26.3.11

Novidades na fauna pré-histórica brasileira

Paleontólogos anunciam achados fósseis que contribuem para o entendimento da diversidade de animais que habitaram o Brasil no período Cretáceo. Entre as descobertas estão o maior dinossauro carnívoro do país, um pequeno lagarto, um crocodilomorfo e penas.

Por: Sofia Moutinho

Novidades na fauna pré-histórica brasileira

A partir de fósseis encontrados no Maranhão, pesquisadores do Museu Nacional/UFRJ descreveram uma nova espécie de dinossauro, o maior animal carnívoro pré-histórico descoberto no Brasil. (ilustração: Maurílio Oliveira)

O maior dinossauro carnívoro brasileiro de que se tem notícia, penas fossilizadas, um lagartinho e um jacaré pré-históricos são as mais recentes novidades da paleontologia no Brasil. As descobertas, publicadas na edição atual dos Anais da Academia Brasileira de Ciências, contribuem para a compreensão da diversidade da fauna que viveu no país no período Cretáceo (entre 145 milhões e 500 mil e 65 milhões e 500 milhões de anos atrás).

Os achados foram anunciados ontem em evento organizado pela Academia Brasileira de Ciências e pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Chama a atenção a descrição do gigante carnívoro Oxalaia quilombensis, espécie que inaugura um novo gênero de dinossauros.

Oxalaia quilombensis
Representação artística do gigante carnívoro ‘Oxalaia quilombensis’, que media cerca de 14 m de comprimento e viveu no Brasil há 95 milhões de anos. (ilustração: Maurílio Oliveira)

O animal, que media cerca de 14 metros de comprimento do focinho à ponta da cauda e pesava em torno de sete toneladas, viveu há 95 milhões de anos na região hoje conhecida como Laje do Coringa, na ilha do Cajual, no Maranhão. Antes de sua descoberta, o maior carnívoro brasileiro era oPycnonemosaurus, com nove metros.

A nova espécie foi descrita com base em fósseis da narina e de parte do maxilar do animal, encontrados bem conservados em 1997 e guardados no Museu Nacional desde então.

O Oxalaia quilombensis é também o primeiro dinossauro terópode (carnívoros bípedes da ordem Saurischia) do período Cretáceo Superior já descrito no país. A espécie, classificada entre os espinossaurídeos, é mais semelhante aos membros africanos do grupo, como o Spinosaurus aegipticus, do que aos espinossaurídeos já encontrados no Brasil.

Segundo a paleontóloga Elaine Machado, do Museu Nacional, esse é um indício de que o dinossauro brasileiro compartilha um ancestral em comum com o africano. “Na época em que Oxalaia viveu, os continentes já não estavam mais unidos”, afirma a pesquisadora. “Isso indica que ele pertence à mesma linhagem do dinossauro africano e se desenvolveu em paralelo aqui no Brasil.”

A origem africana do dinossauro também está presente em seu nome, que faz referência aos quilombos, comuns na região de sua descoberta, e à entidade religiosa oxalá.

No Nordeste – desta vez na bacia do Araripe, no Ceará – foram coletadas ainda três penas fósseis. O material deve levar a uma revisão das pesquisas sobre as penas já encontradas na região.

Pena fóssil
Pena fóssil de 115 milhões de anos encontrada na bacia do Araripe, no Nordeste do Brasil. (foto: Sofia Moutinho)

As penas fossilizadas, descobertas durante uma expedição de alunos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), datam de 115 milhões de anos, quando já havia aves no planeta. Segundo a paleontóloga Juliana Sayão, da UFPE, as penas não têm estrutura adequada para o voo e provavelmente pertenciam a aves não voadoras ou a dinossauros terópodes.

“Ainda não podemos afirmar quem eram os donos dessas penas, porque até hoje não foram encontrados registros de aves dessa região para a comparação”, explica Sayão. Caso seja confirmado que as penas pertenciam a aves, elas serão os mais antigos vestígios aviários da América do Sul.

Lagartos e jacarés

As outras duas descobertas ocorreram em São Paulo, na bacia Bauru, que fica entre Marília e Presidente Prudente. Nos últimos anos, essa área tem sido fonte de muitos achados de dinossauros e pequenos vertebrados.

Mandíbula fóssil de Brasiliguana prudentis
Mandíbula fóssil do lagarto ‘Brasiliguana prudentis’. O pequeno animal, que viveu no período Cretáceo, media cerca de 15 cm. (foto: Anais da ABC)

Um deles é um lagarto de cerca de 15 cm que também viveu no período Cretáceo e foi batizado de Brasiliguana prudentis, por ser muito semelhante às iguanas atuais. O animal foi descrito com base em uma mandíbula fossilizada de 7 mm de comprimento encontrada extremamente preservada, com sete dentes intactos, em 2005.

O paleontólogo Willian Nava, do Museu de Paleontologia de Marília, conta que é muito raro encontrar fósseis inteiros de pequenos vertebrados na região. “Eu procurava vestígios de aves quando me deparei com esses ossinhos esbranquiçados, sonho de qualquer paleontólogo”, conta.

A segunda descoberta feita em São Paulo foi um crocodilomorfo, o Pepesuchus deiseae, que viveu na região há 80 milhões de anos. O animal predador media cerca de três metros de comprimento e habitava tanto a água quanto a terra.

Pepesuchus deiseae
Reconstrução do crocodilomorfo ‘Pepesuchus deiseae’ em vida, com duas mandíbulas fósseis ao fundo. Esse animal viveu há cerca de 80 milhões de anos na região entre Marília e Presidente Prudente, em São Paulo. (foto: Sofia Moutinho)

Foram coletados dois exemplares de crânio e mandíbulas fósseis do jacaré pré-histórico, que se junta agora às 15 outras espécies crocodilomorfas já encontradas na região. O que difere o Pepesuchus deiseae dos demais crocodilomorfos já descobertos é a presença de cinco afiados dentes pré-maxilares.

“Com essa descoberta aumentamos o leque de espécies que existiam em São Paulo e podemos entender melhor quais animais habitavam quais lugares”, avalia um dos responsáveis pela descoberta, o paleontólogo Gustavo Oliveira, do Museu de Ciências da Terra.

Fonte: