por: Lucyanne Mano
"De fato, cheguei ao apaziguamento das minhas insatisfações e das minhas revoltas pela descoberta de ter dado à angústia de muitos uma palavra fraterna. Agora a morte pode vir, - essa morte que espero desde os dezoito anos: tenho a impressão que ela encontrará, como em Consoada está dito, a casa limpa, a mesa posta, com cada coisa em seu lugar", disse Manuel Bandeira certa vez. E em paz, o poeta imortal foi ser "amigo do Rei", aos 82 anos.
Com livros e cadernos debaixo do braço, dezenas de estudantes estiveram no Salão dos Poetas Românticos da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, para velar o corpo de Manuel Bandeira e homenagear o poeta que também foi professor de literatura do Colégio Pedro II e de literatura hispano-americana da Faculdade Nacional de Filosofia. Dona Maria de Lourdes, amiga e companheira de Manuel Bandeira durante mais de 30 anos, permaneceu todo o tempo sentada diante do caixão, enquanto chegavam vários amigos do poeta, entre os quais os acadêmicos Peregrino Júnior e Austregésilo de Ataíde, presidente da Academia, Ricardo Cravo Albim, diretor do Museu da Imagem e do Som, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino.
Mais tarde, cerca de cem pessoas, incluindo contínuos da ABL, levaram o corpo de Manuel Bandeira ao túmulo 15 do Mausoléu dos Imortais, no cemitério São João Batista. Para Fernando Sabino, Manuel Bandeira foi "o grande íntimo da morte. Ao longo de uma vida limpa, harmoniosa e integral, soube fazer da morte e da eternidade a substância da sua existência e de sua poesia".
Uma obra singular
Manuel Bandeira nasceu em 19 de abril de 1886, no Recife. Sua obra, caracterizada por elementos modernistas, pelo tom confidencial e irônico, por vezes até trágico, e, acima de tudo, pela simplicidade, permanece como uma das principais influências para escritores e poetas brasileiros até os dias de hoje. Sobre ela, o cronista Paulo Mendes Campos, poeta de outra geração, disse que "Manuel Bandeira foi talvez o último que podia estabelecer um compromisso consciente entre a sintaxe tradicional e a inovação da linguagem". Como poucos, Bandeira soube construir uma obra depurada e de grande valor estético.
Manuel Bandeira nas páginas do JB
"Volto, hoje à tarimba jornalística, trazido pelas mãos ilustres do Annibal Freire... Bem, mãos à obra. Deus me dê assunto e inspiração..."
Jornal do Brasil, 1º/06/1955
O escritor começou no Jornal do Brasil no dia 1º de junho de 1955, publicando mais de 600 crônicas em uma coluna bissemanal, aos domingos e quartas-feiras. Além de tratar sobre temas atuais, voltava-se a homenagens a personalidades nacionais. A última coluna foi publicada em 22 de novembro de 1961.
Fonte: JBLOG