Em 15 de Agosto de 1534, Inácio e seis outros estudantes (Pedro Faber, Francisco Xavier, Alfonso Salmeron, Jacob Laines, e Nicolau Bobedilla – Espanhóis, e Simão Rodrigues – um Português) encontraram-se na Igreja de Sta. Maria, Montmartre e fundaram a Companhia de Jesus – para “desenvolver trabalho de acompanhamento hospitalar e missionário em Jerusalém, ou para ir aonde o papa nos enviar, sem questionar”.
Em 1537 eles viajaram até Itália em busca de aprovação papal da sua nova ordem. O Papa Paulo III concedeu-lhes uma recomendação e autorizou que fossem ordenados padres. Foram ordenados em Veneza pelo bispo de Arbe (24 de Junho). Devotaram-se inicialmente a pregar e em obras de caridade em Itália. A guerra reatada entre o imperador, Veneza, o papa e os Turcos (Seljuk), tornava qualquer viagem até Jerusalém pouco aconselhável.
Na companhia de Faber e Lainez, Inácio viajou até Roma em Outubro de 1538, para pedir ao papa a aprovação da nova ordem. A congregação de cardeais deu um parecer positivo à constituição apresentada, e em 27 de Setembro de 1540, Paulo III confirmou a ordem através da Bula “Regimini militantis Ecclesiae”, que integra a “Fórmula do Instituto” onde está contida a legislação substancial da nova Ordem. O número dos seus membros foi no entanto limitado a 60. Esta limitação foi porém posteriormente abolida pela bula Injunctum nobis de 14 de Março de 1543. Inácio de Loyola foi escolhido para servir como primeiro superior-geral. Ele enviou os seus companheiros e missionários para vários países europeus, com o fim de criar escolas, liceus e seminários.
Inácio de Loyola escreveu as constituições jesuítas, adoptadas em 1554, que deram origem a uma organização rigidamente disciplinada, enfatizando a absoluta auto-abnegação e a obediência ao Papa e os superiores hierárquicos (perinde ac cadaver, disciplinado como um cadáver, nas palavras de Inácio).
O seu grande princípio tornou-se o lema dos jesuítas: “Ad Majorem Dei Gloriam” (tudo por uma maior glória de Deus)
Obra inicial
Os jesuítas foram fundados no seguimento da reforma Católica (também chamada Contra-Reforma), um movimento reaccionário à Reforma Protestante, cujas doutrinas se tornavam cada vez mais conhecidas através da Europa, em parte graças à recente invenção da imprensa.
Os Jesuítas pregaram a obediência total às escrituras e à doutrina da igreja, tendo Inácio de Loyola declarado:
“Eu acredito que o branco que eu vejo é negro, se a hierarquia da igreja assim o tiver determinado” Uma das principais ferramentas dos Jesuítas era o retiro espiritual de Inácio. Neste, várias pessoas reúnem-se sob a orientação de um padre durante uma semana ou mais, permanecendo em silêncio enquanto atendendo a palestras e submetendo-se a exercícios para se tornarem pessoas melhores. Por exemplo, houve uma conferência e meditações acerca das nossas mortes iminentes, entre outras.
Também pregaram que as decorações e a ostentação em geral nas cerimônias do catolicismo (desprezadas pelos Luteranos) deviam ser acentuadas e abundantemente financiadas.
Os jesuítas conseguiram obter grande influência na sociedade nos períodos iniciais da idade moderna (séculos XVI e XVII) porque os padres jesuítas foram por muitas vezes os educadores e confessores dos reis dessa altura. (Ver D. Sebastião de Portugal, por exemplo). Os jesuítas foram uma força líder da Contra-Reforma, em parte devido à sua estrutura relativamente livre (sem os requerimentos da vida entre a comunidade nem do ofício sagrado), o que lhes permitiu uma certa flexibilidade operacional. Em cidades alemãs, por exemplo, os jesuítas tiveram um papel batalhador, contribuindo para a repressão de quaisquer revoltas inspiradas pela doutrina de Martinho Lutero. Ver Munique ou Bona por exemplo, cidades que apesar de iniciais simpatias por Lutero, permaneceram um bastião católico, em grande parte pelo empenho de jesuítas.
Expansão
As missões iniciais ao Japão otiveram como resultado a concessão aos jesuítas do enclave feudal em Nagasaki em 1580. No entanto, devido a receios crescentes da sua crescente influência, este privilégio foi abolido em 1587.
Dois jesuítas missionários, Gruber e D’Orville, chegaram a Lhasa, no Tibete, em 1661.
As missões jesuítas na América Latina foram controversas na Europa, especialmente em Espanha e em Portugal, onde eram vistas como uma interferência com a ação dos reinos governantes. Os jesuítas opuseram-se várias vezes à escravatura. Eles fundaram uma liga de cidades-estado, chamada Missões ou Missiones no sul do Brasil, ou ainda reducciones, no Paraguai, que eram povoações organizadas de acordo com o ideal católico mais tarde destruída por espanhóis e principalmente portugueses à cata de escravos .
Na China do século XVIII, os jesuítas estiveram envolvidos na chamada questão dos ritos chineses.
Períodos agitados
Na sequência de uma série de decretos assinados pelo papa Clemente XIV, incluindo o Breve “Dominus ac Redemptor” assinado em 21 de Julho de 1773, os jesuítas foram suprimidos em todos os países (excepto a Rússia, onde a liderança da igreja ortodoxa refusou reconhecer a autoridade papal). Nessa altura havia 5 assistências, 39 províncias, 669 colégios, 237 casas de formação, 335 residências missionárias, 273 missões e 22589 membros.
Em Portugal, os Jesuítas já tinham sidos expulsos do país pelo Marquês de Pombal, na sequência do caso Távora em 1758.
Em 1814, no entanto, é restaurada a Companhia no mundo inteiro pelo Decreto do Papa Pio VII “Solicitudo omnium Ecclesiarum”.
Em várias línguas, a palavra “Jesuíta” adquiriu a conotação de “hipócrita”.
Os Jesuítas de hoje
A companhia de Jesus continua ativa no trabalho missonário e na educação, hoje em dia.
Alguns jesuítas latino-americanos adoptaram uma visão esquerdista do catolicismo ao desenvolver a Teologia da Libertação, contrária às orientações do Vaticano. Este tipo de opção política continua a ser um tema controverso dentro da igreja católica.
Jesuítas famosos
Os jesuítas estão presentes, desde a primeira hora, nos novos mundos que se abrem à atividade missionária da época. São Francisco Xavier percorre a Índia, Indonésia, Japão e chega às portas da China; Manoel da Nóbrega e José de Anchieta ajudam a fundar as primeiras cidades do Brasil (Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro); João Nunes Barreto e Andrés de Oviedo empreendem a fracassada missão da Etiópia, etc. Acima das inevitáveis ambiguidades, as missões dos jesuítas impressionam pelo espírito de inculturação (adaptação à cultura do povo a quem se dirigem). As Reduções do Paraguai e a adoção dos ritos malabares e chineses são os exemplos mais significativos.
A atividade educativa tornou-se logo a principal tarefa dos jesuítas. A gratuidade do ensino da antiga Companhia favoreceu a expansão dos seus Colégios. Em 1556, à morte de Santo Inácio, eram já 46. No final do século XVI, o número de Colégios elevou-se a 372. A experiência pedagógica dos jesuítas sintetizou-se num conjunto de normas e estratégias, chamado a “Ratio Studiorum” (Ordem dos Estudos), que visa à formação integral do homem cristão, de acordo com a fé e a cultura daquele tempo.
Os primeiros jesuítas participaram ativamente do esforço de renovação teológica da Igreja Católica, frente à Reforma Protestante. No Concílio de Trento, destacaram-se dois companheiros de Santo Inácio (Laínez e Salmerón).
Desejando levar a fé a todos os campos do saber, os jesuítas dedicaram-se às mais diversas ciências e artes: Matemática, Física, Astronomia…
Entre os nomes de crateras da Lua há mais de 30 nomes de jesuítas. No campo do Direito, Suarez e seus discípulos desenvolveram a doutrina da origem popular do poder. Na Arquitetura, destacaram-se muitos irmãos jesuítas, combinando o estilo barroco da época com um estilo mais funcional.
Fonte: www.conhecimentosgerais.com.br
Companhia de Jesus
Em 1534, o cavaleiro espanhol Inácio de Loyola criou a Companhia de Jesus, com o objetivo principal de combater o protestantismo através do ensino religioso dirigido, e a influência crescente das reformas que cada vez mais preocupava a Igreja católica e a aristocracia européia.
