Irrompe em princípio de 1865 a guerra contra o ditador do Paraguai, Solano Lopez, provocada, principalmente, pela invasão paraguaia do território brasileiro.
O govêrno imperial, tomado de surpresa, executa as primeiras providências políticas e militares, tentando impedir o aumento da invasão.
A política interna do império brasileiro, refletida na luta partidária entre conservadores e liberais, entrava a necessária rapidez das decisões, com prejuízo de vidas brasileiras onde o conflito se instalara.
Cabe ressaltar que Caxias era um conservador e o governo estava nas mãos de um Gabinete liberal.
No momento em que irrompera guerra, era Ministro da Guerra do Império o conservador Beaurepaire Rohan, que consultou Caxias acerca dos planos de organização do exército, concentração e de campanha a serem adotados.
Mesmo tendo aceitado as sugestões de Caxias, Beaurepaire não pode colocá-los em ações visto que, sendo também conservador, foi logo substituido por um político liberal.
Os acontecimentos se precipitam e as forças aliadas do Brasil, Argentina e Uruguai continuam sendo derrotadas pelas tropas paraguaias.
O desastre das tropas aliadas na batalha de Curupaity desencadeia no Gabinete liberal a reação de que somente Caxias poderia reverter a situação da guerra.
Assim, quase dois anos depois de iniciada a guerra, Caxias é convidado pelo gabinete para assumir o comando das tropas brasileiras, conforme a crônica marca na seguinte passagem:
“Coube ao Conselheiro Zacharias de Goes e Vasconcellos fazer o convite, por escrito (como exigia Caxias) ao Marques para que assumisse o dito comando. Caxias, de posse do documento, dirige-se à reunião do gabinete.
Esse fato é assim narrado:
“Ali chegando, de novo lhe foi transmitido em presença de todo o Ministerio, o convite já referido. E como lhe dissesse o Conselheiro Zacharias que o Ministerio se retiraria, caso ele, Caxias, que era conservador, se recusasse a aceitar o convite, para não ter de servir sob um Gabinete liberal (..), replicou promptamente o grande soldado: ” aceito o convite, Conselheiro, a minha espada não tem política” (O DUQUE DE CAXIAS, Esboço de Sua Gloriosa Vida, de autoria do capitão Raymundo Pinto Seidl, 1930).
O Marquês de caxias se apresentou, em Tuiuti, em novembro de 1866, e desde logo foi fazendo o que lhe permitia sua situação de subordinado ao comando em chefe do General argentino Mitre – fruto do Tratado da Tríplice Aliança.
A situação do exército em Tuiuti, onde o cólera devastava as tropas, era desoladora. Ali empreende a grande obra da organização das forças e dos meios materiais, da restauração do moral, da instrução, da disciplina e da higiene do Exército.
Em 9 de fevereiro de 1867, quando o General Mitre é chamado à pátria pela morte do Vice-presidente, Caxias recebe o Comando-Chefe dos Exércitos Aliados.
Mais uma vez sua visão de estrategista vem a tona e Caxias emprega, pela primeira vez na América do Sul, balões a gás cativos para executar reconhecimentos aéreos.
Em 21 de fevereiro de 1867, o Marquês inicia as operações ofensivas com a marcha de flanco por Tuiu-Cuê, esmagando, uma por uma, as resistências com que o general paraguaio pontilhava seu itinerário.
Tuiu-Cuê, Paré-Cuê, Tataíba, Passo de Curupaiti, Pedro Gonzalez, São Solano, Nembucu, Pilar, Potrero Obela, Taii; Humaitá, objetivo das operações em curso cai a 25 de julho de 1868, após prolongada resistência e ao peso do terceiro ataque das forças terrestres e navais aliadas.
Termina uma fase das operações
Com o prosseguir da guerra, Solano lopez se concentra com seu grosso a coberto da linha do Tebicuari, que a seguir evacua, rompendo o contato com os aliados.
Ganha tempo e se instala fortemente em Vileta e Angustura, sobre o rio Paraguai, coberto pela posição fortificada de Piquisiri, ao sul e pelas linhas sucessivas dos riachos de Itororó e Avaí, ao norte, fortemente defendidas.
Caxias estabelece contato com a posição de Pisiquiri. Lança sobre ela numerosos reconhecimentos ofensivos e emite a seguinte Ordem do Dia, em 14 de janeiro de 1869:
” Desde que me convenci, pelos reconhecimentos a que mandei proceder, e a alguns dos quais pessoalmente assisti, de que o inimigo nas suas trincheiras da extensa linha do Piquisiri, onde se colocara, não podia ser atacado de frente e pelo flanco direito, em conseqüência das dificuldades invencíveis que se opunham à marcha do exército, provenientes de um banhado a transpor de légua e meia de extensão e cujas águas eram abastecidas pela lagoa Ipoá, tratei de levar a efeito o plano que concebera de contorná-lo pelo flanco esquerdo, sendo a base das operações ulteriores o Grão-Chaco.”
Dessa Ordem do Dia resulta uma das mais brilhantes manobras militares do continente.
Para atacar Angustura e Vileta pela retaguarda, Caxias:
faz construir a estrada do Chaco, ao longo da pantanosa margem direita do rio Paraguai;
transpõe, com 19.000 homens das três armas, cavalhada e material pesado, o grande rio, em Santa Teresa;
marcha com seu exército para o norte, por terra e por água utilizando, com maestria, todas as possibilidades da esquadra;
transpõe, novamente, o rio Paraguai, desembarcando na margem esquerda, em Santo Antônio.
BATALHA DE ITORORÓ
“Quando resolvi o movimento que levou o exército a Santo Antônio, ordenei ao general Argolo, depois Visconde de Itaparica, logo que pusesse pé em terra, mandasse ocupar a ponte de Itororó.
S Excia, seguiu, embarcado, às 2 horas da noite, com a sua vanguarda, do ponto em que nos achávamos no Chaco, em direção a Santo Antônio, e eu com o Sr General, perguntei-lhe imediatamente: “Já está ocupada a ponte de Itororó?”
Respondeu-me: “Não”. “Por quê?”. Repliquei. Soube então que não era possível ocupar a ponte sem se fazer um reconhecimento, mas que não se tinha desembarcado cavalaria suficiente para empreender essa operação. Mandei marchar a pouca cavalaria que havia em terra, adicionando-lhe dois batalhões de infantaria. Quando essa força chegou a seu destino, já achou a ponte ocupada pelo inimigo.
A posição era terrível, ninguém conhecia o terreno, eram 4 para 5 horas da tarde, por isso julguei conveniente não atacar logo. Tinha de atravessar espêssa mata, onde o inimigo podia estar oculto, e ignorava-se até de que força dispunha além da mata. Mandei retroceder essa vanguarda e ordenei o ataque para o dia seguinte:”
Guardava a ponte o General Cabalero, com 6 Batalhões de Infantaria, 5 Regimentos de Cavalaria e 12 peças de Artilharia.
Alvoreceu o 6 de dezembro de 1868. O Exército iniciou o movimento para Sul.
“A estrada era estreita, bordada de capoeirões e pequenos campestres, e ligeiramente acidentada. Levava a uma ponte sobre Itororó”.
Este riacho:
“verdadeira torrente, deslizava por entre muros de rochedos e teria nesse passo de 3 a 4 metros de largura por 4 ½ de profundidade. A ponte tosca, de madeira forte, apresentava uma largura de três metros. Ao alcançarmos o alto, o inimigo, cuja artilharia dominava a ponte do arroio Itotoró, rompeu fogo sobre a vanguarda. Travou-se o combate”.
A violência revela-se extraordinária. Num corpo a corpo que durou horas, sucedem-se os ataques e os contra-ataques consecutivos, sem intervalos, um após outro, de lado a lado, num fluxo e refluxo de imprevisíveis conseqüências.
Morre o coronel Fernando Machado. As margens e a ponte estão cobertas de cadáveres.
O general Argolo, comandando um contra-ataque, cai gravemente ferido em plena ponte.
É quando os paraguaios lançam violento contra-ataque.
“Caxias vislumbra rapidamente a influência deste lance sobre o resultado final da jornada”
Comandando, pessoalmente, a Reserva, O Marechal desembainha a espada, galopa para a ponte, numa atitude que arrebata, e grita às suas tropas:
“- Sigam-me os que forem brasileiros!”
Conta Dionísio Cerqueira, que participou da ação:
“Passou pela nossa frente, animado, erecto no cavalo, o boné de capa branca com tapanuca, de pala levantada e presa ao queixo pelo jugular, a espada curva, desembainhada, empunhada com vigor e presa pelo fiador de ouro, o velho general em chefe, que parecia ter recuperado a energia e o fogo dos cinte anos. Estava realmente belo. Perfilâmo-nos como se uma centelha elétrica tivesse passado por todos nós. Apertavámos o punho das espadas, ouvia-se um murmúrio de bravos ao grande marechal. O batalhão mexia-se agitado e atraído pelo nobre figura, que abaixou a espada em ligeira saudação a seus soldados. O comandante deu a voz firme. Daí há pouco, o maior dos nossos generais arrojava-se impávido sobre a ponte, acompanhado dos batalhões galvanizados pela irradiação da sua glória. Houve quem visse moribundos, quando ele passou, erguerem-se brandindo espadas ou carabinas, para caírem mortos adiante”
Passada a ponte, Caxias comanda pessoalmente a carga final e se apodera da posição.
Fonte: www.exercito.gov.br
Guerra da Tríplice Aliança
TRATADO DE TRÍPLICE ALIANÇA, CELEBRADO NO 1 – DE MAIO DE 1865, ENTRE O IMPÉRIO DO BRASIL, A REPÚBLICA ARGENTINA E A REPÚBLICA ORIENTAL DO URUGUAI
O governo de Sua Majestade o Imperador do Brasil, o governo da República Argentina e o governo da República Oriental do Uruguai;
Os dois primeiros em guerra com o governo da República do Paraguai, por lhe ter este declarado de fato, e o terceiro em estado de hostilidade e vendo ameaçada a sua segurança interna pelo dito governo, o qual violou a fé pública, tratados solenes e os usos internacionais das nações civilizadas e cometeu atos injustificáveis, depois de haver perturbado as relações com seus vizinhos pelos maiores abusos e atentados;
Persuadidos de que a paz, segurança e prosperidade de suas respectivas nações se tornam impossíveis, enquanto existir o atual governo do Paraguai e que é uma necessidade imperiosa, reclamada pelos mais elevados interesses, fazer desaparecer aquele governo, respeitando-se a soberania, independência e integridade territorial da República do Paraguai;
Resolveram com esta intenção, celebrar um tratado de aliança ofensiva e defensiva e, para esse fim, nomearam seus plenipotenciários, a saber;
Sua Majestade o Imperador do Brasil ao Exmo. Sr. Dr. Francisco Otaviano de Almeida Rosa, do seu Conselho, Deputado à Assembléia Geral Legislativa e oficial da Imperial Ordem da Rosa;
S. Exa. o Presidente da República Argentina ao Exmo. Sr. Dr. Dom Rufino de Elizalde, seu Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros;
S. Exa. o Governador Provisório da República Oriental do Uruguai ao Exmo. Sr. Dr. Dom Carios de Castro, seu Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros;
Os quais, depois de terem trocado seus respectivos poderes, que foram achados em boa e devida ordem, concordaram no seguinte:
Art. 1º Sua Majestade o Imperador do Brasil, a República Argentina e a República Oriental do Uruguai, se unem em aliança ofensiva e defensiva na guerra promovida pelo governo do Paraguai.
Art. 2º Os aliados concorrerão com todos meios de guerra de que possam dispor, em terra ou nos rios, como julgarem necessário.
Art. 3º Devendo começar as operações da guerra no território da República Argentina ou na parte do território paraguaio que é limítrofe com aquele, o comando-em-chefe e direção dos exércitos aliados ficam confiados ao Presidente da mesma República, General em Chefe do Exército Argentino, Brigadeiro-Coronel D. Bartolomeu Mitre.
Embora as partes contratantes estejam convencidas de que não mudará o terreno das operações da guerra, todavia para salvar os direitos soberanos das três nações firmam desde já o princípio da reciprocidade para o comando-em-chefe, caso as ditas operações se houverem de transpassar para o território brasileiro ou oriental.
As forças marítimas dos aliados ficarão sob o imediato comando do Vice-Almirante Visconde de Tamandaré, Comandante-Chefe da Esquadra de Sua Majestade o Imperador do Brasil.
As forças terrestres de Sua Majestade o Imperador do Brasil formarão um exército debaixo das imediatas ordens do seu General em Chefe Brigadeiro Manuel Luís Osório.
As forças terrestres da República Oriental do Uruguai, uma divisão das forças brasileiras e outra das forças argentinas, que designarem seus respectivos chefes superiores, formarão um exército às ordens imediatas do Governo Provisório da República Oriental do Uruguai, Brigadeiro-General D. Venâncio Flores.
Art. 4º A ordem e economia militar dos exércitos aliados dependerão unicamente de seus próprios chefes.
As despesas de saldo, subsistência, munições de guerra, armamento, vestuário e meios de mobilização das tropas aliadas serão feitas à custa dos respectivos Estados.
Ari. 5º As altas partes contratantes prestar-se-ão mutuamente, em caso de necessidade, todos os auxílios ou elementos de guerra que disponham, na forma que ajustarem.
Art. 6º Os aliados comprometem solenemente a não deporem as armas senão de comum acordo, e somente depois de derribada a autoridade do atual governo do Paraguai, bem como a não negociarem separadamente com o inimigo comum. nem celebrarem tratados de paz, trégua ou armistício, nem convenção alguma para suspender ou findar a guerra, senão de perfeito acordo de todos.
Art. 7º Não sendo a guerra contra o povo do Paraguai e sim contra o seu governo, os aliados poderão admitir em uma legião paraguaia os cidadãos dessa nacionalidade que queiram concorrer para derribar o dito governo e lhes darão os elementos necessários, na forma e com as condições que ajustarem.
Art. 8º Os aliados se obrigam a respeitar a independência, soberania e integridade territorial da República do Paraguai. Em conseqüência, o povo paraguaio poderá escolher o governo e instituições que lhe aprouverem, não podendo incorporarse a nenhum dos aliados nem pedir o seu protetorado como conseqüência dessa guerra.
Art. 9º A independência, soberania e integridade da República do Paraguai estão garantidos coletivamente de acordo com o artigo antecedente pelas altas partes contratantes durante o período de cinco anos.
Art. 10º Concordam entre si as partes contratantes que as fraquezas, privilégios ou concessões que obtenham do governo do Paraguai hão de ser comuns a todos eles, gratuitamente, se forem gratuitos, ou com a mesma compensação se forem condicionais.
Art. 11º Derribado o atual governo da República do Paraguai, os aliados farão os ajustes necessários com a autoridade que ali se constituir para assegurar a livre navegação dos rios Paraná e do Paraguai, de sorte que os regulamentos ou leis daquela República não possam estorvar, entorpecer ou onerar o trânsito e a navegação direta dos navios mercantes e de guerra dos Estados aliados, dirigindo-se para seus territórios respectivos ou para território que não pertença ao Paraguai; e tomarão as garantias convenientes para efetividade daqueles ajustes sob a base de que os regulamentos de polícia fluvial, quer para aqueles dois rios, quer para o rio Uruguai, serão feitos de comum acordo entre os aliados e os demais ribeirinhos, que dentro do prazo que ajustarem os ditos aliados aderirem ao convite que lhes será dirigido.
Art. 12º Os aliados reservam-se combinar entre si os meios adequados à condução da paz com a República do Paraguai, depois de derrubado o atual governo.
Art. 13º Os aliados nomearão oportunamente os plenipotenciários para a celebração dos ajustes, convenções ou tratados que se tenham de fazer com o governo que se estabelecer no Paraguai.
Art.14º Os aliados exigirão desse governo o pagamento das despesas de guerra que se viram obrigados a aceitar, bem como reparação e indenização dos danos e prejuízos às suas propriedades públicas e particulares e às pessoas de seus concidadãos, em expressa declaração de guerra; e dos danos e prejuízos verificados posteriormente com violação dos princípios que regem o direito da guerra.
A República Oriental do Uruguai exigirá também uma indenização proprocional aos danos e prejuízos que lhe causa o governo do Paraguai pela guerra que se obriga a entrar para defender sua segurança ameaçada por aquele governo.
Art. 15º Em uma convenção especial se marcará o modo e forma de liquidar e pagar a dívida procedente das causas mencionadas.
Art. 16º Para evitar as dissensões e guerras que trazem consigo as questões de limite, fica estabelecido que os aliados exigirão do governo do Paraguai que celebre com os respectivos governos tratados definitivos de limites sob as seguintes bases:
O Império do Brasil se dividirá da República do Paraguai:
Do lado do Paraná, pelo primeiro rio abaixo do salto das Sete Quedas, que, segundo a recente carta de Mouchez, é o lgurei, e da foz do lgurei e por ele acima a procurar as suas nascentes;
Do lado da margem esquerda do Paraguai, pelo rio Apa, desde a foz até às suas nascentes;
No interior, pelo cume da serra de Maracaju, sendo as vertentes de leste e do Brasil e as oeste do Paraguai e tirandose da mesma serra linhas as mais retas em direção às nascentes do Apa e do lgurei.
A República Argentina será dividida do Paraguai pelos rios Paraná e Paraguai, a encontrar os limites com o Império do Brasil, sendo estes do lado da margem direita do rio Paraguai e Baía Negra.
Art. 17º Os aliados se garantem reciprocamente o fiel cumprimento dos convênios, ajustes e tratados que se devem celebrar com o governo que se tem de estabelecer na República do Paraguai, em virtude do que foi concordado no presente tratado de aliança, o qual ficará sempre em toda sua força e vigor pra o fim de que estas estipulações sejam respeitadas e executadas pela República do Paraguai.
Para conseguir esse resultado, concordam que, no caso em que uma das altas partes contratantes não possa obter do governo do Paraguai o cumprimento do ajustado, ou no caso em que este governo tente anular as estipulações ajustadas com os aliados, os outros empregarão ativamente seus esforços para fazê-las respeitar.
Se estes esforços forem inúteis, os aliados concorrerão com todos os seus meios para fazer efetiva a execução daquelas estipulações.
Art. 18º Esse tratado se conserverá secreto até que se consiga o fim principal da aliança.
Art. 19º As estipulações desse tratado, que não dependem do poder legislativo para serem ratificadas, começarão a vigorar desde que seja aprovado pelos governos repectivos e as outras desde a troca das ratificações, que terá lugar dentro do prazo de quarenta dias, contados da data do mesmo tratado, ou antes, se for possível, que se fará na cidade de Buenos Aires.
Em testemunho do que nós, abaixo assinados, plenipotenciários de Sua Majestade o Imperador do Brasil, de S. Exa. o Sr. Presidente da República Argentina e de S. Exa. o Sr. Governador Provisório da República Oriental do Uruguai, em virtude de nossos plenos poderes, assinamos o presente tratado e lhe fizemos por nossos selos.
Cidade de Buenos Aires, 1º de maio do ano do nascimento de Nosso Senhor, de 1865.
Fonte: www2.uol.com.br
Guerra da Tríplice Aliança
Guerra que opôs, entre 1864 e 1870, de um lado o Brasil, a Argentina e o Uruguai, formando a Tríplice Aliança e de outro o Paraguai.
O equilíbrio na região platina sempre foi buscado pelos países que a compunham, de forma a evitar que um deles detivesse poder excessivo na região.
O conflito teve início quando as relações entre o Brasil e o Uruguai chegaram a um ponto crítico, devido a constantes choques fronteiriços entre estancieiros uruguaios e rio-grandenses.
Apoiado pelo presidente paraguaio Francisco Solano López, o presidente uruguaio Atanasio Aguirre recusou as exigências brasileiras de reparação formuladas pelo enviado especial José Antônio Saraiva.
Quando os brasileiros sitiaram Montevidéu, terminando por derrubar Aguirre, Lopez invadiu a província de Mato Grosso, tomando Nova Coimbra e Dourados e logo depois a província argentina de Corrientes, visando chegar a seus aliados uruguaios.
Em conseqüência, foi assinado em 1º de maio de 1865 o Tratado da Tríplice Aliança contra o Paraguai.
Os aliados conseguiram, em 1865, a vitória naval da batalha do Riachuelo e a rendição dos paraguaios que haviam chegado a Uruguaiana, no Rio Grande do Sul.
Tomando a ofensiva, sob o comando de Bartolomeu Mitre, presidente argentino, os aliados venceram as batalhas de Passo da Pátria e Tuiuti (1866). Quando o então marquês de Caxias, Luís Alves de Lima e Silva, assumiu o comando, a fortaleza de Humaitá foi conquistada. (1867).
Lopez retirou-se para mais próximo de Assunção, onde acabou derrotado nas batalhas da “dezembrada”(1868): Avaí, Itororó e Lomas Valentinas.
Assunção caiu e a última fase da guerra foi comandada pelo conde dEu, encerrando-se com a morte de Lopez em Cerro Corá (1870).
A guerra acarretou dificuldades para os contendores, particularmente o Paraguai, que teve grandes perdas em vidas e recursos.
Fonte: www.falarempublicosp.com.br
Guerra da Tríplice Aliança
GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA CONTRA O PARAGUAI: (1865-70)
No período de 1865-70, houve, na Bacia do rio da Prata, a Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, quando o Brasil, a Argentina e o Uruguai se uniram contra o Marechal Solano López, depois de este, Presidente daquele país, invadir a província argentina de Entre Ríos, e o Brasil, em Mato Grosso e no Rio Grande do Sul.
Neste último Estado, a invasão do território brasileiro deu-se por São Borja, em 10 jun 1865. No dia seguinte, em Riachuelo, uma Divisão da Esquadra Brasileira, ao comando do Almirante Barroso, e transportando expressivo contingente do Exército, derrotou a Esquadra do Paraguai na maior batalha naval sul-americana. Essa derrota anulou a capacidade ofensiva estratégica do Paraguai , além de isolá-lo, por água, de possíveis apoios externos.
Ainda em 18 set 1865, decorridos três meses da invasão do Rio Grande do Sul, os invasores renderam-se, em Uruguaiana, em presença do Imperador D. Pedro II e dos Presidentes das duas Nações Aliadas.
O próximo passo foi levar a guerra ao território do Paraguai para conquistar e arrasar a fortaleza de Humaitá – a Sebastopol sul-americana, objetivo militar que impedia a livre navegação do Paraguai, essencial às comunicações do Rio de Janeiro com Mato Grosso, e conquistar Assunção – objetivo político da Argentina, Uruguai e Brasil.
Ao comando do General Osório, as forças brasileiras que haviam participado das operações contra Atanasio Aguirre no Uruguai, com a denominação de 1º Corpo de Exército e com reforços vindos de todo o Brasil, invadiram o Paraguai pelo Passo da Pátria. E, em 24 mar 1866, venceram o Exército Paraguaio em Tuiuti, onde puseram fim à sua capacidade ofensiva tática.
Foi organizado, com forças predominantemente recrutadas no Rio Grande do Sul, o 2º Corpo de Exército ao comando do conde de Porto Alegre, Tenente – General Manoel Marques de Souza. Este atingiu o Paraguai por terra e passou a reforçar as ações aliadas em território paraguaio, rumo a Humaitá.
Caxias, antigo comandante do Exercito do Sul na Revolução Farroupilha (1843-45) e guerra contra Oribe e Rosas (1851-52), assumiu o comando do Exército Brasileiro em Operações, após o desastre aliado em C u r u p a i t i (Curupayty).
Coube-lhe comandar a conquista do objetivo militar Humaitá,com o auxílio da Esquadra Brasileira, evento expressivo que pôs fim à capacidade defensiva e estratégica do Paraguai, baseada num complexo de fortificações construídas e naturais que estabeleceu ao longo do rio Paraguai e responsáveis pela grande duração da guerra.
Coube a Caxias projetar e executar o lance final da guerra – a célebre marcha de flanco, através do Chaco, onde aceitou o Risco Calculado ao sacrificar o princípio de Guerra da Segurança em beneficio do da Surpresa, ao desbordar a posição fortificada do Piquiciri e conduzir os exércitos Aliados à retaguarda profunda do inimigo, onde obteve a Surpresa Estratégica que criou condições para as vitórias da Dezembrada (Itororó, Avaí, Lomas Valentinas), que puseram fim à capacidade defensiva tática do Exército do Paraguai. Esse evento obrigou o Marechal Solano López a refugiar-se na Cordilheira, e abriu o caminho para os Aliados conquistarem o objetivo político da guerra – a capital Assunção, após o que, Caxias se retirou do Teatro de Guerra, por doença, e passou o comando ao Conde D’ Eu, genro do Imperador D. Pedro II.
As operações na Cordilheira, que se inserem num amplo quadro de Perseguição, tiveram fim em 1º mar 1870, quando López foi alcançado em Cerro Corá e morreu de espada em punho, como um bravo, em defesa do que havia elegido como a sua verdade. E, com a sua morte, teve fim a mais longa e cruenta guerra sul-americana, e a primeira guerra total travada entre nações, cujas características estudamos em artigo “A Guerra do Paraguai – um laboratório pouco explorado de Doutrina Militar.” Revista do Exército (Jan/Mar 1982). Esta ambientação se impunha antes de se abordar esse conflito .
Antecedentes e Generalidades
Após a campanha de 51-52, as Províncias Unidas do Rio da Prata conseguiram agrupar-se e adquiriram a estrutura política de uma nacionalidade num ambiente de relativa tranqüilidade. A República do Uruguai não usufruiu as mesmas vantagens. Um dos maiores elementos perturbadores da sua vida interna e externa continuava sendo a luta entre os Partidos Blanco e Colorado .
O Paraguai desconfiava do Brasil e da Argentina, e recusava-se a fixar, com o Brasil, as fronteiras comuns e a facilitar as Comunicações e o Comércio fluvial do Brasil com a Província de Mato Grosso. Também mobilizara um forte exército.
Em 1844, o Brasil reconheceu a independência do Paraguai. E fez as primeiras tentativas com ele para solucionar as questões de limites e as de navegação nos rios Paraná e Paraguai. Em 1858, foi assinada uma Convenção em que ambas as partes concordavam na livre navegação daqueles rios, exceção dos seus afluentes. A questão de limites foi adiada por seis anos.
Em 1863, os Colorados no Uruguai insurgiram-se contra o governo dos Blancos, para derrubá-lo e se vingarem de atrocidades, como o conhecido “Massacre de Quinteiros”. Então, violenta luta civil lavrou no Uruguai, coroando as inúmeras guerrilhas e agitações políticas que, nos últimos anos, ensangüentavam os dois partidos irreconciliáveis.
O Presidente, D. Bernardo Berro, tomou medidas garantidoras da ordem pública ameaçada pelas conspirações em Buenos Aires, contrárias aos Blancos.
Na Argentina, Mitre era favorável a Flores, chefe colorado do movimento revolucionário. Em abril de 1863, Flores lançou proclamação em que se intitulava libertador de sua pátria.
Congraçando os Colorados, conseguiu grande número de adeptos. Em 1864, deu-se a substituição da Presidência do Uruguai de Berro por Atanasio Aguirre.
Aguirre reclamou da Argentina sua conivência com os insurretos uruguaios Blancos fomentando a guerra civil em seu país.
No Brasil, hostilidades contra os estancieiros brasileiros, residentes aquém e além da fronteira com o Uruguai, aumentaram com violência, não sendo poupadas sua honra, vida e propriedade, ao ponto de ser enviado ao Rio o Gen Antonio Netto, ex- líder farrapo, para representar junto ao Governo os interesses daqueles 40.000 brasileiros prejudicados pelos inimigos do Império. Muitos desses estancieiros gaúchos se alistaram sob a bandeira de Flores em defesa dos blancos. Isso impôs ao Governo Imperial providências urgentes.
Foi enviado a Montevidéu, em abril de 1864, o Conselheiro Saraiva, com a missão de conseguir a solução das reclamações do Império desde 1852.
Aguirre não correspondeu às intenções de Saraiva, e fez reclamações e reivindicações, o que aumentou a animosidade do governo uruguaio contra o Brasil .
Houve esforço comum Brasil /Argentina para o restabelecimento da paz no Uruguai .
Aguirre não quis cumprir o combinado, dada a intransigência dos seus correligionários . Alimentava já a esperança de intervenção do Paraguai, a quem solicitara auxílio.
Em face do fracasso das negociações, Saraiva, com a simpatia da Argentina pela causa brasileira, entregou ao Uruguai, em 6 de agosto de 1864, um “ultimatum” brasileiro, onde era marcado o prazo de seis dias para a satisfação das exigências formuladas.
Isso provocou irritação no governo uruguaio, que protestou por escrito contra os termos empregados, reputando-os inaceitáveis. Com o “ultimatum”, os governos do Brasil e Argentina assinaram protocolo em que declaravam que a paz no Uruguai seria condição para a solução de todas as questões internacionais pendentes.
Então, as políticas do Império e da Argentina estiveram acordes quanto ao Uruguai.
Terminado o prazo do “ultimatum – Saraiva, o Império iniciou represálias com suas forças de terra e mar, o que constituirá causa imediata da guerra do Paraguai, pois motivou o pretexto para o Paraguai intervir no conflito, o que seria a origem da longa guerra.
Das forças terrestres, foi dado o comando ao General João Propício Menna Barreto, e das forças de mar, ao Almirante Tamandaré. Eles iniciaram as ações que resultaram em ligação com general uruguaio Flores, na tomada de Salto, de Paissandu e de Montevidéu, onde foi assinado, a 20 de fevereiro de 1865, o Convênio que punha terno à Campanha do Uruguai. O governo uruguaio passou ao General Flores, constituído em governo provisório.
A invasão do Uruguai e a tomada de Paissandu serviram de pretextos a López para romper as hostilidades contra o Império. Antes do “ultimatum -Saraiva”, López havia-se oferecido mediador da questão, não tendo sido aceito pelo Império.
Solano López não assinou tratado com o Uruguai. Limitou-se a dizer que auxiliaria o governo uruguaio, como tentou fazê lo.
Em agosto de 1864, em função do “ultimatum” Saraiva, o ministro paraguaio D. José Berges enviou, ao nosso representante em Assunção, Viana de Lima, nota de ameaça ao Governo Imperial.
Essa nota terminava com as seguintes palavras:
“… como atentatória do equilíbrio dos Estados do Prata, que interessa à República do Uruguai , como garantia de sua segurança, paz e prosperidade, e que protesta da maneira mais solene contra tal ato, desonerando-se desde já de toda responsabilidade pelas conseqüências da presente declaração”.
Poucos dias depois, confirmaria e reafirmaria os propósitos de emprego de meios coercitivos. As ameaças concretizaram-se com o apresamento do navio brasileiro “Marquês de Olinda”, no dia 12 de novembro de 1864, quando navegava a 30 milhas de Assunção, conduzindo o novo presidente da Província de Mato Grosso.
Viana de Lima, representante do Brasil em Assunção, protestou em nome do direito internacional e dos tratados existentes. Na tarde de 13 de novembro, o Ministro Berges entregava ao representante brasileiro nota de declaração de guerra ao Brasil. Em 14 de dezembro, os chefes paraguaios Barrios e Resquim, à frente de 4.200 e 5.000 homens respectivamente, invadiram Mato-Grosso.
Quanto à Argentina, desde 1863, López havia-se dirigido a Mitre, Presidente argentino, pedindo explicações pelo auxílio que parecia estar sendo dado por Buenos Aires aos colorados de Flores contra o então governo constituído do Uruguai.
Mitre, a princípio, não respondeu. Depois, envia-lhe uma nota declarando-se neutro nas lutas internas do Uruguai. López, para seus projetos, contava com o provável apoio de Urquiza, governador da Província de Entre Ríos, que lhe prometera 10.000 cavaleiros, caso as tropas paraguaias entrassem no Uruguai. Justo José de Urquiza, embora argentino, desejava tirar partido da situação, para alijar Mitre do poder.
López, após o apresamento do navio brasileiro, solicitou à Argentina, em janeiro de 1865, permissão para o trânsito inocente do seu exército pela província argentina de Corrientes, a fim de correr em socorro do Uruguai e invadir o Rio Grande do Sul, no Brasil.
Mitre negou! López, indignado, enviou tropas paraguaias, que, de surpresa, apresaram dois navios argentinos ancorados na cidade de Corrientes, a 13 de abril de 1865, ocupando, no dia seguinte, a mesma cidade indefesa, o que levou ao auge a indignação do povo e do governo argentinos.
Síntese das causas do conflito
Causas remotas: Questão de limite. Livre navegação no Prata. Antagonismos entre paraguaios e brasileiros, e entre paraguaios e argentinos. Busca de novo equilíbrio na Bacia do Prata. Sonho de López de reconstituição do antigo Império Teocrático Guarani e criação de um Paraguai maior, que chegasse às águas atlânticas.
Causas imediatas: Participação de López na política do Prata. Intervenção do Brasil no Uruguai. Apresamento do navio brasileiro Marquês de Olinda. Invasão dos territórios brasileiro e argentino pelo Paraguai .
O Tratado da Tríplice Aliança
Colocados o Brasil, a Argentina e o Uruguai em campo oposto às pretensões de López, em virtude das ocorrências culminadas com as invasões da Província Argentina de Corrientes e das brasileiras em Mato Grosso e Rio G. do Sul, tudo isso levou esses países a firmarem, em Buenos Aires, a 1º de maio de 1866, o Tratado da Tríplice Aliança, com 29 artigos.
Da sua análise, pode-se concluir variados aspectos, tais como:
Tratado de Aliança Ofensiva e Defensiva (art. l).
Absoluto respeito à soberania e integridade do Paraguai (arts. 8 e 9).
Ausência de idéia de conquista (arts. 8 e 9).Caráter secreto (Art. 18).
Contra López e não contra o Paraguai .
Derrota de López e de seu governo (arts. l e 6). Manutenção do equilíbrio do Prata, assegurando a independência do Paraguai (art.8).
Solução das questões de navegação (art. 11).
Solução das questões de limites (art. 16).
Meios para a ação: O Exército e Marinha do Brasil
Exército da Argentina .Contingente de forças do Uruguai e uma Legião do Paraguai a organizar . ( arts. 2,4 e 7 ). O comando aliado: Inicialmente, caberia a Mittre, Presidente da República da Argentina (art 3). Bases para a paz: Dívidas de Guerra (art 14 e 15).
Concessão e Privilégios (art 10). Garantia da Paz (art 13 e 14).
Destruição de Obras de Fortificação e Desarmamento (arts. 1 e 2 de um protocolo adicional).
Planos de Operações dos Aliados
Vários foram os Planos de Operações apresentados. Entre eles, cabe a apreciação e o estudo do plano de Caxias, apresentado antes da assinatura do Tratado da Tríplice Aliança, e o dos Aliados, apresentado e assinado no dia 1 de maio de 1865, sob a responsabilidade de Mitre .
O Plano de Caxias
Por solicitação do Ministro da Guerra do Império, Henrique Pedro Carlos de Beaurepaire Rohan, a 25 de janeiro de 1865, Caxias elaborou Plano para a Campanha, que pode assim ser resumido:
” Atuando por Passo da Pátria, na direção Humaitá – Assunção, conquistar Humaitá (objetivo militar) e Assunção(objetivo político).
Atuar também na direção São Paulo – Miranda – Apa, para expulsar o inimigo e cerrar sobre o Rio Apa; posteriormente, por aí atuar, em apoio do Grupamento da Força do Sul, na direção de Assunção .
Fixar o inimigo numa das regiões de S. Cosme, Itapua ou S. Carlos, em condições de atuar na direção de Assunção, ou mesmo de, em caso de insucesso na ação principal, assegurar a sua retirada pelo Passo da Pátria. Realizar o esforço na direção Humaitá – Assunção.
A operação principal deveria ser realizada com a cooperação da Esquadra.”
0 Plano de Mitre (Aliados)
Foi apresentado na assinatura do Tratado da Tríplice Aliança e previa:
” Concentrar a massa principal na região de Goia (margens do Rio Paraná ).
Atuar na direção Goia -Humaitá, para expulsar o inimigo que opera ao Sul e a Leste do Rio Paraná. Em seguida, invadir o Paraguai e conquistar Humaitá.
– Atuar também por Itapua, sobre Humaitá . Dispositivo: Na direção Goia-Humaitá, com o grosso das forças aliadas. Na direção Itapua – Humaitá com a Cavalaria Aliada.
Conclusões
Da análise dos planos, conclui-se que havia acordo na atuação sobre Humaitá como esforço principal.
Verifica-se que a atuação sobre Itapua estava prevista como necessária: Para obrigar LÓPEZ a dispersar meios; e, em caso de insucesso na direção principal, evitar que as forças inimigas tentassem, na região do Passo da Pátria ou mais ao Sul, cortar a retirada das tropas aliadas, que ali estavam.
Plano de Operações de López
Da pesquisa realizada em copiosa documentação, diferentes aspectos permitem imaginar o que poderia ter constituído um plano de operações de López:
” Atuar, simultaneamente, ao longo dos rios Paraná e Uruguai, por Passo da Pátria na primeira direção, e por Itapua – S. Borja, na segunda, com esforço na primeira, para destruir as forças estacionadas na Mesopotâmia Argentina, facilitar o levante de Entre Ríos e Corrientes e impedir a atuação de qualquer força hostil entre os rios Paraná e Uruguai.
– Assegurada a cobertura, invadir com o grosso do Exército o Rio Grande do Sul pela região mais conveniente, na direção de Porto Alegre, e aí buscar a decisão da Guerra.
– Realizar uma ação diversionária em Mato Grosso.”
Conclusões
Observam-se nesse planejamento:
A primeira fase das operações nada mais era do que uma cobertura à ação principal da invasão profunda do Rio Grande do Sul;
A ação diversionária sobre Mato Grosso parecia prender-se à posse de uma região litigiosa, para posteriores negociações.
Análise das manobras planejadas
Manobra de Caxias: Objetivo – Bem definido; inicialmente Humaitá, posteriormente Assunção. Atitude Ofensiva em todas direções.- Direções – Combinação; convergência.- Repartição – Esforço ao longo do Rio Paraguai sobre Humaitá; cobertura por Itapua. Ação diversionária por Mato Grosso.
Quanto à Execução, a conquista inicial de Humaitá se impunha. Após as ações sobre Assunção, seriam simultâneas pelo norte e pelo sul.- Quanto à Forma – Manobra Central, ruptura.
Manobra de Mitre: Em quase todos os pontos semelhante à de Caxias .Afasta-se mais quanto ao Objetivo e à profundidade inicial.
Mitre planejou, apenas, até a conquista de Humaitá, nada prevendo além daquele objetivo.
Manobra de López: Objetivo – Pouco definido, pois de maneira mais ou menos vaga, parecia ser a conquista da região do Rio Grande do Sul a sua ação decisiva. Atitude – Ofensiva em todas as frentes. Direções Divergentes. Repartição de meios – O esforço seria sobre o Rio Grande e cobertura ao longo do rio Paraná, em Corrientes, e ação diversionária por Mato Grosso. Quanto à Execução – ações sucessivas, sendo inicial a diversionária sobre Mato Grosso . Forma – Manobra Central, em linhas Interiores.
Observância dos princípios de Guerra nos planos de Operações
Objetivo – Humaitá para os aliados representava uma imposição geográfica e militar, daí ser sua conquista a diretriz dos planejamentos; Assunção deveria impor-se como conclusão política do conflito para os aliados.
Relativamente a Lopes, a importância dos resultados que teria de alcançar impunha-lhe objetivos acima de suas reais possibilidades, daí a pouca definição do seu planejamento.
Não definia precisamente no Sul: Corrientes ou Entre Ríos, na Argentina, ou Rio Grande,no Brasil.
Ofensiva – Claramente definida em todos os planejamentos.
Simplicidade- López divergindo suas ações teria de enfrentar maiores complexidades que os aliados.
Unidade de Comando-. Completamente centralizado no planejamento de López; quanto aos aliados, apesar de estabelecerem um comado único para as forças de terra, a Esquadra deveria estar sob comando próprio.
Massa – Mais definida e facilitada nos planos dos Aliados, tendo-se em vista a convergência de ações e também pela dosagem de meios que deveria ser estabelecida para as ações sobre Humaitá; para MITRE, a concentração da massa principal seria em Goia..
Manobra – Claramente definida pelas várias combinações de direções em todos os planejamentos.
Surpresa – Melhor definida por López, tendo em conta as ações que pretenderia realizar contra Mato Grosso e Corrientes.
Segurança – Todos os planos previam cobertura à ação julgada principal: por Itapua por parte dos aliados, e ao longo do rio Paraná por parte de López.
Os Teatros de Operações da Guerra
Na fase inicial da ofensiva geral das forças de López, três regiões constituíram Teatros de Operações para o desenrolar da luta:
Região sul da Província de Mato Grosso, a Província de Corrientes na Argentina, e a região fronteiriça do Rio Grande com a província Argentina de Corrientes .
Na ofensiva aliada constituiu TO o território do Paraguai, principalmente a região entre o Passo da Pátria e Assunção, até a rendição de Angustura e a parte Norte do pais onde se deu a luta final, na Campanha da Cordilheira sob a liderança do Conde DEu.
TO – região Sul de Mato Grosso: Esse TO compreendeu em particular a região entre o rio Paraguai, a oeste, o Apa ao sul, e a Serra de Amambaí a leste.- Ao norte, as operações se estenderam até a região sul de Cuiabá e rios S. Lourenço e Taquari. O seu isolamento da capital do Império muito influiu desfavoravelmente para as ações brasileiras, pois as comunicações normais entre o Rio de janeiro e Mato Grosso eram feitas pelos rios da Prata, Paraná e Paraguai, ficando, por isso, na época da guerra, isolada do resto do Brasil .
TO – província de Corrientes: Esse TO compreendia terras argentinas, a oeste do Rio Grande do Sul, entre os Rios Uruguai e Paraná,constituindo um terreno tipicamente mesopotâmico, por baixo e muito alagadiço, apresentando pequenas elevações de 100 metros e grandes estoiros (banhados) para o norte, os quais, nas chuvas, atingem dimensões que chegam a 150 km de extensão, como a lagoa Iberá. Essa baixada dificulta sobremodo o movimento das tropas no interior.
Entretanto, o rio Uruguai, facilitando as comunicações por meio de pequenas embarcações, e o Paraná comportando a navegação mesmo de navios de guerra, constituíam as maiores facilidades das comunicações da região. O clima é áspero no inverno, causando sérios inconvenientes aos que ali não estão acostumados. Corrientes era rica em gado, o que facilitaria em parte o reabastecimento das tropas.
TO – Rio Grande do Sul: A região da fronteira junto ao rio Uruguai muito sofreu com a invasão realizada pelas colunas inimigas. O rio Uruguai, fronteira natural com a Argentina, é navegável desde sua foz até próximo da cidade de Salto; daí até S. Borja, apenas por pequenas embarcações.
– O clima do Rio Grande, como o de Corrientes, muitas baixas causariam aos soldados brasileiros vindos do norte do País. As comunicações, na época, eram por demais precárias, muito prejudicando a concentração das tropas. Destacaram-se ao longo do Uruguai as regiões de S. Borja, Itaquí e Uruguaiana.
TO do Paraguai: O território do Paraguai constituiu o TO principal , especialmente ao longo das margens do rio Paraguai, até a entrada das tropas aliadas em Assunção, e na região da Serra de Amambaí, divisor entre os tributários dos rios Paraguai e Paraná, para as operações realizadas após a queda de Assunção.
Próximo às margens do Paraguai, há imensas baixadas que dão origens a infinidades de pântanos, lagunas e banhados tornando a vida quase impossível, principalmente no rincão dos rios Paraguai e Paraná, próximo à região de Tuiuti. Essa região constituiu o TO principal, daí as dificuldades de toda ordem que o Exército aliado viveu, vítima de fome, febre varíola, cólera e asfixia nos pântanos, ou dos generais inimigos Terreno e Cólera. O terreno a oeste do rio Paraguai, mormente entre Humaitá e Santo Antônio, tem, como característica, os “chacos”.- Apenas o valor militar de Caxias foi capaz de arrancar o Exército aliado de Tuiuti e levá-lo vitorioso a Assunção. Foi então que mandou vir dos EUA balões cativos e “balonistas” que haviam servido no Exercito do Sul na Guerra de Secessão, para fazer reconhecimentos aéreos naquela região plana .
Além do rio Paraguai, devem ser destacados os seus afluentes Tebiquari e PiquiciriI, ambos à margem esquerda. O clima é relativamente áspero, causado em grande parte pelos ventos quentes e úmidos no verão, e pelo frio excessivo no inverno. As comunicações existentes eram praticamente nulas, exceção à navegação fluvial no Rio Paraguai e alguns afluentes. O Paraguai soube tirar proveito do terreno, combinando obstáculos artificiais com naturais, tornando a progressão por terra dificílima, o que vem explicar a grande duração da guerra. Sim, o inimigo tinha como seu maior aliado do o General Terreno, difícil por natureza e agravado por fortificações de desbordamento só à viva força.
As Forças em presença no conflito
Paraguaias: No início da guerra, estimava-se que López contava com cerca de 80.000 homens, bem treinados, havendo ainda centros de instrução militar em Cerro Leon (30.000 h). Itapua (17.000 h) Humaitá (10.000 h). No decorrer da Campanha, estima-se que empregou 230.000 homens.
Aproveitando-se da surpresa e de um Exército grande e bem treinado, López julgou que o Brasil e a Argentina não resistissem à invasão dos seus territórios com 50.000 homens lançados inopinadamente.
Quanto à Infantaria, os batalhões eram constituídos de 800 homens, formando 6 companhias, das quais 5 de granadeiros e 1 de atiradores. O armamento variava do fuzil de mecha ao de pederneira, sendo que o último constituía a maioria, e ambos com baioneta. Relativamente à Cavalaria, cerca de um terço do Exército era formado dessa arma.Na Artilharia, os regimentos eram formados por 4 a 6 baterias, de 4 a 6 peças de bronze, raiados ou de ferro fundido de alma lisa, usando projéteis cônicos ou esféricos. Existiam no começo da guerra cerca de 400 canhões, mas López fabricou muitas peças durante a guerra.
A esquadra era de 22 unidades no início. Foi depois aumentada pelo apresamento do “Marquês de Olinda”, “25 de Maio”, “Gualeguai”, “Amambaí”, “Salto” e outros.
A batalha de Riachuelo neutralizou, praticamente, a esquadra paraguaia, tal o número de perdas, e pôs fim à sua capacidade ofensiva estratégica .
Aliadas: Forças Terrestres Brasileiras- A organização compreendia corpos (unidades) especiais, constituídos de um Estado – Maior Geral, Engenheiros, Estados-Maiores de 1ª e 2ª classes, repartição eclesiástica e Corpo de Saúde.
A Infantaria era constituída de batalhões de fuzileiros e caçadores a 8 companhias cada, armada de fuzil raiado Minié com baionetas. A Cavalaria era formada de regimentos a 8 companhias, cujo armamento era a lança, carabina, sabre e pistola. A Artilharia dispunha de canhões, obuseiros e morteiros de alma lisa ou raiada, alguns de anticarga, bem como foguetes “CONGREVE” (Sir William), mais usado para espantar cargas de Cavalaria. A Artilharia, de alma lisa, era sistema Paixhans (?) e a raiada, La Hitte (?). A Artilharia pesada era do tipo Withworth. A Guarda Nacional compreendia a ativa que recrutava o pessoal de 18 a 50 anos e a reserva, constituída de indivíduos de 50 a 60 anos. Os Voluntários da Pátria, organizados durante a guerra, chegaram a 60 batalhões.
Forças terrestres argentinas- O Exército de Operações foi organizado em 3 Corpos do Exército, com efetivo reduzido. O armamento era semelhante ao brasileiro, mas de modelo mais atrasado. Em campanha, o seu efetivo máximo apresentado foi de 6.000 homens.
Forças terrestres uruguaias: Em 1865, o Exército regular compreendia 2 batalhões de Infantaria, 1 esquadrão de Cavalaria e 1 regimento de Artilharia. Em toda a Campanha apresentou cerca de 3.000 homens.
As forças navais aliadas: A Guerra naval ficou exclusivamente a cargo das possibilidades brasileiras, já que os aliados nada representaram nesse aspecto. A Argentina concorreu com apenas 3 navios, e o Uruguai nada podia apresentar. A Marinha brasileira concorreu com um efetivo de 11.000 homens de tripulação em seus vasos de guerra durante toda a Campanha. Foram organizadas 3 Divisões Navais, 2 Flotilhas além de elementos de vigilância no rio Uruguai. A Esquadra brasileira apresentando no início cerca de 17 navios de guerra e l13 canhões, chegou ao fim do conflito com 94 navios, 237 canhões e l0 Transportes, o que atesta o esforço despendido pelo Império nesse setor. Ela foi essencial para vencer a enorme distância de apoio logístico do Rio de Janeiro ao TO .
Processos de combate Tática
Apesar de o material apresentar evolução, permaneciam ainda aspectos dos processas de combate e de tática usados nas campanhas realizadas pelo Império no Prata. As formações de combate da Infantaria e da Cavalaria eram as normais; entretanto, a Infantaria e Engenheiros tiveram de enfrentar o problema de assalto a obras fortificadas. Houve grande emprego das fortificações e de trabalhos de aproveitamento do terreno. A Artilharia já realizava ações de contrabateria. A Engenharia prestava apoio direto no assalto a posições fortificadas e apoiava a Artilharia que integrava. Ela foi constituída do Batalhão de Pontoneiros do 2º Corpo e pelo Batalhão de Engenheiros do 1º Corpo de Exército, e ambos se destacaram sobremodo na construção da Estrada do Chaco .
A dissimulação teve largo proveito, e a observação oblíqua foi aperfeiçoada pelo emprego de mangrulhos ( torres de observação ) e balões de observação.
A tática já era mais evoluída, havendo manobra, perdendo assim a rigidez anterior pela combinação de atitudes e direções. Ela se baseava nas Ordenanças de Portugal que Caxias, em 1862, como Ministro da Guerra, adaptara às nossas realidades operacionais, com apoio nas 5 campanhas de pacificação do Maranhão, de São Paulo e Minas Gerais, Farroupilha e Guerra contra Oribe e Rosas, que vencera ,”ate que se possua uma tática (doutrina ) genuinamente nossa que responda às nossas necessidades e características sul-americanas” — frisou .
A Logística
O aprovisionamento era feito à base de contratos com fornecedores, sistema que muitos inconvenientes e preocupações criou, mas que respondeu às necessidades. A cadeia de apoio logístico tinha como cúpula o Quartel Mestre General, e ele se espalhava pela tropa sob a denominação de deputado do Quartel Mestre. Essa estrutura fora introduzida por Caxias na Guerra contra Oribe e Rosas e, depois, ele a implantou no Exército junto com a Repartição do Ajudante general em realidade o comandante do Exército e que foi em 1898 substituída pelo Estado – Maior do Exército.
O Império estabeleceu bases (logísticas) em territórios uruguaio, argentino e paraguaio, pelas dificuldades das distâncias de apoio logístico Rio – TO e de transportes. Entre estas bases podem ser lembradas as de Corrientes, Humaitá e Assunção.
Traduziu o apoio de Classe I o seguinte verso corrente entre os soldados brasileiros e registrados por Dionísio Cerqueira:
“Osório nos deu churrasco, e Polidoro, farinha.O Marquês(Caxias) nos deu jabá , e Sua Alteza ( o Conde d Eu), sardinha.”
Hospitais foram estabelecidos em Buenos Aires, Montevidéu, Cerrito e Passo da Pátria, bem como o flutuante “Onze de junho”, etc. – Serviços de Saúde, Material Bélico, Religioso e Polícia funcionavam normalmente em toda a Campanha.
Resumo da Guerra
A partir daqui usaremos os nome de chefes e localidades em maiúsculas)
A Guerra de TRÍPLICE ALIANÇA contra LÓPEZ foi longa, durando de novembro de l864 até março de 1870.- Sua divisão pode ser apreciada sob os aspectos do Comando em Chefe das Forças Aliadas e da Atitude dos Beligerantes.
Quanto ao Comando em Chefe– 1.° período MITRE: entre 1-V-65 e 9-II-67. 2.° período CAXIAS: entre 9-II-67 e 29-VII-67. 3.° período MITRE: entre 1-VIII-67 e 10-II-68. 4° período CAXIAS: entre 11-II-68 e 4-IV-69. 5.° período – Conde d’EU: entre 14-IV-69 e março de 70.
Quanto à Atitude dos Beligerantes– 1.° período – Ofensiva de LÓPEZ, compreendendo as invasões de MATO GROSSO, CORRIENTES e RIO GRANDE DO SUL.- 2.° período – Ofensiva aliada: em CORRIENTES e no RIO GRANDE DO SUL; transposição do PARANÁ; invasão do PARAGUAI, por PASSO DA PÁTRIA e pelo APA; ocupação de ASSUNÇÃO. 3.° período – Campanha da Cordilheira,compreendendo a manobra do PERIBEBUI e perseguição a LÓPEZ.
A Ofensiva paraguaia
O PARAGUAI, tirando partido de uma série de vantagens iniciais, precedeu largamente os Aliados na mobilização, pois suas forças já estavam mobilizadas, concentradas e adestradas, atingindo, em agosto de 1864, cerca de 20.000 homens, com o grosso em CERRO LEON; teve larga iniciativa, pois o Brasil se encontrava empenhado em uma ação com o URUGUAI, sendo obrigado a distrair meios nesta ação; o TO era próximo aos seus centros abastecedores; e contava com a neutralidade da ARGENTINA e a possível simpatia de URQUIZA.
A invasão de Mato Grosso
O 1º ato foi a Ação Diversionária sobre MATO GROSSO. Qual seria o objetivo militar ou geográfico dessa expedição? Para TASSO FRAGOSO, não havia dúvida de que LÓPEZ só desejava conquistar os terrenos limítrofes.
Admita-se que LÓPEZ possuísse idéia remota de chegar a CUIABÁ; neste caso, a manobra direcional poderia ser assim definida: CONCEPCIÓN – COIMBRA CORUMBÁ, e CONCEPCION – MIRANDA – COXIM.
E com esforço principal na 1ª direção, conquistar: COIMBRA, CORUMBÁ, MIRANDA e COXIM. Depois, se necessário, aprofundar-se seja de COXIM, ou de CORUMBÁ, ou de ambas, sobre CUIABÁ, e dela apossar-se.
Para isso, foi lançado na 1ª direção o Cel BARRIOS com uma força terrestre à base de Infantaria de 4 BI (3.200 hs), apoiado por uma força naval, enquanto na 2ª direção atuou o Gen RESQUIN, com uma força à base de Cavalaria de 3.000 hs (5 RC e 1 BI).- Que podia fazer o BRASIL para contrapor-se? Nada, a não ser escrever as epopéias de DOURADOS e COIMBRA, pois o efetivo do Império, em Mato Grosso, não somava 1.000 homens .
O ataque ao FORTE DE COIMBRA deu-se no dia 27 dez 1864, depois de ter sido sua guarnição intimada a render-se. O Coronel PORTO CARRERO, em nome da honra militar e da tradição de heroísmo que pairava sobre o forte, respondeu energicamente que só transmitiria o comando em virtude de ordem superior.
BARRIOS iniciou os preparativos de ataque: A sua esquadrilha naval atacaria o forte e as tropas de desembarque investi-lo-iam, enquanto as 12 peças assestadas em morro fronteiro protegeriam o movimento dos assaltantes. Depois de cinco horas de ataques infrutíferos, resolveu BARRIOS recolher toda sua tropa desembarcada à margem direita. Ao romper-se o dia 28, efetuou-se novo ataque. Os paraguaios, depois de várias tentativas, às 7 horas da noite, reembarcam em seus navios. A bandeira brasileira continuava heroicamente a tremular, à luz morta do crepúsculo, sobre as muralhas do forte. Pela noite escura foi realizado o embarque da guarnição e de todo o pessoal do forte, o que se fez em ordem, embarcando primeiro as mulheres e crianças, e depois a guarnição. Simultaneamente, a coluna de RESQUIN, atacava as guarnições brasileiras que lhe faziam frente. URBIETA, da coluna de RESQUIN, no seu ataque à COLÔNIA MILITAR DE DOURADOS, intimou o seu comandante, Ten ANTONIO JOÃO, que não se rendia. Este, sabedor da invasão, fez evacuar da colônia o pessoal civil desnecessário à defesa.
Enviou ao Coronel DIAS DA SILVA, comandante do Distrito Militar de MIRANDA, um próprio com a notícia da invasão, e num bilhete teria escrito a lápis:
“Sei que morro, mas o meu sangue e dos meus companheiros
servirá de protesto solene contra a invasão do solo da minha Pátria”.
Se escreveu, ou não, o bilhete, a sua atitude corajosa correspondeu às palavras que lhe são atribuídas. A grande superioridade do inimigo esmagou ANTONIO JOÃO e toda sua guarnição.- CUIABÁ foi organizada para a defesa, com os remanescentes e as forças aí estacionadas.
Conclusões
López não observou o princípio de guerra da Economia de meios, uma vez que usou efetivos muito superiores aos necessários; lançou ação sobre objetivos geográficos que nada poderiam influir no desenrolar da Campanha. Nenhum reflexo prático ela teve sobre a ação que se desenvolverá no URUGUAI.
Contudo, a de Mato Grosso trouxe as seguintes vantagens para LÓPEZ: Elevação do valor moral das tropas empenhadas com uma vitória rápida sobre o BRASIL, bem explorada pela propaganda;- elevação do moral do povo paraguaio; dominação de território em litígio; apreensão de 80.000 cabeças de gado e grande quantidade de cavalares. Pareceu certo o retraimento de todas as forças brasileiras para CUIABÁ e a defesa dessa cidade.
A invasão de Corrientes
Representava a ação principal de LÓPEZ, tendo por objetivos: Destruir as forças estacionadas na Mesopotâmia Argentina; facilitar o levante de Entre RÍos e Corrientes; conquistar uma base de manobras, imposta por não haver a ARGENTINA permitido o trânsito das forças paraguaias por CORRIENTES, e por ser vital à invasão do RIO GRANDE a passagem por Corrientes.
Esses objetivos não foram alcançados por falta de rigor na execução do plano e pela superioridade naval brasileira.
Operações ao longo do rio Paraná: Com um efetivo que chegou a atingir 30.000 homens, elas tiveram êxito inicial, com a ocupação de CORRIENTES, em 14 de abril.
O aprofundamento para o Sul foi lento. Somente em 3 de junho a vanguarda paraguaia atingiu GOIA, sem ter tido necessidade de se empenhar a fundo. Comandou a força paraguaia ROBLES, que acabou substituído por RESQUIN, uma vez que relutou em cumprir as ordens de LÓPEZ de retirar-se para CORRIENTES quando se sentia com meios suficientes para prosseguir na ação.
A invasão de CORRIENTES teve como conseqüências:
— Provocar maior união das Províncias da Argentina, com a definição de URQUIZA contra a agressão. Arrastou a ARGENTINA à guerra, em virtude da assinatura do Tratado da Tríplice Aliança.
— Uma vez invadida, a ARGENTINA lançou mão das milícias locais e elementos disponíveis, comandados por LAGRAÑA. Cobriu-se face a CORRIENTES e, logo que pôde, reforçou cobertura com tropas regulares de BUENOS AIRES. Comandou inicialmente a cobertura, PAUNERO, e depois URQUIZA. Era objetivo dessa cobertura retardar a penetração inimiga;
— Ganhar tempo e cobrir a mobilização e a concentração do Exército Nacional de Campanha.
PAUNERO desincumbiu-se da missão com êxito. A vanguarda de LAGRAÑA sem se empenhar fundo, balizou a progressão paraguaia. Sentindo a debilidade paraguaia em CORRIENTES, realizou em combinação com a Esquadra, uma operação anfíbia que hoje é classificada como reide (Ing. Raid), para desorganizar as retaguardas inimigas. Tal foi a ação realizada em 25 de maio, com cerca de 3.000 homens, embarcados na Divisão Brasileira comandada por BARROSO. Desembarcou em CORRIENTES, dominou a cidade e regressou dois dias mais tarde.
Os efeitos psicológicos desse reide foram maiores que os materiais. Eles atuaram profundamente sobre o espírito de LÓPEZ, fazendo-o determinar o retraimento do exército de ROBLES, que já atingira com suas vanguardas a região de GOIA. Aí terminou, praticamente, a ofensiva paraguaia sobre o rio PARANÁ, pois o tempo demasiado longo entre a tomada de
CORRIENTES e o aprofundamento da invasão permitiu: a mobilização da milícia correntina; reforço à cobertura com tropas de BUENOS AIRES; a mobilização das tropas de URQUIZA.
A superioridade naval brasileira, embora não absoluta, permitiu o reide sobre CORRIENTES,que teve duas conseqüências imediatas: Paralisação da ofensiva de ROBLES; a Batalha Naval de RIACHUELO. Por que foi a Batalha Naval de RIACHUELO uma conseqüência desse reide? Porque LÓPEZ sentiu que, sem a superioridade naval, não seria possível apoiar-se no rio e realizar uma operação segura. A atuação sobre CORRIENTES o provou de sobra. E, assim, resolveu lançar a cartada decisiva, ferindo-se a Batalha do RIACHUELO – 11 de junho de 65 — que tem como resultado a perda quase total da esquadra de LÓPEZ, golpe de funda repercussão no desenrolar da guerra que acabou com a capacidade ofensiva estratégica de Solano LÓpeZ.
As forças aliadas na “MESOPOTÂMIA” vão-se organizando pouco e pouco. Assim, em curto prazo, surgiu uma primeira linha de vigilância com a cavalaria correntina comandada por CACERES e LAGRAÑA, ao longo do rio PARANÁ, e PAYBA, ao longo do rio URUGUAI; uma linha de cobertura, comandada por URQUIZA com PAUNERO, na região do rio PARANÁ e suas próprias tropas na região do BASUALTO.
Face ao avanço de ESTIGARRIBIA no rio URUGUAI, MITRE completa a cobertura lançando FLORES na direção de URUGUAIANA.
Em complemento, ficou estabelecida a concentração aliada na região de CONCÓRDIA.
A invasão do Rio Grande do Sul
As operações ao longo do rio Uruguai: Desde janeiro de 65, asseguraram os paraguaios uma cabeça de ponte na região de ENCARNACIÓN, violando o território argentino sem que esse fato provocasse então uma atitude do governo de BUENOS AIRES.
Assumindo ESTIGARRÍBIA o comando, e tendo a missão de avançar para o rio URUGUAI, resolveu fazê-lo em segurança. Lançou uma cobertura, sob o comando de DUARTE que marchou pela margem direita do rio URUGUAI. ESTIGARRÍBIA, por seu turno, transpôs o URUGUAI e ocupou S. BORJA, encetando marcha para o Sul e ocupando finalmente URUGUAIANA. Nessa época, as forças brasileiras que operavam no URUGUAI, sob o comando de OSÓRIO, estavam-se concentrando com as demais forças aliadas na região de CONCÓRDIA, território argentino. Julgando inoperância de CALDWELL como Chefe do Exército em Operações no RIO GRANDE, a base de Guardas Nacionais inexperientes, o governo nomeou para substituí-lo, a 20 de julho de 65, o Barão de PORTO ALEGRE. Sem estar subordinado a OSÓRIO, devia com ele cooperar em caso da necessidade e, se solicitado. Se transpusesse o rio URUGUAI, ficaria sob o comando dele e de MITRE.
– MITRE, julgando erradamente que os paraguaios que atuavam ao longo do rio PARANÁ definitivamente na defensiva, decidiu: concentrar as forças aliadas em CONCÓRDIA, devidamente coberto face ao Norte; avançar entre as duas colunas inimigas e batê-las por partes, atuando num 1.° tempo sobre as forças que operavam em URUGUAIANA, mantendo a cobertura face às forças que operavam no rio PARANÁ e, num 2.º tempo, destruir as forças que operavam no Paraná em manobra em linhas interiores.
Pouco antes, em 3 de julho, deu-se a sublevação da Cavalaria de URQUIZA, que desapareceu completamente (8.000 homens), deixando um claro na cobertura, na região de BASUALTO. Esse fato reduziu a cobertura da concentração apenas ao Corpo de PAUNERO.
Em 11 de julho, terminada a concentração total de 19.000 homens, ESTIGARRÍBIA já dominava URUGUAIANA. Face ao avanço de ESTIGARRÍBIA, resolveu MITRE cobrir-se nesta direção, uma vez que a cobertura a oeste era julgada suficiente e havia no momento um recuo da coluna paraguaia que aí operava.
Criou um destacamento, sob o comando de FLORES, chamado Exército de Vanguarda, com a missão de: atuando na direção CONCÓRDIA – PASSO DE LOS LIBRES, cerrar contato com o inimigo que progride a oeste do rio URUGUAI, de molde a limitar sua penetração para o sul. FLORES iniciou sua marcha a 18 de julho. Devidamente informado sobre o inimigo, reclamou recursos a MITRE que adaptou seu plano, determinando a PAUNERO que se incorporasse a FLORES. Realizada a junção FLORES – PAUNERO, prosseguiu FLORES na missão . Derrotou DUARTE no combate de YATAI tendo aprisionado o grosso da força inimiga.
Prosseguiu FLORES na missão, cooperando no cerco de URUGUAIANA e na rendição das forças de ESTIGARRÍBIA a D. PEDRO II, em 18 de setembro de 65, como se verá.
A rendição paraguaia em Uruguaiana
PORTO ALEGRE assumiu as funções a 21 de agosto de 1865, em frente a URUGUAIANA, em cujas imediações as forças brasileiras se haviam reunido para sitiar os paraguaios de ESTIGARRÍBIA. A ocupação de URUGUAIANA pelos paraguaios causara grande surpresa e inquietação à Corte. O Imperador D. PEDRO II, a fim de ativar com sua presença a defesa do solo pátrio, foi para URUGUAIANA.
Acompanhavam-no o Conde d’EU, seu genro, CAXIAS, como ajudante – de – Campo, ÂNGELO FERRAZ, como Ministro da Guerra, e outras altas personalidades.Viagem documentada pelo Conde DEu em Viagem Militar ao Rio Grande do Sul , que vale a pena ser lida e meditada (vide bilbliogr)
PORTO ALEGRE, ao assumir o posto que lhe fora confiado, provocou um incidente com MITRE e FLORES. Ambos desejavam assumir o comando das tropas brasileiras no interior do RIO GRANDE, o que não foi aceito por PORTO ALEGRE, sendo a situação contornada apenas com a chegada do Imperador ao estacionamento aliado.
A rendição de ESTIGARRÍBIA exasperou LÓPEZ que, a 3 de outubro, ordenou a RESQUIN a retirada de seus 27.000 homens para o PASSO DA PÁTRIA, por CORRALES, o qual, ao partir, realizou devastações nos campos e apreendeu cerca de 100.000 cabeças de gado, antes de deixar o território argentino. Em fins de outubro, RESQUIN iniciou a travessia do PARANÁ sem ser molestado pela Esquadra do Império, devido à baixa das águas e ao grande calado dos navios.
Conclusões sobre a Ofensiva de López ao Sul
As operações ofensivas exigem vontade firme, espírito de decisão, iniciativa e força. Dispunha LÓPEZ de força suficiente em HUMAITÁ para impor a sua vontade, e não a empregou no momento oportuno, deixando, inclusive, bater-se por partes. Fracassou sua manobra por falta de espírito de decisão e vontade, e pela restrição à iniciativa dos seus chefes subordinados. A superioridade naval foi fator decisivo para o BRASIL. LÓPEZ foi infeliz no seu Plano de Operações e na sua execução. Ao invadir, quase ao mesmo tempo, por três direções divergentes o território dos aliados, com formidável efetivo, viu, em pouco tempo, desfeito o sonho de vitória, que acalentava.A Província de MATO GROSSO só mais tarde iria expulsar os invasores paraguaios, por falta de recursos e comunicações diretas com a Corte. Em compensação, os 40.000 homens da invasão de CORRIENTES e RIO GRANDE DO SUL se achavam batidos e bastantes desfalcados.
Deve ainda ser ressaltada a incapacidade dos generais de LÓPEZ, bem como a impossibilidade de ligação entre os Exércitos de ROBLES, ao longo do PARANÁ, e o de ESTIGARRIBIA, ao longo do URUGUAI.
As conseqüências principais desse período foram: A destruição do poder naval paraguaio; a assinatura do tratado da TRÍPLICE ALIANÇA;a definição de atitude de URQUIZA e a evacuação de CORRIENTES pelos paraguaios e a rendição paraguaia em Uruguaiana.
As principais operações foram: O reide de PAUNERO a CORRIENTES; a Batalha deRIACHUELO e cerco de URUGUAIANA com a rendição da Coluna de ESTIGARRIBIA.
