Antônio Conselheiro, o líder espiritual que mobilizou os sertanejos pobres do interior da Bahia
Ao fim do regime imperial, no ano de 1889, o Brasil adotou o regime republicano e, pouco antes, aboliu a escravidão. Em tese, essas duas transformações pareciam ser visivelmente significativas. Os escravos alcançavam a condição de cidadãos e o regime republicano sugeria, em tese, a ampliação da participação política da população brasileira nos processos decisórios a serem vivenciados.
Contudo, notamos que o regime republicano pouco trouxe se pensarmos na situação dos ex-escravos e na aspiração política de outros grupos sociais. Isso pode ser notado na deflagração da Guerra de Canudos, que no início do regime republicano expôs os nítidos traços do conservadorismo e da exclusão que, por muito tempo, marcaram a história social e política brasileira ao longo do século XX.
Ambientada no interior da Bahia, a Guerra de Canudos teve início com a atividade de um beato chamado Antônio Conselheiro. Exercendo uma liderança espiritual de natureza mística e ao mesmo tempo cristã, conseguiu mobilizar uma leva cada vez maior de sertanejos pobres que viam no seu discurso uma alternativa contra a inoperância do Estado junto à miséria dos sertanejos e o conformismo dos clérigos católicos.
Com o passar do tempo, Conselheiro e seus seguidores se fixaram no arraial de Belo Monte e ali organizaram uma comunidade dedicada à agricultura, ao artesanato e ao pequeno comércio. A estruturação dessa comunidade, em pouco tempo, foi vista como uma séria ameaça às estruturas políticas vigentes, à manutenção da agricultura baseada na grande propriedade de terras e da própria autoridade religiosa do cristianismo católico.
Mediante essa reação das elites, a comunidade foi sistematicamente atacada por diferentes expedições armadas que não conseguiram superar a força dos sertanejos que integravam tal comunidade. Somente em uma quarta expedição, formada por milhares de soldados e armas de guerra, as forças do governo republicano realizaram uma terrível carnificina que aniquilou brutalmente a comunidade de Canudos.
Ao fim dessa guerra, percebemos como a República brasileira estava seriamente distante dos pressupostos democráticos desse tipo de governo e como as populações menos favorecidas continuavam a ser excluídas nesse novo contexto político. Tal problema seria mais notadamente percebido nos vindouros conflitos da República Oligárquica, onde o governo utilizou da força e da violência para responder às demandas dos grupos sociais desfavorecidos do país.
Por Rainer Gonçalves Sousa
Fonte: