Por Mateus Moraes
Leonardo Da Vinci foi um gênio em diversas áreas e estava muito à frente de seu tempo. Além de contribuir para as artes e para a ciência, também foi um grande inventor de armas de guerra. Foi a partir de seus desenhos que muitas armas atuais foram inventadas, como metralhadoras, bombas e até mesmo o tanque de guerra.
Confira agora as 15 maiores invenções de guerra criadas por Leonardo Da Vinci:
1. O Exterminador
O protótipo desta armadura foi criado por volta de 1495. Seu objetivo era meramente proteger quem a usasse. Mas, devido ao peso, impedia que braços e pernas fossem movidos com agilidade.
2. Metralhadora
Esta engenhosa arma é a mãe das metralhadoras atuais. Foi criada em meados de 1480, provavelmente a pedido de algum príncipe da época. Apesar de atirar muitas balas simultâneas, ser leve e de fácil transporte, era bem dificil repor sua munição – ainda mais em campo de batalha.
3. Bomba fragmentada
Os canhões eram muito usados na época, mas Da Vinci resolveu deixá-los ainda mais mortais. Essas balas de canhão, assim que disparadas, se explodiam em diversos pedaços afiados, apliando o campo de destruição.
4. Carruagens com lâminas
Essa foi uma invenção com belos detalhes e ao mesmo tempo aniquiladora. As lâminas giravam a medida que os cavalos puxavam a carruagem e com isso destruiam tudo que passava pelo caminho.
5. Canhão giratório
Este invento conseguia disparar 16 balas de canhão ao seu redor. Uma verdadeira arma de destruição em massa para a época.
6. Tanque de Guerra
Talvez esta seja a invenção mais famosa de Da Vinci, que a descrevia como “um veículo capaz de destruir qualquer inimigo”. Apesar de ter causado muitos danos quando usado, possuia algumas falhas dificeis de corrigir – e isso fez com que Da Vinci abandonasse o projeto.
7. Muralha de defesa
Este invento era basicamente para defesa. Em guerras era comum usar escadas para invadir castelos. Soldados ficavam escondidos atrás desta parede e a moviam para que as escadas ficassem sem apoio e caissem, dificultando o acesso dos inimigos.
8. Catapulta
A catapulta já era usada há centenas de anos antes de Da Vinci surgir, mas ele conseguiu aprimorá-la. Ele desenvolveu vários modelos, mas esta aqui tinha força para atirar pedras e fogo a grandes distâncias.
9. Fortaleza
A ideia desta fortaleza era fazê-la forte o suficiente para aguentar os ataques inimigos. Seu formato inovador possibilitava mais resistência aos impactos de armas e disparos, ao mesmo tempo em que pequenas fendas possibilitavam o disparo de dentro para fora. O dono do castelo ficava no centro desta fortaleza e podia fugir por uma passagem secreta caso estivesse em perigo.
10. Canhão desmontável
Os canhões da época eram pesados e de dificil transporte. Da Vinci elaborou esta estrutura nova, que poderia ser facilmente desmontada e transportada, mantendo o mesmo poder de fogo.
11. Atiradeira de pedras
Esta era uma atiradeira mais moderna, que atirava pedras e outros materiais pesados.
12. Helicóptero
Cientistas modernos concordam que possivelmente nunca saiu do chão, mas o projeto do “helicóptero” de Da Vinci ainda é um dos seus mais famosos. A curiosa geringonça era para ser operada por uma equipe de quatro homens e poderia ter sido inspirada por um moinho de vento de brinquedo popular na sua época.
13. Embarcação armada
Os desenhos sugerem um navio leve, mas protegido por um canhão e um escudo móvel, que poderia ser movido rapidamente.
O escudo protegia contra ataques e possibilitava que o barco se aproximasse dos inimigos sem que eles soubessem que ali havia um canhão. Só era aberto quando chegasse perto dos inimigos. Quando recolhido, também estabilizava o barco quando o canhão disparava.
