie das notícias; elas também são teleguiadas”. In: Folha de S. Paulo – Mundo, 24 de março de 2003, p.A19.)
Por meio do raciocínio exposto, os alunos podem ver que a Guerra do Iraque foi noticiada por diferentes meios de comunicação que, de acordo com seus interesses, destacavam uns ou outros fatos da guerra. Em consequência a essa ação, o professor pode questionar se, dependendo do meio de comunicação utilizado, as pessoas, governos e instituições poderiam ter visões distintas sobre a posição das nações envolvidas no episódio.
Não só se restringindo a uma mera opinião, a compreensão desse importante fato da história recente seria de fundamental importância para se notar, por exemplo, a relação dos Estados Unidos e Iraque para com as demais nações do mundo. Sendo assim, a forma de se compreender eventos já depositados no passado estabelece uma determinada maneira de se interpretar o tempo presente. Afinal de contas, quem seriam as vítimas e os culpados da guerra iraquiana?
Com esta indagação, é possível apontar aos alunos que vários fatos do passado servem como interessantes artifícios para se problematizar a vida presente. Sendo assim, o professor deve aproveitar todas as oportunidades de “atualizar” a importância dos assuntos discutidos em sala de aula. Caso contrário, a reclamação costumeira dos alunos para com os assuntos históricos passa a ganhar um incômodo respaldo.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
2.10.09
A História como uma ciência do presente
Fonte: BrasilEscola.com