A Companhia de Jesus não era uma ordem religiosa como as outras, seus combativos integrantes tinha uma organização quase militar: consideravam-se soldados da Igreja e achavam que deviam infiltrar-se em todas as atividades sociais e culturais, a fim de eliminar aqueles que pusessem em risco os princípios do catolicismo, e no dia 27 de setembro de 1540, a Companhia de Jesus recebeu a aprovação oficial do Papa Paulo III, na bula Regimini Militantis ecclesiae, aonde os seus membros deviam presar voto especial de obedência ao sumo pontífice e dependiam diretamente dele, a companhia era dividida, em províncias que, agrupadas de acordo com critérios geográficos e linguísticos, aonde os superiores de cada província governavam todas as casas, que tinha seu próprio superior, que nos colégios denominava-se como reitor, e o supremo poder da companhia pertencia ao superior-geral eleito pela congregação geral que era formada pelos delegados das diversas provincías, e da formação dos jesuítas fazem parte estudos de religião, línguas, humanidades, leis e medicina.
Mas a divisão da Companhia Ad Majorem Dei Gloriam (Para a Maior Glória de Deus) mostra a intensidade de seu apostolado. Além de sua intensa atividade na Inquisição e na luta contra o protestantismo, sobretudo na Itália e na Espanha, tinham o ensino em colégios (o curso secundário autônomo foi criado pelos jesuítas) e universidades, aonde os religiosos consagravam-se pelas pregações, direção de retiros espirituais, pesquisas exegéticas e teológicas, missões, etc. mais a principal tareja dos religiosos foi evangelizar os indígenas das regiões recém-descobertas.
A Companhia de Jesus, chegou ao Brasil em Março de 1549 com o primeiro contingente de Jesuítas, formado pelos padres Manuel da Nóbrega, Leonardo Nunes, João de Azpilcueta Navarro, Antônio Pires e mais os irmãos Vicente Rodrigues e Diogo Jácome, que acompanhando Tomé de Sousa, primeiro Governador Geral do Brasil, que aportaram na Bahia, onde se fundaria a nova cidade, chamada do Salvador… e fundaram a Província do Brasil da Companhia de Jesus, que passou a ser a sede e cabeça da Ordem Inaciana na América Portuguesa e perto da Câmara Municipal os padres da Companhia escolheram um lugar para construir seu colégio, em um terreiro, que por causa deles, passou a ser chamado de Terreiro de Jesus, nome que até hoje conserva e que passou a ser o ponto central da antiga cidade e fundaram uma igreja de taipa coberta de palha que dedicaram a Nossa Senhora da Ajuda, além de outras precárias instalações iniciais, as quais foram sucessivamente sendo reconstruídas e ampliadas, esta igreja, a primeira dos Jesuítas no Brasil, foi cedida posteriormente ao clero secular. A igreja atual foi construída no mesmo local, em 1914 e nela esta o púlpito onde o Padre Antônio Vieira pregou o famoso Sermão contra a Holanda. Finalmente em 1572, o então Governador Geral , Mem de Sá , inaugurou a igreja, de pedra e cal, que foi concluída em 1585.
O objetivo dos Jesuítas no Brasil era a catequese de adultos e através da educação, a catequese das crianças e jovens, e no primeiro século de colonização apenas três colégios foram criados no Brasil que foram o colégio da Bahia, que dispunha de uma notável biblioteca, que mesmo tendo sido desfalcada pelos holandeses, no final do século XVII contava com cerca de 3000 livros o colégio do Rio de Janeiro e o de Pernambuco, nos colégios, além das dependências internas de uso privativo possuiam celas, cozinha, copa, refeitório, oficinas também havia horta e pomar, e ainda farmácia (botica), biblioteca e enfermaria, que atendiam também ao público externo, os colégios da Companhia transmitiam uma cultura humanística de caráter acentuadamente retórico, que, se de um lado atendia aos interesses da Igreja, atendia também, às exigências do patriarcado de cana de açúcar, assim, os mais importantes intelectuais da Colônia estudaram nestes colégios como Bento Teixeira, Frei Vicente do Salvador, Gregório de Matos Guerra, Basílio da Gama, Alvarenga Peixoto e outros mais, e a grande importância que a Companhia de Jesus dava para a cultura colonial foi a causa da fundação dos colégios de São Vicente, por Leonardo Nunes, e o de Salvador, por Nóbrega.
Logo, acompanhando a expansão dos trabalhos de catequese entre 1548 e 1604 quando cerca de 28 expedições de missionários foram enviadas à colônia, uma vasta rede de colégios espraiou-se pelo nosso litoral: São Paulo (1554), Rio de Janeiro (1568), Olinda (1576), Ilhéus (1604), Recife (1655), São Luís, Paraíba, Santos, Belém, Alcântara (1716), Vigia (1731), Paranaguá (1738), Desterro (1750), “Nas aldeias, vilas e cidades, as escolas intitulavam-se ‘de ler, escrever, e contar’; e nos colégios, o mestre ora se chamava ‘Alphabetarius’ (1615), ora ‘Ludi-Magister’ (mestre-escola), e umas vezes se dizia ‘Escola de Rudimentos’, outras ‘Escola Elementar’, estava aberta durante cinco horas diárias, repartidas em duas partes iguais, metade de manhã, metade de tarde.” A organização do ensino jesuítico baseava-se no Ratio Studiorum, que, ao mesmo tempo em que era um estatuto e o nome de seu sistema de ensino, estabelecia o currículo, a orientação e a administração. O currículo dividia-se em duas seções distintas (inferiores e superiores), chamadas classes, de onde derivou a denominação “clássico” a tudo o que dissesse respeito à cultura de autores greco-latinos. As classes inferiores, com duração de 6 anos, compunham-se de Retórica, Humanidades, Gramática. Já as superiores, com duração de 3 anos, compreendiam os estudos gerais de Filosofia, para a época, abrangendo Lógica, Moral, Física, Metafísica e Matemática. Tanto num grau como no outro todo estudo era vazado no Latim e Grego e no Vernáculo. O ensino jesuítico, tanto em Portugal quanto no Brasil, era público e gratuito.
A Companhia tinha mesmo como dever o cumprimento do voto de pobreza, que foi reafirmado por uma determinação oficial de 1556, proibindo aos padres acrescentar qualquer forma de poder material ao religioso. No Brasil, porém, dado não haver um amparo direto da Coroa, como acontecia em Portugal, impôs-se a necessidade de encontrar fontes de recursos para a manutenção de suas instituições. Já o Padre Manuel da Nóbrega utilizara-se deste pretexto perante o delegado da Companhia no Brasil, Luís da Grã, a fim de permitir o estabelecimento de propriedades territoriais, inclusive com a utilização do braço escravo, em contradição com o voto de pobreza. Isso não se restringiu à Companhia de Jesus; o interesse pela propriedade, escravos e bens materiais foi comum às outras ordens religiosas que para cá vieram. tal fato não deixou de preocupar a Coroa, e neste sentido foi que D. Sebastião, a fim de melhorar a situação, instituiu, em 1564, uma taxa especial para a Companhia, a redízima, descontada sobre todos os dízimos e direitos da Coroa.
Mesmo assim, isso não era suficiente para arcar com as despesas, sustentadas, sem dúvida, através das fontes próprias de subsistência: as missões, verdadeiras empresas agro-extrativas da Companhia, os colégios ou suas próprias propriedades particulares, e menos de cinqüenta anos depois da chegada ao Brasil os jesuitas já haviam se espalhado pelo litoral, de norte a sul, com muitas incursões, não ficavam apenas nas cidades ou vilas principais, ao contrário, embrenhavam-se pelos sertões, desbravando os matos em busca dos índios, que eram então reunidos em aldeias de três tipos: as dos Colégios, as de El-Rei e as de Repartição, as quais forneciam índios para a própria Companhia, para o Rei e para particulares, respectivamente. Havia também as Missões, ou grandes aldeamentos, situadas em terras mais distantes, nos “sertões, nas brenhas e nas selvas”. de onde saíram as levas de soldados para seus exércitos e após duzentos e dez anos no Brasil e ao longo deste período expandiram seus estabelecimentos e seus trabalhos desde o Amazonas até aos limites extremos do sul do Brasil quando acabaram sendo banidos dos territórios portugueses em 1759.
Do ponto de vista arquitetônico, as principais cidades coloniais brasileiras os religioso estabeleceram suas igrejas, conventos, mosteiros e colégios que ocuparam o lugar de maior destaque, e suas obras entre todas, são as mais significativas nos núcleos primitivos das cidades. e no contexto urbano da Cidade de Salvador, o conjunto arquitetônico dos estabelecimentos da Companhia de Jesus – Igreja, Colégio e Convento – impõe-se e ultrapassa as dimensões das demais construções religiosas, quer dos Franciscanos, dos Carmelitas ou dos Beneditinos, e por sua grandeza, hoje a antiga Igreja dos Jesuítas é a Catedral Basílica da Cidade do Salvador, e o antigo colégio e a maior parte das dependências restantes das antigas construções inacianas abrigam museus e estão sob a guarda da Universidade Federal da Bahia. e por meio dessas imponentes expressões arquitetônicas, e também através das casas, das aldeias e das missões jesuíticas, irradiava-se toda a vida cultural da colônia, e foi a ideologia dos inacianos a responsável, de maneira absolutamente marcante, pela formação e produção intelectual do Brasil nos primeiros séculos, quer na literatura, na poesia, na escultura, na arquitetura, no teatro quer na música.
O que foi a Companhia de Jesus
Companhia de Jesus, originária de um voto magnânimo do Padre Loyola em que o fervor piedoso do fundador impunha precipuamente ao neófito a pobreza, a castidade e a obediência.
Era o que se poderia chamar com exatidão uma corporação fechada a indivíduos quaisquer, pois que exigia do aspirante ao seu meio a demonstração prévia da submissão voluntária a essa virtude excelsas raramente encontradas no homem, depois do desaparecimento do seu fundador, essa associação piedosa degenerou rapidamente numa espécie de sociedade secreta, política e até mesmo comercial, mantendo porém a aparência de corporação religiosa suas resoluções e determinações eram conservadoras no mais alto absoluto sigilo. Seu principal destino era o interesse particular da companhia, sentimento poderoso entre os indivíduos, capaz de excitar neles todas as ambições e audacias possíveis, sob a aparência de um fim caritativo e generoso. Eram constituída normalmente de uma elite diretoria hierarquizada, provida de várias partes do mundo, de cultura variada capaz de orientar e aconselhar a qualquer momento as soluções mais convenientes as questões que interessavam o destino da corporação. O patrimônio territorial da cidade quando instituído em 1565 por Estacio de Sá, é concedida a sesmaria dos jesuítas, com o terremoto em fins de 1755 em Lisboa que destruiu a cidade, permitiu a Sebastião de Carvalho e Melo, desenvolver um estudo de reconstrução da cidade, a partir deste fato surgia uma ascendência crescente junto ao rei.
No governo do general Gomes Freire de Andrade, o Marquês de Pombal se tornou inimigo irreconciliável dos jesuítas pela perseguição tenaz que ele conseguiu expulsá-los da metrópole e das colônias.
Em 1751 assumia o cargo de ouvidor geral e corregedor de comarca na cidade do Rio de Janeiro, o doutor Manuel Monteiro de Vasconcelos.
Pois apesar de todas as circunstância desfavoráveis aos jesuítas continuava inabalados o seu prestigio na cidade, nenhuma instituição particular na colônia possuía tão ilimitadas riquezas em terra e outros haveres matérias como os padres da companhia, evidentemente as propriedades territoriais que eles possuíam estendiam-se por quase toda a cidade, constituindo assim um verdadeiro domínio feudal de eram senhores absolutos, parcelando-se: em sítios e chácaras, por meio de arrendamentos precários, recolhiam além das rendas mais as benfeitorias que excedessem de uma certa quantia em dinheiro, previamente estipulada nos contratos, foi nessa abundância de senhorio territorial que veio acontecer o atentado contra a vida de Dom José I, esse incidente sagrou definitivamente o domínio do Marquês de Pombal sobre o caráter pusilânime do monarca, dai o despontar de uma sucessão de perseguições crudelíssimas e sanguinárias contra pretendidos desafetos colhidos na aristocracia, então começava uma tremenda devassa no clero, lançada por todo o país e seus domínios aos padres da Companhia de Jesus, em 3 de Setembro de 1759, o Marquês de Pombal assina uma lei que considera ser os jesuítas traidores e responsáveis pela tentativa de assassinato contra o rei, ordenando a expulsão dos mesmos, entre outras razões. Logo a seguir começava a tomar conta da cidade, um movimento contrario aos jesuítas. O Marquês de Pombal, ordena ao Conde de Bobadela que agisse com rapidez no seqüestro de pessoas, bens e terras que pertencesse a Companhia de Jesus, e avisou a população a ordem dada pelo rei, proibindo terminantemente qualquer comunicação dos moradores da cidade com os proscritos.
Gomes Freire de Andrade, então confiou ao desembargador Agostinho Felix Capello o encargo de proceder ao seqüestro dos padres no colégio da companhia, fazendo recolher aí todos os que fossem encontrados nas suas dependências e fazendas da capitania, quando se praticava o seqüestro dos jesuítas, foi efetuado uma longa e minuciosa devassa sobre os negócios secretos da Companhia de Jesus, para descobrirem como agiam os padres nas coisas que diziam com o seu ministério, coube a direção das pesquisas no Rio de Janeiro, ao Bispo Dom Frei Antônio do Desterro.
Agindo o religioso beneditino com muita parcialidade contra os jesuítas, pois nunca conseguiu disfarçar o ódio que nutria contra eles, quando foram ao colégio da companhia para arrecadar os papeis, documentos e bens pertencente aos jesuítas, ficaram sabendo que eles haviam destruídos muitos manuscritos, porém confiscaram alguns livros e documentos.
Porém em alguns cadernos de arrendamentos apontava a clareza de foros dos sítios e chácaras em que se repartiram as fazendas do Engenho-Velho e São Cristovão e também encontraram alguns assentamentos explicativos da maneira como agiam os padres quando arrendavam as suas terras, e as precauções que eles tomavam para resgatá-las ou para arrecadar e garantir as rendas dos seus domínios, também encontraram alguns documentos referente a demarcação das terras das sesmaria da cidade, que vieram tirar duvidas de que amparadas pelo prestigio que sempre mantiveram na cidade até as vésperas de sua queda, os padres da companhia conseguiram burlar, com títulos adulterados e com argumentos especiosos, a demarcação jurídica da sesmaria da cidade que estava efetuada de acordo com os documentos da câmara,
Outro fato relevante foi o depoimento feito por um religioso da Companhia de Jesus, que pertencerá a essa comunidade durante cerca de quinze anos o Padre Bento Pinheiro Horta da Silva Cepeda
Que escreveu uma carta em 21 de Fevereiro de 1761 ao Bispo Dom Antônio do Desterro, e entre os fatos denunciados na relação, temos o modo como agiam os procuradores do Colégio dos Jesuítas, quando se tratava de apropriar terras em benefícios da companhia. Os jesuítas na época eram sabedores das intenções perigosas com que ameaçavam destrui-los, e que, por isso mesmo, haviam abandonados nos últimos tempos o cuidado e o apuro em que traziam as suas propriedades e culturas, cogitando apenas de resguardarem do confisco iminente, todos os valores transportáveis que pudesse por a salvo, antes do infortúnio os abatesse, isto ficou provado pelo Conde Bobadela; as fazendas eram menos prosperas por ocasião do seqüestro, do que havia sido anteriormente, entretanto pelos lançamentos dos seus cadernos de arrendamentos, verificava-se que as suas terras estavam divididas em grandes número de sítios e chácaras, beneficiadas por particulares e produzindo grande rendas para o colégio, os jesuítas impunham obrigações e exigências aos seus locatários, além da quantia arbitrada, eles não podiam ter bois sem licença do colégio, não podiam cortar pau de lei na terra arrendada, não permitiam a entrada de pessoas no sítio, ainda que fosse parentes sem autorização prévia dos padres e bastaria um mero desacordo para que o homem da gleba fosse expulso sem compensação, ficou demonstrado o domínio absoluto sobre a terra porque suas fazendas estavam rodeadas de sítios e chácaras, nestas condições haviam no Engenho Velho e Andarai Pequeno cerca de quarenta, no Andarai Grande cinco, em São Cristóvão e no Caju perto de trinta e na Ilha do Melão três, os sitiantes e chacareiros constituíam assim em torno dessas fazendas em elemento poderoso de beneficiamento do solo contudo não era somente o esforço individual dos rendeiros que fazia crescer o valor dessas terras, sua valorização continua provinha também da proximidade em que se achavam do centro urbano que prosperava incessantemente, pelo crescimento da sua população, pelo desenvolvimento do seu comércio, por sua situação geográfica em relação as necessidades dos demais agrupamentos urbanos próximo e em formação, pela importância política que ia assumindo na colônia, era por conseguinte diretamente influenciado pela atividade coletiva da cidade que representava nesse caso, uma forte estimulo a valorização social de todo o territorio que a circundava, e no qual se achavam localizados os três grandes núcleos de operosidade dos jesuítas, aí em torno, as igrejas e casas dos padres, distribuíam-se os engenhos, as fazendas, as fábricas de cal e de anil, as grandes criações de animais, os currais de gado, os campos de pastagem, as variadas e intensas escravaria que animava o ambiente das fazendas, e vitalizava a sua produção dentro da cidade, distribuídas por varias ruas, erguiam-se as casas para morada arrendadas a particulares, construídas pelos padres que iam da Fazenda de Santa Cruz até mesmo na baia, a Ilha de Vilhegagnon caíra sob o domínio dos jesuítas.
Foi executado uma grande devassa, lançada por todo o país a seus domínio, algum tempo depois, reboava por toda a cidade uma irá contra o poderio dos jesuítas.