14. Atiradeira gigante
Ao invés de flechas, esta atiradeira enorme disparava pedras e bolas pesadas.
15. Ponte invasora
Este modelo proposto por Da Vinci consistia de uma ponte segura e móvel. Era apoiada em muros e protegia os soldados enquanto invadiam cidades e castelos.
Fonte:
28.4.10
15 armas de guerra criadas por Leonardo da Vinci
Os Nazistas Ocupam Paris
Os nazistas ocupam Paris: um "olhar sobre ombros" a partir da experiência de Agnès Humbert[1] Adnê Jefferson Moura Rodrigues, Ana Carolina Barros dos Santos, Tallyta Suenny Araujo da Silva[2] ______________________________________________________________________ Resumo: Este artigo pretende abordar a história da resistência civil francesa, vivida por Agnès Humbert e seus companheiros, pela perspectiva da micro-história juntamente com a Antropologia Interpretativa, a fim de observar esse fato histórico de grande importância de forma diferente da abordada pela história événementiele. Este artigo baseia-se no livroResistência que contêm trechos do diário de Agnès Humbert, o mesmo inicia-se no dia 7 de junho de 1940, quando boatos sobre o avanço alemão na Europa circulam por Paris, e termina em junho de 1945 quando a protagonista retorna para Paris, depois de sua deportação para a Europa. Palavras-chave: Resistência francesa – Agnès Humbert – micro-história – Antropologia Interpretativa Abstract: This article deals with the history of French civil resistance, played by Agnes Humbert and his companions, from the perspective of micro-history together with the Interpretative Anthropology in order to observe this historical event of great importance other than as addressed by événementiel history. This article is based on the book Resistance containing excerpts from the diary of Agnès Humbert, it starts on 7 June 1940, when rumors about the German advance on Europe move to Paris and ends in June 1945 when the protagonist returns to Paris after his deportation to Europe. Keywords: French resistance – Agnès Humbert – microhistory – Interpretive Anthropology 1.Introdução: Nascida em 1894 em Dieppe, Agnès Humbert passou sua infância em Paris, onde estudou pintura e desenho. Casou-se com o artista Georeges Sabbagh em 1916 e juntos tiveram dois filhos: o sub-marinheiro e conselheiro do general De Gaulle, Jean Sabbagh, e a produtora de televisão e diretora Pierre Sabbagh. Em 1934 eles vieram a se divorciar. Devido à publicação do estudo Louis David: peintre et conventionnel,Agnès recebeu o título de historiadora da arte em 1936. Em 1937, Agnès foi nomeada para um cargo no Museu Nacional de Artes e Tradições Populares, onde trabalhou como historiadora da arte. Em abril de 1941 o grupo de resistência aos alemães do qual ela participava foi traído e preso. Depois de quatro anos, em junho de 1945, ela foi liberada pelo Terceiro Exército dos Estados Unidos. Em 1949 ela foi condecorada com a Cruz da Guerra devido sua participação na Resistência; depois da guerra Agnès Humbert se recusou a voltar a trabalhar no Museu do qual fora demitida por ordem de Vichy. Apesar de a sua saúde ter sido afetada por suas experiências nas prisões e nas fábricas de trabalho forçado, Agnès continuou a escrever um livro sobre a arte até morrer em 1963. O diário de Agnès publicado é de grande relevância não somente por ser um mensageiro da memória da Resistência – registrando uma experiência do acontecimento antes que ele seja esquecido ou ganhe uma conotação simbólica diferente[3] – mas também por nos proporcionar uma visão do cotidiano de membros da resistência política e por ser o relato de uma mulher que esteve presente nesse movimento. Marina Colasanti[4] nos leva a refletir sobre o papel das mulheres durante as catástrofes bélicas, situação a qual as mulheres quase sempre saem perdendo seja por verem seus entes queridos mortos ou destruídos psicologicamente pela guerra seja por envolverem-se pessoalmente na guerra[5]. Mas Marina não considera que a experiência de Agnès tenha sido uma perda em função, principalmente, da forma como a protagonista vivenciou seu encarceramento