15.10.12

Conquista nada pacífica As ilhas da Oceania foram cenário de conflitos, resistência e uma violenta ocupação final

Gabriel Passetti



Litogravura "A recepção do Capitão Cook, em Hapaee", atualmente Polinésia. A imagem foi publicada no livro Viagem ao Oceano Pacífico, do navegador inglês James Cook. (Fundação Biblioteca Nacional)



A Oceania foi o último continente “descoberto” e colonizado pelos europeus. Com ilhas dispersas em uma fatia de oceano, da Austrália aos pequenos atóis, as histórias dos seus povos são profundamente relacionadas com o mar. Os polinésios, com suas enormes canoas, descobriram e povoaram ilha após ilha, até chegarem às mais remotas, por volta do século X. Existe até mesmo a hipótese de que povos dessa região realizaram, por mar, a primeira onda migratória para a América, anterior à dos asiáticos, dos quais descenderiam nossos indígenas.

Foi também pelo mar que sua história sofreu a guinada mais radical, com a chegada dos europeus. Não foram pacíficas as relações entre esses novos conquistadores e os nativos.

Até o século XIX, os europeus associavam a Oceania ao canibalismo. Duas histórias mostram como esta ação pode ter origens e funções muito diferentes. O expedicionário holandês Abel Tasman, no século XVII, avistou uma ilha que ele chamou de Nova Zelândia, e mandou um bote para a praia. Logo que este saiu do navio, foi interceptado por uma canoa de guerra dos maoris e levado à costa, onde, à vista de todos, os marinheiros foram mortos e comidos para chocar e afastar os indesejados visitantes. Tasman içou velas, e nenhum europeu voltou àquelas praias por 127 anos! Aquele foi um ato político.

O próximo a aportar por ali foi o inglês James Cook, em 1769. Desta vez a recepção foi bem diferente, mas seu destino não foi menos trágico. Na terceira viagem à região, dez anos depois, Cook chegou ao Havaí, onde estabeleceu relações bastante conflituosas com os nativos e acabou morto em um ritual para uma divindade local. Aquele foi um ato cultural.

Mas Cook colocou a Oceania no mapa-múndi dos europeus. As relações entre estes e os nativos mudaram gradativamente. No início, os chefes eram muito mais poderosos – demográfica, econômica e militarmente – no âmbito local, até a chegada de imigrantes que não aceitaram a dominação dos nativos nem sua recusa em vender terras. Para conquistá-las, os colonos investiram em fazer os demais europeus considerarem os nativos bárbaros, justificando recorrer aos exércitos para combatê-los. Eles instigaram e praticaram violências, divulgaram relatos de conflitos e mortes, e clamaram pela superioridade racial, civilizacional e política europeia.

Na segunda metade do século XIX, tropas, principalmente britânicas, ocuparam a Oceania com telégrafos, navios a vapor, rifles e canhões. Conquistaram as terras à força, cometendo inúmeros massacres, expulsando ou matando os nativos e abrindo caminho para a construção de simulacros da metrópole do outro lado do planeta. Uma conquista que em nada lembrava o nome do oceano que circunda as ilhas do continente.

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