A OFENSIVA ALIADA
A travessia do Passo da Pátria
A Junta dos Generais aliados, sob a presidência do General MITRE e com a presença do Ministro da Guerra do Brasil, logo após a rendição de URUGUAIANA, decidiu transferir a concentração do Exército aliado para MERCEDES, a fim de, posteriormente, passar à ofensiva, expulsando o restante das tropas paraguaias das margens do rio PARANÁ.As forças brasileiras ficaram constituídas em dois Corpos de Exército. O primeiro Corpo sob o comando do General OSÓRIO que, concentrado em MERCEDES, deveria invadir o território paraguaio com o restante das forças aliadas. O segundo Corpo, sob o comando de PORTO ALEGRE, a fim de cobrir as fronteiras do RIO GRANDE e de CORRIENTES do lado do ALTO PARANÁ, ficando estacionado no território das MISSÕES (entre S. CARLOS e APÓSTOLOS).
Em 25 de outubro de 1865, estavam concentrados em MERCEDES todas as forças aliadas de OSÓRIO, MITRE e FLORES.
A Esquadra Brasileira, com absoluto domínio do PARANÁ, já estava reconhecendo TRÊS BOCAS, nas proximidades do PASSO DA PÁTRIA situado na confluência PARANÁ – PARAGUAI. Em 22 de dezembro de 1865, todo o Exército aliado, depois de penosa marcha pelo território de CORRIENTES, acampou finalmente face à região do PASSO DA PÁTRIA. Cabia preparar-se para a invasão e executá-la . Era inevitável certa perda de tempo, pois não era tarefa fácil transpor de uma margem para outra de dois rios caudalosos, como o PARANÁ e PARAGUAI, uma massa de 40.000 homens, e movê-la depois em terreno de que não havia cartas topográficas e completamente desconhecido. Graças à Marinha brasileira, a invasão iria dar-se com absoluto êxito em face do persistente reconhecimento dos rios pelos navios de TAMANDARÉ.
A cidade de CORRIENTES foi transformada, assim, em verdadeira base de operações.
Só em abril de 1866, dar-se-ia a travessia do PARANÁ, após os aliados concentrarem cerca de 54.000 homens, dos quais 38.000 brasileiros.
Moderadamente, pode-se classificar a transposição do PARANÁ pelos aliados como OPERAÇÃO ANFÍBIA, do tipo invasão, daí distinguir-se as seguintes fases, que justificam a demorada concentração aliada em CORRIENTES.
A Preparação:planejamento, concentração e treinamento.
A Execução: embarque, viagem e desembarque.
Para o bom êxito de uma operação dessa natureza, seria exigido o domínio fluvial, e isso o BRASIL havia assegurado na BATALHA DO RIACHUELO.
Em fevereiro de 1866, verificou-se a 1ª reunião dos Chefes Militares, com a presença de TAMANDARÉ.
Nessa ocasião, ficou decidido: A TAMANDARÉ competia a iniciativa do plano a adotar, por ser a Esquadra o principal apoio das futuras operações.A região de CORRIENTES seria a área de montagem das operações. A escolha do local de desembarque ficaria condicionado ao reconhecimento pela Marinha, no PARANÁ, acima de TRÊS BOCAS, a fim de se ter segurança nas operações; TAMANDARÉ comandaria a operação na fase final, até a consolidação da cabeça – de – ponte . A Esquadra aliada iniciou uma série de reconhecimentos, sendo a princípio eleitas as regiões do PASSO DA PÁTRIA e ITATI. Como parte dos planos aliados, foi ocupada a ilha da Redenção, com 900 homens ao comando do Ten Cel VILLAGRAN CABRITA, na noite de 5 para 6 de abril de 1866. Ao raiar do dia, viram os paraguaios, com surpresa, a bandeira brasileira tremulando na ilha fronteira à ponta de ITAPIRU, próximo ao forte do mesmo nome. Na noite de 9 para l0 de abril, LÓPEZ tentou um golpe – de – mão, a fim de desalojar os brasileiros da referida ilha, não conseguindo, entretanto, nenhum êxito, a não ser a lamentável morte do valoroso Tem Cel VILAGRAN CABRITA, comandante do Batalhão de Engenheiros, já após terminada a ação, por um projétil lançado do forte ITAPIRU. Com a ocupação da ilha, o forte de ITAPIRU passou a sofrer bombardeios das baterias brasileiras, quando se iludia LÓPEZ sobre o desembarque aliado. No dia 15 de abril, a Esquadra faz um último reconhecimento acima de TRÊS BOCAS, no PARAGUAI, resultando na localização de uma barranca cerca de 2 milhas acima da confluência do PARANÁ-PARAGUAI, como o ponto ideal para um desembarque de surpresa contra LÓPEZ.
A escolha desse ponto foi bastante interessante, pois burlou a defesa paraguaia que esperava o desembarque na região do PASSO DA PÁTRIA, pela ocupação da ilha da REDENÇÃO, assim batizada por ser o início da redenção do povo paraguaio do jugo de um tirano, conforme foi decidido na época .
Ela se constituiu uma ação diversionária, pois LÓPEZ estava certo do desembarque no PARANÁ, e nunca no PARAGUAI. O Conselho de Generais decidiu que a passagem do Rio se faria no dia 16 de abril. Para as operações, a Esquadra foi organizada em 3 divisões.
Ao romper do dia 16, os Grupos de Cobertura, Grupos de Demonstração e Grupamento da Força Naval de Ataque ocuparam as posições designadas e iniciaram o bombardeio. Às 08:30, os transportes se movimentaram, com a ajuda do Grupo de Apoio de Fogo. Tudo foi feito como se o desembarque devesse ser realizado nas proximidades do FORTE ITAPIRU, e só no último instante, tomaram a rota verdadeira. A surpresa foi completa !
Às 09:00 horas da manhã, OSÓRIO em pessoa foi o primeiro a pisar o chão paraguaio à frente de alguns homens. O Forte ITAPIRU era quase ao mesmo tempo obrigado a calar-se e sua guarnição constrangida a abandonar suas posições. Durante os dias 16 e 17, continuam os desembarques, com a chegada dos contingentes de PAUNERO e FLORES e restante das tropas brasileiras. LÓPEZ procurou de todo modo evitar a progressão brasileira para o Norte, sem conseguir nada, apesar da pressão que exerceu.
O forte ITAPIRU foi ocupado pelos aliados, retirando-se os contingentes de LÓPEZ para o ESTEIRO BELLACO. No dia 2 de abril, os aliados, após 8 dias de luta, estacionavam no PASSO DA PÁTRIA, em pleno território paraguaio. A passagem do PARANÁ foi um dos mais belos feitos da guerra. A ação conjunta do Exército e Marinha desenvolveu-se de maneira admirável em coordenação e compreensão.
Passo da Pátria – Estudo do seu Terreno (Recorra a um mapa)
Para se compreenderem as dificuldades que os aliados encontrariam pela frente, só contornadas mais tarde com o valor militar de CAXIAS, impõe-se que se faça um ligeiro estudo do terreno do PASSO DA PÁTRIA até HUMAITÁ.
Nota-se nessa região, desde logo, a presença de dois obstáculos fluviais: o ESTEIRO BELLACO e o ESTEIRO ROJAS, fora outros maiores. O ESTEIRO BELLACO é uma depressão do terreno onde, na época das enchentes, se unem as águas do Rio PARANÁ às do PARAGUAI. Então, ramifica-se este Esteiro em uma infinidade de pequenos canais paralelos ou laterais, e torna o território inferior do PARAGUAI uma grande ilha. Divide-se em dois canais principais chamados ROJAS e BELLACO.
O terreno, por onde é traçado o caminho PASSO DA PÁTRIA HUMAITÁ, cruza esses dois esteiros, que o dividem em três seções: uma entre HUMAITÁ e o ROJAS; outra entre o ROJAS e o BELLACO, e a terceira, entre o BELLACO e o PASSO DA PÁTRIA.
O flanco esquerdo dessa região é apoiado em várias lagoas que se ligam com o rio PARAGUAI. O flanco direito tem saída para leste, o que os aliados desconheceram a princípio, tardando aproveita-la. É pela parte leste que CAXIAS avançará mais tarde para assaltar HUMAITÁ. É ainda por essa parte leste entre BELLACO e ROJAS que se abrirão comunicações e trânsito para os comboios que circularão entre TUIUTI e TUYÚ-CUÉ.
É bom frisar que- toda essa região era desconhecida dos aliados que palmilhavam o terreno sempre aguardando surpresas. Cartas topográficas não havia de espécie alguma; os aliados, do PASSO DA PÁTRIA a TUIUTI, marcharam às cegas até se chocarem com as trincheiras do ditador, levantadas, na borda do Esteiro ROJAS, também chamado SAUCE, isto é, penetraram por uma espécie de desfiladeiro, que não conseguiram transpor, nem de frente, nem pelos flancos imediatos, bem resguardados por obstáculos fluviais.
Só lhes restara um recurso: Retroceder com o grosso à região do PASSO DA PÁTRIA, avançar para o nordeste até poder transpor o Esteiro BELLACO e, afinal, para oeste até TUYÚ-CUÉ.
O Combate do Esteiro Bellaco: Após a ocupação do PASSO DA PÁTRIA, os aliados foram levando, pouco a pouco, para o território paraguaio, todos os seus elementos e acumulando meios numerosos na área ocupada. As dificuldades inerentes à travessia, como a necessidade de pôr ordem em todos os serviços, e regularizá-los, impediu os chefes aliados de continuarem, sem demora, no rastro de LÓPEZ. Como não havia recursos locais, os abastecimentos tinham de ser trazidos da retaguarda, ou melhor, da margem correntina.
LÓPEZ, ao se retirar do seu acampamento em PASSO DA PÁTRIA, ocupou posição ao norte do Esteiro ROJAS, deixando uma vanguarda para vigiar os passos do Esteiro BELLACO.
Eram três os passos: PIRES, SINDRA e CARPETA. Pelo passo central SINDRA corria a estrada para HUMAITÁ. Os aliados ficaram no antigo acampamento de LÓPEZ, que se estende do leste a oeste, uma milha ao norte do PASSO DA PÁTRIA, cobrindo-se ao norte com a vanguarda de FLORES.
LÓPEZ, grande conhecedor das posições aliadas ao sul do Esteiro BELLACO, e fiel à tática de golpes-de-mão, resolveu atacar a vanguarda no dia 2 de maio de 1866. Tal golpe causou muitas perdas, pela surpresa paraguaia como que surgindo da terra, com um efetivo de 6.000 homens, carregando os cavaleiros os infantes à garupa. Os batalhões da vanguarda foram repelidos das posições, e peças de Artilharia arrebanhados pelo inimigo. Graças à intervenção de OSÓRIO, em momento oportuno, a vanguarda de FLORES retomou a ofensiva e o inimigo foi rechaçado, sendo levados de roldão até o Esteiro BELLACO.
Essa ação ficou conhecida como o Combate do Esteiro Bellaco ou A surpresa de 2 de Maio. No dia 20 de maio de 1866, o Exército, atravessando os passos do Esteiro BELLACO, rompeu marcha para frente, indo estacionar em TUIUTI, onde se daria a batalha do mesmo nome.
A Batalha de Tuiuti
O Terreno: Quando se percorre a estrada de PASSO DA PÁTRIA a HUMAITÁ, encontra-se, depois de transpor o BELLACO, um trecho especial de terreno, delimitado ao sul por aquele esteiro, a oeste pela LAGUNA PIRES, ao norte pelo ESTEIRO ROJAS, e a leste por uma dilatada região pantanosa. A parte noroeste, que se limita na laguna, e a do norte que precede ROJAS, são cobertas de espesso mato. Logo ao norte do BELLACO, ergue-se uma pequena elevação, na qual os aliados acamparam no dia 20 de maio. Nessa região, fica uma pequena lagoa chamada TUIUTI. Os aliados não podiam ter encontrado terreno mais desfavorável para as suas operações.
O dispositivo: Os paraguaios ocupavam a frente do ESTEIRO ROJAS, desde o PASSO GOMEZ, sobre a estrada para HUMAITÁ, até a direita do ROJAS, tendo pequenos destacamentos de tropas com artilharia, intercalados pela frente. À sua direita apareciam bosques impenetráveis e prolongamentos dos carriçais (vegetação densa de banhado) do SAUCE. Os aliados estacionaram em TUIUTI no sentido da profundidade e a cavaleiro da estrada que conduzia à HUMAITÁ. Na frente acampou a vanguarda de FLORES, composta de brasileiros e orientais e o 1.° Regimento de Artilharia a Cavalo e o Batalhão de Engenheiros sob o comando de MALLET. Este mandou construir, em toda a frente da sua posição, um largo e profundo fosso, no qual trabalharam arduamente artilheiros, engenheiros, etc.
As terras foram espalhadas de modo a não formarem parapeito que desse a perceber ao inimigo que havia fortificação. A posição em que foram assestados os canhões de MALLET, em número de 28, todos raiados, ficava a 1600 metros da linha paraguaia de ROJAS. À esquerda do Batalhão de Engenheiros do 1.° Regimento Mallet, ficava a artilharia oriental apoiada pelas suas tropas e, na retaguarda dessa, a 6.ª Divisão brasileira, do General VITORINO MONTEIRO, a atual 6a Divisão de Exército do CML. Atrás dos orientais, e em escalão para a esquerda, colocou OSÓRIO, nas vésperas da batalha, a 3.ª Divisão Brasileira do Gen SAMPAIO. Este conjunto de tropas pode ser considerado como o primeiro escalão dos brasileiros e orientais. Em suas vizinhanças e um pouco mais ao sul postaram-se a 1.ªDivisão, do Gen ARGOLO; a 4.ª Divisão do Gen GUILHERME e a 19.ª Brigada auxiliar, menos o 1.° Batalhão de Engenheiros que ficou a esquerda do Regimento Mallet .
Este outro conjunto formou um segundo escalão.
Ainda mais à retaguarda encontravam-se: 2 Divisões da Cavalaria brasileira (a 2.ª, comandada pelo Gen LUIZ MENNA BARRETO, e a 5.ª, comandada pelo Cel TRISTÃO CUNHA);2 Batalhões (7.° e 24.° de Voluntários) da 19.” Brigada, pertencentes ao comando Geral da Artilharia. Pode-se considerar estes últimos elementos como um terceiro escalão.- Finalmente, na extrema retaguarda, ao sul do ESTEIRO BELLACO, estacionara o General ANTÔNIO NETO, último escalão de tropas brasileiras com seu esquadrões de cavalos amilhados. O transporte ficava para trás e no interior desse dispositivo. À direita dos brasileiros, localizaram-se as tropas argentinas. A frente da batalha formava um ângulo quase reto com a dos brasileiros e orientais, face ao ESTEIRO ROJAS, voltada ligeiramente para nordeste.
O 1.° Corpo, sob o comando de PAUNERO, estava à esquerda, em duas linhas, e à direita dele o 2.° Corpo, sob o comando de EMÍLIO MITRE (sobrinho do Comandante aliado), também em duas linhas. A artilharia ocupava o centro dos dois corpos. À direita do 2.° Corpo, um escalão para a retaguarda e quase tocando o ESTEIRO BELLACO, encontrava-se a cavalaria juntamente com a 2ª Divisão BUENOS AIRES e as forças pertencentes ao Quartel – General. A cavalaria, como quase toda a do Exército aliado, estava na maior parte desmontada por falta de cavalos.
O exército do General OSÓRIO, anteriormente, compunha-se de 36.000 homens, mas é preciso deduzir o número de doentes e feridos, a força destacada com a Esquadra, a guarnição do PASSO DA PÁTRIA, a de CORRIENTES e os empregados nos transportes, hospitais e outros serviços, daí o efetivo de 26.000 homens prontos no dia da batalha.
Em resumo, na Batalha de TUIUTI os aliados apresentaram uma força com cerca de 33.000 homens.
Quanto aos comandos: O comando aliado estava sob MITRE; o das tropas brasileiras com OSÓRIO; o das uruguaias com FLORES; o das argentinas também com MITRE. Entretanto, a ação se desenrolou sob a direção geral de OSÓRIO, devido à ausência de MITRE, no momento. Os paraguaios estavam ocupando forte entrincheiramento por toda a extensão do ESTEIRO ROJAS e circunvizinhanças. Sua linha de defesa, de onde deveria partir o ataque, era encoberta pelas matas que iam até POTREIRO PIRES.
Por detrás das matas, LÓPEZ tomou seu dispositivo, dividindo-se em 3 grupamentos: direita, centro e esquerda. O efetivo de LÓPEZ em TUIUTI foi calculado em 24.200 homens, aproximadamente, sendo 6.300 à direita, 9.000 no centro e 8.700 á esquerda.- Nas trincheiras paraguaias havia ainda uma reserva, de 10.000 homens, que LÓPEZ não empregou na batalha.
O grupamento da direita estava sob o comando de BARRIOS; o do centro apresentaria 2 colunas, respectivamente sob o comando de DÍAZ e MARCO; o da esquerda sob o comando de RESQUIM.
A Batalha – desenvolvimento: O Plano de LÓPEZ consistiu em efetuar um ataque frontal e, simultaneamente, dois outros de flanco, um pela direita e outro pela esquerda. Pela frente deveriam avançar DÍAZ e MARCO. Pela esquerda, RESQUIM, e, pela direita, BARRIOS.
BARRIOS avisaria o início da ação quando estivesse pronto, pois teria de percorrer grande distância por dentro do mato antes de realizar seu dispositivo. Às l1:55 horas de 24 de maio de 1866, subiu ao ar um foguete como sinal de BARRIOS. Das matas e macegas, que ficavam à direita da posição paraguaia e à esquerda do primeiro escalão dos aliados, começam a sair os primeiros elementos da coluna de DÍAZ. A Cavalaria vem na frente, de espada em punho e lançou-se contra os aliados. Os batalhões uruguaios INDEPENDÊNCIA e LIBERTAD não tiveram tempo sequer para entrar em forma. Ao mesmo tempo, foi impelido para trás o 14.° de Voluntários brasileiros da Divisão VITORINO, juntando-se-lhe a bateria oriental. A artilharia brasileira estava vigilante. MALLET abriu fogo contra os inimigos, tomando-os de flanco.
A direção que seguiam, parecia indicar que o ataque era somente contra os orientais de FLORES. Mas a Cavalaria paraguaia, depois de livrar-se de um esteiro à direita de FLORES, rodou para esse lado, ganhou terreno em nova direção e, ao chegar à altura do 1.° Regimento de Artilharia, atacou-o com fúria. As primeiras cargas foram morrer no fosso intransponível de MALLET, o mesmo aconteceu com as seguintes. “Por aqui eles não passam ! ” – exclamou MALLET, no auge do júbilo. Os esquadrões inimigos retrocedem e escoam-se para as primitivas posições. DÍAZ, em face da surpresa, prosseguiu no ataque, buscando o flanco esquerdo do primeiro escalão dos aliados.Naturalmente, para o contornar e penetrar como uma cunha no dispositivo dos aliados. Da mata à esquerda, não cessou o afluxo de reforços inimigos.
SAMPAIO acudiu pronto com a sua 3.a Divisão, “ENCOURAÇADA”, amparando FLORES. Contra-atacou com uma inflexão para a esquerda.A luta sustentada por SAMPAIO transforma-se num morticínio terrível, em face dos constantes ataques paraguaios. SAMPAIO cavalga, trajando o seu belo uniforme de general, bordado a ouro, à frente de suas tropas. E ordenou estender linhas e avançar.O inimigo recuou até a mata. E de lá voltou carregando sobre a ENCOURAÇADA, fazendo-a retrair.Depois de 5 horas de combate, SAMPAIO foi substituído no comando por MACHADO BITTENCOURT, em face dos graves ferimentos recebidos na sua heróica luta. OSÓRIO tomara a liderança da peleja, e a tudo coordenava e impulsionava; viu-se na contingência de reforçar o flanco esquerdo da 3.a Divisão. Determinou que uma Brigada da 1a Divisão, ARGOLO, sob o comando desse General, corresse para sustar a brecha que ameaçava dilatar-se. Na retaguarda de ARGOLO, OSÓRIO engajou outra Brigada da 4.ª Divisão, GUILHERME, que comandou pessoalmente, dirigindo-se para o flanco esquerdo do primeiro escalão do Exército aliado.
O conjunto de tropas que aí atuou, toda a 3ª Divisão (SAMPAIO – BITTENCOURT), 1 Brigada de ARGOLO e outra Brigada de GUILHERME, além dos orientais, detiveram o inimigo e o fez retrair pela brecha entre a esquerda da artilharia oriental e a mata.
Ao mesmo tempo em que a Divisão SAMPAIO enfrentava a luta à esquerda, a 6.ª Divisão VITORINO fechou a brecha entre as tropas de FLORES e a Artilharia de MALLET. Assim, a frente do primeiro escalão ganhou consistência, frustrando o plano de os paraguaios penetrarem vitoriosos no interior da posição aliada.
No flanco esquerdo, BARRIOS penetrou em massa no POTREIRO PIRES, defendido pela Brigada de NETO, montada em cavalos amilhados, que recuou lutando e retardando até atingir antiga trincheira paraguaia junto à passagem no ESTEIRO BELLACO, ao Sul. OSÓRlO fez convergir para o flanco esquerdo várias unidades e entregou a direção da defesa nesse flanco ao Gen MENNA BARRETO, que, com sua 2.ª Divisão de Cavalaria, se juntou a outros elementos em luta. Com elementos de Infantaria, Cavalaria e Artilharia, atuando na direção geral leste-oeste e norte – sul, através do mato e do POTREIRO PIRES, OSÓRIO neutralizou a coluna de BARRIOS.
Quase ao mesmo tempo em que os paraguaios iniciavam o ataque contra os brasileiros, vários Regimentos de Cavalaria das forças de RESQUIM, na extrema direita aliada, fazendo um rodeio com o intento de envolver esse flanco sob cuidados dos argentinos, arrojam-se por surpresa contra a reduzida cavalaria correntina, que se encontrava a pé, e a dispersaram . O ataque generalizou-se em todo o flanco direito. Forças de Cavalaria e Infantaria paraguaias atiram-se contra o 1.° Corpo de PAUNERO. Um dos Regimentos de Cavalaria paraguaio penetrou pelo flanco direito de PAUNERO até a sua artilharia, porém foi destruído pelos argentinos. O inimigo quebrantado pôs-se em retirada, perseguido pelos infantes argentinos. O Gen OSÓRIO, à frente de alguns Batalhões, correu para a direita em auxílio dos argentinos, mas verificou ao chegar que o inimigo já fugia em debandada. As 16:30 horas, a batalha estava terminada e constituiu uma brilhante vitória dos aliados sob o comando do General Osório, foi a maior batalha campal até hoje travada na América do Sul .
Conclusões sobre a Batalha de Tuiuti
O plano ofensivo de LÓPEZ, com o objetivo de destruição das forças aliadas no interior das suas posições em Tuiuti findara em malogro, pondo fim à sua capacidade ofensiva tática . A defesa coordenada de maneira dinâmica por OSÓRIO, não permitiu ao inimigo nenhum êxito nas direções combinadas de ataque, quer na ruptura, quer no duplo desbordamento tentados e repelidos .
A brecha conseguida por DÍAZ na esquerda foi imediatamente tamponada graças à intervenção do comando brasileiro e ao emprego judicioso da massa no momento oportuno.
O ataque de BARRIOS pelo POTREIRO PIRES era magnífica artimanha, porque golpeava de flanco, por inteira surpresa, encontrando apoio na vegetação. BARRIOS foi, entretanto, rechaçado graças à valentia dos soldados brasileiros, inclusive os do General Neto, antigo chefe farrapo, com o concurso de seus esquadrões de cavalos amilhados, que desempenharam importante função no retardo de BARRIOS até a chegada de reforços enviados por OSORIO .
Os argentinos, por seu lado, fizeram frente, com galhardia, às investidas de RESQUIM. A bravura das tropas aliadas, o seu dispositivo racional em profundidade no estacionamento e a rapidez com que os escalões sucessivos foram utilizados, para manter a posição mediante contra-ataques oportunos, salvaram a ALIANÇA de um transe verdadeiramente perigoso.
LÓPEZ soube tirar partido do terreno para a execução do seu plano, que nada mais seria do que uma combinação de manobra de ala por duplo desbordamento, com uma tentativa de ruptura, em ações simultâneas. Não tirou partido de sua artilharia, inativa durante toda a batalha. Segundo informações, LÓPEZ ordenara a seus generais que efetuassem os ataques de flanco com todo o vigor; pretendia, assim, obter uma destruição completa dos aliados.
Durante a batalha, OSÓRIO demonstrou mais uma vez o seu valor como tático. Infundiu coragem a todos pela sua atitude pessoal.Exibiu sua bravura para estimular energias .Teve a percepção exata dos pontos capitais da linha de batalha e neles concentrou esforços decisivos para quebrar a arremetida do inimigo. Lançou mão, com oportunidade, de suas reservas. Foi um chefe em toda a extensão da palavra.
Os brasileiros pagaram o maior tributo entre os aliados: 719 mortos e 2.292 feridos; perderam diversos oficiais superiores e um General, o bravo SAMPAIO, comandante da 3.ª Divisão, Divisão ENCOURAÇADA.
Em agradecimento à vitória, Osório mandou reunir no campo de batalha, à noite, todas as bandas e tropa que, em vigília, cantaram a canção do Exército Imperial – “Ó Virgem da Conceição”, segundo o General Raul Silveira de Melo.
A situação após Tuiuti: Depois da batalha de 24 de maio, a situação dos aliados ficou assim: O Exército em TUIUTI, ligado à sua base de operações no PASSO DA PÁTRIA; Esquadra de TAMANDARÉ no flanco esquerdo fundeada a 5 milhas à jusante da fortificação paraguaia de CURUZU, no lugar denominado VOLTA DO PALMAR, no rio PARAGUAI.
Que linhas de ação poderiam então surgir? Continuar o movimento do Exército na direção de HUMAITÁ, pelo caminho direto, atravessando o Esteiro ROJAS? Desbordar pelo flanco direito, já que no esquerdo a LAGOA PIRES se opunha a qualquer progressão?
E relativamente à Esquadra? Atuando isolada, subir o rio, forçar as baterias disseminadas pelas suas margens e ultrapassar as fortificações? Articular bem os seus movimentos com os do Exército, e o conjunto atingir o objetivo principal?
A Batalha de TUIUTI demonstrou o poder dos aliados, mas também colocou em relevo os perigos a que se expunham penetrando às cegas em terreno que lhes era desconhecido e sem dispor dos meios adequados para uma ação decisiva..
LÓPEZ, após a batalha, tratou de reconstituir o seu Exército.Por maior que fosse o seu orgulho, a realidade havia comprovado não lhe ser possível afrontar em campo aberto o Exército inimigo que ali lhe tirou a capacidade ofensiva tática de seu Exército. Só lhe restava a defensiva e a renúncia às operações de grande importância. Ocupou-se então em aumentar o seu Exército e apressar as obras de fortificações e guarnecê-las com canhões de todos os tipos. Em meados de julho, começou LÓPEZ o bombardeio do acampamento aliado, sem grandes resultados. Realizou algumas investidas sobre as posições aliadas, entre elas, a mais importante, resultou nos combates de IATAITI-CORA em julho de 1866; ainda que não ocasionasse danos vultosos, acarretou perdas de vidas preciosas.
Quanto aos aliados, a situação obrigava suas forças a permanecer em TUIUTI, aguardando o recebimento de novos meios que tornasse mais fácil o avanço para o norte, principalmente cavalos, pois a cavalaria estava praticamente desmontada. A situação logística dos brasileiros era precária. Fundamental comprimir-se a mola do apoio logístico. Devido ao estado de saúde, OSÓRIO deixou o comando do 1.° Corpo, sendo substituído por POLIDORO, no dia 15 de julho de 1866.
A Tomada de Curuzu
Ficou decidido em Conselho de Generais, no dia 8 de julho de 1866, que o 2.° Corpo do Exército, sob o comando de PORTO ALEGRE, e organizado após a rendição de URUGUAIANA, com o nome de Exército em operações na Província do RIO GRANDE DO SUL, deveria ser chamado ao Teatro de Operações, concentrando-se em ITAPIRU, para ordens posteriores e futuro emprego nas operações. A 18 de julho, ficou determinada a missão do 2.° Corpo para as próximas ações ofensivas. O efetivo PORTO ALEGRE embarcaria na Esquadra e subiria o Rio PARAGUAI. Após um intenso bombardeio da Esquadra de TAMANDARÉ sobre CURUZU e CURUPAITI, as forças de PORTO ALEGRE deveriam desembarcar e atacar as ditas posições ameaçando pela retaguarda o flanco direito das principais e extensas linhas inimigas.
-Assim passou o 2.° Corpo de PORTO ALEGRE a agir com a Esquadra. Todos os preparativos realizados, no dia 1.° de Setembro de 1866, as tropas estavam embarcadas. PORTO ALEGRE levava consigo 8.385 homens, sendo 4.141 de Infantaria, 3.534 de Cavalaria, e 710 de Artilharia. A Cavalaria estava desmontada.
Para bem compreender as operações efetuadas por PORTO ALEGRE, convém fazer um ligeiro estudo do terreno. O rio PARAGUAI, da sua confluência no PARANÁ para o norte, apresenta um trecho aproximadamente retilíneo e logo depois descreve um largo semicírculo, que vai terminar no extremo meridional da fortaleza de HUMAITÁ. Ao sul desta, a uns 5 quilômetros, os paraguaios ocupavam a posição fortificada de CURUPAITI, cujo flanco direito se apoiava no Rio.
E ela cobria, pela direita, o caminho da linha do SAUCE à fortaleza de HUMAITÁ.
LÓPEZ compreendeu que se os aliados a conquistassem, ficariam em condições de cortar a retaguarda dos defensores do SAUCE, isolando-os de HUMAITÁ. Para evitar essa possibilidade, construiu a trincheira do CURUZU, cerca de 1.800 metros mais ao sul de CURUPAITI. Antes de desembarcar as tropas do 2.° Corpo, TAMANDARÉ executou as operações necessárias para obstar a intervenção do inimigo. PORTO ALEGRE iniciou o desembarque, a 3/4 de légua ao sul de CURUZU, com absoluto êxito a 2 de Setembro. No dia seguinte, o 2.° Corpo atacou com pleno sucesso. CURUZU tinha 3.000 homens para a sua defesa, às ordens do Coronel JIMENES. Os obstáculos e a resistência dos paraguaios não detiveram o ataque de PORTO ALEGRE, que conseguiu romper a defesa inimiga e perseguí-los até CURUPAITI. PORTO ALEGRE deixou entretanto de atacar CURUPAITI por falta de reforços, de reconhecimento completo da natureza das fortificações e da distância a percorrer. Se o fizesse, teria sido um enorme desastre. Agiu bem !
L[OPEZ, indignado com a perda de CURUZU, deu ordens de dizimar um dos seus batalhões (o 10.°) que se encontrava no flanco esquerdo e não soube conter a manobra dos brasileiros. Todas as praças a quem tocou o número l0 padeceram o castigo de fuzilamento; os oficiais foram sorteados para o mesmo castigo.
O fracassado ataque a Curupaiti
A posição principal de CURUPAITI consistia em duas paralelas, as quais LÓPEZ reforçou, após a queda de CURUZU, com 90 bocas de fogo e 8.000 homens comandados pelo General DÍAZ. LÓPEZ, segundo algumas versões, para ganhar tempo e melhor reforçar suas fortificações em CURUPAITI, em 11 de setembro enviou um grupo de indivíduos com uma bandeira branca, a fim de parlamentar com os aliados. Um parlamentário entregou uma nota a MITRE, convidando-o para uma conferência com LÓPEZ entre as linhas dos adversários. Dessa conferência, no dia seguinte, nada resultou, apesar de LÓPEZ haver tentado a paz em separado com MITRE, que soube respeitar os termos do art. 6.° do TRATADO DA TRÍPLICE ALIANÇA.
Os aliados tinham combinado fazer um ataque no dia 17 de setembro, porém as violentas chuvas impuseram um adiamento para o dia 22 de setembro.
MITRE, desde o dia 13, já estava em CURUZU para dirigir as operações, o que muito contrariava PORTO ALEGRE, que desejava fazê – lo, em face do maior efetivo brasileiro.
O plano de ataque determinava o seguinte: a esquadra atacaria pelo lado do Rio, enquanto as tropas aliadas o fariam por terra. FLORES, em TUIUTI, com a cavalaria, realizaria um amplo movimento pelo flanco direito do inimigo. O Gen POLIDORO atacaria de frente as linhas de ROJAS e do SAUCE, no momento em que fosse oportuno essa ação. O ataque a CURUPAITI seria realizado por quatro colunas constituídas pelo 2º Corpo e pelo Exército Argentino.
O ataque foi impetuoso, e a primeira paralela caiu em poder dos brasileiros, apesar dos sacrifícios terríveis impostos pelo fogo inimigo. O espaço de 1.800 metros que separava o primeiro entrincheiramento do 2.° era um terreno cheio de abatises, bocas de lobo, mar de lama e finalmente com um fosso de 6 metros de largura por 5 de profundidade. Nesse espaço do terreno, as colunas assaltantes progrediam praticamente enterradas na lama e debaixo do fogo convergente das fortificações de LÓPEZ. As colunas de ataques estavam sendo dizimadas. Às 14:30, MITRE deu ordem de retirada. PORTO ALEGRE ainda faz uma última tentativa; não quer recuar. Afinal, ante a formidável resistência, PORTO ALEGRE resolve abandonar o campo da luta. CURUPAITI foi um desastre para os aliados, o que OSÓRIO classificou de hecatombe . A esquadra sofrera avarias sérias, e as forças de terra, entre mortos e feridos, tiveram 4.000 baixas. LÓPEZ perdeu apenas 250 homens! …
O resultado do desastroso ataque a CURUPAITI explicamos em 1970 em palestra sobre a Guerra do Paraguai, no CPOR de Recife, e publicada na Revista Militar Brasileira ,jan/mar 1970 , pp. 125/141 em “Evocação da Guerra do Paraguai no centenário de seu término ” e que ajuda a ter-se uma visão panorâmica light desta parte da guerra:
“Ataque a Curupaiti ! Ataque impetuoso e avassalador ! Cai a primeira linha de trincheiras! E os aliados agora sob mortífero fogo ! E o espaço até a segunda linha? Era o próprio inferno terrestre ! Abatises, bocas- de -lobo, mar de lama e de fogo ! Tempestade de chumbo ! E depois um fosso intransponível. E, por fim, o nosso recuo ! Eis os preciosos ensinamentos de Curupaiti, pagos com o precioso tributo de 4.000 baixas!
Ataque frontal a uma posição fortificada ! Ataque sem proceder-se a completos reconhecimentos.
Descoordenação dos ataques: De flanco – de fixação e frontal.
E por fim, ferido de morte o Princípio de Guerra da Unidade de Comando .Curupaiti repercute na Corte ! É impositivo o comando único Exército – Marinha.Caxias é nomeado para a função, e convida Osório para retornar. E duas grandes esperanças passaram a embalar os corações dos soldados brasileiros.
Formado por fim o Binômio ! Fulminante e avassalador !
Caxias ! – o invencível ! O pacificador ! A Espada do Império ! O estrategista – o tático ! O administrador – o diplomata ! O planejador emérito .Enfim – O arquiteto da Vitória !
E Osório ? O nome que era legenda e que é glória ! O líder sem igual no combate ! “A estrela guia em negros horizontes – no caminho da luta e da Vitória ! ”
Formado na Academia Militar das Coxilhas – na fronteira do vai e vem !Nos constantes combates .refregas – escaramuças – entreveros ! Entre” para tatás “de centauros – pontaços de lanças ! Tlin- Tlins de armas brancas – Troar de canhões – Quadrados de Infantaria ! E cargas de Cavalaria , na belicosa coreografia da Arte Militar dos Pampas ! ”
O 2.° Corpo de Exército, após o desastre, permaneceu ainda algum tempo em CURUZU exposto a qualquer ação de LÓPEZ, o que, felizmente, não ocorreu.
FLORES, em face da difícil situação política interna do URUGUAI, deixa o acampamento de TUIUTI em direção a MONTEVIDÉU, não mais voltando ao teatro das lutas por ter sido assassinado.
Em l0 de outubro de 1866, foi nomeado Comandante-em-Chefe de todas as forças brasileiras em operações no PARAGUAI, inclusive a Esquadra, o Marquês e Marechal CAXIAS, o brilhante soldado e insigne patriota, a quem a Pátria já tantos e valiosos serviços devia, pela sua abnegação e patriotismo. Em 18 de novembro de 1866, CAXIAS assumiria o comando Uma das suas primeiras providências seria o retomo de OSÓRIO ao TO, à frente de um 3º Corpo de Exército.
A Manobra de Humaitá
Em 18 de novembro de 1866, Caxias chegou a Tuiuti como comandante das forças brasileiras. Foi corrigido o inconveniente de 2 Corpos de Exército sem coordenação. E a Esquadra ficou subordinada a Caxias . Afinal, um comando único brasileiro .
Em fevereiro de 1867, MITRE, com um contingente argentino, retirou-se temporariamente para BUENOS AIRES, e CAXIAS assume o Comando – em Chefe aliado. Sua preocupação foi completar todos os meios existentes e reorganizar os Serviços. Em viagem para o PARAGUAI, CAXIAS tomara as primeiras providências para rearticular as linhas de transportes escalonadas ao longo do Rio PARANÁ, reorganizando Hospitais, inspecionando medidas para regularizar todos os Serviços.
Ao chegar, verificou que a Cavalaria do 2.° Corpo de Exército estava toda a pé, que não havia carros para empreender qualquer movimento, que não havia bois para a condução das carretas. E mais, que os dois Corpos de Exército eram inteiramente diversos em número e organização, parecendo pertencer a diferentes nações, tais eram as disparidades que neles se notavam.
A direção das forças brasileiras, também, oscilavam de acordo com o momento. Ora comandava TAMANDARÉ, ora PORTO ALEGRE e POLIDORO.
O trabalho foi insano e teve a interrompê-lo o “General cólera-morbus”. E, logo a seguir e após o General Tempestade, as grandes enchentes que muito prejudicaram a reorganização empreendida. Nada porém escapou às previsões gerais de CAXIAS, não tendo mesmo esquecido a encomenda de dois balões de observação nos EUA, que haviam servido o Exército do Norte, para reconhecimento das posições inimigas na direção de Humaitá, pois os mangrulhos( torres lembrando as de caixas dágua ) não supriam a necessidade . O moral das tropas mereceu-lhe cuidados especiais, surgindo na área do acampamento uma igreja, teatro, barbeiros e distrações sadias; criaram-se uma Superintendência de Comércio e uma Chefia de Polícia. Os prisioneiros de guerra passaram a se registrados em livro próprio, hoje no Arquivo
Histórico do Exército, depois de o localizarmos no Curso de Intendência da AMAN. Os prisioneiros disciplinares passaram a ser recolhidos num navio, e não mais em campo aberto que o obrigava a distrair grande efetivo para impedir que fugissem ou desertassem .
Desde que chegara a TUIUTI, CAXIAS era pela idéia de realizar uma manobra desbordante de HUMAITÁ pelo seu flanco esquerdo.Todo seu trabalho, em relação aos elementos combatentes e ao equipamento da retaguarda, se orientou segundo a idéia citada que adotou e fixou como elemento essencial de seu plano de manobra.
CAXIAS deslocou o 2.° Corpo de Exército para a região TUIUTI. Deixou guarnição de cerca de 1.500 homens em CURUZU, cujas posições, a 4 de julho de 1867, foram abandonadas.
O 3.° Corpo de Exército, ao comando de OSÓRIO, organizado no RIO GRANDE DO SUL por solicitação de CAXIAS, encontrava-se, no começo de julho, ao sul do rio PARANÁ.
O Terreno: HUMAITÁ estava situada numa barranca plana de 30 pés acima do nível do rio, e numa curva apertada em forma de ferradura criada pela correnteza. A barranca apresentava uma superfície côncava que permitia concentrar o fogo de todas as baterias em um ponto qualquer da curva e em especial sobre o canal de navegação junto à barranca .
Subindo o rio, não havia acima de HUMAITÁ comunicação possível com a terra antes de chegar ao PILAR , em razão do carriçal (vegetação densa de cana brava), salvo na barranca chamada TAÍ, donde partia um caminho que conduzia ao interior. Por isso, TAÍ tomou-se importante ponto de interesse militar ou acidente capital ,diríamos.
O carriçal entre HUMAITÁ e TAÍ, com a forma lembrando um losango, era intransitável em sua maior parte, havendo um ou dois caminhos pelos quais podia ser atravessado. Do lado da terra, fechava-o completamente uma selva impenetrável com uma única abertura.
Quando o rio estava baixo, havia caminho entre TAÍ e HUMAITÁ ao longo da margem, embora obrigasse a passar o Rio HONDO em canoas. Fora da fortificação de HUMAITÁ, e numa grande extensão, o terreno era coberto de pântanos que deixavam entre si línguas de terra, particularmente nas proximidades de SÃO SOLANO e TUYU-CUÉ.
Na margem direita, junto ao rio, em frente a HUMAITÁ, o terreno era inteiramente impraticável. Daí para o norte mais três léguas da foz do Rio TEBIQUARI, não podia ser feito nenhum desembarque, porque tudo era carriçal. A região de CURUPAITI cobria por W o caminho da linha de SAUCE ao Sul à fortaleza de HUMAITÁ. Da região de TUIUTI para NE o ESTEIRO BELLACO era atravessado em TIO DOMINGOS e daí para NW aparece uma pequena elevação em TUYU-CUÉ. Era um caminho que não oferecia obstáculo à Cavalaria e era de boa aplicação para as outras armas.
Apresentavam os seguintes pontos de interesse as ações nessa região: TUIUTI – Base de operações dos aliados; TIO DOMINGOS – permitia o movimento para NW sobre TUYU-CUÉ ou para o N sobre SÃO SOLANO; TUYU-CUÉ facilitava a aproximação às trincheiras de CURUPAITI, principalmente em ÂNGULO e ESPINILLO; SÃO SOLANO – facilitava o movimento para a região de HUMAITÁ, ao mesmo tempo que barrava sua saída para o interior do território inimigo; TAÍ, – interceptava o caminho do HUMAITÁ – PILAR; PILAR – lugar de possível desembarque e de passagem da fortaleza HUMAITÁ para o Norte pela margem do rio; ESTABELECIMENTO – PARE-CUÉ e TIMBÓ – regiões aproveitadas para completar a região fortificada de HUMAITÁ.
O Inimigo: LÓPEZ dispunha, em toda a região fortificada, de cerca de 30.000 homens das três armas. Eles, na maior parte em frente a TUIUTI, cobertos por fortes entrincheiramentos, guarnecidos por grossa artilharia no valor de quase 400 bocas de fogo.
Do Norte, principalmente da região de ASSUNÇÃO e de NE, da Cordilheira, haveria por certo concentração de elementos que poderiam reforçar os efetivos de LÓPEZ.
Possibilidades inimigas: Atuando ofensivamente, LÓPEZ poderia naquela situação procurar uma batalha campal fora da sua linha fortificada, na região Este de suas posições ou ,atacar as forças aliadas em TUIUTI.- Atuando defensivamente, poderia manter-se nas suas fortificações, particularmente na cidade de HUMAITÁ. Caso se tomasse para LÓPEZ impossível manter-se em HUMAITÁ, poderia ele abandonar as fortificações para oferecer novas posições defensivas ao Norte, nos rios NEMBUCO ou TEBIQUARI.
Meios Aliados: Brasileiros: 1.° C EX – ARGOLLO, 12.000 h . 2.° C EX – PORTO ALEGRE, 10.000 h.3.° C EX – OSÓRIO, 8.000 h. Tropas de Engenheiros e Transportes 2.000 h. Argentinos; GELY Y OBES, 5.000 h. Uruguaios; CASTRO, 700 h
Tudo concentrado em TUIUTI desde os primeiros dias de julho de 1867, exceção do 3.º Corpo de Exército que se reunira a 18. Dispunham os aliados ainda da Esquadra Brasileira, agora sob o comando do VISCONDE DE INHAUMA.
Missão: A Decisão de CAXIAS: Considerando as possíveis direções de atuação, decidiu CAXIAS adotar a seguinte manobra, interpretada em linguagem militar atual: Manter as posições de TUIUTI e PASSO DA PÁTRIA com o 2.° C Ex, para fixar o inimigo face a TUIUTI e assegurar a linha de transporte, ficando em condições de atacar na direção TUIUTI-HUMAITÁ. Atuar na direção TUIUTI – TIO DOMINGOS – TUYU-CUÉ com os 1.° e 3.° C EX em condições de, a partir de TIO DOMINGOS, atuar ofensivamente para NW e para o N. Forçar oportunamente, com a Esquadra as fortificações no Rio PARAGUAI.
A Execução da manobra: A realização do dispositivo se processou desde o começo de julho. O 2.º Corpo de Exército saiu de CURUZU para TUIUTI e substituiu aí o 1.º Corpo de Exército na ocupação da posição.
A 22 de julho, tem início o movimento:
Vanguarda – OSÓRIO; Grosso- GELLY Y OBES e ARGOLLO. Levam 200 carretas, 800 cargueiros e 2.000 reses. A 24 de julho, já estavam reunidas as colunas de Norte e de Sul do ESTEIRO BELLACO. A 28 de julho, foi alcançada a região de TIO DOMINGOS e logo TUYU-CUÉ, onde a 30, teve início os trabalhos de instalação.
Foram lançados reconhecimentos sobre o perímetro fortificado, em ÂNGULO E ESPINILLO e iniciou-se a ligação com TUIUTI através do ESTEIRO ROJAS, bem como a instalação de linhas telegráficas.
MITRE retornou da ARGENTINA, no dia 31 de julho, e as ações vão caracterizar-se por uma estabilização mais ou menos acentuada. A Esquadra forçou CURUPAITI em 15 de agosto e fracionada se situou entre CURUPAITI e HUMAITÁ, sendo construída uma ligação ferroviária na margem direita do rio PARAGUAI até PORTO ELISIÁRIO, tendo em vista sua manutenção. É procurado o sítio de HUMAITÁ. SÃO SOLANO foi ocupada pelo 1.° Corpo de Exército que em novembro se deslocara para TAÍ.
LÓPEZ tentou quebrar o sítio e desorganizar os aliados em sua base de operações. Atacou a 3 de novembro o 2.° Corpo de Exército em TUIUTI, onde PORTO ALEGRE conseguiu com dificuldade dominar a situação. Foi a 2.ª Batalha de TUIUTI.
Em janeiro de 1868, CAXIAS assumiu definitivamente o comando dos aliados pela retirada definitiva de MITRE para BUENOS AIRES.
A Esquadra, em 19 de fevereiro, forçou HUMAITÁ. Simultaneamente, CAXIAS atacou e conquistou ESTABELECIMENTO. No restante da frente, em TUIUTI, TUYU-CUÉ e ESPINILLO houve ataques aliados diversionários.
Em TAÍ, a esquadra apertou o cerco sobre HUMAITÁ. Alguns navios fizeram uma demonstração frente a ASSUNÇÃO. LAURELIS foi conquistada em 27 de fevereiro, e a 3 de março, LÓPEZ iniciou a evacuação de HUMAITÁ com 15.000 homens por TIMBÓ, para SÃO FERNANDO.
A 21 de março, o 2.° Corpo de Exército atacou e conquistou SAUCE e fez cair CURUPAITI. A NE o 3.° Corpo de Exército ataca PARE-CUÉ. Os defensores de HUMAITÁ (12.000 h) ainda possuíam a via do CHACO para a retirada, mas CAXIAS a interceptou em ANDAI, em 22 de maio 1868 .
Foram acionados reconhecimentos terrestres, fluviais e aéreos com balões para o Norte em busca de informações sobre as futuras resistências que LÓPEZ pretendia oferecer. Foram assinalados trabalhos defensivos em SÃO FERNANDO e TEBIQUARI.
Os sitiados de HUMAITÁ resistiram em 16 de julho a um reconhecimento em força efetuado por OSÓRIO (3.° Corpo de Exército) que perdeu 1.000 homens. A evacuação continuou e a 5 de agasto a cidadela foi ocupada enquanto, após 11 dias e 11 noites de combate no CHACO, os remanescentes da evacuação se renderam .As muralhas de Humaitá a Sebastopol sul-americana, foram dinamitadas pelo Batalhão de Pontoneiros do 2 o Corpo de Exército .Era conquistada HUMAITÁ – o objetivo militar aliado. Ali, LÓPEZ perdia a sua capacidade defensiva estratégica. A conquista de HUMAITA foi fruto de um duplo desbordamento .Fluvial pela Marinha e Terrestre pelo Exército . Os balões cativos, precursores de nossa Aeronáutica, tiveram papel relevante em esclarecer o caminho à frente até HUMAITÁ.
Conclusões: Decidida a manobra, foi executada num primeiro lance até TIO DOMINGOS e em seguida até TUYU-CUÉ. DE TUYU-CUÉ, esbarrando os aliados com a parte Este do perímetro fortificado, iniciaram o sítio de HUMAITÁ, primeiro a distancia, em PILAR e TAY e depois mais cerrado, em ESTABELECIMENTO e PARE-CUÉ, caindo CURUPAITI também em seguida pela manobra .
A Esquadra, com a cautela necessária face às fortificações de CURUPAITI e HUMAITÁ, com habilidade, cumpriu sua missão, indo a TAÍ.-HUMAITÁ, não permitia que os aliados passassem e em sua frente os deteve por dois anos. Usaram inclusive uma corrente para barrar os navios de nossa Esquadra . Era um óbice aos propósitos de progressão até ASSUNÇÃO e refletia toda a capacidade defensiva estratégica LÓPEZ. Não podendo ser acometida pelo Sul, teve de ser contornada e só o poderia por Este .Somente a manobra poderia resolver o impasse.
Por W, CURUZU mostrou a intenção de MITRE, porém CURUPAITI decepcionou-o. A manobra por E levou os aliados sob CAXIAS, bem conduzidos e orientados ,porém a batalha não realizada e somente o sítio cada vez mais apertado veio impor a evacuação a LÓPEZ. O sítio não era decisivo para os aliados, porém era inconveniente a LÓPEZ, que não desejava perder-se por inatividade um forte efetivo seu sitiado em HUMAITÁ.
As operações sob CAXIAS tiveram organização e dinamismo.Recebendo tropas aliadas estabilizadas em TUIUTI, quando MITRE se afastou pela primeira vez, levou-as até TUYU-CUÉ por TIO DOMINGOS, onde as devolveu a MITRE de regresso da ARGENTINA. Meses depois, recebeu-as no mesmo lugar das mesmas mãos, e as levou até a ocupação de HUMAITÁ. Ficou assim caracterizada a iniciativa, a operosidade de CAXIAS, ressaltando sua capacidade de decisão em contraposição à atitude indecisa de MITRE, permitindo que as operações se prolongassem indecisamente.
Depois de HUMAITÁ, era ir em busca de LÓPEZ, o que de pronto foi feito por CAXIAS que encontrou muito bem entrincheirado ao Norte do corte do PIQUICIRI,onde por uma bela manobra envolvente, através do Chaco, correndo o Risco Calculado, ao sacrificar o Principio de guerra da Segurança em beneficio do da Surpresa que obteve a nivel estratégico, desembarcou em SANTO ANTÔNIO na retaguarda profunda inimiga, e, a seguir, travou a série de batalhas chamada de Dezembrada ( ITORORÓ, AVAI e LOMAS VALENTINAS) que puseram fim à capacidade defensiva tática inimiga e o consagraram como um dos grandes capitães da História Universal.
Os acontecimentos em Mato Grosso: Laguna e Corumbá
Simultâneo aos eventos entre 1867 e 1868 em HUMAITÁ, em MATO GROSSO a reação se manifestou através da invasão da região norte do PARAGUAI por forças brasileiras partindo da região sul daquela Província. Atravessando o rio APA, o Corpo Expedicionário no valor de 1 Brigada com 3 BI, 1 Esqd e 1 Contingente de Artilharia, de efetivo aproximado de 2.000 homens, sob o comando do Cel MORAIS CAMISÃO, a 21 de abril de 1867, pisou o território inimigo. Procurando internar-se, a 6 de maio, na região de LAGUNA, travou violento combate com tropas de LÓPEZ, conseguindo expressiva vitória, a primeira naquela região; entretanto, dificuldades de toda a ordem, principalmente doenças e problemas de manutenção, que desde muito vinham pesadamente onerando as ações de CAMISÃO, impuseram o regresso ao território brasileiro da coluna que avançara.
A 8 de maio de 1867, teve início a célebre RETIRADA DA LAGUNA que deixou na História do Brasil páginas indeléveis de sacrifício, sofrimento, bravura, tenacidade e heroísmo e imortalizada, na Europa, pela obra “A Retirada de Laguna” – de Alfredo de Taunay que participou da epopéia .
Os brasileiros, a l1 de maio, transpuseram novamente o APA, agora perseguidos de perto por forças paraguaias sob o comando de URBIETA, o mesmo que massacrara ANTONIO JOÃO e seus bravos, em DOURADOS, na invasão de 1864.Durante o movimento para o norte, foram livrados vários combates, entre eles o da NHANDIPÁ ,nas proximidades de BELA VISTA, a l0 de maio de 1867. Afora esses contratempos, o “General Cólera-morbus” provocou baixas em mais da metade do efetivo da coluna. Transpondo o rio MIRANDA, em l1 de junho, chegou a coluna a JARDIM e, a 3, alcançou NIOAQUE, onde aumentaram as baixas e cessaram ações de perseguição inimiga.
A 11 de julho, foram alcançadas as margens do rio AQUIDAUANA por apenas 700 homens, restantes do primitivo efetivo depois de 34 dias de penosas jornadas de lutas e heroísmo e padecimentos sem fim. Salientaram-se nessa épica façanha os nomes de MORAIS CAMISÃO, comandante da coluna, Guia LOPES, Ten Cel JUVÊNCIO DE MENEZES, mortos antes de a coluna atingir NIOAQUE, e o Ten Cel THOMAZ GONÇALVES, sob cujas ordens chegou a coluna ao AQUIDAUANA.
Ainda em maio de 1867, ao tempo que a coluna do Cel CAMISÃO atravessava o rio APA e invadia o PARAGUAI, o Presidente da Província de MATO GROSSO, COUTO DE MAGALHÃES, tentava expulsar, mais a noroeste, os paraguaios que ainda dominavam várias regiões brasileiras ao longo do rio PARAGUAI, principalmente CORUMBÁ e COIMBRA. A 12 de junho, CORUMBÁ, atacada por forças brasileiras, foi retomada num feito memorável e com surpresa, pois atacaram na hora da sesta em que os paraguaios dormiam. Nessa ocasião, já era conhecida a RETIRADA DA LAGUNA que se processava a sudeste da Província. Somente mais tarde, após os reflexos de HUMAITÁ, DEZEMBRADA e ASSUNÇÃO, ao sul, é que os invasores paraguaios abandonariam definitivamente o solo brasileiro em MATO GROSSO.
A Manobra do Piquiciri
A Marcha do Exército Aliado para o Norte: Com a conquista, o Exército Aliado mudou sua base de operações de TUIUTI para aquela fortaleza.- Restava a CAXIAS reagrupar as suas forças, deixar alguns elementos na nova base para garanti-la e avançar no rumo do nome ao encontro de LÓPEZ.
Em face dos preparativos de CAXIAS na sua marcha para o norte, a guarnição paraguaia que ainda ocupava TIMBÓ, resolveu abandoná-la no dia 22 de agosto de 1868, deixando aos aliados plena liberdade de manobra. CAXIAS tomou as últimas providências para a sua marcha.
Ordenou que o 2.° Corpo de Exército, do Gen ARGOLO, ficasse em HUMAITÁ, guardando a Base de Operações, enquanto ele próprio, com o 1º e o 3º Corpos e mais o Exército ORIENTAL, avançariam ao encontro. do inimigo. Em razão do mau tempo, a marcha só foi iniciada no dia 19 de agosto de 1868, de PARECUÉ para PILAR .Nessa manhã, MENNA BARRETO, no comando da 1ª D C, do 1.° Corpo de Exército, passou o NEMBUCU com suas forças de Cavalaria. No dia 23 de agosto, ANDRADE NEVES, no comando da 2.ª D C do 3.° Corpo de Exército (vanguarda), avançou até próximo ao Arroio JACARÉ. O grosso do Exército continuava estacionado ao sul do NEMBUCU, embarcando o material pesado nos transportes da Marinha. Nos dias 25 e 26, o grosso do Exército Aliado marchou, estacionando ao norte do NEMBUCU, depois de tê-lo atravessado.
CAXIAS, após ouvir prisioneiros feitos por ANDRADE NEVES no dia 26, resolveu prosseguir sua marcha para o norte, atravessando o Arroio. No dia 28 de agosto, obteve informes de que LÓPEZ estava evacuando as suas posições do TEBIQUARI e se instalando próximo a VILETA, ao norte do PIQUICIRI. A vanguarda, ainda nesse mesmo dia, avançou até as linhas do TEBIQUARI.
CAXIAS, rumando para o TEBIQUARI em reconhecimento, ordenou que ANDRADE NEVES (Barão do TRIUNFO) à testa da vanguarda se apoderasse de uma cabeça – de -margem na margem direita desse rio, o que foi feito após algumas horas de luta. LÓPEZ não opôs resistência na margem esquerda do TEBIQUARI.
CAXIAS decidiu passar sem perda de tempo o TEBIQUARI, pois já tinha obtido informes de que LÓPEZ havia abandonado suas posições em S. FERNANDO e se dirigira para VILETA, a fim de organizar-se em forte posição. LÓPEZ deixou em S. FERNANDO uma guarnição bem artilhada, que foi dominada, em pouco tempo.
CAXIAS, para a travessia do TEBIQURI, lançou uma ponte. ANDRADE NEVES , durante o lançamento da ponte, para se certificar da segurança do local, mandou passar a nado 50 homens do 20.° Corpo Provisório de Cavalaria, sob o comando do Ten Cel SOUZA DOCA.
Como supunha CAXIAS, o inimigo havia-se retirado para VILETA e julgou conveniente impedir que ele levantasse obras avançadas de fortificação em ANGUSTURA, aproveitando-se da estreiteza do rio nesse ponto. Determinou que o Almirante INHAÚMA fizesse uma Divisão de encouraçados subir o PARAGUAI para obstar a realização dessa idéia. Os dias subseqüentes ao lançamento da ponte foram destinados à travessia do restante da tropa. No dia 7 de setembro, CAXIAS prosseguiu a marcha para o norte, e a Divisão da Esquadra mandada a ANGUSTURA atacava as baterias já constituídas nesse ponto. No dia 10 de setembro, o Exército, marchando paralelo à Esquadra, atingiu VILA FRANCA a 7 léguas do TEBIQUARI. Nessa ocasião, descia o rio a canhoneira americana WASP trazendo a bordo o ministro dessa nacionalidade, WASHBURN, com sua família e o pessoal da delegação.
O ministro depois de mostrar-se amigo de LÓPEZ, acobertando-o com sua proteção, convencera-se afinal do despotismo do tirano, abandonando o país. Esse diplomata era, ao que parece, um mau caráter, e suas atitudes eram dúbias .
No dia 22, a vanguarda do Exército atingiu as águas do SURUBI que dá escoamento às águas da Lagoa IPOÁ.
Foi disputado a posse do PASSO DO SURUBI que distava 2 léguas do PIQUICIRI. Graças à ação eficaz de FERNANDO MACHADO e NIEDERAUER, da vanguarda comandada por ANDRADE NEVES, os brasileiros tomaram um estandarte e conseguiram 11 prisioneiros, expulsando o inimigo do PASSO.
No dia 24, a vanguarda deslocou-se de SURUBI para o porto de PALMAS e deste porto para as margens do ESTEIRO POI, cobriu – se com postos avançados de combate em face do contato com o inimigo.
A 1 de Outubro, achava-se o Exército estacionado entre SURUBI e PALMAS, depois de 36 dias de marcha desde HUMAITÁ, numa distância de 200 quilômetros, enfrentando terreno desconhecido e pantanoso, maus caminhos, chuvas abundantes, que produziam atoleiros, e falta quase absoluta de viaturas ( carroças e carretas )apropriadas para trens e comboios.
A zona por onde LÓPEZ se retirava equivalia a um largo desfiladeiro entre o rio PARAGUAI, de um lado, e a Lagoa IPOÁ e alguns dos seus escoadouros, do outro. Os rios transversais representavam obstáculos sucessivos à marcha dos Aliados, ainda que os paraguaios não houvessem defendido com vigor os seus passos. Faltava terreno livre por onde se lançasse exploração de Cavalaria que permitisse localizar-se com a devida antecedência o grosso inimigo e as grandes linhas do seu contorno .As informações em certas ocasiões eram fornecidas apenas por desertores e prisioneiros inimigos.
A posição do PIQUICIRI: O rio PIQUICIRI é o desaguadouro mais setentrional da Lagoa IPOÁ, donde parte em forma de largo esteiro(banhado) que diminui à proporção que se aproxima do rio PARAGUAI, onde ele desemboca como uma corrente de grande profundidade. Para defender o PIQUICIRI, seria necessário estabelecer uma linha de cerca de 9 quilômetros, visto que, em toda essa extensão, era transponível, embora com grande dificuldade. A posição não era fácil de ser desbordada, a menos que se desse uma enorme volta pelo leste ou pelo CHACO a oeste, caso em que a posição poderia ser acometida pela retaguarda. Ao norte do PIQUICIRI começava a parte habitável do PARAGUAI, pois da sua margem se elevam as primeiras colinas. ANGUSTURA era o primeiro lugar, numa extensão de muitas léguas ao norte, onde seria possível estabelecer-se uma bateria fluvial, porque a margem do rio apresentava uma barranca côncava em forra de ferradura, e a fortificação poderia ser levantada de maneira que também servisse para cobrir o flanco direito das posições de LÓPEZ.
Foi justo na região PIQUICIRI-ANGUSTURA que LÓPEZ resolveu fortificar-se para receber CAXIAS. ANGUSTURA estava ligada a VILETA por uma linha fortificada com canhões de grosso calibre, tornando a passagem pelo rio quase impossível. A leste desses dois pontos achavam-se as LOMAS VALENTINAS, conjunto de pequenas elevações, destacando-se a coxilha ITA-IVATÉ, de onde se divisava um grande setor do horizonte. Aí estava o QG de LÓPEZ.Para o norte alguns arroios facilitavam a defesa no caso de envolvimento da posição.
O terreno situado à margem direita do rio PARAGUAI ficava definido pela região compreendida entre SANTA TEREZA ao sul e SANTA HELENA ao norte, região característica do CHACO paraguaio.
Terreno considerado passivo para operações militares, devido às condições pantanosas, de insalubridade, às vegetações profundas das terras alagadas e seu completo abandono.
O rio PARAGUAI, por suas cheias, tornava esse terreno de difícil transposição, o que dava a LÓPEZ absoluta segurança e tranqüilidade quanto às possibilidades de envolvimento dos Aliados por parte de oeste ou do Chaco .
Planos de CAXIAS: CAXIAS, antes de estabelecer um plano definitivo, ordenou a OSÓRIO proceder a um reconhecimento nas linhas do PIQUICIRI, e à Esquadra forçar ANGUSTURA, a 1 de outubro de 1868. Do reconhecimento nas linhas do PIQUICIRI, feito por OSÓRIO, ficou convencido da impossibilidade de um ataque frontal. Com os informes obtidas pela Esquadra, após ela forçar com absoluto êxito ANGUSTURA, pôde estabelecer o seu plano.Estava agora convencido de que tinha diante de si uma posição fortíssima, difícil de conquistar por uma simples manobra central de ruptura. Numa frente entrincheirada de 9 quilômetros, protegida pelas águas do Piquiciri, ligadas às águas da Lagoa- IPOÁ. .Mais a leste não se lhe deparava um local por onde os Aliados pudessem infiltrar-se com esperança de bom êxito.O que fazer?- Só havia duas linhas de ação: Contornar a posição pela direita, ou leste, ou pela esquerda, ou oeste – através do Chaco !- Pela direita, o terreno opunha a barreira insuperável de um lençol d’água.- Restava a esquerda. Aí poder-se-ia operar de duas maneiras: Levando as tropas embarcadas pelo rio PARAGUAI acima, ou fazendo-as transitar pelo CHACO, até um ponto conveniente, à montante de ANGUSTURA, e depois transportá-las para a outra margem.
A primeira solução era quase impossível, pois envolvia grandes riscos devido aos canhões de ANGUSTURA, grande massa a transportar em navios não apropriados. Restava a segunda solução através do Chaco .Esta implicava a construção de uma estrada no CHACO. Seria ela viável, embora enfrentando grandes riscos? Pensando bem suas possibilidades, CAXIAS decidiu por conduzir através do CHACO o Exército Aliado, a fim de contornar as posições de LÓPEZ em PIQUICIRI e cair à sua retaguarda profunda após largo envolvimento, aceitando o Risco Calculado ao sacrificar o princípio de guerra da Segurança( através do Chaco inundável ) em beneficio do da Surpresa de desembarcar na retaguarda profunda inimiga em SANTO ANTÔNIO
Na verdade, correu risco calculado, pois as condições das águas do Paraguai na ocasião davam uma margem pequena de aproveitamento de qualquer entrada que ali pudesse ser feita, pelo perigo de fácil inundação.
Daí o seu plano da manobra (interpretação): Forçar a passagem de ANGUSTURA e VILETA e reunir a esquadra ao norte de VILETA. Tirando o máximo partido do rio e da Esquadra, envolver a posição do PIQUICIRI por oeste. Atingir a região de S. ANTONIO, mantendo o inimigo na incerteza do local onde se daria o desembarque ou a transposição. Posteriormente coberto face a ASSUNÇÃO, ficar em condições de atuar na direção S. ANTÔNIO ITA-IVATÉ, cerrando sobre a retaguarda da posição do PIQUICIRI, a fim de conquistar ANGUSTURA e ITA-IVATÉ e destruir as forças paraguaias no seu interior.
Manter a todo custo a região de PALMAS e, posteriormente, atuar na direção PALMAS-VILETA, em estreita ligação com o ataque sobre ANGUSTURA e ITA-IVATÉ, a fim de facilitar aquela ação principal.
Analisada, essa manobra mostrava as Vantagens: Se bem sucedida, conseguiria a surpresa estratégica. Evitava a parte forte do inimigo, jogando a massa aliada contra sua retaguarda. Aproveitava o máximo a nossa superioridade naval. Maiores possibilidades de destruição do inimigo e interpor-se entre o inimigo e sua capital Assunção.
Como desvantagens: Imobilização de um forte contingente em PALMAS; isolamento inicial dos dois grupamentos de força (o principal e o secundário) e- dificuldade de manutenção das vias de transporte.
A Estrada do Chaco: Para realizar a importante tarefa de construir uma passagem pelo CHACO, CAXIAS escolheu o Gen ARGOLO:
“Encarreguei-o desta tão árdua quão gloriosa missão, fazendo justiça a seu zelo infatigável e reconhecido e à sua completa dedicação”.
No dia 15 de outubro, chegou ARGOLO às barrancas de PALMAS com seu Corpo de Exército. Logo depois atravessou o rio e acampou no local que denominam PORTO DE S. TERESA. Já fora aberta no CHACO uma picada de 1.630 metros, iniciada pelo alferes do Corpo de Pontoneiros, EMILIO JOURDAN ( Patrono de Cadeira na Academia de História Militar Terrestre do Brasil) como trabalho antecipado.A tarefa teve continuação, sendo construídas 8 pontes de circunstância para vencer os pântanos e as lagoas.Nela trabalharam arduamente os soldados do Corpo de Pontoneiros, que construiu as 8 pontes, e o Corpo de Engenheiros, que preparou ancoradouros na foz do arroios e rios que desaguavam no Paraguai, para ali permitir o embarque e desembarque de frações do Exército.
Caxias pessoalmente os verificou sob a justificativa: “Fui ver, não mandei ver !” Isso foi escutado por um dos tripulantes do barco de que se serviu .
Progrediu a estrada no rumo noroeste e, por toda a extensão do caminho feito, a tropa a consolidava com troncos de palmeiras jacarandá, por não serem firmes os terrenos do CHACO. Continuaram os trabalhos de preparação de leito e de construção das 8 pontes da estrada de 10.714 metros de extensão. Em cerca de 1 mês de trabalho, graças à prodigiosa atividade de ARGOLO, estava pronta a estrada militar pelo Chaco a 15 de novembro de 1868. Tinham-se consolidado 2.930 metros de estiva com troncos de palmeira; 6.000 palmeiras foram derrubadas para se obter o material necessário. Enquanto era construída a estrada, não se descuidou CAXIAS de reforçar, por vezes, o Gen ARGOLO.
Nesse período, determinou diversos reconhecimentos contra as posições de PIQUICIRI, com a intenção de manter LÓPEZ em sobressalto, para informar-se do que ele fazia. Isso para aferrá-lo na posição e distrair-lhe a atenção do que se passava na outra margem.
A Esquadra muito colaborou nessas operações, e tratou de concentrar-se ao norte de ANGUSTURA, na previsão de novos acontecimentos.
A Travessia do Chaco
No dia 3 de Dezembro 1868, CAXIAS fez algumas alterações na organização do seu Exército, que ficou assim articulado:
O Grupamento principal, pelo CHACO: 1.° Corpo de Exército – Gen MACHADO BITENCOURT; 2.° Corpo de Exército – Gen ARGOLO; 3.° Corpo de Exército – Gen OSÓRIO; – Cavalaria; Artilharia; Corpo de Pontoneiros;
O Grupamento secundário, em PALMAS: Brigada Brasileira – KELLY (3.000); Cont Argentino – GELLY Y OBES (4.400), Cont Uruguaio – CASTRO (300).
Em face das enchentes previstas do PARAGUAI, que se dariam justamente nessa época, CAXIAS acelerou a passagem das tropas, fazendo a Cavalaria seguir por uma estrada aberta dias antes, mais a oeste da estrada militar, estrada essa que ia ter às barrancas de SANTA HELENA, defronte ao ponto escolhido para o desembarque da Infantaria. A Infantaria, a Artilharia e todo o equipamento passaram pela estrada, de modo que, no dia 4 de dezembro, toda a tropa já se encontrava em frente a VILETA, pronta para o embarque, a fim de alcançar a margem esquerda do PARAGUAI, em SANTO ANTÔNIO, à retaguarda da posição fortificada de LÓPEZ.
Chegara o dia em que CAXIAS executaria sua manobra decisiva contra LÓPEZ, uma manobra de ala por envolvimento simples mas profundo. LÓPEZ estava situado no interior das linhas do PIQUICIRI numa defesa em posição face ao sul.Teria que reajustar-se para atender o movimento envolvente dos brasileiros. CAXIAS levara mais de 2 meses preparando a manobra – 1º de outubro a 4 de dezembro de 1868.
Deve-se levar em conta os embaraços com que teve de lutar, ou seja: abrir um caminho no CHACO; consolidá-lo; passar da margem esquerda para a direita do PARAGUAI cerca de 19.000 homens; levá-los por aquele caminho outra vez à beira do PARAGUAI, acima de ANGUSTURA; arrastar o material necessário e aprovisionar essa massa. Foi problema difícil, sobretudo naquele território e naquela época, e precisava, para sua realização com êxito, de um dilatado espaço de tempo.
O embarque das tropas se fez na noite do dia 4 de dezembro, nas barrancas da margem direita do PARAGUAI, junto ao ARROIO NEGRO, previamente preparado para essa operação. Na madrugada do dia 5 de dezembro, zarparam todos os navios para SANTO ANTÔNIO, onde desembarcaram 8.000 praças de Infantaria, Artilharia e o material respectivo. Durante todo o dia 5, ocuparam-se os navios no transporte do resto do Exército. Cabe destacar que a Esquadra soube sempre cumprir a sua parte do Plano de Caxias, de modo a completar-se com êxito total a admirável e histórica manobra de PIQUICIRI, digna de figurar nos compêndios da História Militar Mundial .
Ao pôr do sol, a Esquadra transportou o restante da tropa para SANTO ANTÔNIO, num total de 17.000 homens, entre os quais, 1.000 de Cavalaria e com montarias . A Cavalaria de MENNA BARRETO e ANDRADE NEVES ficou na margem direita. E chegando às barrancas de SANTA HELENA, embarcaram nos transportes que, descendo o rio, a levariam até PORTO IPANÉ, para um possível desembarque.
Em PALMAS, continuavam os contingentes de GELLY Y OBES e CASTRO (oriental) e o reforço de tropas brasileiras.
A travessia pelo CHACO foi feita com normalidade absoluta. Logo que os brasileiros desembarcaram em SANTO ANTÔNIO, a estrada foi-se alagando e, por onde se passava a pé antes, já navegavam lanchas a vapor, devido à rápida enchente do PARAGUAI. A manobra de CAXIAS foi coroada de êxito na sua primeira fase.Restava agora, numa segunda fase, cerrar sobre a retaguarda inimiga e buscar sua destruição. LÓPEZ foi surpreendido pelo desembarque dos brasileiros em SANTO ANTÔNIO. Esperava-os em VILETA.
Cuidaram de barrar o caminho aliado. aproveitando-se sem demora da falta cometida pelos brasileiros deixando de se apossarem da ponte de ITORORÓ; ainda no dia 5,passou a guardá-la CABALERO, com 5.000 homens e 12 bocas de fogo. Lamentável falha aliada !
Conclusões: Se há importantes ensinamentos a ressaltar nessa manobra envolvente das tropas brasileiras, destaca-se o espírito de decisão de CAXIAS em aceitar a responsabilidade de Risco Calculado, ou seja, jogar o grosso do seu Exército por um flanco desprovido de comunicações, sobre um terreno traiçoeiro pelas inundações que em pouco deveriam chegar. Somente a consciência de uma formação profissional muito firme, o espírito de decisão e o conhecimento muito bem apreendido da situação poderiam levar um chefe a tão grave e delicada solução. Se não faltou a confiança no chefe, igualmente nada faltou às tropas que concretizaram as idéias estabelecidas pela decisão, e juntos escreveram uma das mais belas páginas da Arte Militar Sul Americana, digna de estudo em todas as escolas militares do mundo. Mas Caxias não era inglês, francês, alemão ou norte-americano!… Isso formulou o Coronel Virgílio da Veiga quando aluno do Colégio Militar do Rio de Janeiro. ARGOLO deu um exemplo de férrea vontade e dedicada disciplina intelectual preparando em poucos dias, por terreno inteiramente desfavorável, o trabalho que dele esperava CAXIAS, o de construir a Estrada do Chaco para envolver por W as posições do PIQUICIRI.
-A ação envolvente pelo CHACO, ultimada dentro das limitadas concessões do terreno e das arriscadas previsões de CAXIAS, era a primeira fase desta grande seqüência:
Dezembrada: Itororó, Avaí e Lomas Valentinas
Terminado com êxito o movimento envolvente pelo CHACO, CAXIAS, atravessado o rio PARAGUAI para a margem esquerda, deixou os aliados em situação privilegiada para atuar contra a retaguardas da posição do PIQUICIRI.
LÓPEZ mantinha-se com seu grosso no interior das posições do PIQUICIRI ao sul Em ASSUNÇÃO, havia um contingente de 6.000 homens; VILETA permanecia fortemente ocupada. O terreno entre a região de S. ANTÔNIO e a região de Sanga BRANCA, à retaguarda da posição do PIQUICIRI, pela existência dos cortes do ITORORÓ e do AVAÍ, favorecia ações retardadoras inimigas. O deslocamento de CAXIAS para o Sul só poderia ser realizado em segurança, numa verdadeira marcha para o combate.
Assim, ARGOLO, logo que desceu em S. ANTÔNIO, tratou de proceder aos necessários reconhecimentos de acordo com as ordens de CAXIAS e ocupar imediatamente a ponte de ITORORÓ. Infelizmente, ARGOLO, no dia 5 de dezembro, não conseguiu o seu objetivo em face da demora nos desembarques da Cavalaria, que deveria executar tal missão, dando margem a que LÓPEZ o fizesse antes.
O avanço dos brasileiros para o sul ficara marcado para a manhã de 6, dentro da seguinte organização: Vanguarda -2.º C.Ex.+l.ª/2.ª D. C.;grosso -1.º e 3.ºC.Ex.
Itororó: Ao raiar de 6 de dezembro de 1868 as tropas brasileiras iniciaram o movimento para o sul. A vanguarda levava na frente um esquadrão de Cavalaria da Brigda de NIEDERAUER e a 5.ª Brigada de Infantaria de FERNANDO MACHADO. A seguir, todo o 2.º Corpo de Exército. Na retaguarda, marchavam o 1.º e o 3.º Corpos de Exército que constituíam o grosso. A via, que seguia para VILETA, era estreita cheia de capoeirões e acidentada.
O arroio ITORORÓ, verdadeira torrente, deslizava por entre elevados muros de rochedos. Na altura de sua ponte tosca e de madeira, possuía 3 a 4 metros de largura por uns 4 a 5 metros de profundidade.
A estrada corria entre matas até chegar cerca de 200 metros da ponte, onde formava um cotovelo. Daí tinha início forte rampa até o ITORORÓ e de acesso a sua ponte .
Ao sul da ponte, onde se colocaram as forças paraguaias, o terreno era um tanto elevado e formava uma extensa clareira, rodeada de mato espesso e com dominância de vistas e fogos sobre a ponte. Nesta clareira, havia pequenos capões, um dos quais defendia o passo. Mais ao sul havia um banhado.
LÓPEZ, ciente de que as tropas brasileiras haviam desembarcado em S. ANTÔNIO, determinou ao Gen CABALLERO que fosse ocupar as posições de modo a barrar a marcha dos aliados. Os brasileiros, na sua marcha, ao alcançarem o alto da colina ao norte da ponte, foram recebidos por uma carga de artilharia inimiga. A 5.ª Brigada de FERNANDO MACHADO encarregada do reconhecimento da ponte, avançou de baioneta calada contra a passagem do ITORORÓ, sendo impedida pelo inimigo que saiu da mata de surpresa.
CAXIAS determinou uma preparação de artilharia, enquanto ARGOLO abriu uma picada à direita e outra à esquerda, até a barranca do ITORORÓ , a fim de se aproximar com cobertura e abrigado da ponte e melhor bater o inimigo com fogos de artilharia.
ARGOLO ordena-lhes que voltem à carga com o apoio da cavalaria de NIEDERAUER. Os mesmos batalhões avançaram ,conquistaram terreno à frente e impelem os inimigos até as suas baterias. NIEDERAUER aproveitou e cruzou a ponte. Volveu à direita para desembaraçar o terreno.Aí o inimigo, com fúria, carregou novamente com suas numerosas forças, rechaçando os brasileiros de NIDERAURER que haviam cruzado o ITOR0RÓ. Nesse contra ataque da 5.ª Brigada, foi morto o seu bravo comandante, Coronel FERNANDO MACHADO.
Enquanto se desenrolam esses acontecimentos, CAXIAS foi informado por um vaqueano (guia, conhecedor da região que supria a ausência de mapas ) da existência de um passo à esquerda ( leste), por onde se poderia ganhar a outra margem do ITORORÓ.
CAXIAS planejou, então, fixar o inimigo que defendia a ponte e envolvê-lo, por leste, com o 3.º Corpo de Exército de OSÓRIO lançado contra o flanco direito de CABALLERO.
Enquanto OSÓRIO efetuava a sua manobra, CAXIAS ordenou renovadas ações sobre a ponte, com o fim de aferrar o inimigo o mais firmemente possível, para que a manobra de ala a cargo de OSÓRIO fosse bem sucedida .
Novo contra-ataque foi lançado com elementos da outra Divisão da vanguarda de GURJÃO. Ela avançou, cruzou à viva força a ponte. Foi quando NIEDERAUER, com a Cavalaria, conseguiu apossar-se de 4 canhões inimigos. ARGOLO, com o restante de suas tropas, avançou sobre a ponte, sendo ferido gravemente. O combate se transformou em terrível mortandade. GURJÃO foi também ferido ! As tropas brasileiras, sofrendo violentos contra- ataques, foram forçadas a recuar para a margem norte do ITORORÓ. A situação já era crítica. Quase toda a vanguarda fora consumida pelos contra- ataques. O que se estaria passando com OSÓRIO, a leste? Não havia sinais de ter ele atingido o flanco inimigo. Demora muito perigosa para os brasileiros!
CAXIAS não hesitou: lançou na disputa pela posse de uma cabeça de ponte o 1º Corpo de Exército ainda não empregado.
O inimigo esboçou ataque de Cavalaria que NIEDERAUER rechaçou. A seguir, os paraguaios lançaram fortíssimo e maciço contra- ataque contra o 1º Corpo de Exército na ponte.
CAXIAS contemplou o cenário e vislumbrou rápido a repercussão desse lance no resultado final da jornada. Assim, no intuito de infundir coragem às tropas, decidiu liderá-las pessoalmente e, segundo escrevemos em matéria consagradora, como o patrono da Academia de História Militar Terrestre do Brasil .
Como líder de combate, o seu maior momento foi na conquista de ITORORÓ.
Ao perceber que o seu Exército poderia ali ser detido, desembainhou a sua invencível espada de 5 campanhas, brandiu-a ao vento, e voltou-se decidido e convicente para seus liderados, e emocionado apelou com o brado: “Sigam-me os que forem brasileiros !” Ato continuo, lançou-se sobre a ponte de ITORORÓ com o seu cavalo de guerra, indiferente ao perigo e arrastando com o seu exemplo, atrás de si, eletrizado, todo o Exército detido, para colher expressiva vitória tática que colocou em perigo toda a sua brilhante manobra estratégica através do Chaco .
Ali em ITORORÓ, O inimigo foi levado de roldão, recuando sobre a estrada de VILETA; meia hora mais tarde. Às treze horas, chegou OSÓRIO com seu Corpo de Exército, após haver percorrido 3 léguas para contornar o inimigo, e não apenas ½ légua, como havia informado um vaqueano .
CABALLERO poderia ter resistido mais tempo a CAXIAS, não o fazendo em face da aproximação de OSÓRIO que ameaçava envolvê-lo. Os brasileiros tiveram 1864 baixas; os paraguaios perderam 6 canhões e 1.600 homens entre mortos e ferido. Foi o alto preço cobrado por uma demora em tomar a ponte logo a seguir do desembarque em SANTO ANTÔNIO.
Terminado o combate de ITORORÓ, era vantagem iniciar perseguição tenaz do inimigo. Ela foi feita num pequeno raio de ação, por estarem as tropas fatigadas, e o grosso Cavalaria ainda estava no CHACO à espera do embarque para atravessar o PARAGUAI. CAXIAS decidiu acampar nas imediações do ITORORÓ.
Decidiu que OSÓRIO ocupasse a posição conquistada e fizesse a cobertura o acampamento. Era necessário sepultar os mortos e cuidar dos feridos que, no conjunto, foram 1864 baixas. número expressivo, pois o ataque fora frontal.
Conclusões de ITORORÓ: Perigoso contratempo iam sofrendo os brasileiros na passagem do ITORORÓ.
Não fora a intervenção pessoal de CAXIAS, num gesto típico de liderança e chefia, talvez os resultados fossem outros, ou seja: um maior custo em vidas brasileiras para ultrapassar ITORORÓ. Sem a transposição rápida do ITORORÓ, todos os sacrifícios da marcha do CHACO estariam seriamente comprometidos, anulando os efeitos da surpresa estratégica do desembarque em SANTO ANTÔNIO. A ação desbordante tardia OSÓRIO seria evidentemente decisiva, caso a intervenção pessoal de CAXIAS não tivesse solucionado o problema de maneira frontal; entretanto, a solução retardada teria imposto maiores perdas ao 1º Corpo de Exército.Caso CAXIAS tivesse perecido ou ferido, OSÓRIO era o segundo em comando e assumiria o comando das operações. Enfim, ITORORÓ enseja muitas reflexões e ate determinar-se de quem foi a culpa do atraso em dela apossar-se tão logo houve o desembarque .
Avaí: No dia seguinte ao combate de ITORORÓ, CAXIAS, mantendo o 2.” Corpo de Exército na região da ponte conquistada, marchou com o 1º e 3 º Corpos de Exército para a Região de CERRO IPANÉ (monte), a fim de passar às cabeceiras do Arroio IPANÉ, tendo deixado de perseguir CABALLERO, que se instalou em posições a cavaleiro da estrada entre ITORORÓ e VILETA. A permanência do 2.º Corpo de Exército sob o comando do Gen JOSÉ LUIZ MENNA BARRETO, em substituição a ARGOLO, destinou-se a garantir as evacuações, sobretudo de feridos, bem como a confundir o inimigo. Vendo CABALLERO que CAXIAS se dirigia para as cabeceiras do IPANÉ, resolveu transladar alguma de suas forças para o POTREIRO VALDOVINO, no sopé de uma grande colina, como vigilância. No dia 9, CAXIAS estacionou o Exército na região compreendida entre os arroios SANTA ROSA e AVAÍ.
Ali se lhes juntaram as Divisões de Cavalaria desembarcadas em PORTO IPANÉ , sob o comando de JOÃO MANOEL MENNA BARRETO e do BARÃO DO TRIUNFO (ANDRADE NEVES). A 11 de dezembro, CAXIAS, já reforçado, retomou movimento para SE, a fim de investir VILETA.
A sua ordem de marcha foi a seguinte: Vanguarda, 3.º Corpo de Exército (OSÓRIO);Grosso, 2.º Corpo de Exército (JOSÉ LUIZ MENNA BARRETO); Retaguarda, 1º Corpo de Exército (MACHADO BITENCOURT).
Os brasileiros, para atingir VILETA, tinham de passar obrigatoriamente pelo corte do arroio AVAÍ. CABALLERO, tendo abandonado POTREIRO VALDOVINO, ocupou sul do AVAÍ, sobre VILETA, em região em que as águas do referido arroio deslizavam entre duas colinas.
Os brasileiros teriam sucessivamente que descer ao arroio, transpô-lo e, por fim, subir a colina oposta, para desalojar o inimigo que possuía domínio de vista e fogos sobre o AVAÍ, e assim, em ótimas condições para repelir os brasileiros durante a aproximação e durante o ataque. OSÓRIO avançou com o seu Corpo de Exército. Ao aproximar-se do ARROIO AVAÍ, descobriu o inimigo em sua posição. Avisou CAXIAS, que já estava em linha de batalha com uns 5.000 a 6.000 homens e disposto a travar combate.
CAXIAS concebeu logo a seguinte manobra: Atacar frontalmente para fixar e romper o dispositivo inimigo, ao mesmo tempo atacar em duplo desbordamento flancos, para atingir a retaguarda inimiga .
Ordenou a OSÓRIO que atacasse frontalmente com o 3.º Corpo de Exército reforçado pela 5ª D C de CÂMARA. Lançou sobre o flanco esquerdo o BARÃO DO TRIUNFO, à testa das 2.ª e da 3.ª D C e, pelo flanco direito, o Gen JOÃO MANOEL MENNA BARRETO, com a 1ª D C.
OSÓRIO aproximou-se do AVAI com sua força em três colunas . Com ousadia e bravura . subiu a colina do inimigo por entre uma chuva de balas e metralhas. Durante a batalha desencadeou-se uma violenta tempestade . A chuva caáa copiosa alagando o terreno e fazendo subir as águas do AVAÍ. OSÓRIO, com dificuldade, atacou a esquerda de CABALLERO com Artilharia . CABALLERO, em face do perigo, lançou suas reservas em socorro de seu flanco ameaçado e conseguiu flanquear alguns batalhões que estavam à direita da linha de ataque do 3.º Corpo de Exército. CAXIAS ordenou a OSÓRIO, nessa ocasião, que engajasse na luta a sua Reserva, o resto de sua infantaria contra o centro e a esquerda inimiga, enquanto ele próprio atacaria com o 2.º Corpo de Exército pela direita do inimigo. Como de Segurança de sua manobra, uma das Brigadas de 1º Corpo de Exército, em Reserva, deveria dirigir-se para as cabeceiras do IPANÉ, para a cobertura contra os reforços de LÓPEZ que pudessem vir de ASSUNÇÃO.
Durante o ataque do 3.º Corpo de Exército, OSÓRIO foi ferido no rosto por uma bala de fuzil, tendo de se afastar da luta por determinação de CAXIAS, depois de continuar liderando ferido, com o rosto sangrando e envolto num pano. (Hoje os fragmentos de seu maxilar e dentes extraídos se encontram em escrínio no Regimento Osório depois de, por ocasião do centenário de sua morte, havermos conseguido a sua transferência para AMAN,do Museu Histórico Nacional, e de óleos originais sobre Osório cedidos pelos Museu Nacional e Imperial ).
CAXIAS, percebendo o esforço que as unidades do 3.” Corpo de Exército faziam para manter as posições conquistadas, lançou para a frente as divisões de infantaria do 2.º Corpo de Exército e as reservas do 3.º Corpo de Exército, engajando estas últimas pelo flanco esquerdo. Os brasileiros conquistaram finalmente o alto da colina, onde se apossaram de quase todos os canhões do inimigo, que recuou para as encostas de elevação a noroeste.
CAXIAS mandou atacá-los pela 5.ª D C. Foi então que teve início o movimento duplamente desbordante da Cavalaria brasileira. ANDRADE NEVES caiu com suas duas divisões sobre o flanco direito do derradeiro núcleo paraguaio. No outro flanco, atacou JOÃO MENNA BARRETO, fechando o cerco. CAXIAS, vendo o duplo desbordamento se concretizando sobre o inimigo, determinou um derradeiro esforço aos seus infantes e aos cavaleiros de CÂMARA, lançando-os de novo para frente.
O grosso do 1º Corpo de Exército na reserva também avançou, pelo flanco direito por ordem de CAXIAS, a fim de apoiar a divisão de JOÃO MENNA BARRETO. O cerco concretizou-se. A esse círculo de ferro poucos inimigos logram subtrair-se.Uns fogem pela estrada de VILETA, outros pelas colinas que se orientam na direção de LOMAS VALENTINAS. A cavalaria persegue-os sem descanso; apenas escapam uns 200 homens, entre os quais CABALLERO. A batalha durou 5 horas. Às 13,00 horas, a vitória estava assegurada.
Conclusões sobre AVAI: Caxias, com esta vitória, colocou seu Exército em situação privilegiada para atacar LÓPEZ em LOMAS VALENTINAS, pela retaguarda.
A vitória de AVAÍ, a 11 de dezembro, abriu também aos aliados o caminho para VILETA, porto no rio, para onde o Exército logo seguiu. VILETA transformou-se em nova Base de Operações, sendo ali organizados os serviços de saúde e abastecimento.Mais para o sul, as posições do PIQUICIRI, ANGUSTURA e LOMAS VALENTINAS iriam proporcionar a CAXIAS uma oportunidade para atuar em posição central.
Lomas Valentinas: Terminada a batalha do AVAÍ, CAXIAS encaminhou todas as suas tropas para VILETA, onde acampou coberto do inimigo. Ali tratou de dar um pequeno descanso às suas tropas fatigadas e abastecê-las com víveres e munições.E, levando em conta a importância da parte logística da guerra, criou em VILETA uma nova Base de Operações(Base Logística hoje), dotando-a de armazéns e depósitos, tendo em vista o desenrolar das novas operações que se dariam contra a posição do PIQUICIRI.
JOÃO MANOEL MENNA BARRETO com a 1.ª D C, a 17 de dezembro, foi lançado em missão de exploração no rumo de leste e, ANDRADE NEVES, com a 2.° D C, na direção das LOMAS VALENTINAS, conjunto de colinas ao norte da linha do PIQUICIRI.
Terreno e Forças em presença: A posição do PIQUICIRI era formada por uma linha contínua de trincheiras traçadas ao norte do arroio PIQUICIRI, desde a margem do PARAGUAI até lagoas que não permitiam passagem a vau mais para leste. Apoiava-se a oeste nas baterias de ANGUSTURA, que barravam a circulação dos navios brasileiros no PARAGUAI. Pelo sul do arroio PIQUICIRI cercava-a uma grande mata que mascarava o seu dispositivo para quem a olhasse daquela margem. A nordeste desta posição estava a Coxilha ITA-IVATÉ que avançava para o norte, apresentando uma espécie de degrau, onde LÓPEZ instalou o seu Q G. Imediatamente a noroeste dessa coxilha, uma outra, a CUMBARITI, mais alongada na direção norte – sul, que se apresentava como novo degrau. Entre as duas coxilhas corria, na direção sul – norte, uma das cabeceiras da Sanga BRANCA, que, após inflectir para oeste, ia desaguar no PARAGUAI. Foi principalmente nas encostas oeste e norte de ITA-IVATÉ que LÓPEZ estabeleceu um linha de trincheiras, quando se deu conta de que o inimigo atacaria pela retaguarda. Nas vizinhanças norte, nordeste e noroeste das coxilhas, havia uma parte do terreno, uma pequena planície, propícia às cargas de cavalaria, o que poderia impedir energicamente as ações ofensivas dos brasileiros.
Para o acesso a ITA-IVATÉ, pelo norte, só havia dois caminhos bastante escarpados.Por leste, o acesso era franco por qualquer ponto.Pelo sul, embora apoiada em vegetação densa, era completamente aberto devido a um grande descampado denominado POTREIRO MARMOL. Este facilitava a ligação para a região leste da cordilheira. Por oeste, apenas por CUMBARITI, o terreno permitia o acesso. Entre as duas coxilhas LÓPEZ estabelecera uma linha de trincheiras e abatises. Essa era a posição muito vantajosa em que LÓPEZ colocara seu QG. Ela distava de ANGUSTURA, em linha reta, cerca de 5.600 metros. Ligando-as havia a linha contínua do PIQUICIRI que dava unidade de conjunto às posições de LÓPEZ, desde ANGUSTURA até ITA-IVATÉ.
Entre ITA-IVATÉ e ANGUSTURA, havia ainda uma série de outras menores coxilhas que com CUMBARITI e ITA-IVATÉ completavam o conjunto já mencionado de LOMAS VALENTINAS, destacando-se apenas a LOMA AUSÍLIO. Ao fortificado e poderoso conjunto de posições defensivas, voltados sobre todas as direções, foi dado o nome de “POSIÇÃO de PIQUICIRI”. Nela, LÓPEZ dispunha de 9.800 homens em ITA-IVATÉ; 3.000 nas trincheiras do PIQUICIRI; e cerca de 700, em ANGUSTURA.
ITA-IVATÉ constituía para CAXIAS o objetivo principal da posição ou Acidente capital chave. Uma vez conquistada, permitiria a destruição do mais importante grupamento de forças inimigas, facilitaria a conquista de ANGUSTURA e da linha do PIQUICIRI, e cortaria a única via de escape das forças de LÓPEZ para leste, por POTREIRO MARMOL.
Os brasileiros, concentrados em VILETA, contavam um efetivo da ordem de 19.500 homens, com o moral bastante elevado em face da série de vitórias conquistadas sob o comando de CAXIAS. Em PALMAS, havia ainda um contingente de 8.000 homens entre brasileiros, orientais e argentinos. A Esquadra, com seus navios encouraçados, supria a base de operações de CAXIAS em VILETA. Em HUMAITÁ, os aliados contavam ainda com novos contingentes em condições de auxiliarem o Exército do norte.
O Plano de Caxias para neutralizar PIQUICIRI: O problema de CAXIAS era destruir as forças da posição do PIQUICIRI.
Para isso estabeleceu um plano que em linhas gerais assim se definia: Conquistar ITA-IVATÉ atacando na direção VILETA ITA-IVATÉ; romper a linha do PIQUICIRI atacando a cavaleiro da estrada VILETA-PALMAS. Cobrir-se na região de ANGUSTURA. Fixar na direção PALMA-VILETA.
A Coxilha de ITA-IVATÉ, como referido, era acidente capital chave da situação tática. Uma vez conquistada, cairiam as restantes posições pela manobra .
A conquista simultânea da linha do PIQUICIRI acarretava a abertura da estrada de PALMAS e assim facilitava a penetração das forças de fixação concentradas ao sul do PIQUICIRI.
CAXIAS, para a execução do seu plano, deu a seguinte organização e missões as suas tropas:
O destacamento principal, sob seu próprio comando, atacaria e conquistaria ITA-IVATÉ.
A ação do destacamento principal beneficiar-se-ia da missão atribuída ao destacamento do Barão do TRIUNFO (ANDRADE NEVES), que com a 2.ª e 3.ª D C deveria desbordar ITA-IVATÉ por leste, em exploração e reconhecimento; O destacamento de JOÃO MANOEL, com a 1.ª D C reforçada com Infantaria e Artilharia, romperia as trincheiras de PIQUICIRI;o destacamento de CÂMARA, com a 5.ª D C, vigiaria ANGUSTURA; o destacamento de PALMAS aferraria o inimigo, a fim de facilitar a ação da 1ª D C pela retaguarda
A Marcha para o combate: Decidida a sua manobra marcou CAXIAS o dia 19 para inicio do movimento. Este teria de vencer cerca de 9 quilômetros até as proximidades de Coxilha de ITA-IVATÉ. Infelizmente, na noite de 18 para 19, uma chuva torrencial, que inundou várzeas e sangas, adiou a partida do Exército para a madrugada do dia 21.
O destacamento comandado por CAXIAS marchou em duas colunas em alas. A primeira, a leste, sob o comando do Brigadeiro JACINTO MACHADO BITENCOURT, e a segunda, a oeste, sob o comando do Brigadeiro JOSÉ LUIZ MENNA BARRETO.
O BARRÃO do TRIUNFO encaminhou-se ao POTREIRO MARMOL levando, na testa da coluna, a 3.ª D C, sob o comando de VASCO ALVES PEREIRA. Tendo iniciado o movimento antes do grosso aliado, à noite , ao clarear do dia chegava diante das posições inimigas. VASCO ALVES penetrou no interior do POTREIRO e arrebanhou 3.000 reses, 600 cavalos e 400 ovelhas. Cerca de meio-dia, o Exército de CAXIAS deteve-se no extremo norte das coxilhas, em frente às posições inimigas. Já próximo a CUMBARITI, CAXIAS destacou o grupamento de JOÃO MANOEL para a missão que lhe estava reservada. CÂMARA, que marchava à retaguarda do Exército, deslocou-se para tomar posição face a ANGUSTURA e aí observar o inimigo.
O 1.° Ataque a ITA-IVATÉ (21 dez de 1868) . CAXIAS, ao se aproximar da posição de LÓPEZ e selecionar as regiões de ataque, dirigiu-se para o flanco direito do entrincheiramento inimigo.
Às 15 horas, foi desencadeado o ataque em duas colunas: Ao Norte, JOSÉ LUIZ MENNA BARRETO, e ao sul, MACHADO BITENCOURT. Ambas arremeteram contra a face noroeste das trincheiras inimigas, com o apoio da Artilharia. MACHADO BITENCOURT, comandante da coluna do Sul, lançou ao ataque sua Infantaria. Avançou primeiro a 1.ª D I que, com os batalhões das diferentes brigadas estendidos em linha de atiradores, marcham contra as trincheiras inimigas. Eles galgaram a escarpa do fosso do primeiro entrincheiramento em marche – marche e com baioneta calada. Os infantes brasileiros atacaram com entusiasmo, a primeira linha de fosso e abatises. Atravessaram-na e penetraram no interior das posições inimigas, lutando com denodo contra os paraguaios.
CAXIAS, no início do ataque, determinara a ANDRADE NEVES que viesse colaborar no ataque a ITA-IVATÉ, ficando em condições de fazer junção das suas forças com o grosso do Exército atacante. No POTREIRO MARMOL, ficara VASCO ALVES, a fim de impedir a fuga paraguaia por aqueles lados. A Cavalaria brasileira, que então atacava à esquerda de MACHADO BITENCOURT, apesar de lutar em terreno completamente desfavorável, conseguiu penetrar no interior das trincheiras e auxiliar a ação, ora carregando contra os infantes inimigos, ora enfrentando os cavaleiros adversários.
O ataque da coluna de BITENCOURT conseguiu apossar-se da primeira linha de trincheira, mas pôde manter-se no interior das posições de LÓPEZ. Ficou de posse dos primeiros entrincheiramentos e de 10 canhões paraguaios capturados na luta.
A coluna do norte teve ainda menor êxito. JOSÉ LUIZ MENNA BARRETO lançou ao ataque a 3ª DI. Apesar do grande esforço desenvolvido pelos seus infantes, os paraguaios contra-atacaram de todos os lados, aproveitando-se habilmente do terreno favorável. O ataque fora impetuoso e enérgico. Os infantes brasileiros penetraram no interior das trincheiras. Tomaram três canhões paraguaios, mas, não podendo permanecer por muito tempo naquela posição, retiraram-se, para a primeira linha de trincheiras.
CAXIAS ainda dispunha de elementos para efetuar um contra-ataque de conjunto, mas esta operação demandava tempo e convinha ser feita com segurança absoluta de êxito.Além disso, a noite caiu rápido e era necessário cuidar dos feridos e reorganizar as diferentes unidades. A sua decisão, oportuna e sensata, foi aferrar-se ao terreno, sobretudo na região conquistada pela coluna de BITENCOURT, para manter excelente base de partida para novos ataques. Ao mesmo tempo que CAXIAS atacou a colina de ITA-IVATÉ, JOÃO MANOEL atacou a retaguarda das trincheiras do PIQUICIRI.
O seu ataque à linha do PIQUICIRI, executado simultaneamente com o de CAXIAS à ITA-IVATÉ, teve completo êxito e duas vantagens inestimáveis: Isolou ANGUSTURA e abriu as comunicações com PALMAS, tornado possível a junção das forças fixadoras de PIQUICIRI com as que envolveram através do CHACO .Assim, ás 17 horas do dia 21 de dezembro 1868, as forças estacionadas em PALMAS faziam junção com as forças de JOÃO MANOEL, depois de colaborar no assalto àquelas linhas, colocando os paraguaios entre dois fogos.
Quanto à missão atribuída à cavalaria de CÂMARA, com a 5.ª D C, foi executada também com pleno êxito, impedindo qualquer auxílio não só a PIQUICIRI, como a ITA-IVATÉ.
Quando os paraguaios de PIQUICIRI correm para os lados de ANGUSTURA, fugindo à pressão de JOÃO MANOEL, CÂMARA atacou para lhes cortar a retirada. VASCO ALVES que, no extremo leste vigiava o POTREIRO MARMOL, logrou arrebanhar mais 700 reses que LÓPEZ procurava recolher para a cordilheira paraguaia, onde faria sua última resistência. As ações ofensivas do dia 21 de dezembro causaram baixas extraordinárias ao Exército brasileiro, num total de 1.227 praças e 85 oficiais. As baixas paraguaias foram estimadas em 8.000, entre mortos e feridos ou prisioneiros.
O 2.° ataque a ITA-IVATÉ (27 de dezembro de 1868) . No dia 22, o Exército brasileiro conservou-se nas posições conquistadas. CAXIAS, já conhecedor da posição inimiga, que havia acometido pela região mais resistente, concebeu novos planos. Determinou que as unidades aliadas mais afastadas reunissem seu grosso, sobretudo o contingente de PALMAS. Nos dias 22 e 23, passaram de PALMAS para o norte do PIQUICIRI as forças argentinas de GELLY Y OBES, as orientais de CASTRO, a Brigada Brasileira de PARANHOS e toda a Artilharia sob o comando de EMÍLIO MALLET. Uma vez ao norte do PIQUICIRI, foram os argentinos acampar na Coxilha de CUMBARITI, à direita do grosso de CAXIAS, e os orientais entre eles e os brasileiros. No dia 23, procedeu CAXIAS a um reconhecimento da direita do inimigo e verificou a possibilidade de fazer entrar por esse lado força de cavalaria que lhe cortasse a retaguarda. Ainda no mesmo dia conheceu , por interrogatório de prisioneiros, que a posição de LÓPEZ era aberta pela retaguarda e que um ataque levado por aí seria fácil, bastando para isso fechar a linha de retirada para CERRO LEON, a leste. Como já estava aberta a estrada de PALMAS, passou a utilizá-la como via de transportes, em substituição à antiga do CHACO. No dia 24 dez 1868, foi enviada a LÓPEZ uma intimação para que se rendesse em 12 horas, intimação esta não aceita. Continuaram os preparativos para o novo ataque. A idéia era reunir o maior número possível de bocas de fogo e executar uma preparação de artilharia para facilitar o ataque final. Ao clarear de 25 de dezembro, estavam 46 bocas de fogo dispostas em semicírculo diante de ITA-IVATÉ. Às 06 horas, desencadeou-se o bombardeio contra as posições de LÓPEZ.Durou hora e meia, e cada peça atirando 50 granadas, ou 2.400 granadas foram usadas na preparação ao ataque .
LÓPEZ esteve até esse dia no seu QG em ITA-IVATÉ, mas foi obrigado a abandoná-lo, em face das poderosas concentrações de artilharia. Deslocou o seu QG mais à retaguarda, para maior proteção contra os tiros. ANDRADE NEVES, o BARÃO DE TRIUNFO, num dos ataques de reconhecimento, foi ferido no pé, sendo afastado da luta, falecendo dias após, em ASSUNÇÃO. No dia 26, chegaram de PALMAS novos reforços brasileiros, com 2 grupos de artilharia .O ataque definitivo ficou assentado para o dia 27 de dezembro.
O Exército aliado contava com cerca de 23.450 homens, assim distribuídos: 16.000 brasileiros; 6.650 argentinos; 800 orientais. A superioridade com relação ao adversário era esmagadora! – LÓPEZ, nesse ínterim, havia conseguido receber algum reforço vindo de CERRO LEON e CAACUPÉ, num total de 1.600 homens de infantaria e cavalaria. Seu efetivo total era assim de 4.000 homens, sendo pouca a artilharia.
Na manhã de 27 de dezembro de 1868, estava tudo pronto para o ataque à posição de LÓPEZ em ITA-IVATÉ. CAXIAS estabelecera no seu plano, como idéia geral, atacar ITA-IVATÉ frontalmente, cobrindo-se face a ANGUSTURA.
O ataque seria desferido, simultaneamente, por várias colunas após uma poderosa preparação de artilharia. Às 06 horas, a Artilharia iniciou a preparação.
Em seguida, passou-se ao ataque, dentro do seguinte dispositivo:
O grupamento sul – sob o comando de GELLY Y OBES, com um destacamento argentino, atacaria o reduto de LÓPEZ por oeste;
0 grupamento centro – sob o comando de CAXIAS, subdividido em duas colunas: A da direita, BITENCOURT, reforçada por CASTRO, oriental, e PARANHOS, atacaria por noroeste .A da esquerda, JOSÉ LUIZ MENNA BARRETO, reforçada pela Brigada RIVAS, atacaria por nordeste.
0 grupamento leste – formado pela cavalaria brasileira, sob o comando de VASCO ALVES, também subdividido: Coluna da 1.ª e 2.ª D C, à direita, com missão de cobrir o flanco esquerdo de JOSÉ LUIZ MENNA BARRETO. A coluna da 3.ª D C, à esquerda, com a missão de cortar a retaguarda do inimigo, interceptando a direção ITA-IVATÉ – CERRO LEON, sob o comando do próprio VASCO ALVES.
A 5.ª D C, de CÂMARA, teria a missão de fixar ANGUSTURA tal como no dia 21 de dezembro. A coluna de GELLY Y OBES pôs-se em movimento, descendo das encostas leste de CUMBARITI para o vale que a separava do inimigo. Depois volveu à direita e seguiu, contornando o sopé de ITA-IVATÉ, até encontrar ao sul, o caminho que levava às linhas do adversário. Os elementos de primeiro escalão desenvolveram-se perto das trincheiras que lhes barravam o caminho e atacaram vigorosamente os paraguaios que foram recuando. Em pouco os atacantes de GELLY Y OBES estabeleceram contato com RIVAS, da coluna de MENNA BARRETO, fechando o cerco e deixando LÓPEZ no seu interior. O resultado do avanço geral foi o recuo, em debandada, dos paraguaios que sobreviveram ao assalto.
Quanto à cavalaria de VASCO ALVES, cuja missão era desbordar completamente o inimigo pelo flanco leste, vendo as forças de CAXIAS levarem de vencida o inimigo, desbordou o mato á retaguarda de ITA-IVATÉ com uma D C, enquanto com duas outras protegeu o flanco de RIVAS, a oeste.
LÓPEZ, vendo seu Exército em debandada e perdido, conseguiu, na confusão, iludir a vigilância aliada e escapar pelo POTREIRO MARMOL para CERRO LEON, onde iria apresentar novas resistências. Os aliados, entre mortos e feridos, tiveram da ordem de 400 baixas.
CAXIAS, em ordem do dia, mencionou:
“O inimigo cortado em todas as direções e deixando o campo coberto de pilhas de cadáveres, buscou a mata que comunica com o POTREIRO MARMOL.Caíram em poder dos aliados mais de 14 canhões, uma quantidade extraordinária de gêneros alimentícios de toda espécie, munições de guerra, armamento, bandeiras e toda bagagem de LÓPEZ.”
E aí teve fim a capacidade defensiva tática de LÓPEZ!
A rendição de ANGUSTURA: ANGUSTURA, isolada desde o dia 21 em face do ataque de JOÃO MANOEL a PIQUICIRI, vinha sendo vigiada pela 5ª D C de CÂMARA. No dia 28, CAXIAS enviou intimação ao comandante da guarnição da fortaleza, não sendo atendido. Então, decidiu atacar a posição. A 29, o Exército avançou às 04 horas da madrugada sobre ANGUSTURA. Pouco antes do início do ataque, chegaram parlamentares paraguaios que, após visitarem ITA-IVATÉ a convite de CAXIAS, para se certificarem da derrota de LÓPEZ, concordaram na evacuação da fortaleza dentro de condições aceitas pelos aliados. Às 12 horas do dia 30 de dezembro, a guarnição saiu para depor as armas, num total de 350 homens. Cerca das 1300 horas do dia 30 de dezembro de 1868, as três bandeiras da Tríplice Aliança tremulavam em ANGUSTURA e estrugiu no ar uma salva de 21 tiros.
Caixias em Assunção: O primeiro cuidado de CAXIAS, depois da rendição de ANGUSTURA, foi providenciar sobre todos os serviços de modo que nada faltasse. Mereceu-lhe particular cuidado o tratamento dos doentes e feridos, tanto aliados como paraguaios. A seguir, encaminhou-se com seu Exército para a cidade de ASSUNÇÃO – objetivo político da Aliança.
Ao alvorecer de 3 de janeiro de 1869, o Exército chegou a VILETA. No dia 5, VASCO ALVES ocupou a cidade de LUQUE, a nordeste de ASSUNÇÃO, como elemento de cobertura. CAXIAS entrou em ASSUNÇÃO com o grosso do Exército Aliado no dia 5 de janeiro de 1869.
ASSUNÇÃO estava inteiramente abandonada por ordem de LÓPEZ que obrigou toda a população da cidade a evacuá-la e acompanhá-lo na sua fuga para a cordilheira, onde faria sua derradeira resistência. CAXIAS, entre outras providências, determinou uma expedição ao rio MANDUVIRÁ, pela Marinha, sob o comando do BARÃO DA PASSAGEM, a fim de destruir os últimos navios paraguaios refugiados naquele rio. A 9 de janeiro, morreu, em ASSUNÇÃO, ANDRADE NEVES.
Suas últimas palavras no auge do delírio foram:
“Mais uma carga camaradas! “
CAXIAS procurou restabelecer a comunicação fluvial com MATO GROSSO, o que conseguiu no dia 26 de janeiro pela entrada de seus navios no rio CUIABÁ.
Conclusões: Com a rendição de ANGUSTURA, tinha fim para CAXIAS a série de brilhantes operações que havia empreendido durante o mês de dezembro de 1868. Depois de longa estagnação, entrara em período de intensa atividade, praticando a guerra de movimento. O conjunto de operações de excepcional relevo, conduzidas e orientadas por CAXIAS, entre HUMAITÁ e LOMAS VALENTINAS, elevaram-no ao círculo restrito dos Grandes Capitães da História Mundial.
Desse conjunto, cumpre salientar, como fontes de ensinamento e exemplos, os seguintes acontecimentos: o avanço decisivo de CAXIAS para o norte, através de zona desconhecida, sempre inquietado por um inimigo bravo, destemido e hábil aproveitador dos acidentes topográficos locais.(Justiça seja feito ao bravo soldado paraguaio e ao intrépido General CABALLERO ); o modo de como evitou a formidável barreira organizada à margem do PIQUICIRI, graças a um movimento envolvente pelo CHACO, que foi transposto com celeridade apesar dos múltiplos embaraços que apresentou; o seu desembarque, com surpresa estratégica, em SANTO ANTÔNIO, na retaguarda profunda das linhas de LÓPEZ, depois de envolver a posição paraguaia do rIo PIQUICIRI aceitando o Risco Calculado ao sacrificar a Segurança em benefício da Surpresa; a sua liderança, como líder do combate para a conquista de ITORORÓ e como líder de batalha para a derrota de LÓPEZ em Avaí ; as operações preparatórias que executou para derrotar os adversários nas posições do PIQUICIRI ; depois o modo por que aí os investiu e destruiu , forçando LÓPEZ a escapar só com um pequeno grupo de companheiros, e. finalmente, a maneira atenciosa como acompanhou a recuperação de feridos, não só aliados como paraguaios já afastados da luta , fazendo justiça às virtudes de Firmeza e Doçura, valor adquirido com os gaúchos que pacificara em Ponche Verde ,ou seja: Firmeza, lutar com toda a garra, valor , coragem determinação e, Doçura depois do combate traduzida por respeito à religião, à vida,à honra ,à família e ao patrimônio do vencido inerme .Na Dezembrada, seguida da ocupação de Assunção, Caxias terminou a guerra no campo estratégico .Restava agora uma perseguição dos resto do Exército e de LÓPEZ.
A Campanha da Cordilheira
Terminada a epopéia da DEZEMBRADA, a capital paraguaia, ASSUNÇÃO, foi ocupada por forças aliadas. CAXIAS, no dia 5 de janeiro de 1869, à frente de seu Exército, entrou na cidade e iniciou um período de repouso e recuperação de seus efetivos. Foi organizado um governo nacional paraguaio para reger os destinos da nação, sob a fiscalização inicial dos aliados. A Esquadra Brasileira, sob o comando de INHAUMA, explorou o rio PARAGUAI acima de ASSUNÇÃO até o rio MANDUVIRÁ, onde se haviam internado alguns navios inimigos, remanescentes do antigo poder naval de LÓPEZ. Considerando a situação precária em que se situara LÓPEZ, com seu Exército disperso e reduzido, quase sem artilharia, com sua esquadra destruída e o território de MATO GROSSO inteiramente liberado de soldados inimigos, CAXIAS, numa cerimônia na igreja, teve uma síncope e desmaiou batendo com a cabeça .Como já havia cumprido a sua missão consistente na conquista do objetivo militar HUMAITÁ e do político ASSUNCÃO, e sentido-se doente, a conselho médico, regressou ao Rio, passando interinamente o comando ao Marechal GUILHERME DE SOUZA. Em seguida, retiram-se OSÓRIO e ARGOLO, e, mais tarde, faleceram MACHADO BITENCOURT e INHAÚMA. O governo Imperial nomeou o Conde D’EU comandante das forças no PARAGUAI, o qual chegou a ASSUNÇÃO no dia 14 de abril de 1869. O Exército Aliado foi reorganizado para o capítulo final da luta contra LÓPEZ e retornariam ao TO – OSÓRIO e POLIDORO.Reorganização e rearticulação do Exército Aliado, com cerca de 22.000 homens distribuídos pelo 1.º Corpo de Exército, com 1 DI e 2 DC e na região entre LUQUE e AREGUÁ, sob o comando de POLIDORO e pelo 2.º Corpo de Exército, com 1 DI, 2 DC e 4.000 argentinos estacionados em LUQUE (proximidades de LAMBARÉ), sob o comando de MENNA BARRETO, e diversos destacamentos esparsos, principalmente em HUMAITÁ, ASSUNÇÃO e ROSÁRIO (norte de ASSUNÇÃO, no Rio PARAGUAI).
LÓPEZ, não se considerava vencido na região serrana para onde conseguira retirar-se. Desafiava, os aliados que não haviam podido neutralizá-lo. Conseguira com diminutos remanescentes de seu destruído Exército fugir e alcançar a Cordilheira, mais a leste, na região CAACUPÉ-ASCURRA-PERIBEBUI, onde se fortificou e se instalou defensivamente.Na Cordilheira, declarou PERIBEBUI a nova capital e ali passou a concentrar todos os recursos que apressadamente convocou e mobilizou. Em pouco tempo, conseguiu novos meios que lançou à luta até 1870. Rápido, reuniu nas novas posições, cerca de 13.000 combatentes, estando o grosso em ASCURRA e CAACUPÉ.
O Teatro de Operações na Cordilheira: Os principais acessos para PERIBEBUI eram marcados pelas regiões de ALTOS e ATIRA. A noroeste, ASCURRA e CERRO LEON. A oeste, VALENZUELA. A sudeste, dando uma larga volta ao sul por PARAGUARI.E, CAMPO GRANDE, a nordeste. Os caminhos mais curtos eram por ASCURRA e CERRO LEON. No entanto, extensos desfiladeiros dificultavam sobremodo a aproximação direta a PERIBEBUI.
Essa parte do território paraguaio, onde se fortificara LÓPEZ, oferecia-lhe ainda apreciáveis recursos para a continuação da luta que pretendia manter. Mas, a partir dali, à medida que fosse se internando para a região mais definida da Cordilheira, para o norte e nordeste, os locais se apresentariam mais pobres e cada vez mais difíceis. Mais para o norte, o terreno se caracterizava pelo grande divisor de águas entre os tributários do rio PARAGUAI, a oeste, e o rio PARANÁ, a leste.
O Terreno era difícil para operações militares. Dispondo de escassos recursos, sem comunicações e cada vez mais pobre e hostil à proporção que se prolongava para as serranias ao norte.
A Campanha da Cordilheira é dividida em duas fases: a Manobra de PERIBEBUI e a Perseguição. A Manobra do PERIBEBUI inclui as operações que se realizaram após a ocupação de ASSUNÇÃO e o combate de CAMPO GRANDE. A Perseguição abrangeu as ações após o referido combate e a morte do Marechal LÓPEZ em CERRO CORÁ.
Geograficamente, a primeira fase, Manobra de PERIBEBUI, é situada na zona serrana da Cordilheira ao sul do Rio JEJUI; a segunda fase, Perseguição, na mesma zona serrana, mais limítrofe do BRASIL, ao norte do rio JEJUI e ao Sul do rio APA.
A Manobra de Peribebui: Inicialmente, para o comando aliado, tratava-se de precisar o contorno da posição de LÓPEZ, restringindo-lhes os movimentos e apossar-se das regiões onde se supria. Da região de LUQUE o movimento aliado alcançaria, a 25 de maio, a linha PIRAJUTAQUARA, onde foi atingida a base ocidental da Cordilheira e foram ampliados os reconhecimentos sobre as regiões de PARAGUARI, CERRO LEON e IBICUI, permanecendo o grosso face ao desfiladeiro do ASCURRA. Em pouco tempo, estava delineada a posição inimiga.
Para cercear os movimentos de LÓPEZ e desfalcar-lhe as fontes de suprimentos, diversas expedições foram lançadas, devendo ser destacadas as seguintes: Para o norte do rio MANDUVIRÁ, com destino a ROSÁRIO e SÃO PEDRO, sob o comando de CÂMARA, que deveria operar no vale do rio JEJUI e aí anular as possibilidades de recrutamento e suprimentos favoráveis a LÓPEZ. Para sudeste, com destino à região de IBICUI, onde deveria ser destruída a fundição de ferro que supria LÓPEZ, foi enviado o Coronel CORONADO, que no decorrer do mês de maio cumpriu sua missão. Para a região de IBITIMI, foi lançado, em junho, o General JOÃO MANOEL, na direção SAPUCAIA – IBITIMI, e que após atingir a região de IBITIMI, liberoucerca de 10.000 pessoas e inflectiu para a região de IBICUI, onde completou a destruição da fundição de ferro, regressando a PARAGUARI. O General PORTINHO, que se achava em ITAPUÃ, sobre o Rio PARANÁ, foi chamado para a região das operações, devendo progredir na direção do nordeste; alcançando a região de VILA RICA. Atravessou o rio TEBICUARI e prosseguiu para atingir ASSUNÇÃO, em agosto de 1869. Todas as expedições foram realizadas á viva força, comportando destruição de destacamentos inimigos, libertação de prisioneiros e neutralização sistemática das facilidades de recompletamento e manutenção, que poderiam beneficiar o grosso de LÓPEZ no PERIBEBUI. Além dessa, tiveram ainda o caráter diversionário, levando certa confusão a LÓPEZ sobre a região selecionada pelo Conde D’EU para lançar a investida contra o seu principal reduto. Reconhecida a posição inimiga, cumpria então conquistá-la.
Para tal, estas eram as possíveis linhas de ação:
Fixação frontal – envolvimento pelo sul. Fixação frontal – envolvimento pelo norte. Fixação frontal – duplo envolvimento. Ataque frontal com ação secundária num ou nos dois flancos.
A linha de ação adotada: a de fixação frontal face a ASCURRA e envolvimento por VALENZUELA, a fim de atacar pela retaguarda, sucessivamente, PERIBEBUI e CAACUPÉ, e guardar as saídas norte por ALTOS e ATIRÁ. Assim, a ação principal far-se-ia pelo acesso mais desguarnecido pelo inimigo, evitando-se jogar o grosso aliado no terreno desfavorável dos estreitos desfiladeiros e realizando um ataque decisivo pela retaguarda ou pelo flanco da posição.
A manobra obrigaria o inimigo ou a se retirar das suas posições do ASCURRA para um combate de encontro, em terreno mais espaçoso para a manobra aliada ou ,a permanecer nas posições, onde poderia ser batido pela retaguarda. A ação montada dificultaria a retirada de LÓPEZ, pela ação lançada ao norte.Contudo, tinha a desvantagem de usar uma via de acesso demasiado longa e afastada das Bases de Operações, bem como dissociar as ações mais importantes pelo seu afastamento e dificuldades de comunicações.
PIRAJU seria a região de partida da manobra, e PERIBEBUI, o primeiro objetivo. O 1.º Corpo de Exército, sob o comando de OSÓRIO desde junho e, o 2.º Corpo de Exército sob o comando de POLIDORO, num total de 16.000 h, iniciaram o grande movimento a 31 de julho, acompanhados por 900 argentinos. Em PIRAJU – TAQUARAL ficaram forças brasileiras e argentinas, num total de l0.000 h, destinadas à ação frontal e às operações em ALTOS e ATIRA. Anteriormente, saíra de PARAGUARI o General JOÃO MANOEL com uma coluna de cavalaria reforçada, com a dupla missão de cobertura ao movimento e de interceptação a possíveis reforços destinados a LÓPEZ, orientados de VILA RICA.
Transposto o desfiladeiro de SAPUCAIA, o exército alcançou e ocupou VALENZUELA a 6 de agosto, colocando-se assim nas proximidades da posição inimiga. Para atingir PERIBEBUI, o Conde D’EU prosseguiu em duas colunas convergentes sobre o objetivo. A partir do dia 9 de agosto, os 2 Corpos de Exército ocuparam posições nas circunvizinhanças de PERIBEBUI e barraram as saídas para nordeste, apossando-se de BARREIRO GRANDE. No dia 12, após forte bombardeio da artilharia brasileira, as tropas avançaram pelo norte, por leste e pelo sul. Foram capturados mais de 1.000 soldados de LÓPEZ e 19 peças de artilharia ao ser ocupada a cidadela. Simultaneamente, pelos lados de ALTOS e ATIRÁ, as tropas aliadas haviam, no dia 11de agosto, conquistado essas regiões após pequenas combates.
De PERIBEBUI, o Conde D’EU se lançou sobre CAACUPÉ, enquanto que a tropa aliada de ALTOS, sob o comando do argentino MITRE, prosseguiu sobre TOBATI, a fim de interceptar as saídas de LÓPEZ por CAMPO GRANDE. Retirando a tempo suas tropas de ASCURRA, conseguiu LÓPEZ retirar-se na direção de CARAGUATI para furtar-se ao cerco.
O 1° Corpo de Exército prosseguiu no encalço de LÓPEZ na direção CAACUPÉ – CAMPO GRANDE, enquanto o 2.” Corpo de Exército, com VITORINO, atingiu BARREIRO GRANDE a 15 de agosto, para ainda prosseguir sobre CAMPO GRANDE, atuando na direção sul-norte
Na vanguarda do 1º Corpo, marchava o General VASCO ALVES, e, na do 2.° Corpo, o General CÂMARA que, às 07:00 horas do dia 16, assinalou dispositivo inimigo em posição de combate na região da planície de CAMPO GRANDE. O 1° Corpo de VITORINO, às 11:00 horas, vindo de sudoeste, iniciou o ataque auxiliado pelos elementos de CÂMARA. Durante o combate, surgem as tropas de infantaria do 2.º Corpo que completam o aniquilamento das últimas resistências, após quase 06 horas de combate. Em CAMPO GRANDE, ACOSTA NHÚ, LÓPEZ lançou na resistência meninos disfarçados de adultos que foram massacrados pelos aliados. Foi lamentável a atitude de LÓPEZ em engajar para morrer expressiva parte de meninos paraguaios. É uma questão a ser respondida sobre quem pesa a destruição desses meninos. Dos Aliados, que os encontraram armados, ou dos líderes paraguaios, que os lançaram numa luta suicida .
LÓPEZ mais uma vez conseguiu escapar, enquanto CABALLERO combatia. Mas deixaria, de cada vez, uma parcela do seu poder de luta. Em CAMPO GRANDE, complemento da ação de PERIBEBUI, ficaram 2.000 mortos, 1.300 prisioneiros, 23 peças de artilharia e inúmeras carretas de munições. Durante o mês de agosto, LÓPEZ perdeu cerca de 9.000 combatentes.
Conclusões
A manobra concebida, no seu conjunto, foi coroada de êxito. Os objetivos foram conquistados. LÓPEZ foi forçado a abandonar as posições e livrar – se de ações, como a de CAMPO GRANDE, que lhe foram bem desvantajosas . As ações aliadas foram bem planejadas e coordenadas.Foi evitado o forte inimigo e procurada a sua região mais crítica, a retaguarda. Foram amplamente observados os princípios de guerra da OFENSIVA, MANOBRA, UNIDADE DE COMANDO, SEGURANÇA e SURPRESA. Combinaram-se direções numa manobra de ala por envolvimento.
Quanto a L0PES, sua atitude caracterizou-se por uma defensiva contínua, no interior das posições organizadas. Ele foi, como em HUMAITÁ e ITA-IVATÉ, estático, assistindo às manobras inimigas para, finalmente, procurar escapar-se e jogar em CAMPO GRANDE meninos paraguaios numa resistência suicida e sem perspectivas de vitória.
A Perseguição
A perseguição a LÓPEZ iniciou-se implacável com o deslocamento da região de CARAGUATAI, no dia 18 de agosto de 1869, e terminando no dia 1º de março de 1870, em CERRO CORÁ, próximo à fronteira sul de MATO GROSSO.
Em cerca de seis meses e meio de Perseguição a LÓPEZ, grandes distâncias seriam percorridas – 300 km em linha reta entre CARAGUATAI e CERRO CORA. Vale lembrar que até em território brasileiro LÓPEZ buscou abrigo durante sua fuga. De CAMPO GRANDE, com seus remanescentes, ele atingiu CURUGUATI, nova capital desde 31 de agosto, após ultrapassar as regiões de CARAGUATAI e SANTO ESTANISLAU, sempre com as forças aliadas no seu encalço.
Para dificultar ao máximo a sua fuga e impedir que ele criasse novos recursos para, prolongar a luta, o Conde D’EU realizou a seguinte articulação dos aliados: O Gen PORTINHO, que se achava em ASSUNÇÃO, deveria ocupar VILA RICA, a fim de impedir o fluxo de recursos que do sul eram enviados para LÓPEZ. O Gen CÂMARA teria a seu cargo as operações que se efetuassem ao Norte do corte do JEJUI . O 2.º C Ex, sob o comando de V I T O R I N O, permaneceria em CARAGUATAI, enquanto destacaria uma coluna com RESIN para ocupar SÃO JOAQUIM. O 1.º C Ex, ao comando de MENNA BARRETO (OSÓRIO havia se retirado por doente) deveria seguir para ROSÁRIO e daí por SANTO ESTANISLAU e atuar contra CURUGUATI.
Seguindo o plano ,o 1º C Ex, da região de CARAGUATAI, contra – marchou para o passo do MANDUVIRÁ, a 1,5 légua de VILA DUARTE, e daí para ARECUTAGUÁ, ao Sul do corte do PERIBEBUI, já que a região anterior não era própria para o estacionamento da tropa. Após descanso de 11 dias, o 1º C Ex deslocou-se por terra e parte pelo rio para a região de ROSÁRIO. A despeito dos cuidados e das recomendações do Conde D’EU para que os fornecedores entrassem com os gêneros necessários à campanha que se ia empreender, com dificuldade se pôde reunir o necessário. Houve uma desconfiança contra os fornecedores de alimentos, e o Exército aliado passou privação. Para compensar, o Conde D Eu teve de adquirir com urgência sardinha de Nantes. Até então, o grosso da alimentação era o charque, para que se poupassem as 900 reses que estavam de reserva. Assim mesmo, dias houve em que nada se distribuía ao exército em farinha, charque ou qualquer gênero.Felizmente, nas proximidades de Vila do ROSÁRIO, havia extensos mandiocais, milharais e canaviais, o que por si constituíram o único alimento das Tropas.
Sobre a alimentação corria entre os solados estes versos segundo Dionísio Cerqueira:
“Osório nos deu churrasco e Polidoro, farinha . O Marquês( Caxias) nos deu jabá e sua Alteza ( Conde DEu) ,sardinha.”
De ROSÁRIO, o 1.° Corpo alcançou SANTO ESTANISLAU no dia 13 de Outubro, e, logo em seguida, CURUGUATI. LÓPEZ rumou para o norte na direção de PANADERO, onde ficou até 28 de setembro, quando se dirigiu para leste e penetrou em território brasileiro . Prosseguindo para o norte, regressou ao PARAGUAI, por PONTA PORÃ, em 27 de janeiro de 1870.
O 2.° Corpo lançou RESIN que ocupou SÃO JOAQUIM a 22 de Setembro. Mais tarde, em outubro, o 2.° Corpo deixou CARAGUATAI e se dirigiu para ROSÁRIO, em perseguição, visto o inimigo estar atuando em fuga para a região norte do país. VILA RICA foi ocupada pelo Gen PORTINHO, isolando o inimigo de qualquer recurso do sul do PARAGUAI. A 16 de outubro, CÂMARA, com 1 Brigada de Infantaria, 2 de Cavalaria e 200 artilheiros, no cumprimento da missão que recebera de atuar ao norte do rio JEJUI, chegava na região de CONCEIÇÃO, de onde começaria a operar contra contingentes paraguaios dispersos pela região. De CONCEIÇÃO, CÂMARA lançou destacamento para o norte até BELA VISTA, no BRASIL. Para o sul, até CACHITAGUÊ e, para leste até PACOVA, onde que derrotam elementos inimigos na sua avançada. Todas as ações referidas foram sempre realizadas sob constantes lutas contra destacamentos inimigos dispersos, porém com ardor combativo elevado pelo fanatismo e dedicação a LÓPEZ.
Ao sul do rio JEJUI, as tropas aliadas reajustaram seu dispositivo, ficando os dois Corpos de Exército operando, em destacamentos eventuais, sobre regiões em que eram assinalados elementos paraguaios em armas a favor de LÓPEZ, sendo CURUGUATI o centro de gravidade desse dispositivo. No reajustamento realizado pelo Conde D’EU, no final do ano de 1869, CÂMARA recebeu ordens para operar, de acordo com as circunstâncias, ao norte do corte do rio JEJUI, visto já ser notória a fuga de LÓPEZ para a região da Serra do AMAMBAÍ.
Uma das primeiras iniciativas de CÂMARA foi avançar até MIRANDA, precedido por uma coluna sob o comando de BENTO MARTINS, que lhe informou haver LÓPEZ regressado ao território paraguaio por PONTA PORÁ, em fins de janeiro de 1870.
CÂMARA, que havia transposto o rio AQUIDABAN, retornou na direção sul para prosseguir na direção de CERRO CORÁ após a ele se incorporar, em 15 de fevereiro, a Brigada de PARANHOS, que havia ficado em CONCEIÇÃO.
De MIRANDA, BENTO MARTINS inflectiu para sudeste passando por DOURADOS, alcançando PONTA PORÁ e, pelo desfiladeiro aí existente, e denominado CHIRIGUELO, seguiu sobre CERRO CORÁ.
Assim, duas colunas brasileiras convergiam, uma por oeste, outra por leste, sobre a região de CERRO CORÁ, onde estacionara LÓPEZ com seus últimos elementos.
Ao aproximarem-se por oeste, as forças de CÂMARA defrontam-se com os postos avançados paraguaios, que rapidamente foram destruídos. Elementos de cavalaria avançaram até o Passo do AQUIDABAN, que foi forçado, a despeito da resistência encontrada, e investiram o acampamento de LÓPEZ. Cerca de 500 paraguaios ainda lutavam por LÓPEZ, que se achava entre eles. No entrevero, o chefe paraguaio é ferido por um lançaço e tentou empreender nova fuga através de um afluente do AQUIDABAN, o AQUIDABANIGUI, quando o General CÂMARA o intima a render-se. Forçando ainda uma reação inútil, acaba por receber um tiro de fuzil de um soldado brasileiro, quando tentava ainda lutar nas águas do arroio. E morreu de espada em punho, como um bravo coerente com seu utópico ideal que levou sua nação a uma luta impossível, quando havia saídas democráticas, sem invadir o Brasil e Argentina, sendo ele um pais mediterrâneo. Como ele poderia ter evitado esse doloroso conflito ? Eis uma questão a ser respondida pela nova dimensão da História Militar que procura isolar os mecanismos deflagradores de conflitos com vistas a evitá-los, como o foi a Guerra do Paraguai.A morte de LÓPEZ registrou o final da Campanha e da cruenta guerra que durara cerca de 5 anos, cheia de sacrifícios e penúrias .
Conclusões
A perseguição movida pelos aliados contra LÓPEZ, após a manobra de PERIBEBUI e do combate de CAMPO GRANDE revestiu-se de características próprias das ações de exploração e reconhecimento. A descentralização do comando, para melhor atuação dos diferentes grupamentos de força, impunha-se, e o Conde D’EU soube determiná-la com propriedade. A CÂMARA, situado em região ao norte do rio JEJUI, portanto em condições mais adequadas ao encontro mais provável com LÓPEZ, teria de ser dada a missão com ampla liberdade de manobra. Foi uma fase de atividades intensas de exploração, reconhecimentos e incursões que acabou como teria de terminar, dadas as condições, cada vez mais difíceis, em que se colocava LÓPEZ. CÂMARA, dentro das características da missão, das particularidades do terreno e da natureza do inimigo, descentralizou seus elementos subordinados, mas soube coordená-los no tempo e no espaço para as ações decisivas. As operações nessa fase se revestiram dos aspectos típicos de uma perseguição, que foi cumprindo sua finalidade de neutralização completa do inimigo .
Apreciação final sobre as Operações da Guerra da Tríplice Aliança
Os adversários normalmente ofereceram atitudes variadas durante os sucessivas períodos da campanha. No curso da ofensiva paraguaia, para o norte e para o sul, o BRASIL e a ARGENTINA mantiveram-se numa defensiva, com a finalidade de ganhar tempo e melhor preparação para a passagem à ofensiva. Iniciada a contra-ofensiva aliada, passou LÓPEZ, definitivamente, à atitude defensiva até o final da campanha, registrando-se duas contra-ofensivas expressivas desferidas como nas duas batalhas de TUIUTI. A maioria das manobras aliadas projetadas foram baseadas em movimentos amplos. Houve manobras de ala em HUMAITÁ, no PIQUICIRI e no PERIBEBUI e mesmo em ITORORÓ e AVAÍ, em que a decisão foi obtida pela ação dos grupamentos frontais. Na concepção inicial, CAXIAS montou desbordamentos simples e duplos, como base de obter a decisão.
Os planos iniciais contra LÓPEZ, tanto o dos aliados (MITRE),como o apresentado por CAXIAS, previam a conquista de HUMAITÁ, como ponto de ruptura da capacidade defensiva de LÓPEZ. Como manobra em posição central se constitui o Piano Ofensivo de LÓPEZ contra MATO GROSSO, CORRIENTES e RIO GRANDE DO SUL, e a ação de CAXIAS montada após AVAÍ, para investir ITA-IVATÉ, PIQUICIRI e ANGUSTURA.
O terreno, o clima, as condições meteorológicas e as de insalubridade exerceram importantes influências e servidões no desenrolar das operações. Os generais Cólera, Tifo e Terreno agravado foram grandes aliados de LÓPEZ . Na parte de apoio logístico, convém pôr em relevo que o exército não tinha Serviço de Transportes e de Aprovisionamento. Teve de organizá-los, em campanha, à base de fornecedores civis. E o suprimento de Classe I funcionou a contento até a Cordilheira, como se viu. Mas houve dificuldades dentro das circunstâncias da época .A Esquadra desenvolveu especial esforço no aspecto de apoio logístico, particularmente na parte final do ano de 1868, para vencer a enorme distância de Apoio Logístico Rio de Janeiro – Teatro de Guerra. Foi ela que, em RIACHUELO, com apoio de tropas do Exército embarcadas, que ali destruiu a capacidade ofensiva estratégica adversária e que tornou possível a transposição em Passo da Pátria e do Chaco para SANTO ANTÔNIO.
