13.3.11

HISTÓRIA DO ARCO E FLECHA

Os seres humanos vêm utilizando o arco-e-flecha desde o início dos tempos, para caçar, guerrear e, nos tempos modernos, como esporte. Pontas de flecha de pedra com mais de 50.000 anos de idade têm sido encontradas na África e o arco-e-flecha foi utilizado praticamente por todas as sociedades na Terra. Houve muitas ocasiões nas quais o arco-e-flecha mudou o rumo da história. Poucos esportes Olímpicos podem exibir essa grande herança!

Afresco na rocha em Tassili mostrando um arqueiro egípcio em 7.500 AC
Afresco na rocha em Tassili mostrando um arqueiro egípcio em 7.500 AC

Os arcos primitivos provavelmente eram curtos, utilizados para a caça nas florestas. Os arcos eram utilizados dessa forma pelos índios americanos, e na Europa e Ásia. Os egípcios foram os primeiros a desenvolver arcos compostos (feitos de vários materiais diferentes), esticando intestinos de carneiros para fabricar a corda do arco. Os arqueiros egípcios se deslocavam sobre carruagens e deve ter sido uma visão espantosa quando eles corriam através dos desertos, nos flancos dos exércitos inimigos.

Aníbal utilizou arqueiros montados em cavalos a partir de 260 AC, à medida que expandia seu império. Os chineses desenvolveram bestas (arcos montados horizontalmente e operados como uma pistola) e os exércitos e imperadores da China aprenderam a manejar o arco-e-flecha (você pode ver tropas armadas com bestas no exército de terracota em Xi An). Os habitantes da Pártia no Irã e Afeganistão podiam atirar flechas sobre seus cavalos enquanto escapavam dos exércitos que se aproximavam ('Um tiro de Pártia (A Parthian shot)' que provavelmente se tornou 'Um tiro de saída (A parting shot)' no idioma inglês, significando um ato, gesto ou comentário mordaz feito na partida ou saída para outro lugar).

Entretanto, há outros exércitos que ficaram na história pelo seu uso do arco-e-flecha. A partir da Hungria, Átila o Huno conduzia seus vastos exércitos em todas as direções, forjando um imenso império que se estendia do Reno ao Mar Cáspio. A utilização de arcos compostos foi crucial em muitas de suas vitórias. Possivelmente, os arqueiros mais famosos na história foram os Mongóis. Em 1208 DC, Genghis Khan conduziu suas hordas a partir das planícies da Mongólia, construindo um império vasto e sangrento. Os mongóis eram excelentes cavaleiros, podendo ficar de pé sobre os estribos e disparar flechas em todas as direções. Nessa época, o império mongol se estendia desde a Áustria até a Síria, Rússia, Vietnã e China.

Esboço do projeto de uma besta de sítio feito por Leonardo da Vinci quando ele estava empregado como engenheiro de sítio na corte de Franscisco I da França
Esboço do projeto de uma besta de sítio feito por Leonardo da Vinci quando ele estava empregado como engenheiro de sítio na corte de Franscisco I da França

Quando a sua hora chegou,
Oh nobre Erpingham,
Que deste o sinal
Para nossas tropas escondidas;

Quando a partir de uma campina próxima,
Como uma tempestade repentina,
Os arqueiros ingleses
Atacaram os cavalos franceses.
Com arcos de teixo espanhol muito forte,

Flechas com uma jarda de comprimento,
Tal qual picadas de serpente,
Penetrando no ar;

– de Michael Drayton,
Sua Balada de Agincourt

Os japoneses desenvolveram o arco-e-flecha em duas formas, Kyudo e Yabusame. Mais como um modo de vida por meio da prática do arco-e-flecha, essas formas de artes marciais são ainda muito populares atualmente. Um dos livros mais conhecidos do Zen Budismo, "Zen and the Art of Archery" foi escrito nos anos 1930 por Eugen Herrigel, descrevendo suas experiências com o Kyudo.

Em 1066 DC os normandos invadiram a Bretanha e o Rei Harold foi supostamente morto por uma flecha normanda no olho. Os saxões não utilizavam muitos arqueiros, e somente mais tarde na história, os ingleses começaram a usar os arcos longos para esse efeito devastador. Provavelmente os mais famosos foram nas batalhas contra a França durante a Guerra dos 100 Anos.

A Batalha de Agincourt, mostrando soldados com arcos longos
A Batalha de Agincourt, mostrando soldados com arcos longos
na frente, com os cavaleiros na retaguarda

A batalha de Agincourt, que ficou famosa quando recontada por Shakespeare na peça "Henrique V", foi um caso desesperado. Os ingleses estavam em retirada após saquearem o território francês. As tropas, em sua maioria formadas por arqueiros, estavam atacadas com disenteria (muitos lutaram mais tarde sem as calças por esse motivo). O exército de Henrique foi cercado pelos franceses antes que pudesse escapar para Dieppe. Quando todas as suas tentativas de negociação falharam, ele foi forçado a lutar, mesmo estando em grande vantagem numérica.

O tempo estava terrível, com tempestades na noite anterior e o solo recém arado estava encharcado. Pela manhã os exércitos se enfrentaram e, após Henrique ter movido os soldados com os arcos longos em formação, eles bateram o exército francês, o qual lutou algumas vezes com lama até a cintura. Apesar dos arcos longos não terem sido muito eficazes contra a armadura dos cavaleiros, eles foram extremamente eficazes contra os cavalos. Desmontados e sob o peso de suas armaduras, muitos dos cavaleiros afundavam na lama. Os soldados franceses a pé caíam debaixo da chuva de flechas, mas foram em frente e atacaram a linha inglesa, que somente se defendeu. No meio da lama e confusão, os ingleses levaram a vantagem. No final da batalha, os franceses tinham perdido milhares de homens, ao passo que os ingleses somente algumas centenas (Shakespeare, de forma patriótica, sugere que os franceses perderam 10000 homens para 29 ingleses, mas isso provavelmente é um exagero). Um outro aspecto deve ser apontado - os soldados com arcos longos não eram de fato ingleses, e sim galeses. O sinal da vitória (um "V" com os dedos) de hoje é dito como tendo se originado dos arqueiros galeses após essa batalha.

Mulheres competindo nas Olímpiadas de 1908 com arcos longos.
Mulheres competindo nas Olímpiadas de 1908 com arcos longos.

Por causa do sucesso dos arcos longos, os ingleses passaram a utilizá-los até a metade do século XVII, mesmo quando outros exércitos já utilizavam armas de fogo. Entretanto, inevitavelmente o arco como uma arma de guerra deixou de ser utilizado quando pistolas e rifles se tornaram mais precisos e confiáveis. Em vez de desaparecer, o arco-e-flecha se tornou um esporte popular. Ele estreou nas Olímpiadas de 1900 em Paris, mas ficou de fora da competição por muitos anos, pois não havia um conjunto fixo de regras internacionais. Finalmente, ele retornou em 1972 em Munique e hoje é disputado tanto nas Olímpiadas de Verão (Homens Individual, Mulheres Individual, Homens por Equipe e Mulheres por Equipe) como nas Olímpiadas de Inverno (Biatlo).

Fonte: www.seed.slb.com