E na madrugada de 4 de Novembro de 1759 os jesuítas foram cercados e aprisionados nos lugares em que se achavam, foram encontrados três padres no Engenho Velho, três no Engenho Novo e quatro na Quinta e Fazenda de São Cristóvão, os quais foram recolhidos ao colégio da companhia, ao total foram feitos prisioneiros 199 padres que foram embarcados durante a noite de 3 para 4 de Março de 1760 em uma naú e conduzidos a Lisboa, ruía, assim do seu pedestal grandioso uma das colunas mestras da formação do Brasil Colonial, com pouco mais de dois séculos de existência, desde a instituição do governo geral, a instituição jesuítica fora até então com esse governo e com a instituição popular da senado da câmara, a tríade tutelar que guíara bem ou mal os destinos do novo aglomerado humano que se formava, embora esporadicamente ao longo do imenso território do Brasil, sua influência espiritual fora prodigiosa, vencida apenas gradualmente, pelo domino temporal que nela se desenvolveu sem freios e sem limites, arrastando-a para a queda inglória, mas coroada de martírio, dessa proscrição violenta lançada contra uma congregação religiosa que sempre gozara das regalias de um verdadeiro estado no estado, e que só agora se acusava, de esquecida do seu venerável instituto, quando o Desembargador Manuel da Fonseca Brandão e o Escrivão Inácio Gonçalves de Carvalho, estavam inventariando todos os bens confiscados junto aos padres, receberam ordem do Conde de Bobadela para verificarem as situações dos arrendamentos e as dividas contraídas com os jesuítas, afim de que pude-se dar cumprimento as determinações emanadas da metrópole, que era para serem vendidos todos os bens dos jesuítas em hasta publica pelo melhor preço em dinheiro ou em gêneros de boa qualidade.
A 25 de Agosto de 1761, era assinada a lei que “mandava incorporar ao fisco e a câmara real todos os bens seculares que a Companhia de Jesus possuía e administrava neste reinos , e todo o seu domínio, com os padres”. Nunca ocorrera ao conselho, oportunidade mais favorável do que essa, de dirimir de vez a questão secular do patrimônio territorial da cidade, a partir desta data o conselho da câmara, entregou a mitra os despojos religiosos dos jesuítas, as igrejas, colégios e noviciados da cidade, não se estendendo as residências e casas de granjearia que imprópria e abusivamente eram chamadas de missões, e também foram efetuados gradualmente leilões públicos – transferindo-se o domínio pleno de cada sítio ou chácara a seu respectivo arrematante, com a conseqüente demarcação dos limites da propriedade adquirida em hasta publica. realizava-se assim o parcelamento da grande sesmaria dos jesuítas, e desse acontecimento resultou a formação da zona suburbana da cidade desta maneira começa portanto a história territorial dos subúrbios carioca.
Objetivo
Tendo por objetivo a disseminação da fé para as novas terras de além-mar, a Companhia de Jesus foi uma ordem missionária fundada por Santo Inácio de Loyola, no ano de 1534. O catolicismo no período sofria a oposição de novas doutrinas cristãs “desviantes”, a partir do movimento da Reforma protestante de Lutero. Portanto, sob os desígnios da Contra Reforma, a Companhia de Jesus deu combate à expansão de doutrinas antagônicas ao catolicismo e ao próprio poder da Igreja.
O processo de catequização indígena no Brasil foi um dos alvos da Companhia: os jesuítas valiam-se de associações da cultura religiosa nativa aos elementos cristãos, para a melhor compreensão dos indígenas e, portanto, melhor persuasão na conversão destes povos. Outra tarefa da Companhia no Brasil era a educação religiosa dos colonos, portanto a manutenção da fé e do poder da Igreja romana no território. Uma das figuras principais neste contexto da catequização foi o padre Antônio Vieira, que angariou grande prestígio tanto entre colonos quanto entre os povos indígenas na região amazônica.
Outras funções iniciais são atribuídas a esta ordem religiosa: a fundação das primeiras instituições educacionais no país.
A instituição religiosa, passando gradualmente a possuir grande poder político sobre os seguidores religiosos, acabou por ser perseguida: os missionários faziam oposição aos colonos quanto à exploração da mão-de-obra indígena. Mais tarde, o evidente apoio dos missionários à resistência dos indígenas frente aos colonizadores levaram a conflitos mais graves, incluindo batalhas empreendidas pelas Entradas e Bandeiras às aldeias sob o poder missionário.
Tais conflitos culminaram por sua vez, no ano de 1759, na resolução do Marquês de Pombal: valendo-se do argumento de que os jesuítas passaram a interferir excessivamente nas áreas de atuação política que deveriam ser restringidas ao próprio Estado, determinou objetivamente a expulsão dos jesuítas de Portugal e do Brasil.
Fonte: www.geocities.com
Companhia de Jesus
Sociedade missionária fundada em 1534 por Santo Inácio de Loyola com o objetivo de defender o catolicismo da Reforma Protestante e difundi-lo nas novas terras do Ocidente e do Oriente. Tem rápido crescimento e alcança grande prestígio e poder, tornando-se a instituição religiosa mais influente em Portugal e nas colônias portuguesas.
Os primeiros jesuítas chegam ao Brasil em 1549, comandados pelo padre Manuel da Nóbrega, e dedicam-se à catequese indígena e à educação dos colonos. Entre os séculos XVII e XVIII também constroem igrejas e fundam colégios.
Organizam a estrutura de ensino, baseada em currículos e graus acadêmicos, e estabelecem as primeiras “reduções” ou “missões”: aldeamentos onde os nativos são aculturados, cristianizados e preservados da escravização colonial. Na região das bacias dos rios Paraná, Paraguai e Uruguai é criada a maior parte delas, que reúnem dezenas de milhares de índios.
Com o crescimento das missões, agravam-se as divergências entre os padres e os colonos que se utilizam de mão-de-obra indígena. Na primeira metade do século XVII, os bandeirantes paulistas atacam os aldeamentos do Paraná-Paraguai. Na região amazônica, o padre Antônio Vieira usa seu prestígio e empenho para diminuir a violência das “tropas de resgate” contra as missões jesuíticas. Em meados do século XVIII, a situação fica insustentável. O Tratado de Madri, de 1750, define a posse das terras ocupadas por Portugal e Espanha e determina a transferência dos índios de Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul, para terras argentinas e paraguaias. Alguns padres apóiam a resistência indígena, opondo-se à Coroa portuguesa. O envolvimento da Companhia de Jesus na Guerra Guaranítica serve de pretexto ao marquês de Pombal para decretar a expulsão dos jesuítas do Brasil e de Portugal em 1759. A alegação é de que a organização tornara-se quase tão poderosa quanto o Estado, ocupando funções e atribuições mais políticas que religiosas. A companhia entra em choque também com setores da própria Igreja, que julgam excessiva a proteção dos jesuítas aos nativos. O marquês de Pombal fecha a instituição no império português, muda os estatutos dos colégios e das missões e impõe a eles direções leigas. As medidas fazem parte de um conjunto de reformas que visam reorganizar a administração, reduzir os conflitos internos e estimular a economia da colônia.
Fonte: EncBrasil
Companhia de Jesus
PERÍODO JESUÍTICO – (1549 · 1759)
A Companhia de Jesus foi fundada por Inácio de Loiola e um pequeno grupo de discípulos, na Capela de Montmartre, em Paris, em 1534, com objetivos catequéticos, em função da Reforma Protestante e a expansão do luteranismo na Europa.
Os primeiros jesuítas chegaram ao território brasileiro em março de 1549 juntamente com o primeiro governador·geral, Tome de Souza. Comandados pelo Padre Manoel de Nóbrega, quinze dias após a chegada edificaram a primeira escola elementar brasileira, em Salvador, tendo como mestre o Irmão Vicente Rodrigues, contando apenas 21 anos. Irmão Vicente tornou·se o primeiro professor nos moldes europeus e durante mais de 50 anos dedicou·se ao ensino e a propagação da fé religiosa.
O mais conhecido e talvez o mais atuante foi o noviço José de Anchieta, nascido na Ilha de Tenerife e falecido na cidade de Reritiba, atual Anchieta, no litoral sul do Estado do Espírito Santo, em 1597. Anchieta tornou·se mestre·escola do Colégio de Piratininga; foi missionário em São Vicente, onde escreveu na areia os “Poemas à Virgem Maria” (De beata virgine Dei matre Maria), missionário em Piratininga, Rio de Janeiro e Espírito Santo; Provincial da Companhia de Jesus de 1579 a 1586 e reitor do Colégio do Espírito Santo. Além disso foi autor da Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil.
No Brasil os jesuítas se dedicaram a pregação da fé católica e ao trabalho educativo. Perceberam que não seria possível converter os índios à fé católica sem que soubessem ler e escrever. De Salvador a obra jesuítica estendeu·se para o sul e em 1570, vinte e um anos após a chegada, já era composta por cinco escolas de instrução elementar (Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente, Espírito Santo e São Paulo de Piratininga) e três colégios (Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia).
Todas as escolas jesuítas eram regulamentadas por um documento, escrito por Inácio de Loiola, o Ratio atque Instituto Studiorum, chamado abreviadamente de Ratio Studiorum. Os jesuítas não se limitaram ao ensino das primeiras letras; além do curso elementar eles mantinham os cursos de Letras e Filosofia, considerados secundários, e o curso de Teologia e Ciências Sagradas, de nível superior, para formação de sacerdotes. No curso de Letras estudava-se Gramática Latina, Humanidades e Retórica; e no curso de Filosofia estudava·se Lógica, Metafísica, Moral, Matemática e Ciências Físicas e Naturais. Os que pretendiam seguir as profissões liberais iam estudar na Europa, na Universidade de Coimbra, em Portugal, a mais famosa no campo das ciências jurídicas e teológicas, e na Universidade de Montpellier, na França, a mais procurada na área da medicina.