Sobre a Questão Política: Quando a guerra foi iniciada por LÓPEZ, dois problemas fundamentais pendiam de solução na política brasileiro – paraguaia: A questão de limites e a questão da navegação no rio PARAGUAI.
O tratado da TRÍPLICE ALIANÇA fixou os seguintes objetivos políticos: Derrota de LÓPEZ e do seu Governo; manutenção do equilíbrio no PRATA; a solução das questões de limites e a solução das questões de navegação.
Quando, em novembro de 1865, LÓPEZ recuou para o seu solo paraguaio, o governo do BRASIL passou a cogitar de um tratado de paz. E estava mesmo tomando as medidas preliminares, quando recebeu do governo argentino um projeto relacionado ao assunto.
Ao estudar a matéria, o Império não se conformou com as pretensões platinas no tocante a limites. Mostrou os inconvenientes de a ARGENTINA ficar de posse de toda a margem esquerda do rio PARANÁ, até o rio IGUAÇU, e toda a margem direita do rio PARAGUAI, até a Baía NEGRA. E chamou a atenção da ARGENTINA para suas antigas idéias de incorporação da República do PARAGUAI.
Cerca de três meses após a entrada dos aliados em ASSUNÇÃO, as forças argentinas ocuparam regiões à margem direita do rio PARAGUAI, o que motivou protesto do BRASIL. Após a morte de LÓPEZ, o governo brasileiro passou a considerar com o governo provisório paraguaio um tratado preliminar de paz.
Durante as discussões, para a celebração de um tratado definitivo, surgiram grandes desentendimentos entre a ARGENTINA e o BRASI, e isso quase os levou a uma nova guerra.
Decidindo-se a negociar, em separado, um tratado com o PARAGUAI, o BRASIL, a 18 de janeiro de 1872, concluiu e firmou os seguintes Tratados: Tratado definitivo de paz; Tratado de limites; Tratado para entrega de criminosos e desertores; Tratado de amizade, comércio e navegação.
Do Tratado definitivo de paz convém destacar os seguintes aspectos: Art. 2.° – Os limites do Império do BRASIL com a República do PARAGUAI serão ajustados e definidos em tratado especial… .Art. 3.° – O governo da República do PARAGUAI reconhecerá como dívida da mesma República a importância da indenização dos gastos de guerra que fez o governo de S. M. o Imperador do BRASIL e dos danos causados às propriedades públicas. Art. 7.° – Estando já pelos respectivos Estados, declarada livre a navegação dos rio PARANÁ, PARAGUAI e URUGUAI, as altas partes contratantes reconhecem em princípio e comprometem-se a aplicar desde logo nas águas de sua jurisdição as cláusulas relativas à navegação fluvial que vão exaradas no presente Tratado. Art. 8.º – É livre para o comércio de todas as nações a navegação dos rios desde sua foz, até os portos habilitados. Art. 9.° – A liberdade de navegação para todas as bandeiras, de que trata o artigo anterior, não se entende a respeito dos afluentes. Art. 17.° – O governo de S. M. o Imperador do BRASIL confirma e ratifica o compromisso que contraiu pelo Tratado de 1.° de maio de 1865, que celebrou com a República ARGENTINA e a República ORIENTAL do URUGUAI.
Conseqüentemente, obriga-se a respeitar perpetuamente por sua parte a independência, soberania e integridade da República do PARAGUAI e a garanti-la durante o prazo de 5 anos. Art. 20.° – O governo de S. M. o Imperador do BRASIL poderá, de acordo com o da República do PARAGUAI, conservar no território da República, ainda depois da data do presente Tratado, a parte do seu Exército que julgar necessária à manutenção da ordem e à boa execução dos ajustes celebrados.
Em conclusão, pode ser afirmado que o BRASIL, com a vitória obtida na campanha contra LÓPEZ, alcançou todos os objetivos políticos que tinha em vista. A questão de limites foi definitivamente resolvida e, examinando-se as propostas de limites feitas pelo Império antes da guerra e os limites indicados pelo Tratado da TRÍPLICE ALIANÇA, verifica-se que o BRASIL se mostrou generoso ao assinar o Tratado definitivo. A fronteira BRASIL – PARAGUAI foi demarcada entre agosto de 1872 e novembro de 1874. A guerra, cuja duração de 5 anos, foi por demais onerosa para o BRASIL, sob todos os aspectos. Foram levados à campanha cerca de 140.000 combatentes, sendo 12.000 da Marinha; houve aproximadamente 33.000 mortos. Na parte financeira, o BRASIL realizou uma despesa de CR$ 614.000,00, relativos àquela época.Tal despesa deveria ter sido indenizada pelo PARAGUAI, não o sendo por ter o BRASIL, posteriormente, desobrigado o governo paraguaio desse ônus.
Além da bibliografia indicada, sugere-se, para se ter uma idéia do que foi essa guerra, ler-se as crônicas sobre ela de seus participantes Dionízio Cerqueira ,em Reminiscências da Guerra do Paraguai e Memórias e Retirada da Laguna, do Visconde de Taunay, ambos patronos de cadeira da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, e mais A Solidão segundo Solano López. Os três dão uma idéia do ambiente humano em que a guerra se desenvolveu Os filmes americanos A Dança do Lobos, em seu inicio, e Tempo de Glória também. As pinturas do Tenente Cândido Lopes, que acompanhou o presidente Mitre até Curupaiti, mostram flagrantes da guerra semelhantes às pinturas sobre a Guerra de Secessão nos EUA ocorrida um pouco antes, e que se constituiu na primeira guerra total decorrente da Revolução Industrial, e a nossa Guerra do Paraguai a primeira guerra total entre nações onde o uso da máquina a vapor em navios e trens e na fabricação em série de armas e munições que tornaram inabitável a superfície do campo de batalha, determinando o uso intensivo de trincheiras e fortificações para fugir dos fogos intensos . O trem e o navio fizeram com o que o campo de batalha se ampliasse. Hoje, vive-se a realidade do MERCOSUL, um mercado que, no insondável 3º Milênio, necessitará de segurança militar. Antevendo esta possibilidade, fizemos palestra no CPOR/BH, em 1982, sob o título “A Guerra do Paraguai – um laboratório de doutrina militar pouco explorado”, e publicado na Revista Militar Brasileira, jan / mar 1982.
Seria uma análise dos ensinamentos militares a serviço da defesa do MERCOSUL.
O Conde DEu e Marechal Gastão de Orleans dá uma idéia do que observou no Rio Grande do Sul invadido pelo Paraguai e ocupando Uruguaiana .ë leitura fundamental !
Tem merecido diversas edições a obra deformadora da História desta guerra -Guerra do Paraguai – genocídio americano , cuja única preocupação foi desfazer a idéia de que existiu documento assinado por Mitre e Caxias para jogarem os coléricos no rio para contaminarem, a montante do rio PARANÁ, adversários políticos de MITRE. O General Jonas Correia foi à Argentina e, no Museu Mitre, deparou com um panfleto de propaganda política contra Mitre e sem veracidade, já que o autor da obra citada não se baseou em fontes autênticas ,integras, mas espalhava essa enorme calúnia contra o Patrono do Exército. O resto de sua obra segue a mesma linha que agrada aos cívico-masoquistas brasileiros. Calúnias como esta contra o Exército e Caxias circulam fácil. Jornalistas, em Simpósio da ESG sobre a Amazônia, afirmaram que a Midia é subsistema do poder econômico mundial e que faz o que esta deseja, e que, em relação a determinados assuntos que contrariam os seus interesses, SILENCIAM sobre eles ou os DEFORMAM. As Forças Armadas do Brasil têm sido um dos alvos do SILÊNCIO e da DEFORMAÇÃO. Constatar é obra de simples verificação e raciocínio. E a História do Brasil, a mãe da identidade e da perspectiva histórica dos brasileiros, é alvo predileto dessas agressões !
Fonte: www.ahimtb.org.br
Guerra da Tríplice Aliança
BRASIL-PARAGUAI
DOCUMENTO HISTÓRICO
Tratado de Aliança (Brasil – Argentina – Uruguai) de 1.O de maio de 1865
No ano de 1865 a Guerra do Paraguai ensejou a assinatura de um Tratado de Aliança entre o Brasil. a República Argentina e a República Oriental do Uruguai.
Os dois primeiros paises estavam em guer ra com o Paraguai. sendo que o Uruguai estava em estado de hostilidade por ver ameaçada sua segurança interna e pela vio lação de tratados internacionais.
O Tratado de Aliança – ofensiva e defen siva – teve como pienipotenciarios escolhi dos pelo Imperador do Brasil:
Francisco Octaviano de Almeida Rosa e seu Conselho;
Pelo Presidente da República Argentina: Dom Rufino Elizalde, seu Ministro e Secretario de Estado dos Negócios Estrangeiros;
Pelo Governador Provisório da República Oriental do Uruguai: Dom Carlos de Castro, seu Ministro e Secretario de Estado dos Negócios Estrangeiros.
Concorrendo com todos os meios de guer ra de que pudessem dispor em terra ou rios que Julgassem necessários. Dispunha o Tratado que, começando operação de guerra na República Argentina ou parte do Território paraguaio, limitado com esta, o comando em chefe e direção dos exércitos aliados ficariam subordinados à República Argentina.
Convencidas as partes contratantes de que não mudaria o terreno das operações de guerra, para salvar os direitos soberanos das três nações, firmavam o principio de reciprocidade para o comando em chefe, caso as operações traspassassem para, territorio brasileiro ou oriental.
Determlnava o Tratado que as forças ma- rítimas aliadas ficariam sob o comando do Almirante Tamandare e que as forças terrestres do Brasil formariam um exército sob as ordens do General-Brigadeiro Manoel Luis Osório.
As forças terrestres da República Oriental do Uruguai, uma Divisão de forças brasileiras e outra de forças argentinas deveriam formar exército sob ordens imediatas do Governador Provisório do Uruguai, General-Brigadeiro Venancio Hom.
A ordem e economia militar dos exércitos aliados dependeriam unicamente de seus próprios chefes, enquanto as despesas de soldo, subsistência. munição de guerra, armamento. vestuarlo e meios de mobilização das tropas aliadas seriam feitas à custa dos respectivos Estados, prestando-se mutuamente as Partes Contratantes todos os auxílios ou elementos de guerra.
Os aliados se comprometeriam a nao depor as armas senão de comum acordo, somente depois de derrubada a autoridade do então atual Governo do Paraguai, bem como não negociar separadamente com o inimigo comum. Além disso, não celebrariam Tratados de Paz, trégua ou armisticio, nem Convenção alguma para. suspender ou findar a guerra, a não ser em conjunto.
Não sendo a guerra contra o povo do Paraguai e sim contra seu Governo, os aliados poderiam admitir em uma legião paraguaia os cidadãos dessa nacionalidade que quisessem concorrer para derrubar o Govërno daquele Pais e lhes dariam os elementos necessarios para tal.
Obrigar-se-iam os aliados igualmente a respeitar a independência, soberania e integridade territorial da República do Paraguai, podendo o povo paraguaio escolher o Governo e instituições que lhe aprouvessem, mas não podendo incorporar-se a nenhum dos aliados e nem pedir o seu protetorado em conseqüência da guerra.
As franquias, privilégios ou concessões que obtivessem do Govêrno do Paraguai seriam comuns as partes contratantes.
Derribado o Governo paraguaio, os aliados fariam os ajustes necessários com a autoridade que ali se constituisse para asse- gurar livre navegação dos rios Parana e Paraguai, de maneira que os regulamentos e leis daquela República não pudessem estorvar, entorpecer ou onerar o transito e a navegação direta dos navios mercantes e de guerra dos Estados aliados, dirigindo-se para seus territórios respectivos ou para territórios que não pertencessem ao Paraguai. Para isto seriam tomadas as garantias convenientes para efetividade dos ajustes à base de que os regulamentos de policia fluvial para. os dois rios referidos e para o rio Uruguai fossem feitos de comum acordo entre os aliados.
Os aliados reservar-se-iam combinar entre si os meios mais proprios para garantir a paz com a República do Paraguai. depois de derribado o Governo, sendo nomeados oportunamente os plenipotenciarios que celebreriam os ajustes com os novos governantes, de quem seriam exigidos os pagamentos das despesas de guerra, bem como reparação e indenização dos danos e prejuízos causados às suas propriedades públicas e particulares.
A República Oriental do Uruguai exigiria também uma indenização proporcional aos danos e prejuizos causados pelo Governo do Paraguai pela guerra em que se viu obrigado a entrar para defender sua segurança ameaçada.
Quanto às questões de limites, para evitar dissenções de guerra, ficaria estabelecido que os aliados exigissem do Governo do Paraguai que fosse celebrado com os respectivos Governos tratados definitivos de limites, sob as seguintes bases:
O Império do Brasil se dividiria da República do Paraguai;
Do lado do Parana pelo primeiro rio abaixo do Saito das Sete Quedas (Igurey);
Do lado da margem esquerda do Paraguai, pelo rio Apa;
No interior, pelos cursos do Serrado Maracaju, sendo as vertentes de Leste do Brasil e as de Oeste do Paraguai, e tirando-se da mesma serra as mais retas em direção as nascentes do Apa e do Igurey.
A República Argentina se dividiria da Republica do Paraguai: pelos rios Paraná e Paraguai a en- contrar os limites com o Império do Brasil, sendo estes do lado da. margem direita do rio Paraguai à Baia Negra.
Os aliados se garantiriam reciprocamente o fiel cumprimento dos convênios, ajustes e tratados que se devessem celebrar com o Governo a estabelecer-se na República do Paraguai, para isto envidando todos os esforços.
O Tratado de Aliança se conservaria se- creto até a consecução do fim principal da Aliança, sendo as resoluções que não de- pendessem de aprovação legislativa postas em pratica imediatamente e as outras, após quarenta dias contados da data do Tratado.
O Tratado de Alianca foi assinado em Buenos Aires, em 1.° de maio de 1865.
Finda a Guerra do Paraguai, tratou-se do problema de fronteiras.
A fronteira do Brasil com o Paraguai foi definida pelo Tratado de 1872, que criou a Comissão Mista Demarcadora (reunida entre este mesmo ano e o ano de 1874) e o Tratado de 1927, complementar daquele.
De acordo com o Tratado de 1872, foi nomeado para Comissário Brasileiro da Comissão Mista Rufino Eneas Gustavo Galvao. Para Comissário de seu pais, o Governo paraguaio nomeou o cidadão Don Domingos Ortiz.
A partir de outubro de 1874, estava definitivamente fixada a fronteira, de conformidade com a demarcação feita, nos têrmos do Tratado de 1872.
Dai por diante. qualquer dos dois paises podia ocupar o território de seu lado da linha encamada do mapa, e nele plenamente estabelecer-se assim como nas ilhas a um e a outro adiudicadas. conforme a mesma linha encamada, nas plantas.
A demarcação, reconhecida pelos gover- nos do Paraguai e do Brasil. veio a ser confirmada ulterlormente em Atos Internacionais firmados pelos dois paises.
Em 21 de maio de 1927, assinou-se no Rio de Janeiro o Tratado de Limites Complementar do de 1872.”
Esse Tratado em nada pes em causa a primitiva linha de limite, definida pelo Tratado de 1872 e fixada pela Demarcaçao de 1872/14, mas tratou do seu prolongamento, isto é, da linha de limite entre a foz do rio Apa e o dcsaguadouro da Bala Negra.
Dizia o Artigo III do ‘Iratado de 1921:
Uma Comissão Mista brasileiro – paraguaia, nomeada pelos dois Governos no mais breve prazo possivel após troca das ratificações do presente Tratado, levantara a planta do rio Paraguay, com as suas llhas e canais, desde a confluência do Apa até o desaguadouro da Baia Negra.
Essa comissão efetuará as sondagens necessarias e as operações topograficas e geodésicas indispensáveis para a determinação da fronteira, e colocará marcos nas ilhas principais e pontos que julgar mais convenientes.
Paragralo único. Os dois Governos, em protocolo especial, a ser firmado logo depois da troca das ratlficaoões deste Tratado, estabelecerão o modo por que a comissão mista será constituida e as Instruções por que se regera para a execucao dos seus trabalhos.”
Em obediência a determinação do Paragrafo único do Artigo III do Tratado de Limites Complementar, acima transcrito, firmou-se, no Rio de Janeiro, em 9 de maio de 1930, um ajuste: o PROTOCOLO DE INSTRUÇOE para a Demarcaçâo e Caracteflzaçao da Fronteira Brasil-Paraguai.
Esse Protocolo, no seu preâmbulo, diz:
“Os Governos da República dos Etados Unidos do Brasil e da República do Paraguai, no intuito de dar cumprimento ao estipulado no parágrafo único do artigo terceiro do tratado dei limites, complementar ao de 1872. firmado no Rio de Janeiro a 2l de maio de 1927, e por outro lado, no de atender a necessldade de serem reparados alguna dos marcos da fronteira entre os dois paises, demarcada de 1572 a 1874, por uma Comissão mista brasileiro – paraguaia, de serem substituidos os marcos da mesma fronteira, que hajam desa- parecido, e de serem colocados marcos intermediários nos pontos que forem julgados convenientes, resolveram celebrar o presente ajuste, no qual, todas essas providencias se acham indicadas.”
Em 21 de março de 1812, o DECRETO Nº 1.911 promulgou o tratado de limites entre o Império do Brasil e a República do Paraguai.
Decreto nº 4.911, de 27 de marco de 1872. Promulga o tratado do limites entre o Imperio do Brasil e a República do Paraguai.
Tendo-se concluido e asignado em Assumpção, aos nove de Janeiro do corrente anno, um tratado de limites entre o Imperio e a Republica do Paraguay; e achando-se este ato mutuamente ratificado, havendo-se trocado as ratificações nesta corte em 26 do corrente mez: Sua Alteza a Princeza Imperial Regente, em Nome de Sua Magestade o Imperador o Senhor D. Pedro II, Ha por bem Ordenar que o dito tratado seja observado e cumprido tao inteiramente como nele se contem.
Manoel Francisco Correia, do Conselho de Sua Magestade o Imperador, Ministro e Secretario de Estado dos Negocios Estrangeiros, o tenha assim entendido e expeça para este fim os despachos necessarios, Palacio do Rio de Janeiro, aos vinte e sete dias do mez de Marco de mil oitocentos setenta e dous, quinquagesimo primeiro da Independencia e do Imperio.
PRINCEZA IMPERIAL REGENTE.
Manoel Francisco Correia
Nos a Princeza Imperial. herdeira presumptiva da Coroa, Regente em Nome de Sua Magestade o Senhor D. Pedro II, por Graça de Deus e Unanime aclarnação dos povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpetuo do Brasil, etc.
Fazemos saber a todos os que a presente carta de confirmação. aprovação e ratificaçao virem, que aos nove dias do mez de Janeiro de 1812, concluiu-se e assignou-se na cidade de Assumpção entre Nós e S.
Em. o Sr. Presidente da Republica do Paraguay, pelos respectivos plenipotenciarios, munidos dos competentes plenos poderes, um tratado do teor seguinte:
TRATADO DE LIMITES
Sua Alteza a Princeza Imperial do Brasil, Regente em Nome do Imperador o Senhor D. Pedro II, de uma parte, e, da outra. a Republica do Paraguay, reconhecendo que as questões e dúvidas levantadas sobre os limites de seus respectivos territorios muito contribuiram para a guerra que desgraçadamente se fizeram os dois Estados, e animados do mais sincero desejo de evitar que no futuro sejam por qualquer forma perturbadas as boas relaçoes de amizade que entre eiles existem, resolveram com este objeto celebrar um tratado de limites, e para este fim nomeararn seus plenipotenciarios, a, saber:
Sua Alteza. a Princesa Imperial do Brasil, Regente em Nome do Imperador o Senhor D. Pedro II, a S. Ex. o Sr. João Mauricio Wanderley, Barão de Cotegipe, Senador e Grande do Imperio, membro do Seu Conselho, commendador da Sua Imperial Ordem da Rosa, Grã-Cruz da Ordem de Nossa Senhora. da Conceição de Villa Viçosa de Portugal, da Real Ordem de Izabel a Catholica de Hespanha. e da de Leopoldo da Belgica, Seu Enviado Extraordinario e Ministro Plenipotenciario em missão especial.
S. Ex. o Sr. D. Salvador Jovellanos, Vice- Presidente da. Republica do Paraguay, em exercicio do poder executivo, ao Sr. D. Carlos Loizaga, Senador da Republica.
Os quaes depois de terem reciprocamente comunicado seus plenos poderes, achando-os em boa e devida forma, convieram nos artigos seguintes:
Art. 1.º. Sua Alteza a Princesa Imperial do Brazil, Regente em Nome do Imperador o Senhor D. Pedro II. e a Republica do Paraguay. estando de acordo em assinalar seus respectivos limites, convieram em declarar-os, definilo-os, e reconhecei-os do modo seguinte:
O territorio do Imperio do Brazil divide-se com o da Republica do Paraguay pelo alveo do rio Paraná. desde onde começam as possessões brasileiras na foz do Iguassú até o Salto Grande das Sete Quedas do mesmo flo Paraná.
Do Salto Grande das Sete Quedas continua a linha divisoria. pelo mais alto da Serra de Maracaju até onde ella finda.
Dai segue em linha reta, ou que mais se lhe aproxime. pelos terrenos mais elevados a encontrar a Serra Amambahy.
Prossegue pelo mais alto desta Serra até à nascente principal do rio Apa, e baixa pelo alveo deste até sua foz na margem oriental do rio Paraguay.
Todas as vertentes que correm para norte e leste pertencem ao Brasil e as que correm para sul e oeste pertencem ao Paraguay.
A ilha do Fecho dos Morros é do dominio do Brazil.
Art. 2.º”. ‘Tres mezes ao mais tardar contados da troca das ratificacões do presente tratado, as altas partes contractantes nomearão comissarios, que. de commum acordo e no mais breve prazo possivel. procedam a demarcação da linha divisoria, onde fôr necessario e de conformidade com o que fica estipulado no artigo precedente.
Art. 3.º. Se acontecer for que não é de esperar) que uma das altas partes contratantes, por qualquer motivo que seja. deixe de nomear o seu commissario dentro do prazo acima marcado. ou que. depois de nomeal-o, sendo mister substituil-o, o não substitua dentro de igual prazo, o comissario da outra parte contratante procederá, a demarcação. e esta sera julgada valida. mediante a inspecção c parecer de um commissario nomeado pelos Governos da Republica Argentina e da Republica Oriental do Uruguay.
Se os ditos Governos não puderem acceder á solicitação que para esse fim lhes sera dirigida. começará ou prosseguirá a demarcação da fronteira, da qual sera levantado por duplicado um mapa individual com todas as indicações e esclarecimentos precisos para ser um delles entregue a outra parte contractante, ficando a esta marcado o prazo de seis mezes para mandar. se assim lhe convier. verificar a sua exatidâo.
Decorrido esse prazo. não havendo reclamação fundada. ficara definitivamente a fronteira fixada de conformidade com a demarcação feita.
Art. 4.°. Se no prosseguimento da demarcação da fronteira os commissarios acharem pontos ou balisas naturaes. que em nenhum tempo se confundem, por onde mais convenientemente se possa assignalar a. linha, fora. mas em curta distância da que ficou acima indicada. levantarão a planta com os esclarecimentos indispensáveis e a sujeitarão ao conhecimento de seus respectivos Governos. sem prejuizo ou interrupção dos trabalhos encetados. As duas altas partes contractantes a vista das informacoes assentarão no que mais conveniente fór a seus mutuos interesses.
Art. 5.0. A troca das ratificaçóes do presente tratado sera feita na cidade do Rio de Janeiro dentro do mais breve prazo possivel,
Em testemunho do que os plenipotenciarios respectivos assignaram o presente tratado em duplicata c lhe puzeram o sello de suas armas.
Feito na cidade de Assumpção, aos novo dias do mez de Janeiro do anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Chrisio do mil oitocentos setenta e dous.
L.S. É Barão de Cotegipe.
(L.S.l _ Carlos Izoizaga
E sendo-nos presente o mesmo tratado cujo teor fica acima inserido e bem visto, considerado e examinado por Nós tudo o que neile se contém. o approvamos, ratificamos e continuamos. assim no todo, como em cada um dos seus artigos e estipuloçoes e pela presente o damos por firme e valioso para produzir o seu devido effeito, promettendo em fé e palavra imperial cumpril-o inviolavelmente e fazei-o cumprir e observar. por qualquer modo que possa ser.
Em testemunho e firmeza do que fizemos passar a presente carta por nos assignada, sellada com o sello grande das armas do Imperio e referendada pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios Estrangeiros abaixo assignado.
Dada no Palacio do Rio de Janeiro. aos 25 dias do mez de Março do anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de 1872.
(L.S.) – IZABEL, PRINCEZA`IMPERIAL REGENTE.
Manoel Francisco Correia.
Leis do Brasil. vol. l, 1872, pag. 109
Em 1965, o Paraguai levantou questão relacionada com a caracterização da fronteira brasileiro-paraguaia na região do Salto das Sete Quedas. solicitando o pais vizinho a retirada do destacamento militar brasileiro na zona de Porto Coronel Renato.
Prizou ainda o governo paraguaio que a Comissão Mista de Limites e caracterização de fronteiras prosseguisse seus trabalhos e, em caso de desacordo entre w governos do Brasil e do Paraguai no seio da referida Comissão. ambos os govemos recorremem a todos os meios de solução paclfica para a resolução do problema.
A questão suscitou acaloradas discussões, tendo a imprensa da época dedicado grande atenção ao assunto.
Em fevereiro de 1966. atendendo a pedido de informação do deputado Lyrio Bertoli, relativo aos problemas suscltados pelo Paraguai na região do Guaira, o ministro Juracy Magalhães. do Exterior, expôs os principais pontos que o Brasil defendia na questão.
Emtre outros aspectos, explicou que a presença de pequeno contingente militar brasileiro ali nao representava nenhum nto de animosidade contra o povo paraguaio, ocupando-se a tropa em reparar marcos fronteiriços danificados apenas. Além da medida de proteção normal de fronteiras, pretendia o govêrno brasileiro. igualmente, promover a densiflcaçào da ocupação da area.
Quanto a noticias de possivel movimentaçao de forças do exercito brasileiro e paraguaio. afirmou o Ministro. estavam elas sendo provocadas por questões relativas a limites entre os dois paises.
Em comunicado distribuido ã. imprensa, em fins de 1965, Ja o Itamarati definira a posição brasileira relativa a limites, dizendo que o governo brasileiro não admitia a existencia de litígio uma vez que a. fronteira da Barra do Iguaçu, no Parana, até a Boca do Apa. no Paraguai. ficou exata, escrupulosa e definitivamente demarcada em iB’M, nos termos do Tratado de Limites de 1872 pela Comissão Mista Demarcadora Brasileiro-Paraguaia”. tendo sido a demarcação solenemente reconhecida pelo Paraguai.
Não existindo forças brasileiras em territorlo não-delimitado, a atual comissão mista demarcadora foi criada com a finalldade de efetuar a demarcação no rio Paraguai nos termos do Tratado Complementar de 1927. consistindo sua tarefa apenas “na reparação ou substituição dos marcos do fronteira comum demarcada de 1812 a 1874 que estivessem danificados ou destruidos, mantendo suas respectivas situaçoes.
Além disso. observadas as prescrições do Tratado de Limites de 9 de janeiro de 1872, contidas na ata da 18ª Conferência da Comissão Mista executora do dito tratado de 1812, assinada em Assunção em 24 de outubro de 1874 cabia a atual comissão erigir novos marcos entre os ja existentes nas terras altas da referida fronteira a fim simplesmente de melhor caracteriza-la.fnformou ainda o Itamarati que o Ministério tentara entendimentos com 0 govêmo paraguaio sobre o possivel aproveitamento do potencial hidroenergético dos Saltos das Sete Quedas do Rio Parana em Guaira, manifestando o governo brasileiro. desde f962, disposição de examinar a. possibilidade de participar a República do Paraguai da utilização dos recursos energéticos e de quaisquer outros projetos a serem desenvolvidos nos Saltos das Sete Quedas.
Não obstante a afirmação brasileira de que não existia nenhum problema fronteirlço entre Brasil c Paraguai, a imprensa estrangeira destacou o fato, dizendo que lideres paraguaios exilados em Montevidéu e Buenos Aires estariam dispostos a tomar posição frente as tropas brasileiras. repetindo a Guerra do Chaco com a Bolívia.
Alegando a necessidade da intervenção da OEA no problema. a liderança paraguaia em Buenos Aires distribuiu comunicado à imprensa dizendo não estarem definidos os limites entre 0 Paraguai e o Brasil estabelecidos pelo Tratado de 1812 sobre a zona dos Saltos do Guaira, estando a questão aberta até a atualidade, já, que as cascatas que llndam com terra paraguaia constituiriam condomínio dos dois países
Por ocasião da leitura de sua mensagem anual na abertura do periodo parlamentar de 1966, o Presidente Stroessner, do Paraguai, afirmou que a cordialidade das relações do Paraguai com o Brasil estavam gravemente alteradas em conseqüência da ocupação, por parte de forças militares brasileiras, de uma zona contigua ao Salto de Guaira, ao sul da linha divisória da Serra de Baracayu, estabelecida como limite pelo artigo primeiro do tratado subscrito com o Império do Brasil aos 9 de janeiro de 1872, simultaneamente com o tratado de paz que colocou termo a guerra da ‘Tríplice Aliança.
Afirmou ainda o presidente paraguaio que seu governo desejava o seguinte:
a) concluir a demarcação da fronteira na zona do Salto de Guaira;
b) chegar a um acordo com o govêrno brasileiro sobre o aproveitamento conjunto e em igualdade de condições, do potencial hidroelétrico do Salto do Guaira.
Mais adiante, afirmou o Presidente Stroessner que o Paraguai não considerava cancelado o litígio com o Brasil, relativamente a demarcação de fronteiras, na zona do Salto de Guaira, devido à. presença de tropas na zona não demarcada e, ainda, que o Paraguai estaria disposto a debater com o Brasil o problema ante qualquer organismo internacional.
Rebatendo as criticas paraguaias, o Chanceler Juracy Magalhães disse, inicialmente, que o Brasil não se prevaleceu da Guerra do Paraguai para se apoderar do territorio de Sete Quedas.
Afirmou. igualmente, que os nossos direitos eram indiscutiveis, pelo que na defesa. deles não se arredaria nosso govêrno, seja pela ameaça, seja pela intriga.
Reafirmando a definição de fronteiras pelo Tratado de limites assinado entre os dois paises em 1812, complementado pelo de 1927, frisou ainda o ministro Juracy Magalhães que a alegação do Paraguai de que o Tratado de 1872 foi consequência duma guerra de extermínio da Tríplice Aliança contra aquele Pais, tendo havido divisão prévia dos territórios de que seria despojado, era uma alegação injusta.
O ministro Juracy Magalhães terminou ressaltando que o que devia unir paraguaios e brasileiros era a. perspectiva de colaboração numa via particularmente promissora como era a do aproveitamento integral dos recursos energéticos e hidráulicos do rio Paraná.
Prosseguindo os debates sobre a questão do Guaira, o problema evoluiu para uma proposta do Brasil no sentido de, no caso da insistência paraguaia quanto à, região das Sete Quedas, conceder o nosso pais porto marítimo para a Bolivia.
O Brasil propusera algum tempo atras ao Paraguai o direito de usar o porto de Paranagua, mas, com a crise motivada pela fronteira, tal proposta caiu no esquecimento.
Dependente economicamente da Argentina, o Paraguai tem que usar o rio da Prata para o seu comércio, sendo que a construção da Ponte da Amizade, ligando paraguaios e brasileiros, reduziu bastante a influência argentina.
A questão colocada ao Paraguai com a possivel abertura do pörto à. Bolívia seria a de não poder contrabalançar a influência argentina e, ainda, a competição com as exportações bolivianos. Além disso, Paraguai e Bolivia questionam, desde a guerra do Chaco, no sentido de demonstrar maior prestígio internacional.
Em maio de 1966, o Ministro Juracy Magalhães compareceu à Camara dos Deputados, atendendo convocaçâo feita por aquela Casa do Congresso.
Referindo-se aos diversos Tratados de Limites assinados entre o Brasil e o Paraguai, afirmou o Ministro das Relações Exteriores ser injusta a pretensão paraguaia quanto a região das Sete Quedas.
Concluindo, disse:
Somos um Pais soberano, conscio não só de nossos deveres, mas também de nossos direitos. No caso presente, vejo, entre os primeiros, o encargo de preservar a obra politica de nossos antepassados e o território que nos legaram. E entre os segundos está., ineludivelmente. a faculdade de colocar destacamentos militares em qualquer ponto de nosso território, onde quer que sintamos ameaçada a segurança nacional. assim como podemos remove-los quando, a nosso juizo, se tornem desnecessários.Esperamos que o governo paraguaio se convença de nossa boa disposição e da sinceridade com que lhe oferecemos juntar-se a nós para, em beneficio de nossos povos irmãos, conjuntamente explorarmos quaisquer recursos que ofereca o Salto de Sete Quedas. Não queremos polêmica ou divergência de nenhuma espécie com o Paraguai, a cujo povo nos sentirmos fraternalmenie ligados e ao qual renovo. neste instante, do alto desta Tribuna, a expressão de meu maior apreço.”
Logo a seguir. processaram-se os entendimentos entre os dois paises visando a conversações oficiais sobre a questão de fronteira, entendimentos estes realizados no encontro da Foz do iguaçu, presentes os chanceleres do Brasil e do Paraguai e suas respectivas delegações.
O inicio das conversações marcou logo a predisposição do Brasil de fazer certas concessoes, tendo como ponto pacífico, entretanto, não abrir mão, sob qualquer hipotese, de nossa soberania. isto é, não admitir discussões sobre o Tratado de 1872.
O roteiro elaborado para os entendimentos continha dez pontos principais entre os quais, figurando como fundamental, a retirada do destacamento militar de Guaira e a exploração conjunta do potencial energético das Sete Quedas.
Saudando o Chanceler Sapena Pastor, do Paraguai, o Ministro Juracy Magalhães afirmou que por parte do govêmo brasileiro encontraria o Paraguai a melhor disposiçoo para a adoção de soluções que, sem ferir a dignidade, a soberania e o interesse dos dois paises, tornecessem as bases construtivas para um trabalho conjunto visando ao desenvolvimento economico, o progresso social e a realização do ideal pan-americano de paz.”
