4.1.11

Biografia de Leibniz

Ele inaugurou uma tradição na filosofia alemã: a dos abrangentes sistemas filosóficos. Após a filosofia de Leibniz, vieram Kant, Hegel eHeidegger. Além disso, Leibniz, ou como foi batizado Gottfried Wilhelm Leibnütz, desenvolveu pensamentos surpreendentes na virada do século 17 para o 18. Entre outras, ele afirmou que espaço e tempo não existiam, lançou um embrião da revolucionária teoria da relatividade de Einstein e desenvolveu um original trabalho sobre o código binário na matemática, que estabeleceu a base teórica do computador inventado por Alan Turing séculos à frente.

Segundo Bertrand Russell, Leibniz produziu duas filosofias. Uma seria bem simples, uma metafísica otimista e superficial destinada ao consumo público. Outra, com as ideias menos otimistas, ele as engavetou, pois fariam parte de um sistema filosófico complexo, lógico e profundo, que somente poderiam ser compreendidas por mentes privilegiadas. Outros estudiosos já afirmam que essas duas filosofias são na verdade partes integrantes de um mesmo sistema filosófico.

As verdades, segundo Leibniz

As verdades primitivas, conhecidas através da intuição, são de dois tipos: verdades da razão ou verdades de fato. As verdades da razão são necessárias. Ou seja, não podem ser negadas: seus opostos são impossíveis. As verdades de fato são contingentes. Isso significa que os seus opostos são possíveis. Verdades racionais primitivas são aquelas que eu chamo pelo nome geral de “idênticos”, porque parece que elas somente repetem o mesmo de uma forma diferente, sem nos ensinar nada. As afirmativas são tais como as que se seguem: “Tudo é o que é”, “A é A, B é B”, “O retângulo equilátero é um retângulo”. ... agora chegamos aos idênticos negativos, que dependem do princípio da contradição ou do absurdo. O princípio da contradição diz em geral: uma proposição é verdadeira ou falsa...


Leibniz teve uma vida bem movimentada. Trajava-se elegantemente para um filósofo e conseguiu ter empregos importantes em várias cortes européias. Muitas vezes, ao mesmo tempo. Seus múltiplos compromissos envolviam invenções, aconselhamentos políticos, investigações sobre matemática e lógica, pesquisas históricas e, claro, filosofar. Acusado de plágio por Isaac Newton e de ter copiado alguns dos pensamentos de Spinoza, Leibniz foi o primeiro dos grandes filósofos alemães e deixou um interessante legado filosófico.

Leibniz: aristocracia, lógica e matemática

Gottfried Wilhelm Leibnütz nasceu em 1.º de julho de 1646 em Leipzig, na Alemanha. Seu pai era professor de filosofia moral na Universidade de Leipzig e morreu quando Leibniz tinha cinco anos de idade. Ele e os irmãos foram criados pela mãe Catherina, que o influenciou profundamente. Uma de suas principais virtudes, a de não falar mal de ninguém, foi herdada de sua mãe.

Leibniz (ele mudou o nome familiar de Leibnütz para Leibniz ao completar 20 anos de idade), apesar de ter frequentado a escola, desenvolveu parte de sua educação em casa, de forma autodidata ao explorar a biblioteca do pai. Ele lia obsessivamente vários livros ao mesmo tempo. Quando tinha 14 anos foi para a Universidade de Leipzig, onde cursou Direito. Mas ele não se limitou a conhecer as leis alemãs e se interessou pelas leis das ciências, da filosofia e da política. Conheceu as obras de Galileu, Descartes e Hobbes. Além disso, em seu tempo livre, se dedicava à alquimia e também escreveu um trabalho sobre código binário em matemática que antecipava o que Alan Turing faria três séculos depois ao inventar o computador. Leibniz brilhantemente concluiu que o código binário é ideal para um sistema mecânico que trabalhasse com operações de sim-não ou cheio-vazio. Ele chegou a esboçar uma máquina calculadora que utilizava-se dessa sua descoberta matemática, mas aqueles tempos não ofereciam tecnologia suficiente para construí-la

Aos 20 anos de idade ele não pôde se tornar doutor em Direito em Leipzig porque o consideraram muito jovem. Ele se mudou para Nuremberg onde não só conseguiu o título de doutor como também recebeu uma oferta para lecionar, que recusou em função de suas ambições. Ele conseguiu um cargo menor na corte de Mainz (Mogúncia), como conselheiro do arcebispo e príncipe Johann Philip von Schönborn. Em uma de suas primeiras missões, Leibniz propôs um plano engenhoso ao príncipe para tentar conter os anseios expansionistas em direção à Alemanha (ou Sacro Império Romano Germânico, como a surrealista aglutinação dos principados germânicos se chamava) do rei Luis 14, da França. O plano era convencer o rei francês a empreender uma cruzada para conquistar o Egito e, nessa guerra santa contra os “infiéis”, ele levaria consigo outros países europeus desviando o foco da expansão da França católica em direção aos principados alemães protestantes. Leibniz foi enviado a Paris com a missão de convencer o rei e o governo francês.