tentando manter o bom humor intacto. Pela análise desse livro estaremos lendo "sobre os ombros" [6] da sociedade francesa controlada pelo exército alemão. Mergulhamos microscopicamente na realidade francesa durante a ocupação através da descrição densa de uma nacionalista inconformada com a presença dos alemães em sua nação. Como forma de protesto, Agnès articulou-se com outros patriotas para criticar o sistema político vigente. Esse movimento culminou na criação, por parte do grupo formado, do jornal Résistance. Esse relato nos proporciona uma descrição mais realista do comportamento humano, além do conhecimento sobre aspectos previamente não observados[7]. 2.Desenvolvimento: 2.1– As mulheres na França de Vichy: uma luta contra a repressão: Rebecca Halbreich[8] relata sobre as medidas que Philippe Pétain tentou adotar na França ocupada para reprimir a liberdade feminina baseando-se no retorno a estrutura social tradicional, na qual a atuação feminina estaria restrita ao lar e a maternidade. Essas ações foram inspiradas pelo "Três K" da doutrina de Hitler, (as iniciais das palavras alemãs de confinamento das mulheres a maternidade, a cozinha e igreja) e foi neste contexto que um grande número de mulheres francesas resistiu primeiro a Vichy, e mais tarde, aos regimes nazistas.[9] As mulheres, assim, mesmo reprimidas pela tentativa da implantação de uma nova moral, não permaneceram passivas diante da imposição desse sistema político opressivo. Elas atuaram como elementos de articulação entre os resistentes, auxiliaram na publicação clandestina de documentos contestando o governo, além de outros trabalhos. Agnès Humbert é um exemplo da atividade feminina durante a Resistência. A protagonista denominvaa-se "lebre de recados", devido ao seu trabalho como elemento de ligação e distribuição dos jornais de Résistance, além de ser datilógrafa desse mesmo jornal que ajudou a fundar. No livro Resistência também nos deparamos com a atividade de outras mulheres envolvidas no engajamento político, como Yvonne Odon e Sylvette Leleu que são condenadas a morte devido suas atividades na luta contra a ocupação nazista.A resistência operou-se de diferentes formas: algumas mulheres envolveram-se diretamente em ações que colocaram suas vidas em risco, como o grupo de Agnès, enquanto outros desenvolveram atividades menos perigosas, mas nem por isso de menor relevância. Não obstante, nem todas as mulheres, assim como nem todos os homens, envolveram-se na luta política. Enquanto Agnès, Colette e Christiane movimentam-se para tirar cópias do panfleto "33 Conselhos a quem vive em território ocupado"; existiam francesas que se davam "[...] admiravelmente bem 'com qualquer um que convivia com o Marechal'. Falam de Vichy revirando os olhos, da França renovada, revigorada pela provação.". Estas pessoas não devem ser imediatamente pré-julgadas por nós, pois nem todos que aceitavam as ordens concordavam com as mesmas. A resistência pode ter-se mantido no plano psicológico sem se concretizar em ações. [10] Para resistir a todas as provações vividas durante a ocupação, Agnès teve de manter seu moral elevado.Essa foi uma estratégia utilizada também por outras mulheres, como Marie-Claude Vaillant-Couturier, como nos relata Halbreich: Vaillant-Couturier seemed to know instinctively that good morale was the most important factor in her group's survival and from the beginning tried to raise spirits. After hearing about a whole transport from Holland that had not survived, she reflected that because 'they had bad morale, they hadn't fought back. […]'[11] Agnès tentou manter seu bom humor mesmo com as adversidades pelas quais passava. Inclusive diante do tribunal que anunciou o veredicto de cada membro do caso Museu do Homem, a equipe de Agnès continuou a realizar gracejos sobre a situação dos mesmos. É fato que houve momentos em que essa auto-estima fraquejou, mas a esperança da liberdade alimentou as forças para continuar a resistir ao cansaço físico e psicológico, à fome, às dores e as humilhações. A situação política das mulheres