Com a descoberta os índios ficaram à mercê dos interesses alienígenas: as cidades desejavam integrá·los ao processo colonizador; os jesuítas desejavam convertê·los ao cristianismo e aos valores europeus; os colonos estavam interessados em usá·los como escravos. Os jesuítas então pensaram em afastar os índios dos interesses dos colonizadores e criaram as reduções ou missões, no interior do território. Nestas Missões, os índios, além de passarem pelo processo de catequização, também são orientados ao trabalho agrícola, que garantiam aos jesuítas uma de suas fontes de renda.
As Missões acabaram por transformar os índios nômades em sedentários, o que contribuiu decisivamente para facilitar a captura deles pelos colonos, que conseguem, às vezes, capturar tribos inteiras nestas Missões.
Os jesuítas permaneceram como mentores da educação brasileira durante duzentos e dez anos, até 1759, quando foram expulsos de todas as colônias portuguesas por decisão de Sebastião José de Carvalho, o marquês de Pombal, primeiro-ministro de Portugal de 1750 a 1777. No momento da expulsão os jesuítas tinham 25 residências, 36 missões e 17 colégios e seminários, além de seminários menores e escolas de primeiras letras instaladas em todas as cidades onde havia casas da Companhia de Jesus. A educação brasileira, com isso, vivenciou uma grande ruptura histórica num processo já implantado e consolidado como modelo educacional.
Fonte: www.pedagogiaemfoco.pro.br
Companhia de Jesus
O SENTIDO DO BRASIL INTEGRADO NOS OBJETIVOS DA COMPANHIA DE JESUS NO SÉCULO XVI
1. A Companhia de Jesus e os seus objetivos no século XVI
Nos alvores dos tempos modernos, o XIX concílio ecuménico, o concílio de Trento, enfrenta os problemas fulcrais dessa época perturbada pela profunda crise de ruptura da fé.
A Companhia de Jesus, aprovada pelo papa Paulo III em 1540, surgida no âmbito da Reforma Católica no século XVI, sob os auspícios do concílio de Trento, vai proporcionar um ambiente propício à expansão do Catolicismo, após este ter sido afetado pela Reforma Protestante. Os inacianos contribuíram para a formação de uma fortaleza contra o avanço da heresia protestante.
De fato, os objetivos dos jesuítas eram:
Levar a religião Católica para as regiões recentemente descobertas, no século XVI, com incidência para o continente americano;
Catequizar os índios americanos, com a utilização das línguas portuguesa e espanhola, e com a introdução dos costumes europeus e a religião católica;
Difundir o Catolicismo na Índia, na China e em África, evitando, desta forma, o avanço do protestantismo nestas regiões; e
Desenvolver a criação de escolas católicas em diversas regiões do mundo.
D. João III de Portugal, para assegurar às suas conquistas a necessária cobertura espiritual, recorreu aos fundadores da Companhia de Jesus a indispensável ajuda. Nesta contextualização, a tentativa europeia de evangelização e aculturação em terras americanas, nomeadamente no Brasil, ficou a dever-se aos missionários portugueses e em especial aos jesuítas, que foram os grandes construtores do Brasil. Sem a sua ação, o presente Brasil com base numa mescla de raças e culturas não existiria. Apesar de não terem sido os primeiros religiosos a instalarem-se na Colônia, os jesuítas exerceram enorme influência na vida colonial. Receberam total apoio da Coroa portuguesa, não só para converter os gentios à fé católica, como também para protegê-los do cativeiro. A população nativa vivia num nível baixo civilizacional, mas por isso não devia ser ainda mais rebaixada, reduzida à animalidade e à escravidão, mas elevada à condição de seres humanos e conduzida, pela mão do Cristianismo, à dignificação do ser humano, através do cruzamento de raças e pela educação cívica e cultural de povos e raças intervenientes.
1.1 A posição do governo-geral e a ação da Companhia de Jesus no Brasil
Na política de centralização de poder defendida por Dom João III de Portugal, mesmo em terras de Além-Mar, Tomé de Souza vai para o Brasil como governador-geral (Regimento de 17 de Dezembro de 1548) que, além do necessário funcionalismo, traz consigo seiscentos soldados e quatrocentos degredados.
Desembarca-se o material para construir uma cidade e, de imediato, põe mãos à obra. Em quatro meses é edificada uma muralha de fortificação para proteger o local, levantam-se casas e igrejas onde anteriormente existiam apenas cabanas de barro. Tomé de Sousa instala no, por enquanto, ainda provisório Palácio do Governo, uma administração para a colônia e outra para a cidade, e, como mais evidente sinal de uma justiça no território, constrói-se um cárcere, primeira advertência de, no futuro, haver ordem rigorosa. Com a fundação de uma capital (cidade de São Salvador) e a constituição de um governo geral, o Brasil adquiriu uma nova dimensão político-jurídica, com incidência para o futuro daquele território, ou seja a futura unificação do Brasil.
Tomé de Souza, para além dos mil homens, traz consigo seis homens de batinas pretas que o rei enviou para direção e conselho espirituais.
Esses homens trazem o que de mais precioso um povo e uma terra necessitam para sua existência: a ideia criadora da unidade do Brasil. Esses seis jesuítas possuem uma energia diferente, pois a sua ordem religiosa é nova e está cheia de santo fervor. Nos jesuítas, a intensidade espiritual e a pureza de costumes, nos primeiros anos, e antes do verdadeiro êxito, encontram- se ao mais alto nível. Em 1550, os jesuítas ainda não constituem um poder espiritual, secular, político e económico, como nos séculos seguintes. Sem posses, tanto os missionários como indivíduos em si, como a ordem, personificam uma determinada vontade, portanto um elemento ainda de todo espiritual, não imbuído no que é secular. Como os jesuítas nada exigem, el-Rei D. João III aprova-lhes a intenção de conquistar essa nova terra para a religião e permite que os seis soldados de Cristo acompanhem a expedição. Na realidade, eles não se vão limitar a acompanhar a expedição, eles irão principalmente dirigir, sob uma orientação espiritual fora do comum. Todos aqueles que antes deles chegaram ao território do Brasil, fizeram-no em cumprimento de ordem ou vítimas da violência, ou refugiados, e quem até então desembarcava na costa do Brasil queria tirar algo desta terra, mas nenhum deles pensava em alguma retribuição à terra. Os jesuítas são os primeiros a nada querer para si e tudo querer para esta terra. Trazem consigo plantas e animais para cultivar o solo; trazem medicamentos para curar os enfermos, livros e instrumentos a fim de ensinar os incultos; trazem a sua crença e a disciplina de costumes estabelecida pelo seu mestre; trazem, ainda, uma ideia nova, o maior projeto de colonização existente na História. Os jesuítas pensam no processo de edificação por meios morais, pensam nas gerações vindouras e, desde o primeiro instante, estabelecem na nova terra a equiparação moral para todos entre si. O zelo manifestado por Manuel da Nóbrega e o espírito devoto de Tomé de Sousa tiveram mão nos escândalos contra a moralidade pública e contra os cativeiros injustos.
Os jesuítas sabem que uma missão de tal importância não poderá realizar-se de imediato. São realistas, e, graças à sua ação, sabem fortalecer a sua energia com o poder divino, para vencerem no mundo a imensa resistência das fraquezas humanas. Os jesuítas distinguem-se dos funcionários da Coroa e dos homens de armas que querem para si e para a pátria lucros imediatos e visíveis. Os jesuítas sabem da necessidade da existência de várias gerações para completar o processo de aculturação no Brasil e cada um deles que arrisca a vida, a saúde e as forças nesse começo, jamais verá os resultados de seus esforços. É um trabalho penoso, de semeadura, um empreendimento árduo. O Brasil é o território ideal para seu apostolado. Só pelo fato de ninguém no Brasil haver atuado antes deles, e ninguém atuar a seu lado, podem, por isso, aqui realizar em toda a extensão uma experiência de importância histórica e espiritual, uma missão de alto valor moral.
2. As qualidades e o posicionamente do Padre Manuel da Nóbrega
A presença de um homem, verdadeiro chefe, Padre Manuel da Nóbrega, a quem a incumbência, recebida de seu provincial, em seguir para o Brasil nem dá tempo de se deslocar a Roma para receber instruções pessoais do superior geral da Companhia, Inácio de Loyola. Tem trinta e dois anos e estudou nas Universidades de Salamanca e Coimbra, antes de haver ingressado na Companhia. Mas não é o seu saber teológico que lhe confere grandeza histórica, mas a sua energia e a sua força moral. É um lutador, é um soldado de Cristo, na concepção de Loyola.
