3.7.20

Campanha Civilista



O modelo Republicano brasileiro se configurou, desde o início, de maneira muito particular, traço que seria levado até os últimos dias da chamada República Velha (1889-1930). Diferentemente de outros países da América Latina, nos quais o ideal republicano estava atrelado à participação população se configurando como fundamental para que ocorresse o processo de Independência, como por exemplo nos casos da Argentina e da Venezuela, no Brasil aconteceu um movimento oposto e muito peculiar: primeiramente nos separamos de Portugal para só então, 77 anos depois, nos tornarmos uma República.

Nossas elites, em especial as cafeeiras do estado de São Paulo,aderiram ao republicanismo com o intuito de eliminar a Monarquia e retirar os empecilhos políticos e econômicos que esta representava a seus interesses.Desta forma, o ideal republicano configurou-se de forma bem distinta, tanto da origem primeira da palavra, quanto das experiências históricas que ocorriam correlatamente na América Latina.

Assim, aqui, o republicanismo simplesmente não congraçou a participação popular como instrumento do “fazer política”, relegando a população ao simples papel de mera espectadora na instauração de uma nova forma de governo que supostamente seria mais igualitária. Daí viria a alcunha historiográfica de República Velha aos anos que vão desse 1889 até 1930, nomenclatura que frisa justamente a maneira de se compreender o republicanismo brasileiro que nada remetia ao modelo romano da “res pública”,cujo significado “aquilo que pertence a todos”ou a coletividade escapava a experiência colocada em prática no Brasil.

A principal característica da República Velha foio predomínio das oligarquias (grupos de familiares ou amigos ricos e poderosos de uma região que controlavam de perto sua localidade) com destaque para a famosa hegemonia da chamada política do café-com-leite, momento no qual as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais se revezavam no controle do poder central, se revezando na escolha do presidente, em eleições marcadas fortemente pela corrupção, uma vez que os candidatos que seriam eleitos já eram previamente determinados antes mesmo da realização das votações.

Apesar de ser tratado como um período de plena coesão entre os interesses desses dois grandes grupos, em alguns momentos houve alguns episódios que já demonstravam a fragilidade dessa forma de governar. Destaca-se aqui talvez o primeiro momento de efervescência de uma crítica aos conluios políticos da República Velha, a Campanha Civilista (1910).


Hermes da Fonseca (1855-1923) 8º presidente do Brasil. Sua candidata à presidência gerou o primeiro momento de tensão da relação entre São Paulo e Minas Gerais na famigerada política do café-com-leite.


Em 1910 o político e intelectual Rui Barbosa (1849-1923),apoiado pelos paulistas, organizou uma série de discursos e comícios pelo país em prol da sua própria candidatura à presidência. Seu intuito era despertar a população a se mobilizar a seu favor e contra à candidatura de um militar à presidência do país, o marechal Hermes da Fonseca (1855-1923), nome apoiado pelo então presidente Nilo Peçanha, defensor dos interesses mineiros, elegendo, para tanto, um presidente que tivesse origem civil


Rui Barbosa (1849-1923)um dos grandes nomes da intelectualidade e da política nacional.

Graças a Campanha Civilista ocorreu então o que podemos chamar de a primeira eleição realmente disputada do Brasil republicano, que transcorreu em um clima acalorado. Em 01 de março de 1910, Hemes da Fonseca se consagrou vitorioso, sendo eleito o oitavo presidente brasileiro.

Apesar da derrota de Rui Barbosa, pode-se afirmar que a Campanha Civilista se consolidou como um fato histórico de suma importância para a História política nacional, por pelo menos dois motivos: primeiro, por já sinalizar uma ruptura política entre São Paulo e Minas Gerais, que se agravaria com o passar dos anos e desaguaria na Revolução de 1930,que levaria Getúlio Vargas ao poder presidencial. Segundo, por ter se configurado como a primeira campanha eleitoral nos moldes atuais, com apelo à participação popular em prol de um candidato “salvador da pátria”, aquele político que resolveria todos os problemas nacionais. Outro ponto que merece destaque é a própria formação do eleitorado nacional, uma vez que começava a despontar a importância da nascente população urbana de caráter industrial e para um tipo de discurso modernizador e desenvolvimentista, traços ainda hoje perceptíveis na nossa forma de conceber a política.

Vinicius Carlos da Silva

Em: https://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/campanha-civilista