13.3.11

Passeata dos Cem Mil marca o auge da resistência contra a ditadura no Brasil

A Passeata dos Cem Mil, realizada em 26 de junho de 1968, é considerada a manifestação popular mais importante da resistência contra a ditadura militar. Ela marca o ponto alto do movimento estudantil e o início de sua derrocada.

"As manifestações contra os militares ganharam outra dimensão a partir morte do estudante Edson Luís Lima Souto", afirma Paulo de Tarso, um dos estudantes envolvidos no seqüestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick no ano seguinte.

Edson foi baleado pela polícia no dia 28 de março de 1968, aos 18 anos, enquanto jantava no restaurante Calabouço, que atendia estudantes de baixa renda vindos de outros estados. "A partir de então, os estudantes se mobilizaram de vez", afirma Tarso.

26.jun.68/Folha Imagem
Passeata dos Cem Mil, como ficou conhecido o ato, reuniu multidão contra a ditadura
Passeata dos Cem Mil, como ficou conhecido o ato, reuniu multidão contra a ditadura

Em junho de 1968, o movimento estudantil começou a organizar um número cada vez maior de manifestações públicas. No dia 18, uma passeata, que terminou no Palácio da Cultura, também no Rio, foi reprimida pela polícia. O resultado foi a prisão do líder estudantil Jean Marc van der Weid.

No dia seguinte, o movimento se reuniu na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) para organizar novos protestos e pedir a libertação de Jean e de outros alunos presos. "Levamos coquetel molotov, pedra, bastões", lembra Vladimir Palmeira, um dos principais líderes daquele movimento. Mas o resultado foi a detenção de 300 estudantes ao final da assembléia.

Três dias depois, e alguns universitários foram recebidos com violência pela polícia em uma passeata que terminou em frente à embaixada norte-americana. A reação dos estudantes gerou um conflito que terminou com 28 mortos, centenas de feridos, mil presos e 15 viaturas da polícia incendiadas. Aquele dia ficou conhecido como "Sexta-Feira Sangrenta".

Diante da repercussão negativa do episódio, o comando militar acabou permitindo uma manifestação marcada para o dia 26 de junho. Segundo o general Luís França, 10 mil policiais estariam prontos para entrar em ação caso fosse necessário. Estas foram as primeiras notícias sobre aquela que ficaria conhecida como Passeata dos Cem Mil.

Logo pela manhã, estudantes, artistas, religiosos e intelectuais já tomavam as ruas do centro do Rio. A passeata começou às 14h com cerca de 50 mil pessoas. Uma hora depois esse número já havia dobrado.

Foi quando Vladimir tomou o microfone para um discurso em frente à igreja da Candelária. Foram três horas de passeata que terminou sem conflitos em frente à Assembléia Legislativa. "A gente sabia que seria grande, mas não esperava aquelas 100 mil pessoas", afirma Palmeira. "Mesmo que o governo não permitisse, apareceria muita gente porque a população estava muito descontente com a repressão."

Depois do evento, o então presidente Costa e Silva marcou uma reunião com líderes da sociedade civil --entre eles os universitários Franklin Martins e Marcos Medeiros. No encontro, foi pedida a libertação de estudantes presos, o fim da censura e a abertura do restaurante Calabouço. Nenhuma reivindicação foi aceita.

O resultado foi a realização de outra passeata, que na ocasião reuniu 50 mil pessoas. Era o início da repressão mais violenta contra o movimento estudantil.

No mês seguinte, o governo proibiu oficialmente todo tipo de manifestação em território nacional. No dia 2 de agosto, Vladimir Palmeira foi preso. Logo em seguida, outros 650 estudantes foram para a cadeia. No dia 4, 300 alunos foram detidos em São Paulo.

Mas os golpes mais duros contra o movimento ainda estavam por vir. O projeto de lei que concedia anistia aos estudantes e operários presos foi rejeitado pelo Congresso no dia 21 de agosto daquele ano.

No dia 12 de outubro de 1968, mais de 400 estudantes foram detidos durante um congresso clandestino da UNE (União Nacional dos Estudantes) em Ibiúna, interior de São Paulo. Entre os líderes estavam Luis Travassos, o ex-ministro José Dirceu e Vladimir Palmeira, solto dias antes.

O AI-5 (Ato Institucional nº 5), promulgado no dia 13 de dezembro de 1968, legalizou a repressão, e em fevereiro do ano seguinte foi baixado um decreto-lei que proibiu definitivamente toda e qualquer manifestação política dentro das universidades do país. Os militares tinham finalmente desarticulado o movimento estudantil.

Fonte: http://www.folha.uol.com.br/