Pouco depois de sua chegada à Bahia, Nóbrega criou a sua primeira escola e, com os padres que posteriormente chegaram, visitou em viagens fatigantes, todo o litoral, desde Pernambuco até Santos, e fundou a casa em São Vicente. Mas ainda não encontrou o lugar conveniente para o colégio principal, para o centro espiritual e religioso que, pouco a pouco, deverá atuar sobre todo o território. Essa procura cuidadosa, bem deliberada, evidenciou um antagonismo oculto que, com o tempo, se vai tornar patente e violento. A Companhia de Jesus não quer começar a sua obra sob as vistas e controlo do Estado e nem mesmo das autoridades eclesiásticas. Desde o começo, têm os jesuítas em relação ao Brasil um problema e um objetivo mais elevado do que serem aqui apenas um elemento colonizador, com função de ensino e de auxílio, subordinado à Coroa e à Cúria Romana. O Brasil para eles é um objeto de experiência decisiva, a primeira prova da capacidade de realização da força organizadora da Companhia de Jesus; e Nóbrega assume-se como líder quando refere que esta terra é nossa empresa, querendo dizer que eram os responsáveis pela sua realização perante Deus e perante a humanidade.
Nas expedições para libertar o Rio de Janeiro, Nóbrega é a força impulsiva do exército e o conselheiro estratégico do governador geral. Na administração, ele revela as capacidades ideais de um organizador genial, e pela clarividência que se sente em suas cartas, ele revela uma energia heróica que faz não temer qualquer sacrifício para si próprio. As viagens de inspecção que, naqueles anos, empreendeu de norte a sul, e vice-versa e através do interior do território, só por si encerram dias e noites cheios de preocupações e de perigos e mostram a sua qualidade de chefia quer a nível político, quer a nível espiritual. Trata-se de um orientador de almas, mas consciente das limitações humanas.
Durante os anos que viveu no Brasil, o Padre Manuel da Nóbrega assume-se como dirigente ao lado do governador-geral, professor dos mestres, fundador de cidades e pacificador, e não há acontecimento importante na História do Brasil daquela época a que não esteja ligado o seu nome. A reconquista do Rio de Janeiro, a fundação de São Paulo e Santos, a pacificação das tribos inimigas, a criação de colégios, a organização do ensino e a libertação dos índios são sobretudo obra sua. Por toda a parte Nóbrega foi o iniciador das missões que os seus discípulos e sucessores, de Anchieta a Vieira, tomaram a cargo no Brasil, mas não fizeram mais do que desenvolver as suas ideias e os seus objetivos em relação ao território brasileiro.
Os jesuítas tomam conhecimento da situação real do território, logo após a sua chegada. Antes de ensinar, querem aprender, e, imediatamente, um deles trata de aprender o idioma dos índios. Estes ainda se acham no mais baixo grau da época nómada. Andam nus, não conhecem o trabalho, não possuem ornamentos, nem os mais primitivos utensílios. Quando precisam de comer, tiram das árvores ou dos rios o que necessitam e logo que consomem tudo o que encontram numa região, mudam-se para outra. De acordo com os registos dos jesuítas, os índios constituem uma raça de boa índole e mansa. Os índios guerreiam-se entre si, apenas para fazerem prisioneiros, que devoram no meio de grandes solenidades e/ou cerimônias. Quando os sacerdotes tentam dissuadi-los do canibalismo, esbarram mais com uma admiração da parte deles do que com uma verdadeira resistência, pois esses selvagens ainda vivem fora de qualquer noção de civilização ou de moral e o devorar prisioneiros para eles não significa senão mais um prazer como tantos outros da vida animalesca.
Como os índios não possuem ideias religiosas ou morais, é muito mais fácil incutir neles o germen espiritual do que em povos em que já existia um culto próprio. A população nativa do Brasil é, no dizer de Nóbrega, uma massa em bruto, dócil, que aceita a nova prescrição e acolhe todo o ensino. Os índios vivem sem qualquer outro pensamento além de comer, beber e matar gentes e são dados a danças e cantares lascivos e diabólicos, constituindo uma vida idólatra. Por toda a parte os índios recebem sem nenhuma desconfiança os brancos, os sacerdotes. Sem hesitação deixam que eles os baptizem e de boa vontade e gratos seguem os sacerdotes que os protegem contra os outros.
Desde o primeiro momento, eles quiseram com o Brasil criar algo sem par, algo de modelo, e uma concepção como essa teria de entrar, mais cedo ou mais tarde, em conflito com as ideias mercantis e feudais da corte portuguesa. Certamente não pensavam em se apossar do Brasil com o intuito de dominar e explorar para a sua Companhia e para os fins desta, como afirmam os seus inimigos. Um exemplo destes é o futuro marquês de Pombal, tenebroso e prepotente, que não descansou enquanto não aniquilou a obra dos inacianos. O marquês, para esconder os fracassos da execução do Tratado da Colônia do Sacramento, culpou os jesuítas, desencadeando contra eles uma pérfida propaganda.
3. A estratégia dos jesuítas visando o futuro do Brasil
Os jesuítas não desperdiçam o tempo com estatísticas relativas às almas já conquistadas, pois sabem que a sua verdadeira tarefa está centralizada no futuro. Em primeiro lugar, é preciso fazer com que essas massas nómadas se fixem em locais, para que se possa tomar conta de seus filhos e dar-lhes a devida instrução. A atual geração de canibalismo, já não é possível civilizar. Mas será facil educar, de acordo com o espírito civilizacional, as crianças, portanto as gerações vindouras. Por isso, para os jesuítas, o mais importante é criar escolas com aquela ideia de formação de mescla sistemática que fez do Brasil uma unidade. No território, os mestiços, já são numerosos. Os jesuítas solicitam ao reino que enviem crianças brancas de Lisboa, ainda que sejam apenas as crianças abandonadas, desamparadas e apanhadas nas ruas de Lisboa. Qualquer elemento novo que favoreça a junção, é bem recebido por eles, mesmo o constituído pelos moços perdidos, ladrões e maus. Os inacianos têm interesse na criação de mestres do povo com o próprio sangue do índio, pois os aborígenes, no que toca ao ensino religioso, confiam mais nos irmãos da mesma cor ou mulatos, do que nos estrangeiros, nos brancos. Ao contrário dos outros, os jesuítas pensam nas gerações vindouras e são realistas e clarividentes. São os únicos que têm uma visão verdadeira do Brasil no futuro. O que eles fazem é um plano de campanha colonizadora para o futuro, e o objetivo desse plano, que permanece fixo através dos séculos, é a constituição desta nova terra no sentido de criar uma única religião, um único idioma, uma única ideia civilizacional. Alcançar esse objetivo é um motivo de eterna gratidão do Brasil a esses missionários com a ideia de fazer dele uma nação.
4. O surto civilizacional no Brasil: os esforços dos padres jesuítas e os entraves encontrados no processo de evangelização
A verdadeira resistência com que, em seu grandioso plano de colonização, esbarram os jesuítas, não provém, como a princípio poderia esperar-se, dos índios selvagens e canibais, mas dos europeus, dos cristãos, dos colonos. Até então, para aqueles soldados evadidos, marinheiros desertados, para os degredados, o Brasil era um paraíso exótico, uma terra sem lei, sem restrições e deveres, uma terra em que podia cada um fazer e deixar de fazer o que bem lhe aprouvesse.
Sem serem importunados pela justiça ou pela autoridade, podiam dar livre curso aos instintos desregrados. O que na pátria era punido com grilhões e ferrete, no Brasil era considerado prazer permitido, de acordo com a doutrina dos conquistadores. Eles se apossavam de terras, onde quisessem e na quantidade que quisessem; capturavam aborígenes encontrados e, a chicote, obrigavam-nos a trabalhar. Apossavam-se de toda mulher que encontravam, e o elevado número de mestiços é revelador da difusão dessa poligamia desenfreada. Não havia ninguém para lhes impor autoridade, e, por isso, cada um desses indivíduos que, na sua maioria, era proveniente de casas de correção, vivia como um senhor, sem se importar com o direito e a religião e, ainda, sem interesse pelo trabalho. De povos e agentes civilizadores esses homens nada possuiam.
Impor disciplina àquela massa brutal, habituada ao ócio e à violência, é tarefa árdua. O que mais horroriza os piedosos sacerdotes é a desenfreada poligamia e a devassidão. Como constituírem família, base única da sociedade, se aqui não havia mulheres brancas. Por isso, Nóbrega insiste junto a el-Rei para que de Portugal envie mulheres. Nóbrega chega a pedir ao rei que envie também as jovens decaídas, as meretrizes das ruas de Lisboa, pois no Brasil todas encontrariam esposo. Após algum tempo as autoridades religiosas e seculares conseguem estabelecer certa ordem nos costumes.
Mas na colônia inteira eles esbarram com uma resistência: a escravidão que é o ponto nevrálgico do problema brasileiro.