antes da Resistência era limitada por não terem direito ao voto, entretanto a ocupação da França representou um meio para a emancipação feminina. As experiências vivenciadas por essas mulheres tiveram como conseqüência o maior envolvimento em causas sociais e políticas, mesmo para aquelas que antes da guerra não estavam envolvidas em partidos políticos. Julien Blanc[12] relata que Agnès, depois de liberta, prosseguiu em atividades políticas e tornou-se presidente e fundadora do grupo Combattants de la Liberté, e presidiu a organização feminina Les Amies de La Paix. 2.2– Resistência: análise teórica de uma experiência particular: A História Social torna-se um ramo historiográfico de grande importância com o movimento dos Annales. Marc Bloch e Lucien Febvre, visando combater a história historicizante, defenderam uma história problema, interdisciplinar e com prioridade nos fenômenos coletivos. Essa nova historiografia priorizava a análise da sociedade na longa duração, termo criado por Fernand Braudel, importante representante dessa história estrutural. Assim, apesar de a primeira e a segunda geração dos Annales valorizarem aspectos diferentes em sua historiografia (mentalidades e economia, respectivamente) as duas tinham em comum a supressão da história dos indivíduos. Ao mesmo tempo em que a terceira geração dos Annales veio combater a história econômica de Braudel e seus seguidores – retomando aspectos abordados pelos pais fundadores dos Annales, como a história cultural e a antropologia histórica – ela recolocou em questão o papel do indivíduo na construção do processo histórico e retomou a duração mais curta dos eventos analisados. Segundo Hebe: Seria enganoso, entretanto, imaginar que a história social se tenha desenvolvido nas últimas décadas de modo harmônico e homogêneo. A ênfase na cultura, uma relativa redução da escala de análise e a predominância de perspectivas antropológicas, em relação às tendências sociologizantes do período anterior são características comuns que camuflam debates e uma imensa diversidade de objetos e abordagens.[13] A História Social caracteriza-se como uma aproximação com a antropologia. Esse intercâmbio com as ciências sociais possibilitou à história uma ampliação das temáticas na historiografia, assim, observar-se a emergência da história da família, das idades, da sexualidade, do simbólico, das representações religiosas, e outros diversos assuntos da área das ciências sociais. Uma das perspectivas antropológicas que estabeleceu intercâmbio com a história foi a Antropologia Interpretativa de Clifford Geertz[14]. Geertz considerava que a cultura era inerente ao ser humano e que a mesma determinava toda a ação social, ademais ponderava que as culturas poderiam ser lidas como textos ou análogas a textos. A descrição densa, que Geertz toma emprestado de Ryle, será utilizada também pela história ao interpretar seu objeto de estudo. A descrição densa fundamenta-se na análise contextual em que determinado evento ocorre, para que as "piscadelas" não sejam confundidas com "tiques nervosos"[15]. Dessa forma, segundo Fernando Silva[16], os historiadores ao utilizar a descrição densa estariam mais preocupados em construir uma interpretação de um evento do que saber sobre o fato ocorrido. Assim, com a ampliação dos métodos, abordagens, objetos e fontes; o diário de Agnès como fonte histórica não é menos verídica por ser um relato subjetivo e um "documento ordinário". Entretanto, é importante considerar que a interpretação sobre o relato de Humbert representa uma leitura "de segunda mão" [17], a partir das interpretações que a autora fez sobre os eventos que vivenciou. A interpretação é somente uma perspectiva, uma construção que alguém imagina, mesmo que se descreva densamente algo, a descrição não representa esse algo. A experiência de Agnès representa, assim, uma versão, entre os diferentes significados atribuídos à Resistência francesa. Essamúltipla simbologia, não presente no livro analisado e nem na mente da autora (pois a mesma estava mais próxima de uns símbolos