26.3.11

As corporações de ofício

Por Patrícia Braik


Uma instituição típica da sociedade medieval foi a corporação de ofício. Eram associações que organizavam a produção e a distribuição de determinados produtos, reunindo profissionais do mesmo ramo, como por exemplo os sapateiros, ferreiros, alfaiates.

As corporações atuaram como incentivo para o aumento da produção. Os comerciantes manufatureiros foram obtendo cada vez mais lucros o que gerou um crescente acúmulo de capitais, nas mãos de uma nova classe, que passou a ser denominada de burguesia.

A grande finalidade das corporações era evitar a concorrência entre os artesãos, tanto locais como de outras cidades, e adequar a produção ao consumo local. As corporações fixavam o preço do produto, controlavam a qualidade das mercadorias, a quantidade de matérias primas e fixavam os salários dos trabalhadores.

O choque entre os senhores feudais e a burguesia

O desenvolvimento urbano e comercial, insere modificações radicais na vida da sociedade europeia ocidental, na Baixa Idade Média. Alteram-se as ideias e os costumes, favorecendo maior liberdade e tolerância. As cidades tornam-se palcos de discussões de novas teorias e conhecimentos orientadas pela burguesia, que pretende nesse momento adaptar-se aos novos tempos.

A crescente burguesia inevitavelmente entra em choque com a aristocracia feudal, que naquela época dominava praticamente todos os setores da sociedade medieval. Apesar dos incontáveis conflitos entre os dois grupos, a burguesia só irá se impor como classe dominante no século XVIII, após a Revolução Industrial.

Um dos principais pontos de discórdia entre os senhores feudais e a burguesia dizia respeito ao conceito de riqueza. A riqueza para um senhor feudal, estava na terra. A sua importância social era medida a partir do número de seus dependentes e agregados. Já a burguesia era conhecida pela sua avareza, pela preocupação em poupar e investir lucrativamente as riquezas monetárias adquiridas, por administrar zelosamente os seus bens.

De forma crítica, um burguês de Siena via assim os gastos desnecessários da nobreza:

[...] Concede hospitalidade frequentemente por cortesia, age como avalista das dívidas dos amigos [...] arma conspirações, processos, visitas às cortes, prepara casamentos, faz amor com as mulheres, joga dados [...] toma empréstimo com usura [...] (Buoncompagno de Sigma apud J. H. Mundy, Europe in high middlle ages: 1150-1309, p.255).

Entretanto do ponto de vista da aristocracia e do clero, observe uma apreciação feita por um prolixo autor catalão, que viveu entre 1235 e 1315, ridicularizando a burguesia, como mostra o documento abaixo:

[...] Quase todos os comerciantes e artesãos querem ser burgueses, ou desejam que os seus filhos o sejam. Mas deveis saber que não há ofício mais perigoso que a condição de burguês e a que seja mais rápida [...] Nenhum homem tem a sua vida mais curta como o burguês. E sabeis por quê? Porque ele come muito e não faz nenhum exercício [...] Nenhum homem incomoda tanto a seu amigo como o burguês pobre (Ramon Llull apud J. H. Mundy, op. cit. p. 249).

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