Leibniz passou quatro anos em Paris, embora ficasse claro desde sua chegada que seu plano dificilmente seria levado a sério pelos franceses. Independente disso, ele passou a circular elegantemente trajado na aristocracia francesa. Lá assim como em outras corte por onde desfilou seu brilho intelectual, Leibniz conquistou duquesas e princesas que o ampararam durante toda sua vida.

Em sua temporada na França, Leibniz começou a desenvolver importantes conceitos matemáticos e lógicos. No fim, ele chegou a inventar o cálculo (integral e diferencial), apesar de que esse campo matemático já havia sido inventado por Isaac Newton. Mas Leibniz teria desenvolvido esse trabalho antes de conhecer o de Newton e acabou divulgando-o primeiro que o físico inglês, o que gerou uma enorme polêmica.

Leibniz e o início da filosofia alemã

Na época da juventude de Leibniz, a filosofia de Descartes estava em voga como a grande revolução no pensamento, já que ela rompera com a escolástica – sistema filosófico estagnado, que tinha em São Tomás de Aquino um de seus expoentes e que vigorou durante a Idade Média. Mas Leibniz encontrou uma falha na visão mecanicista do mundo de Descartes, desenvolvida em sua geometria das coordenadas cartesianas.

A partir do pensamento do filósofo francês se deduz que o espaço deva ser completamente uniforme, como um vazio absoluto, onde os objetos estão ou em repouso absoluto ou em movimento. Mas nessa uniformidade sem características seria impossível calcular as coordenadas de um objeto. Se as coordenadas são imaginárias, elas são arbitrariamente impostas ao espaço por nós. Assim, só poderíamos determinar se algo está móvel ou imóvel a partir de alguma referência. Isto é, eles estariam imóveis com referência a que? Ao desenvolver esse mesmo argumento em relação ao tempo, ele chegou às mesmas conclusões. Segundo Leibniz não havia nem espaço nem tempo absolutos. A ideia de que uma coisa é mais rápida que outra ou que surge antes ou depois de outra dependeria do ponto de vista relativista de quem as observa. Segundo ele, tempo e espaço simplesmente não existem. Leibniz desenvolveu uma ideia que antecipava um dos fundamentos da futura teoria da relatividade de Einstein.

Além de suas ideias matemáticas e filosóficas, Leibniz atuou em outras frentes. Desenhou projetos de um barco a motor de ar comprimido e de uma nave espacial, entre outros. Mas em 1673, o arcebispo e príncipe de Mainz, para quem trabalhava, morreu. Para conseguir sobreviver, aceitou um posto em Hanôver. No caminho passou por Londres e também por Haia, onde se apoderou de algumas ideias de Spinoza. Seu cargo em Hanôver foi o de bibliotecário e entre suas missões estava pesquisar a genealogia do duque e escrever a história da família do nobre.

Mas Leibniz tinha outras pretensões. E preocupou-se mais em trabalhar no ambicioso projeto de escrever sua filosofia. Ele defendeu a ideia de que o mundo é constituído por uma infinidade de substâncias. Essas substâncias são chamadas de mônadas e são a base de todas as coisas, inclusive Deus. Elas não seriam materiais, mas sim pontos metafísicos. Como são metafísicos não estão sujeitos às leis de causa e efeito. Sua interação é na verdade o resultado de uma harmonia preestabelecida por Deus. Enquanto desenvolvia sua filosofia, Leibniz se oferecia para cargos em várias cortes européias, apesar de ainda ser o bibliotecário de Hanôver com muitos trabalhos pendentes por lá. Entre os cargos que pleiteou e conseguiu estão o da presidência da Academia Alemã de Ciências, após convencer a princesa Sofia Charlote a criá-la, e o de conselheiro de Pedro, o Grande, czar da Rússia. Leibniz chegou a estar empregado simultaneamente em cinco cortes européias.

Após o príncipe de Hanôver ir para a Inglaterra com a perspectiva de se tornar o futuro rei inglês, Leibniz voltou para descobrir que seu patrão tinha deixado ordens explícitas antes de partir: o filósofo não poderia mais deixar o estado alemão e viveria numa espécie de prisão virtual palaciana. No outono de 1716, ele começou a sofrer de gota e em 14 de novembro de 1716, Leibniz faleceu. Seu fiel secretário foi o único a comparecer ao seu enterro. Segundo ele, Leibniz era distraído e estranho, mas foi um homem que não falou mal de ninguém.

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