do que de outros)[18], refere-se ao contexto geral que foi a Resistência, pois como o diário de Agnès nos informa, houve vários grupos que se opuseram ao sistema político da França ocupada. Não obstante, cada significado torna-se mais cognoscível a partir do relato de uma realidade pontual, como exemplifica o diário de Humbert. O estudo do acontecimento histórico em seu contexto não é, contudo, suficiente; necessita-se entender as experiências de quem viveu o acontecimento. As realidades pontuais e particulares são valorizadas tanto pela Antropologia Interpretativa – Geertz caracteriza sua descrição etnográfica como microscópica[19] - quanto pela micro-história. A micro-história nasceu na Itália, no final dos anos 70, como um número da edição da revista Quaderni Storici. Segundo Vainfas: [...] o surgimento da Micro-História tem a ver com o debate intelectual e historiográfico das décadas de 1970 e 1980. Tem a ver, também, com a questão da crise do paradigma marxista e de outros modelos de história totalizante e com a solução das mentalidades, que cedo se mostrou inconsistente no plano estritamente teórico-metodológico.[20] Revel nos informa que os primeiros micro-historiadores pretendiam "[...] se introduzir nos interstícios da análise serial e chegar até o 'vivido' e a experiência individual inacessíveis aos estudos agregados." [21]. A micro-história ainda que estude um indivíduo ou pequeno grupo na curta duração [...] não é uma sucessão cronológica de factos políticos e militares que inclua, como excepção, alguns episódios extraordinários de outro género; mas uma representação mais geral do estado da humanidade num determinado tempo, num determinado lugar, naturalmente mais circunscrito do que aquele em que costumam decorrer os trabalhos de história, no sentido mais vulgarizado do termo.[22] A micro-história utiliza um jogo de escala: partindo do geral, das macrodimensões pretende realizar um estudo pontual, chegar nas microdimensões. Segundo Levi, "O princípio unificador de toda pesquisa micro-histórica é a crença em que a observação microscópica revelará fatores previamente não observados." [23] O relato de Agnes está repleto desse princípio unificador da micro-história – conforme exemplificaremos no próximo tópico. Além da revelação de aspectos previamente não observados, Levi destaca como fundamentos da micro-história: a descrição mais realista do comportamento humano; a ação social como fruto da negociação, manipulação, escolhas e decisões individuais; as brechas e contradições dos sistemas normativos que possibilitam margens para a liberdade dos indivíduos; e a distinção das ambigüidades do mundo simbólico. Estes elementos também estão presentes em Resistência. 2.3- Os fundamentos da micro-história em Resistência: O relato de Agnès nos proporciona uma visão particular do cotidiano dos cidadãos da França ocupada e dos prisioneiros do regime nazista. A história dos civis durante as guerras, suas angústias, preocupações, anseios, medos e esperanças, auxiliam a revelar de forma mais realista os acontecimentos da história. Nesse relato é possível observar os quatro fundamentos da micro-história destacados por Giovanni Levi. Nem todos os franceses se rebelaram, nem todos aqueles que trabalhavam para os nazistas estavam a favor dos comandos do governo. Associações simplórias desse tipo não correspondem à realidade humana, esta é demasiada complexa. Agnès registrou em seu diário uma descrição mais realista do comportamento dos indivíduos imersos na 2ª Guerra Mundial. Os rumores da aproximação dos alemães da França ocasionaram mobilizações para a prevenção da tomada. Inicialmente, pequenos atos anunciaram o prenúncio da invasão alemã. No Museu do Homem, Agnès teve de embalar os livros da biblioteca e as coleções já haviam sido removidas. Consciente da tentativa de iludir-se, Agnès escreve a Friedmann que removeu os livros dele para o seu porão por medo de haver algum bombardeio. Os temores se concretizaram e Agnès e outros franceses deixaram Paris. Humbert relata o desespero dos cidadãos ao partirem da capital: Meu coração anda cheio de imagens bárbaras que acabo de ver durante os noves dias da minha viagem inverossímil. [...] Todas essas imagens são incoerentes, se amontoam, se acotovelam na minha cabeça. Minha partida de Paris, milhares de pessoas a pé, de bicicleta, de carro... os carros logo abandonados, por falta de gasolina ou de uma peça de reposição. [...] Será que algum dia esquecerei uma jovem exaurida, empurrando um bebê grandão entalado num carrinho de boneca no qual não cabia e de ondeameaçava cair a cada passo?