Agradecendo a saudação, o chanceler Sapena Pastor declarou que o povo paraguaio desejava, igualmente, um amistoso e fratemo entendimento com a Nação brasileira, sobre a base de soluções decorosas que respeitassem a dignidade, a soberania e os interésses de ambas as nações.”
Apesar da cordialidade inicial do primeiro encontro dos chanceleres, não decorreu de maneira inteiramente pacífica a reunião da Foz do Iguaçu. pois 1o no segundo dia das reuniões, o chanceler Sapena Pastor levantou um obstáculo aparentemente lntransponivel para o encontro de um denominador comum. quando estabeleceu – como preliminar para qualquer entendimento – a discussão do problema de fronteiras.
Como diretrizes dos entendimentos a serem proccssados, o Ministro Juracy Magalhães entrcgara ao Chanceler Sapena urna agenda contendo dez pontos principais:
l. Reafirmaçtio de amizade;
2. superação das dificuldades;
3. estudo e levantamento das possibilidades economicas da regiao de Guaira;
4. exploração do potencial energético das Sete Quedas em co-participaçào;
5. participação nos estudos da Bacia do Prata;
6. destruição ou remoção dos cascos soçobrados que oterecessem riscos a navegação internacional cm águas do Rio Paraguai;
7. adiamento da densificação dos marcos nos trechos ainda não caracterizados da fronteira;
8. mudança do nosso embaixador no Paraguai;
9. deslocamento do destacamento do Porto Coronel Renato;
10. conjugação de esforços no trabalho da Conferencia
Não ressaltando em nenhum ponto desta agenda a discussão do problema de fronteira, a preliminar levantada pelo chanceler paraguaio conduziu a discussao a ser processada para um impasse. afirmando o chanceler Juracy Magalhães que “o Brasil não admitia quc se discutisse soberania num território de ocupação mansa e paccifdica há 94 anos.”
E mais: que “abdicaçoo de soberanla somente se poderia fazer por arbitragem internacional, ou através de uma guerra, propondo “para a redação de uma nota em que declarassem o desacordo.
Após estas afinnaçoes do chanceler Juracv Magalhaes, o ministro Sapena Pastor apresentou proposta singular que consistia na criação de uma espécie de “Estado-Tampãd’, na zona contestada, Estado este que seria governado por uma comissão mista de Alto Nivel que ali ae instalaria para solucionar o problema das fronteiras.
De acordo com a proposta paraguaia, nenhuma autoridade brasileira, civil ou militar poderia entrar naquele territorio, a não ser com permissão expressa da Comissão Especial e com o referendo da parte paraguaia.
Antevendo um possivel malog-ro da Conferencia, devido à posição paraguaia. o ministro Juracyr Magalhães exibiu ao chanceler Pastor o projeto de uma nota-conjunta que encerraria definitivamente as conversaçocs.
A partir deste momento, entretanto, houve um recuo na posiçao paraguaia, afirmando o chanceler Sapena Pastor que “a República do Paraguai considerava que o Tratado de Limites firmado entre os dois Estados em 9 de fevereiro de 1872 e a realidade geográfica constatada pelos trabalhos da Comissão Mista de Limites e Caracterização da Fronteira Paraguai-Brasil” reconhecera ao Paraguai dominio e soberania sobre a mesma zona em que se achava localizado o dmtacamento militar brasileiro.”
A nota paraguaia foi elaborada em resposta ao “memorando” brasileiro que, unilateralmente e em pleno exercicio de sua soberania, resolveu como fórmula concilia tória e demonstração de boa-vontade, retirar o destacamento militar do Põrto Coronel Renato.
A etapa. seguinte no andamento da conferëncia foram os entendimentos relativos a uma nota conjunta que teve o nome de Ata das Cataratas”. e que foi o documento que encerrou um dos episódios mais criticos das relações brasíleiro-paraguaias.
“ATA DAS CATARATAS”
(assinada em 22 de junho de 1966)
“O Ministro de Relações Exteriores dos Estados Unidos do Brasil, Juracyr Magalhaes, e o ministro de Relações Exteriores da República do Paraguai, Raul Sapena Pastor, se havendo reunido às margens do rio Parana, alternadamente nas cidades de Foz do Iguaçu e Porto Presidente Stroessner, nos dias 21 e 22 do corrente, passaram em revista os vários aspectos das relações entre os dois paises. inclusive aqueles pontos sobre os quais têm surgido ultimamente divergências entre as duas chancelarias e chegaram as seguintes conclusões: ll manifestaram-se acordes os dois chanceleres em reafirmar a tradicional amizade entre os dois povos irmãos, amizade fundada no respeito mútuo e que constitui a base indestrutivel das relações entre os dois Paises; 21 expressaram o vivo desejo de superar, dentro de um mesmo espirito de boa-vontade e concórdia, quaisquer dificuldades e problemas, encontrando-lhes soluções compativeis com os interesscs de ambas as nações; 3i proclamaram a disposição de seus respectivos governos de proceder. de comum acordo, o estudo c levantamento das possibilidades cconomicas. em partidos dos recursos hidroeletricos. pertencentes em condominio aos dois paises; 4i concordaram em restabelecer. desde já, que ‘a energia eletrica eventualmcnte produzida pelos desni’veis no rio Parana, desde e inclusive os Saltos das Sete Quedas. ou Salto de Guaira. até a foz, o rio Iguacu. sera dividida eni partes iguais entre os dois paises. sendo reconhecido a cada um deles o direito de preferencia para a aquisicao desta energia a justo preço, que sera oportunamente fixado por especialistas dos dois paises. de qualquer quantidade que nao venha a ser utilizada para o suprimento das necessidades do consumo de outro Pais; 51 convieram. ainda. os dois chanceleres, em participar da reuniao de ministros de Relações Exteriores dos Estados ribeiriiilios da Bacia do Prata. ii realizar-se em Buenos Aires. a convite do governo argentina, a fim de estudar os problemas comuns da area. com vista a promover o pleno aproveitamento dos recursos naturais da região, e o seu desenvolvimento econômico, em benefício da prosperidade e bem-estar da população. assim como a rever os problemas jurídicos relativos à navegação, balizamento, dragagem. pilotagem, e praticagem dos rios pertencentes ao sistema liidrografico do Parana, a exploração do potencial energético dos membros e a canalização, represamento e captação de suas aguas. seja para fins de irrigação. ou para os de regularizacão das respectivas descargas. de protecao das margens. ou facilitação do tráfego fluvial; Bi concordaram em que as respectivas Marinhas procederão. sem demora. à destruição ou remoção dos cascos socobrados que atualmente oferecem riscos a navegacão internacional nas águas do rio Paraguai; ‘li Em relação aos trabalhos da comissão mista de limites e caracterização da fronteira Brasil-Paraguai. convieram os dois chanceleres em que tais trabalhos prosseguirâo na data que ambos os governos estimarem conveniente: BI congratulam-se. por fim. os dois chanceleres pelo espirito construtivo que prevaleceu durante as duas conversações e for’mulam votos pela sempre crescente e fraternal união entre o Brasil e o Paraguai, comprometendo-se ainda a não regatear esforços para estreitar cada vez mais os laços de amizade que unem os dois paises.
Apesar de ter havido vitoria dit nossa diplomacia na questão do Guaíra, o Estado de São Paulo”. tecendo considerações sobre a Ata das Cataratas” afirmou continuar pendente o problema fronteirico entre o Brasil e o Paraguai. problema este solucionavel somente por meio de arbitragem internacional, visto que, os paraguaios —- levando em conta uma realidade geoqrzifica — consideram que o Salto Grande das Sete Quedas passaria a pertencer à Republica do Paraguai.
O Brasil. por seu turno. considera que a linha divisória corre pelo alto da scrro do Maracaju. até a quinta das Sete Quedas. o que coloca as cachoeiras em nosso territorio. O Paraguai. por sua vez. tem como ponto-de-vista que a linha divisória corre pelo alto do contraforte da serra. o que desloca a fronteira cm cerca de dois quilómetros para leste. dando-lhe n maior parto das quedas`
Reproduzimos. a seguir. o artigo l6 do TRATADO DE ALIANÇA assinado pelo Brasil. pela Republica Argentina c pela República Oriental do Uruguai. no uno de 1865. o que trata. especificamente da questão de limites na região do Salto das Sete Quedas.
Leda Maria Cardoso Maud
Fonte: www2.senado.leg.br
Guerra da Tríplice Aliança
A guerra do Paraguai foi o maior conflito armado internacional ocorrido no continente americano, no período de dezembro de 1864 a março de 1870. É também chamada Guerra da Tríplice Aliança. O Brasil, a Argentina e o Uruguai, aliados, derrotaram o Paraguai após cinco anos de lutas, durante os quais o Brasil enviou 180 mil homens em guerra. Destes, mais de 30 mil não voltaram. As perdas humanas sofridas pelo Paraguai são calculadas em 300 mil pessoas, entre civis e militares, mortos em decorrência dos combates, das epidemias que se alastraram durante a guerra e da fome. O Paraguai, antes da guerra, atravessava uma fase de prosperidade econômica. A derrota marcou uma reviravolta decisiva na história do país, desde então um dos menos desenvolvidos da América do Sul.
Antecedentes da Guerra
O Paraguai Antes da Guerra
Durante os longos governos de José Gaspar Rodríguez de Francia (1813-1840) e de Carlos Antonio López (1841-1862), o Paraguai teve um desenvolvimento bastante original em relação ao dos outros países sul-americanos. A política de Francia e de Carlos López foi sempre a de incentivar um desenvolvimento econômico auto-suficiente, graças ao isolamento imposto pelos países vizinhos.
Foram retomadas tradições indígenas abandonadas pelos colonizadores, como a de realizar duas colheitas anuais. As represas e canais de irrigação, pontes e estradas feitos pelo governo e a valorização do trabalho comunitário elevaram a produtividade do trabalho agrícola.
O governo controlava todo o comércio exterior. O mate, o fumo e as madeiras raras exportados mantinham a balança comercial com saldo. O Paraguai nunca havia feito um empréstimo no exterior e adotava uma política protecionista, isto é, de evitar a entrada de produtos estrangeiros, por meio de impostos elevados.
Defendia o mercado interno para a pequena indústria nacional, que começava a se desenvolver com base no fortalecimento da produção agrícola.
Francisco Solano López, filho de Carlos Antônio López, substituiu o pai no governo, em 1862, e deu prosseguimento à política de seus antecessores.
Mais de 200 técnicos estrangeiros, contratados pelo governo, trabalhavam na instalação do telégrafo e de estradas de ferro e na assistência às indústrias siderúrgicas, têxteis, de papel, tinta, construção naval e pólvora. A fundição de Ibicuí, instalada em 1850, fabricava canhões, morteiros e balas de todos os calibres. Nos estaleiros de Assunção, construíam-se navios de guerra.
O crescimento econômico exigia contatos com o mercado internacional. O Paraguai é um país sem litoral. Seus portos eram fluviais (de rios) e seus navios tinham que descer o rio Paraguai e depois o rio Paraná para chegar ao estuário do rio da Prata e, daí, ao oceano. O governo de Solano López elaborou um projeto para obter um porto no Atlântico. Pretendia criar o chamado Paraguai Maior, com a inclusão de uma faixa do território brasileiro que ligasse o Paraguai ao litoral.
Para sustentar suas intenções expansionistas, López começou a preparar-se militarmente. Incentivou a indústria de guerra, mobilizou grande quantidade de homens para o exército (o serviço militar obrigatório já existia no Paraguai), submetendo-os a treinamento militar intensivo, e construiu fortalezas na entrada do rio Paraguai.
No plano diplomático, procurou aliar-se, no Uruguai, ao partido dos blancos, que se encontrava no poder, adversário dos colorados, que eram aliados do Brasil e da Argentina.
A Política Platina
Desde que o Brasil e a Argentina se tornaram independentes, a luta entre os governos de Buenos Aires e do Rio de Janeiro pela hegemonia na bacia do Prata marcou profundamente as relações políticas e diplomáticas entre os países da região. O Brasil chegou a entrar em guerra com a Argentina duas vezes.
O governo de Buenos Aires pretendia reconstituir o território do antigo Vice-reinado do Rio da Prata, anexando o Paraguai e o Uruguai. Realizou diversas tentativas nesse sentido durante a primeira metade do século XIX, sem obter êxito, muitas vezes por causa da intervenção brasileira. Temendo o excessivo fortalecimento da Argentina, o Brasil favorecia o equilíbrio de poderes na região, ajudando o Paraguai e o Uruguai a conservarem sua soberania.
O Brasil, sob o domínio da família real portuguesa, foi o primeiro país a reconhecer a independência do Paraguai, em 1811. Na época em que a Argentina era governada por Juan Manuel Rosas (1829-1852), inimigo comum do Brasil e do Paraguai, o Brasil contribuiu para o melhoramento das fortificações e do exército paraguaios, enviando oficiais e técnicos a Assunção. Como não havia estradas ligando a província de Mato Grosso ao Rio de Janeiro, os navios brasileiros precisavam atravessar todo o território paraguaio, subindo o rio Paraguai, para chegar a Cuiabá. Muitas vezes, porém, era difícil obter do governo de Assunção permissão para ali navegar.
No Uruguai, o Brasil realizou três intervenções político-militares. A primeira, em 1851, contra Manuel Oribe, para combater a influência argentina. A segunda, em 1855, a pedido do governo uruguaio, presidido por Venâncio Flores, líder dos colorados, tradicionalmente apoiados pelo Império brasileiro. A terceira intervenção, contra Atanásio Aguirre, em 1864, seria o estopim da guerra do Paraguai. Essas intervenções atendiam aos interesses ingleses de fragmentação da região do Prata, impedindo, assim, qualquer tentativa de monopólio mineral.
A Intervenção Contra Aguirre
Em abril de 1864, o Brasil enviou ao Uruguai uma missão chefiada pelo conselheiro José Antônio Saraiva para exigir o pagamento dos prejuízos causados a fazendeiros gaúchos por fazendeiros uruguaios, em conflitos de fronteira. O presidente uruguaio, Atanásio Aguirre, do partido dos blancos, recusou-se a atender as exigências brasileiras.
Solano López ofereceu-se como mediador, mas não foi aceito. Rompeu então relações diplomáticas com o Brasil, em agosto de 1864, e divulgou um protesto afirmando que a ocupação do Uruguai por tropas do Império brasileiro seria um atentado ao equilíbrio dos Estados do Prata.
Em outubro, as tropas brasileiras invadiram o Uruguai. Os partidários do colorado Venancio Flores, que contava também com o apoio da Argentina, uniram-se às tropas brasileiras para depor Aguirre.
A Guerra
Declaração de Guerra
No dia 12 de novembro de 1864, o vapor paraguaio Tacuari apresou o navio brasileiro Marquês de Olinda, que atravessava o território paraguaio rumo a Mato Grosso, levando a bordo o coronel Frederico Carneiro de Campos, recém-nomeado presidente daquela província. No dia 13 de dezembro, o Paraguai declarava guerra ao Brasil. Três meses mais tarde, em 18 de março de 1865, declarava guerra à Argentina. O Uruguai, já então governado por Venancio Flores, solidarizou-se com o Brasil e a Argentina.
O Tratado da Tríplice Aliança
No dia 1°. de maio de 1865, o Brasil, a Argentina e o Uruguai assinaram, em Buenos Aires, o Tratado da Tríplice Aliança, contra o Paraguai.
As forças militares da Tríplice Aliança eram, no início da guerra, francamente inferiores às do Paraguai, que contava com mais de 60 mil homens bem treinados e uma esquadra e 23 vapores e cinco navios apropriados à navegação fluvial. Sua artilharia possuía cerca de 400 canhões.
As tropas reunidas do Brasil, da Argentina e do Uruguai, prontas a entrar em ação, não chegavam a 1/3 das paraguaias. A Argentina dispunha de aproximadamente 8 mil soldados e de uma esquadra de quatro vapores e uma goleta. O Uruguai entrou na guerra com menos de três mil homens e nenhuma unidade naval. Dos 18 mil soldados com que o Brasil podia contar, apenas 8 mil já se encontravam nas guarnições do sul.
A vantagem dos brasileiros estava em sua marinha de guerra: 42 navios com 239 bocas de fogo e cerca de quatro mil homens bem treinados na tripulação. E grande parte da esquadra já se encontrava na bacia do Prata, onde havia atuado, sob o comando do Marquês de Tamandaré, na intervenção contra Aguirre.
Na verdade, o Brasil achava-se despreparado para entrar em uma guerra. Seu exército não tinha ainda uma organização bem estruturada. As tropas utilizadas até então nas intervenções feitas no Prata eram constituídas basicamente pelos contingentes armados de chefes políticos gaúchos e por alguns efetivos da Guarda Nacional. A infantaria brasileira que lutou na Guerra do Paraguai não era formada de soldados profissionais, mas pelos chamados Voluntários da Pátria, cidadãos que se apresentavam para lutar. Muitos eram escravos enviados por fazendeiros. A cavalaria era formada pela Guarda Nacional do Rio Grande do Sul.
Segundo o Tratado da Tríplice Aliança, o comando supremo das tropas aliadas caberia a Bartolomeu Mitre, presidente da Argentina. E foi assim na primeira fase da guerra.
A Ofensiva Paraguaia
Durante a primeira fase da guerra a iniciativa esteve com os paraguaios. Os exércitos de López definiram as três frentes de batalha iniciais invadindo Mato Grosso, em dezembro de 1864, e, nos primeiros meses de 1865, o Rio Grande do Sul e a província argentina de Corrientes. Atacando, quase ao mesmo tempo, no norte (Mato Grosso) e no sul (Rio Grande e Corrientes), os paraguaios estabeleceram dois teatros de operações. Numa guerra, chama-se teatro de operações à área em que se concentram as forças militares, as fortificações e as trincheiras, e em que se travam as principais batalhas.
A invasão de Mato Grosso foi feita ao mesmo tempo por dois corpos de tropas paraguaias. A província achava-se quase desguarnecida militarmente. A superioridade numérica dos invasores permitiu-lhes realizar uma campanha rápida e bem-sucedida.
Um destacamento de cinco mil homens, transportados em dez navios e comandados pelo coronel Vicente Barros, subiu o rio Paraguai e atacou o forte de Nova Coimbra. A guarnição de 155 homens resistiu durante três dias, sob o comando do tenente-coronel Hermenegildo de Albuquerque Porto Carrero, depois barão do Forte de Coimbra. Quando as munições se esgotaram, os defensores abandonaram a fortaleza e se retiraram, rio acima, a bordo da canhoneira Anhambaí, em direção a Corumbá. Depois de ocupar o forte já vazio, os paraguaios avançaram rumo ao norte, tomando, em janeiro de 1865, as cidades de Albuquerque e de Corumbá.
A segunda coluna paraguaia, comandada pelo coronel Francisco Isidoro Resquin e integrada por quatro mil homens, penetrou, por terra, em uma região mais ao sul de Mato Grosso, e logo enviou um destacamento para atacar a colônia militar fronteiriça de Dourados. O cerco, dirigido pelo major Martín Urbieta; encontrou brava resistência por parte do tenente Antônio João Ribeiro e de seus 16 companheiros, que morreram sem se render (29 de dezembro de 1864). Os invasores prosseguiram até Nioaque e Miranda, derrotando as tropas do coronel José Dias da Silva. Enviaram em seguida um destacamento até Coxim, tomada em abril de 1865.
As forças paraguaias, apesar das vitórias obtidas, não continuaram sua marcha até Cuiabá, a capital da província, onde o ataque inclusive era esperado (Augusto Leverger havia fortificado o acampamento de Melgaço para proteger Cuiabá). O principal objetivo da invasão de Mato Grosso foi distrair a atenção do governo brasileiro para o norte do Paraguai, quando a decisão da guerra se daria no sul (região mais próxima do estuário do Prata). Era o que se chama de uma manobra diversionista, destinada a iludir o inimigo.
A invasão de Corrientes e do Rio Grande do Sul foi a segunda etapa da ofensiva paraguaia. Para levar apoio aos blancos, no Uruguai, as forças paraguaias tinham que atravessar território argentino. Em março de 1865, López pediu ao governo argentino autorização para que o exército comandado pelo general Venceslau Robles, com cerca de 25 mil homens, atravessasse a província de Corrientes. O presidente Bartolomeu Mitre, aliado do Brasil na intervenção contra o Uruguai, negou-lhe a permissão.
No dia 18 de março de 1865, o Paraguai declarava guerra à Argentina. Uma esquadra paraguaia, descendo o rio Paraná, aprisionou navios argentinos no porto de Corrientes. Em seguida, as tropas do general Robles tomaram a cidade.
Ao invadir Corrientes, López pensava obter o apoio do poderoso caudilho argentino Justo José Urquiza, governador das províncias de Corrientes e Entre Ríos, chefe federalista hostil a Mitre e ao governo de Buenos Aires. No entanto, a atitude ambígua assumida por Urquiza manteve estacionadas as tropas paraguaias, que avançaram ainda cerca de 200 km em direção ao sul, mas terminaram por perder a ofensiva.
Em ação conjugada com as forças de Robles, uma tropa de dez mil homens sob as ordens do tenente-coronel Antônio de la Cruz Estigarriba cruzava a fronteira argentina ao sul de Encarnación, em maio de 1865, dirigindo-se para o Rio Grande do Sul. Atravessou-o no rio Uruguai na altura da vila de São Borja e a tomou em 12 de junho.
A Primeira Reação Brasileira
A primeira reação brasileira foi enviar uma expedição para combater os invasores em Mato Grosso. A coluna de 2.780 homens comandados pelo coronel Manuel Pedro Drago saiu de Uberaba, em Minas Gerais, em abril de 1865, e só chegou a Coxim em dezembro do mesmo ano, após uma difícil marcha de mais de dois mil quilômetros através de quatro províncias do Império. Mas encontrou Coxim já abandonada pelo inimigo. O mesmo aconteceu em Miranda, onde chegou em setembro de 1866. Em janeiro de 1867, o coronel Carlos de Morais Camisão assumiu o comando da coluna, reduzida a 1.680 homens, e decidiu invadir o território paraguaio, onde penetrou até Laguna, em abril. Esta expedição ficou famosa pela retirada forçada que empreendeu, perseguida pela cavalaria paraguaia.
Apesar dos esforços da coluna do coronel Camisão e da resistência organizada pelo presidente da província, que conseguiu libertar Corumbá em junho de 1867, a região invadida permaneceu sob o controle dos paraguaios. Só em abril de 1868 é que os invasores se retiraram, transferindo as tropas para o principal teatro de operações, no sul do Paraguai.
A Batalha do Riachuelo
Batalha do Riachuelo
Na bacia do Prata as comunicações eram feitas pelos rios; quase não havia estradas. Quem controlasse os rios ganharia a guerra. Todas as fortalezas paraguaias tinham sido construídas nas margens do baixo curso (parte do rio perto de sua foz) do rio Paraguai.
Em 11 de junho de 1865, travou-se a Batalha Naval do Riachuelo, na qual a esquadra comandada pelo chefe-de-divisão Francisco Manuel Barroso da Silva derrotou a esquadra paraguaia. Nesta batalha foi destruído o poderio naval paraguaio, tornando-se impossível a permanência dos paraguaios em território argentino. Ela praticamente decidiu a guerra em favor da Tríplice Aliança, que passou a controlar, a partir de então, os rios da bacia platina até a entrada do Paraguai.
O Recuo das Tropas Paraguaias
Enquanto López ordenava o recuo das forças que haviam ocupado Corrientes. O corpo de tropa paraguaio que invadira São Borja avançava, tomando Itaqui e Uruguaiana. Uma divisão que dele se separara e marchava em direção ao Uruguai, sob o comando do major Pedro Duarte (3.200 homens), foi derrotada por Flores no sangrento combate de Jataí, na margem direita do rio Uruguai.
Nessa altura, as tropas aliadas estavam-se reunindo sob o comando de Mitre no acampamento de Concórdia, na província argentina de Entre Ríos, com o marechal-de-campo Manuel Luís Osório à frente das tropas brasileiras. Parte destas deslocou-se para Uruguaiana, onde foi reforçar o cerco a esta cidade pelo exército brasileiro no Rio Grande do Sul, comandado pelo tenente-general Manuel Marques de Sousa, barão de Porto Alegre. Os paraguaios renderam-se no dia 18 de setembro de 1865.
Nos meses seguintes foram reconquistados os últimos redutos paraguaios em território argentino: as cidades de Corrientes e de São Cosme. No final do ano de 1865, a ofensiva era da Tríplice Aliança. Seus exércitos já contavam mais de 50 mil homens e se preparavam para invadir o Paraguai.
A Invasão do Paraguai
A invasão do Paraguai foi feita seguindo o curso do rio Paraguai, a partir do Passo da Pátria, onde Osório desembarcou à frente de um destacamento brasileiro. De abril de 1866 a julho de 1868, as operações militares concentraram-se na confluência dos rios Paraguai e Paraná, onde estavam os principais pontos fortificados dos paraguaios. Durante mais de dois anos o avanço dos invasores foi bloqueado naquela região, apesar das primeiras vitórias da Tríplice Aliança.
A primeira fortificação a ser tomada foi a de Itapiru. Após os combates do Passo da Pátria e do Estero Bellaco, as forças aliadas acamparam nos pântanos de Tuiuti, onde foram atacadas. A primeira batalha de Tuiuti, vencida pelos aliados em 24 de maio de 1866, foi a maior batalha campal da história da América do Sul.
Por motivos de saúde, em julho de 1866 Osório passou o comando do 1.° corpo de exército brasileiro ao general Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão. Na mesma época, chegava ao teatro de operações o 2.° corpo de exército, trazido do Rio Grande do Sul pelo barão de Porto Alegre (dez mil homens).
Para abrir caminho até Humaitá, a maior fortaleza paraguaia, Mitre determinou o ataque às baterias de Curuzu e Curupaiti. Curuzu foi tomada de surpresa pelo barão de Porto Alegre, mas Curupaiti resistiu ao ataque de 20 mil argentinos e brasileiros, guiados por Mitre e Porto Alegre, com apoio da esquadra do almirante Tamandaré. Este ataque fracassado (cinco mil baixas em poucas horas) criou uma crise de comando e deteve o avanço dos aliados.
Nessa fase da guerra, destacaram-se muitos militares brasileiros.
Entre eles, os heróis de Tuiuti: o general José Luís Mena Barreto, o brigadeiro Antônio de Sampaio, patrono da arma de infantaria do Exército brasileiro, o tenente-coronel Emílio Luís Mallet, patrono da artilharia e o próprio Osório, patrono da cavalaria, além do tenente-coronel João Carlos de Vilagrã Cabrita, patrono da arma de engenharia, morto em Itapiru.
O Comando de Caxias
Designado em 10 de outubro de 1866 para o comando das forças brasileiras, o marechal Luís Alves de Lima e Silva, marquês e, posteriormente, Duque de Caxias, chegou ao Paraguai em novembro, encontrando o exército praticamente paralisado. Os contingentes argentinos e uruguaios vinham sendo retirados aos poucos do exército dos aliados, assolado por epidemias. Mitre e Flores voltaram a seus países chamados por questões de política interna. Tamandaré foi substituído no comando da esquadra pelo almirante Joaquim José Inácio, futuro visconde de Inhaúma. Paralelamente, Osório organizava um 3.° corpo de exército no Rio Grande do Sul (cinco mil homens). Na ausência de Mitre, Caxias assumiu o comando geral e providenciou a reestruturação do exército.
Entre novembro de 1866 e julho de 1867, Caxias organizou um corpo de saúde (para dar assistência aos inúmeros feridos e combater a epidemia de cólera-morbo) e um sistema de abastecimento das tropas. Nesse período, as operações militares limitaram-se a escaramuças com os paraguaios e a bombardeios da esquadra contra Curupaiti. López aproveitava a desorganização do inimigo para reforçar suas fortificações em Humaitá.
A marcha de flanco pela ala esquerda das fortificações paraguaias constituía a base tática de Caxias: ultrapassar o reduto fortificado paraguaio, cortar as ligações entre Assunção e Humaitá e submeter esta última a um cerco. Com este fim, Caxias iniciou a marcha em direção a Tuiu-Cuê. Mas Mitre, que voltara ao comando em agosto de 1867, insistia no ataque pela ala direita, que já se mostrara desastroso em Curupaiti. Por sua ordem, a esquadra brasileira forçou, sem maiores perdas, a passagem de Curupaiti, mas foi obrigada a deter-se diante de Humaitá.
Surgiram novas divergências no alto comando: Mitre desejava que a esquadra prosseguisse, enquanto os brasileiros eram favoráveis a um anterior envolvimento e cerco por terra de Humaitá. As vitórias de São Solano, Pilar e Tayi iriam tornar possível este cerco, isolando Humaitá de Assunção. Como reação, López atacou a retaguarda dos aliados em Tuiuti, sofrendo nova derrota.
Com o afastamento definitivo de Mitre, em janeiro de 1868, Caxias reassumiu o comando supremo e determinou a passagem de Curupaiti e Humaitá, realizadas com êxito pela esquadra comandada pelo capitão-de-mar-e-guerra Delfim Carlos de Carvalho, depois barão da Passagem. Humaitá caiu em 25 de julho, após demorado cerco.
Rumo a Assunção, o exército de Caxias marchou 200 km até Palmas, detendo-se diante do arroio Piquissiri. Ali, López havia concentrado 18 mil paraguaios em uma linha fortificada que explorava habilmente os acidentes do terreno e se apoiava nos fortes de Angostura e Itá-Ibaté. Renunciando ao combate frontal, Caxias deu início à chamada manobra de Piquissiri. Enquanto a esquadra forçava a passagem de Angostura. Caxias fez o exército atravessar para a margem direita do rio. Mandou construir em 23 dias uma estrada nos pântanos do Chaco, pela qual as tropas avançaram em direção ao nordeste. Na altura de Villeta, o exército cruzou novamente o rio, encontrava-se entre Assunção e Piquissiri, na retaguarda da linha fortificada paraguaia. Em vez de avançar para a capital, já desocupada pela população e bombardeada pela esquadra, Caxias marchou para o sul e iniciou a dezembrada.
A dezembrada constituiu-se de uma série de vitórias obtidas por Caxias em dezembro de 1868, quando voltava em direção ao sul para tomar Piquissiri pela retaguarda: Itororó, Avaí, Lomas Valentinas e Angostura. No dia 24 de dezembro os três novos comandantes da Tríplice Aliança (Caxias, o argentino Gelly y Obes e o uruguaio Enrique Castro) enviaram uma intimação a Solano López para que se rendesse. Mas López recusou-se a ceder e fugiu para Cerro León.
Asunción foi ocupada em 1.° de janeiro de 1869 por forças comandadas pelo coronel Hermes Ernesto da Fonseca. No dia 5, Caxias entrou na cidade com o restante do exército e 13 dias depois deixou o comando.
O Fim da Guerra
O Comando do Conde d’Eu
O genro do imperador Dom Pedro II, Luís Filipe Gastão de Orléans, conde d’Eu, foi nomeado para dirigir a fase final das operações militares no Paraguai, pois buscava-se, além da derrota total do Paraguai, o fortalecimento do Império Brasileiro. Em agosto de 1869, a Tríplice Aliança instalou em Assunção um governo provisório encabeçado pelo paraguaio Cirillo Antônio Rivarola.
Solano López organizou a resistência nas cordilheiras situadas a nordeste de Assunção. À frente de 21 mil homens, o conde d’Eu chefiou a campanha contra a resistência paraguaia, a chamada Campanha das Cordilheiras, que se prolongou por mais de um ano, desdobrando-se em vários focos. Os combates mais importantes foram os de Peribebuí e de Campo Grande (ou Nhuguaçu), nos quais morreram mais de cinco mil paraguaios.
Dois destacamentos foram enviados em perseguição ao presidente paraguaio, que se internara nas matas do norte do país acompanhado de 200 homens. No dia 1.° de março de 1870, as tropas do general José Antônio Correia da Câmara surpreenderam o último acampamento paraguaio em Cerro Corá, onde Solano López foi ferido a lança e depois baleado nas barrancas do arroio Aquidabanigui.
Suas últimas palavras foram: “Morro com minha pátria.” Era o fim da guerra do Paraguai.
Conseqüências da Guerra
Não houve um tratado de paz em conjunto. O Brasil não aceitava as pretensões da Argentina sobre uma grande parte do Grande Chaco, região paraguaia rica em quebracho (produto usado na industrialização do couro). A questão dos limites entre o Paraguai e a Argentina foi arbitrada pelo presidente estado-unidense Rutherford Birchard Hayes. O Brasil assinou um tratado de paz em separado com o Paraguai, em 9 de janeiro de 1872, obtendo a liberdade de navegação no rio Paraguai. Foram confirmadas as fronteiras reivindicadas pelo Brasil antes da guerra. Estipulou-se também uma dívida de guerra, que foi perdoada somente em 1943.
Em dezembro de 1975, quando os presidentes Ernesto Geisel e Alfredo Stroessner assinaram em Assunção um Tratado de Amizade e Cooperação, o governo brasileiro devolveu ao Paraguai troféus da guerra.
O Paraguai sofreu uma violenta redução de sua população. Em 1870, havia um homem para cada 28 mulheres. As aldeias destruídas pela guerra foram abandonadas e os camponeses sobreviventes migraram para os arredores de Assunção, dedicando-se à agricultura de subsistência, isto é, para consumo próprio, na região central do país. As terras das outras regiões foram vendidas a estrangeiros, principalmente argentinos, e transformadas em latifúndios. A indústria entrou em decadência.
O mercado paraguaio abriu-se para os produtos ingleses e o país viu-se forçado a contrair seu primeiro empréstimo no exterior: um milhão de libras da Inglaterra.
A Argentina foi a principal beneficiada com a guerra. Anexou parte do território paraguaio e tornou-se o mais forte dos países do Prata. Durante todo o tempo da campanha, as províncias de Entre Rios e Corrientes abasteceram as tropas brasileiras com gado, gêneros alimentícios e outros produtos.
O Brasil pagou um preço alto pela vitória. A guerra foi financiada pelo Banco de Londres e pelas casas Baring Brothers e Rothschild. Durante os cinco anos de lutas, as despesas do Império chegaram ao dobro de sua receita, provocando uma crise financeira.
Por outro lado, o Exército brasileiro passou a ser uma força nova e expressiva dentro da vida nacional. Transformara-se numa instituição forte que, com a guerra, ganhara tradições e coesão interna e estava destinado a representar um papel fundamental no desenvolvimento posterior da história do país.
Fonte: www.conhecimentosgerais.com.br