A terra precisa de braços e não os há no território em quantidade suficiente. Os poucos colonos não bastam para plantar cana e para trabalhar nos engenhos. A cana sacarina tornar-se-ia a principal produção agrícola da economia brasileira. O movimento foi iniciado por Martim Afonso de Sousa em São Vicente, mas depressa se alastraria a todo o território. Esses aventureiros e conquistadores não vieram para esta terra tropical, para trabalhar de enxada e pá. No Brasil, querem ser senhores e, por isso, resolvem a dificuldade, apanham os aborígenes como os caçadores apanhando lebres e, a chicote, fazem-nos trabalhar. A terra pertence-lhes, de acordo com a argumentação desses aventureiros, com tudo que existe nela. Contra essa ideia intervêm, energicamente, os jesuítas, pois a escravidão com o despovoamento da terra vai diretamente contra seu plano grandioso e bem traçado. No futuro, não podem tolerar que os colonos reduzam os índios a animais de trabalho, porque eles, discípulos de Loyola, impuseram a si, precisamente como a mais importante tarefa, conquistar esses selvagens para a fé, para a terra e para o futuro. Todo o índio lívre é um ser necessário para o povoamento e para a civilização. Ao passo que é do interesse dos colonos atiçar as diferentes tribos a constantes combates entre si, a fim de elas se exterminarem e, após toda a luta, possam ser comprados os prisioneiros como mercadoria barata. Os jesuítas procuram conciliar as tribos entre si e isolá-las umas das outras, no vasto território, por meio do estabelecimento de povoados. O índio, como futuro brasileiro e cristão conquistado, constitui para eles a substância mais preciosa desta terra, mais importante do que a cana, o pau-brasil e o tabaco. Como povo querido por Deus, os jesuítas querem colocar esses entes humanos ainda incultos no seio da igreja. Os jesuítas exigem, assim, ao rei a liberdade dos índios, pois segundo o plano dos missionários, não deverá haver no Brasil futuro uma nação de senhores, de brancos, e uma nação de escravos, de escuros, mas apenas um povo único e livre, numa terra livre. A missão dos inacianos foi por isso ímpar na história das colonizações.
5. A questão da escravatura no Brasil e o papel da Companhia de Jesus
Mesmo uma carta ou uma ordem régias a três mil milhas de distância perdem muito da sua força imperiosa, e um número reduzido de sacerdotes, dos quais a metade se encontra sempre a percorrer o território em viagens de missões, é muito fraco contra a cobiça interesseira da colônia. Para salvarem uma parte dos índios, os jesuítas têm que transigir na questão dos escravos. Têm que concordar em que sejam escravos dos colonos os índios feitos prisioneiros em lutas consideradas justificadas, isto é, em lutas de defesa contra os índios. Além disso, a fim de não serem tidos como culpados de impossibilitarem o progresso da colônia, vêem-se na contingência de aprovar a importação de negros da África. Mesmo esses homens de espírito elevado e humanitário não podem subtrair-se à opinião da época, para a qual o escravo negro é uma mercadoria como o algodão ou a madeira. Nessa época, em Lisboa, uma capital européia, já existiam dez mil escravos negros. Nessas condições, por que não permitir que a colônia também os possua? Até os próprios jesuítas se vêem na necessidade de adquirir negros para si. Nóbrega declara que adquiriu três escravos e algumas vacas para o primeiro colégio. Mas os jesuítas mantêm-se firmes e inflexíveis no princípio de que os aborígenes não podem ser caça livre para qualquer aventureiro que aqui chegue, por isso defendem cada um dos seus índios e lutam com inflexibilidade pelo direito dos brasileiros naturais do território. Nada tornou tão difícil a situação dos jesuítas no Brasil quanto essa luta pelo ideal brasileiro do povoamento e da nacionalização do território por meio de homens livres. Os jesuítas reconhecem, quando escrevem, que teríam vivido muito mais tranqüilos, se só tivessem ficado nos colégios e se houvessem limitado a unicamente prestar serviço religioso. Mas o ideal de luta por uma ideia era o mais poderoso pressuposto da Companhia de Jesus. No seu plano de conquista do futuro império, Nóbrega reconhece o ponto exato em que deveria ser lançada a ponte para o porvir, revelando por isso a sua grande estratégia. Era uma personalidade de grande visão.
Em relação ao Brasil, mais do que apenas pregadores do Evangelho, eles queriam implantar e realizar aqui mais, e alguma coisa diferente do que realizavam as outras ordens. Essa posição sentiu desde logo o Governo, que, agradecido, se servia deles, mas os vigiava com uma leve suspeita. Essa posição sentiu a Cúria Romana, que não estava disposta a dividir a sua autoridade espiritual com ninguém. Essa posição sentiram os colonos que, em sua colonização meramente económica e mesquinha, se consideravam estorvados pelos jesuítas. Estes não queriam nada de visível, mas a realização dum princípio espiritual, idealista e, desta forma, não compreensível para a mentalidade e para as tendências da época. Por isso, tiveram os jesuítas desde o começo, constante oposição contra si.
Nóbrega, a fim de evitar, por maior tempo possível, esse conflito de competições, quis estabelecer a sua Roma, a sua capital espiritual, longe da sede do Governo e do Bispado; só onde ele pudesse atuar sem ser impedido e vigiado, poderia dar-se aquele processo lento e laborioso de cristianização que ele não perdia de vista. Essa transferência do centro de ação do litoral para o interior importa, tanto no ponto de vista geográfico, como no do objetivo de catequização. Só uma encruzilhada do interior, protegida pelas montanhas contra agressões de piratas vindos do mar, e apesar disso, próxima do oceano, mas também próxima das diversas tribos que tinham que ser conquistadas para a civilização e cuja vida nómada tinha de ser transformada em vida sedentária, poderia constituir ofulcro da questão de doutrinação.
A escolha de Nóbrega recai em Piratininga, a atual cidade de São Paulo, e a evolução histórica posterior revelou a genialidade de sua decisão. O clima desse planalto é temperado, o solo é fértil, existe perto dali um porto, e os rios garantem a comunicação com grandes cursos dágua, com o Paraná e o Paraguai, e por meio destes com o Rio da Prata. De Piratininga podem os missionários avançar em todas as direções para as diversas tribos e fazer irradiar a sua obra de catequese. Além disso, por volta de 1554, na proximidade da pequena povoação, a qual sabe logo conquistar por meio de pequenos presentes e bom trato a amizade das tribos vizinhas, não havia nenhuma colônia de degredados que tivessem influência nos costumes. Sem muita dificuldade os índios deixam que os sacerdotes os reunam para formar pequenas aldeias. A Companhia ainda não possui, como mais tarde, ricos bens de raiz, e os parcos meios a princípio apenas permitem a Nóbrega desenvolver o colégio em pequenas proporções. Em breve se forma no colégio uma série de sacerdotes, brancos e de cor, que, uma vez aprendido o idioma dos selvagens, vão com missões de tribo a tribo, a fim de as tirar da vida nómada e de as conquistar para a fé.
Mas a referida fundação por parte de Nóbrega constitui também um grande progresso do ponto de vista nacional. Pela primeira vez se estabelece certo equilíbrio para o futuro Estado. Até então o Brasil era apenas uma faixa de litoral com suas três ou quatro cidades marítimas no norte, as quais comerciavam exclusivamente produtos tropicais. A partir de então começa também no sul e no interior a desenvolver-se a colonização. Em breve essas energias que lentamente foram reunidas, de modo fecundo, avançarão para o interior e, por curiosidade e aventura, irão ser exploradas terras e rios, em toda extensão. Com a primeira povoação disciplinada do interior a ideia preconcebida já se transformou em ação. Na verdade, na localidade, o colégio de São Paulo era uma construção rústica que servia também de moradia aos padres. Situado no alto de uma colina, onde hoje se localiza o Pátio do Colégio, no centro da cidade de São Paulo, ocupava posição estratégica, o que favorecia a defesa contra os ataques indígenas. Tão bem situado estava que, em 1560, o governador-geral Mem de Sá ordenou a transferência dos habitantes de Santo André da Borda do Campo para a povoação do colégio. Em 1561, a localidade de São Paulo foi elevada a vila.
Depois de instalados, os jesuítas começaram imediatamente a catequese. Segundo o padre José de Anchieta, cerca de 130 índios de todo sexo foram chamados para o catecismo e 36 para o baptismo, os quais foram instruídos na doutrina, repetindo orações em português e na própria língua. As crianças (curumins) aprendiam a ler, escrever, e os bons costumes pertencentes à política cristã. Os curumins aprendiam depressa e recebiam atenção especial dos padres, que acreditavam poder, através deles, alcançar as almas adultas. Levar os índios aos bons costumes constituiria uma obra de muitos obreiros, pois o nativo do território não acreditava em coisa alguma.
O projeto jesuítico consistia na formação de aldeamentos que forneceriam mão-de-obra livre e assalariada aos colonos. Inicialmente, os aldeamentos foram aprovados pela Coroa e pelos colonos. No entanto, a presença cada vez maior de colonos no planalto fez com que os seus interesses entrassem em choque com os dos jesuítas. Queixas tornaram-se frequentes. Os colonos alegavam que o número de índios fornecidos pelos aldeamentos era insuficiente, que muitos se recusavam a trabalhar para eles, e, por fim, não desejavam ter os jesuítas como intermediários, preferindo relacionar-se diretamente com os indígenas.
Passaram, então, a escravizar os nativos que capturavam, provocando protestos dos jesuítas. Inúmeras vezes os paulistas rebelaram-se contra a intromissão da Coroa na captura dos índios, e os jesuítas chegaram a ser expulsos da vila, só retornando a São Paulo em 1653. Sem condições para adquirir o escravo africano, muito caro, precisavam utilizar o trabalho forçado do índio em sua economia de subsistência.
Em 1570, uma Carta Régia tentou regulamentar os cativeiros feitos nas chamadas guerras justas, que deveriam ser autorizadas pelo rei ou pelo governador. Na prática, essa lei significou a libertação do tráfico dos índios, pois tornava-se muito difícil distinguir uma guerra justa de uma outra não justa. O objetivo dos Jesuítas no Brasil era a catequese de adultos e, através da educação, a catequese das crianças e jovens.
Em menos de cinquenta anos depois da chegada ao Brasil já haviam se espalhado pelo litoral, de norte a sul, desde os atuais estados de Santa Catarina até ao Ceará, com muitas incursões também pelos sertões. Estiveram no Brasil por 210 anos, até que foram banidos dos territórios portugueses em 1759. Ao longo deste período expandiram os seus estabelecimentos e seus trabalhos desde o Amazonas até aos limites extremos do sul do Brasil.
As suas atividades organizavam-se através de três tipos básicos de estabelecimentos:
Para a educação, as casas, residências, colégios e seminários;
Para a catequese, as aldeias missionárias;
Para tratamento e retiro, as casas de recuperação ou quintas de repouso e os hospitais; e
Para a preparação religiosa, os noviciados, de onde saíram as levas de soldados missionários para seus exércitos, sem armas.
6. O patrimônio da Companhia de Jesus e o seu pendor cultural e organizativo
Os estabelecimentos inacianos recebiam subvenções e concessões da Coroa e ainda esmolas do povo. Em pouco tempo criaram uma sólida base económica para seu sustento, com fazendas, engenhos e currais. Para atender às suas necessidades, os Jesuítas tinham sempre em seus quadros uma grande quantidade de profissionais, mestres-de-obras, arquitetos, engenheiros, pedreiros, entalhadores, oleiros, ferreiros, ourives, marceneiros, e outros. E dispunham ainda de grandes escritores, músicos, pintores e escultores. Os inacianos ministravam sempre aulas de catequese, de ler, de escrever e de gramática, em locais nos quais chamavam de casas, pois colégios eram os estabelecimentos que tinham vida económica própria e dos quais dependiam outros, situados nas proximidades.
Apenas três colégios no Brasil foram criados no primeiro século de colonização: na Baía, no Rio de Janeiro e em Pernambuco. Nos colégios, além das dependências internas de uso privativo celas, cozinha, copa, refeitório, oficinas havia horta e pomar, e, ainda, farmácia, biblioteca e enfermaria, que atendiam também o público externo. O Colégio da Baía dispunha de uma notável biblioteca que, mesmo tendo sido desfalcada pelos holandeses, no final do século XVII, contava com cerca de 3000 livros. Mas os Jesuítas não ficavam apenas nas cidades ou vilas principais, pois embrenhavam-se pelos sertões, desbravando os matos em busca dos índios.
Estes eram então reunidos em aldeias de três tipos: as dos Colégios, as de El-Rei e as de Repartição, as quais forneciam índios para a própria Companhia, para o Rei e para particulares. Havia também as Missões, ou grandes aldeamentos, situadas em terras mais distantes, nos sertões.
Do ponto de vista arquitetônico, as principais cidades coloniais brasileiras foram estabelecidas sob o signo de três poderes: o poder civil, o poder militar e o poder religioso. O primeiro tinha suas representações nos Palácios de Governo, Casas de Câmara e Cadeias; o militar, nas fortificações; o religioso, com suas igrejas, conventos, mosteiros e colégios. Este último ocupou o lugar de maior destaque, e suas obras, entre todas, são as mais significativas nos núcleos primitivos das cidades. No contexto urbano da Cidade de Salvador, porém o conjunto arquitetônico dos estabelecimentos da Companhia de Jesus Igreja, Colégio e Convento impõe-se e ultrapassa as dimensões das demais construções religiosas, quer dos Franciscanos, dos Carmelitas ou dos Beneditinos. Pela sua grandeza, a antiga Igreja dos Jesuítas é a atual Catedral Basílica da Cidade do Salvador. O antigo colégio e a maior parte das dependências restantes das antigas construções inacianas abrigam museus e estão sob a guarda da Universidade Federal da Baía. Por meio dessas imponentes expressões arquitetônicas, e também através das casas, das aldeias e das missões jesuíticas, era irradiada toda a vida cultural da colônia.
7. Considerações finais sobre a ação evangelizadora da Companhia de Jesus
Esta ação assumiu uma grande envergadura e nem mesmo a supressão da Companhia de Jesus em terras brasileiras de 1760 a 1843 vai apagar a atividade dos jesuítas no Brasil. Só a partir da reabilitação da ordem pelo Papa Pio VII é que podemos ver o reinício das atividades dos inacianos no Brasil, sob a capa de uma nova vitalidade.
Neste trabalho, procurámos avaliar o papel e a missão do primeiro provincial dos jesuítas no Brasil. O Padre Manuel da Nóbrega, pelos seus dotes morais e espirituais, contribuiu fortemente para a implantação do Brasil uno. Defensor acérrimo dos índios, soube dosear a sua atitude entre a prepotência dos colonos mesquinhos naquelas terras e a incapacidade governamental. A sua ação sempre se dirigiu em primeiro lugar a favor dos índios.
A missão genial dos inacianos no Brasil, não perceptível pelos outros agentes civilizacionais, contribuiu para o motivo de desconfiança por parte daqueles em relação à Companhia de Jesus. O Brasil, constituindo a primeira prova de capacidade evangelizadora, de realização e da força empreendedora da ordem, foi terreno fértil para a obra dos inacianos. O Brasil é obra dos jesuítas, orientados a partir da ação de Manuel da Nóbrega, da sua lucidez, do seu prestígio cultural e dos seus dotes espirituais.
A 2ª metade do século XVI constitui um ponto de viragem na colonização do território e é a partir dessa data que se vai formar a futura pátria brasileira: uma fusão de raças e culturas. No projeto de colonização brasileira, não somente com função de ensino e auxílio, os jesuítas pensaram no processo de edificação por meios morais e pensaram nas gerações vindouras. Os inacianos estabeleceram no território uma equiparação moral para todos entre si e em pé de igualdade.
Foi a ideologia dos inacianos a responsável, de maneira absolutamente marcante, pela formação e produção intelectual do Brasil nos primeiros séculos, na literatura, na poesia, na escultura, na arquitetura, no teatro e na música. Os Colégios da Companhia transmitiam uma cultura humanística de carácter acentuadamente retórico que, se de um lado, atendia aos interesses da Igreja, atendia, também, às exigências do poderio da burguesia da cana-de-açúcar existente no território.
ALBERTO MANUEL VARA BRANCO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALENCAR, Francisco et al. História da Sociedade Brasileira. Rio de Janeiro, Ao Livro Técnico, 1996.
BRANDÃO, Ambrósio Fernandes Diálogos das Grandezas do Brasil. Recife, Ed. António G. de Mello, 1962.
BUENO, Eduardo (org) História do Brasil. São Paulo, Publifolha, 1997.
COUTO, Jorge A construção do Brasil. Lisboa, Cosmos, 1995.
LACOUTURE, Jean Os jesuítas. I Vol. Lisboa, Editorial Estampa, 1993.
LEITE, Serafim História da Companhia de Jesus no Brasil. Lisboa, Imprensa Nacional, 1943.
LEITE, Serafim Cartas do Brasil e mais escritos do Padre Manuel da Nóbrega. Belo Horizonte, Editora Itatiaia, 2000.
MELLO FRANCO, Afonso Arinos de, Quadros, Jânio da Silva História do Povo Brasileiro. São Paulo, J. Quadros Editores Culturais, 1968.
NÓBREGA, Manoel da Cartas do Brasil (1549-1560). São Paulo, Ed. São Paulo, 1988.
OLIVEIRA LIMA, Manuel de Formação Histórica da Nacionalidade Brasileira. Rio de Janeiro, Companhia Editora Leitura, 1944.
PITA, Sebastião da rocha História da América Portuguesa. Belo Horizonte, Livraria Itatiaia Editora, 1976.
RIBEIRO, Darcy O povo brasileiro A formação e o sentido do Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1995/96.
RODRIGUES, José Honório Teoria da História do Brasil. Rio de Janeiro, Companhia Editora Nacional, 1978.
RUBERT, Arlindo A Igreja no Brasil. Santa Maria, Livraria Editora Pallotti, 1988.
SOUZA, Gabriel Soares de Tratado Descritivo do Brasil em 1587. São Paulo, Ed. Francisco Adolpho de Varnhagen, 1938.
VARNHAGEN, Francisco Adolfo História Geral do Brasil. São Paulo, Edições Melhoramentos, 1959.
Fonte: www.ipv.pt