[24] Durante a fuga apressada, uma moça foi atropelada por um caminhão militar francês e não pode ser socorrida devido à ausência de médicos e farmacêuticos no hospital. Durante essa fuga desesperada, uma mãe perdeu suas filhas, enlouquecendo. Quando o anuncio da tomada de Paris é anunciado, Agnès relata que os homens ao seu lado "choravam em silêncio" [25], enquanto ela gritava que isso não era possível. Agnès decide retornar a Paris ao saber do início da resistência civil de parisienses que rasgam os cartazes alemães. Mas em sua volta, a protagonista depara-se com a subordinação ao regime por parte de alguns cidadãos. Os alemães tentaram controlar a cidade não só politicamente, como também culturalmente, ao proibir certos livros franceses e impor os alemães. Inconformada com essa situação, Agnès reúne-se com conhecidos para formar um grupo resistência. Essas pessoas, apesar de seus atos de coragem, não são os heróis idealizados sem receios e temores. Como qualquer ser humano, eles tiveram dúvidas[26], mas, mesmo assim, eles continuaram com suas atividades políticas. Como estavam conscientes, os membros do jornal Résistance foram presos. Na prisão, as relações sociais foram aos poucos estabelecidas e a solidariedade e o companheirismo com os outros presos acabaram crescendo. Outra vida foi construída dentro da prisão[27].Entre os carcereiros é possível encontrar tanto pessoas que se apiedam da situação dos presos quanto indiferentes. Na França é possível encontrar pessoas que pensam mal dos presos enquanto na Alemanha existem aqueles que lamentam a condição dos mesmos[28]. Em relação ao segundo fundamento da micro-história, as ações individuais daqueles que se opuseram a dominação alemã foram importantes para incentivar à resistência naqueles que permaneceram inertes ou aderiram ao governo. Como afirma Julien Blanc: "Engajamento individual por excelência que se apóia numa escolha pessoal e livremente consentida, o ato de resistir se insere também de pronto numa abordagem coletiva." [29]. Atitudes de oposição como as do Sr. Jaujard, diretor dos museus nacionais, dos membros do Résistance deram força para que a Resistência se concretizasse. Há ainda, o "agente de saúde" [30], que em Krefeld oferece a Agnès um sanduíche que escondeu; os solados de Schwelm que fizeram pantufas para as prisioneiras "nas barras de seus capotes militares" [31], consertaram os coturnos das mesmas e mandaram comida e remédio, além do policial da fábrica de Phrix, Erb, que incentiva a fuga de Agnès[32] e que esconde um ovo no seu quepe para dar-lhe[33]. Esses são exemplos de como as ações individuais de alguns demonstram a insatisfação social com o regime nazista. Os exemplos acima também caracterizam o terceiro fundamento da micro-história. Esses indivíduos contradisseram o sistema normativo nazista ao auxiliar os condenados pelo governo. Outros exemplos são: a secretária[34] que entrega a Agnès dois alfinetes, depois de a guardiã lhe recusar; Agnès e sua amigas que entregam fatias de pão para as mulheres que trabalhavam na sala 35 de Phrix depois que estas foram punidas pelo diretor de Anrath correndo o risco de serem castigadas da mesma forma que elas; quando Agnès recusa-se a assinar um pedido de clemência por causa de sua saúde, mesmo já tendo sofrido bastante devido as péssimas condições de trabalho da fábrica Phrix. Julien Blanc afirma que a própria existência de um diário com tantos detalhes sobre os membros do jornal correspondia a uma violação as regras de segurança[35], pois se