5.8.09

Crime da rua Tonelero


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O chamado Crime da Rua Tonelero ocorreu na madrugada do dia 5 de agosto de 1954, na Rua Tonelero, no bairro de Copacabana, na cidade e estado do Rio de Janeiro, no Brasil.

A sua importância decorre do fato de se constituir, na História do Brasil, no marco da derrocada final do presidente Getúlio Vargas, que culminaria com o seu suicídio, a 24 do mesmo mês.

O dito crime, na realidade, foi um atentado contra o jornalista e político conservador Carlos Lacerda, ferrenho opositor de Vargas nas páginas de seu jornal, a Tribuna da Imprensa.



O atentado

Lacerda chegava de automóvel à sua residência situada naquela rua, acompanhado do filho Sérgio e de um segurança, o major da Força Aérea Brasileira Rubens Florentino Vaz, quando dois homens emboscados dispararam contra ele e, em seguida, fugiram de táxi. O jornalista foi atingido por um tiro de raspão no , e o major Rubens Vaz faleceu a caminho do hospital.

Na manhã seguinte, Lacerda publicou em seu editorial:

"A visão de Rubens Vaz, na rua, impede-me de analisar a frio, neste momento, a hedionda emboscada desta noite. Mas, perante Deus, acuso um só homem como responsável por esse crime. É o protetor dos ladrões, cuja impunidade lhes dá audácia para atos como os desta noite. Este homem chama-se Getúlio Vargas."

Durante a investigação que se seguiu, demonstrou-se que a bala que atingiu o major era de calibre 45, arma de uso privativo das Forças Armadas. Em poucos dias chegava-se a dois suspeitos: Alcino João Nascimento e Climério Euribes de Almeida, homens da guarda pessoal do presidente, e ao mandante do crime, Gregório Fortunato, chefe da guarda e guarda-costas de Getúlio desde a época do Estado Novo.


As consequências

A crise política que se seguiu ao episódio, em particular com os militares incorformados com morte de um dos seus, agravada pelos ataques violentos de Lacerda e seus seguidores ao presidente, sem que houvesse um moderador, agigantou a onda antigetulista. Diante dos pedidos de renúncia à presidência que começaram a se multiplicar, em 23 de agosto o presidente reuniu-se com os seus ministros no Palácio do Catete, a fim de analisar o quadro político. Ficou decidido que o presidente entraria em licença, voltando ao poder quando as investigações sobre o atentado estivesse concluídas. Duas horas mais tarde, quase às cinco horas da manhã do dia 24, Benjamin Vargas, irmão de Getúlio, chegou ao Palácio com a informação de que os militares queriam mesmo a renúncia. Como resposta, ao se retirar para o seu quarto, Getúlio afirmou: "Só morto sairei do Catete!" Momentos mais tarde ouviu-se um tiro: Getúlio estava morto com um tiro no coração.

Alcino foi condenado a 33 anos de prisão, pena depois reduzida. Cumpriu 23 anos e sobreviveu a duas tentativas de assassinato. Gregório foi condenado a 25 anos, vindo a ser assassinado na prisão, assim como Climério, condenado a 33 anos. José Antônio Soares foi condenado a 26 anos. Nelson Raimundo, a 11 anos.


Outras interpretações

Outros estudiosos acreditam que o atentado tenha sido uma farsa montada para envolver e comprometer o presidente, conforme a CGTB[1]:

Alcino sustentou, depois de preso, e ao longo dos anos, a mesma versão para o fato:

Citação
« Eu não era pistoleiro. Não saí para matar ninguém, nunca podia imaginar que aquele segurança do Lacerda fosse um major. [Vaz] rodeou o carro pela frente e surgiu na traseira. Ele me atacou e eu saltei. Aí surgiu um tiro, não sei de onde partiu – uma bala passou zumbindo no meu ouvido. O segundo tiro parece que atingiu o major pelas costas, justamente na hora em que ele me deu uma chave-de-braço, no braço esquerdo. Antes, eu estava pulando e me defendendo… Conforme ele me quebrou, me dando uma chave-de-braço, eu já tinha levado a mão 'pro' revólver. Eu estava com um Smith & Wesson, calibre 45, e dei dois tiros no peito dele. »
( Mataram o Presidente: memórias do pistoleiro que mudou a história do Brasil. Alfa-Ômega, 1978.)


Já Lacerda apresentou várias versões do fato, como notou
Ronaldo Conde Aguiar:

  1. No dia seguinte ao episódio da Tonelero, contou que foi alvo de tiros vindos de vários locais diferentes e, depois de empurrar seu filho, na época com 15 anos, para o interior da garagem do edifício, respondeu aos tiros; depois, entrou na garagem e saiu pela porta principal do prédio, reparando, então, que estava ferido no pé esquerdo e que Vaz estava estendido na calçada;
  2. Em agosto de 1967, numa entrevista à revista Manchete, modificou a versão da história: nesta, havia um único atirador, Alcino, e ele começou logo a atirar no suposto pistoleiro; Lacerda estava com um revólver 38 cano curto, uma arma para distâncias pequenas, e completamente inadequado para trocar tiros com uma 45; além do que, Lacerda não sabia atirar.
  3. Em 1977, numa extensa entrevista que redundou no livro "Depoimento", Lacerda afirmou que depois de se despedir de Vaz, quando foi até à porta do edifício, reparou que estava sem chave e, ao voltar para trás, estranhou um homem, mulato, que em seguida começou a atirar. Imediatamente sentiu uma "dor violenta" no pé. A bala o teria atingido "em cima do pé". E Lacerda não disparou contra o atirador imediatamente, porque seu filho, em pânico, agarrou-se a ele, impedindo-o de reagir. Só depois de conseguir levar o filho para a garagem, subir uma escada e percorrer um corredor, saindo pela porta da frente do edifício, é que ele começou a atirar, fazendo todo esse percurso com essa "dor violenta" no pé, ou seja, com um tiro de 45 no peito do pé.


Fatos e inconsistências

  • No hospital se constatou que Rubem Vaz fora atingido por duas balas no peito (como afirmou Alcino) e uma nas costas;
  • Lacerda não quis realizar perícia em seu revólver;
  • Duas testemunhas, Fernando Aguinaga e Otávio Bonfim, afirmaram que Lacerda caminhou normalmente após a fuga do pistoleiro, apesar de Lacerda afirmar ter recebido um tiro no pé;
  • Os presos foram mantidos na Base Aérea do Galeão, incomunicáveis. Teriam sido torturados por Cecil Borer, que anos mais tarde seria indiciado pela morte de mendigos no rio da Guarda.

A falta de cuidados dos supostos autores de um atentado também soa estranha:

  • chamaram um táxi que fazia ponto no Palácio do Catete;
  • um dos supostos criminosos era compadre de Gregório e chamou um táxi de um amigo;
  • o local escolhido para o atentado, movimentado e com risco de testemunhas;
  • a falta de um esquema de fuga;
  • a contratação de um pistoleiro amador – Alcino era um trabalhador que ficou conhecido em Minas Gerais por ter descoberto uma lavra demica na propriedade de uma companhia estadunidense, que o mandou prender.[carece de fontes]

Fonte:Wikimedia Foundation