o mesmo caísse nas mãos dos inimigos seria uma prova de grande peso para a condenação do grupo de Agnès. As ambigüidades do mundo simbólico, presentes em Resistência, são exemplificadas no código utilizado pelos presos (vinte e dois) quando algum guarda está chegando, que são explicados para um novato, mas que, segundo Agnès, não corresponde ao verdadeiro significado[36]. A simbologia da guerra também se revela ambígua. Agnès afirma que para grande parte dos americanos "[...] a guerra é uma atividade abstrata e teórica." [37], pois os mesmos não passaram pela repressão aos civis e nem sofreram com ataques a seus lares e a sua nação. O diário de Agnès está repleto de exemplificações do "princípio unificador de toda pesquisa micro-histórica" [38]. Primeiramente, somente por ser um relato de uma mulher no tempo da Resistência, o relato de Agnès já representa uma perspectiva que não era previamente observada. Segundo Blanc [...] Notre Guerre* lança uma luz de primeira ordem sobre o papel e o lugar das mulheres nessa primeira Resistência e, mais amplamente, no combate clandestino. Não que elas costumem estar ausentes ou ser invisíveis. Nos testemunhos de membros do movimento, bem como nas obras de historiadores ou de jornalistas, rende-se igualmente homenagem ao engajamento feminino na Resistência. Ponto de passagem obrigatório, louvam-se sua dedicação, seu trabalho nas sombras sem o qual nada teria sido possível, seu sacrifício e, com freqüência, seu martírio. Contudo, uma vez levantada tais evidências de praxe, a cortina se fecha, e as mulheres costumam ser relegadas a um plano secundário.[39] Blanc ainda afirma que o diário de Agnès faz uma revelação inédita ao retratar a resistência de intelectuais, desfazendo, assim, as imagens do intelectual como "[...] recluso voluntário em sua torre de marfim, debruçado sobre seus papéis o tempo todo e incapaz de conceber outra coisa que não uma rejeição intelectual," [40] Ademais, Agnès nos informa sobre os métodos iniciais de pressão psicológica alemã que consistia em vários oficiais circulando ao redor do prisioneiro e gritando todos ao mesmo tempo, além de colocar em alto volume alguma música. Com o diário, conhecemos o cotidiano dos prisioneiros tanto enquanto estão encarcerados, quanto durante os trabalhos forçados nas fábricas da Alemanha. Há ainda as demonstrações de compaixão daqueles que trabalhavam para o governo nazista com os prisioneiros, como já anteriormente citado. Vemos esse fator, desde o início, como durante o julgamento dos membros do caso do Museu do Homem, em que o presidente do tribunal, Ernst Roskothen, revela grande respeito aos acusados e a condenação dos mesmos lhe desagrada[41]. 2.4– Do ponto de vista de Agnès: Antropologia Interpretativa em Resistência: Conforme Geertz afirma não é preciso pertencer à cultura descrita para compreendê-la. Para isso, é necessário alcançar uma aproximação interpretativa da cultura através do conceito de "experiência-próxima" e "experiência-distante", de Heinz Kohut, apropriado por Geertz[42]. A descrição vista "de dentro", "na primeira pessoa" por Agnès não representa, de forma plena, a maneira como pensavam os franceses subjugados ao regime alemão, mas também a descrição vista "de fora", "na terceira pessoa" não representa a visão dos "nativos" franceses. Ao mesmo tempo em que o relato de um indivíduo imerso em uma cultura aparenta ser mais realista, e segundo a micro-história representa exatamente uma descrição mais realista do comportamento humano, este relato também está limitado pela própria cultura que a pessoa deseja abordar, já que o mesmo pertence à cultura que relata. Da mesma forma, quem está de fora da cultura tem uma melhor macro-visão da mesma, mas nem sempre compreende os detalhes de funcionamento da cultura que estuda e sua visão está influenciada pela cultura a qual pertence. Dessa forma, o relato da "experiência-próxima" está repleto de miudezas enquanto o relato da "experiência-distante" repleto de abstrações. É necessária uma conciliação entre essas duas perspectivas a fim de "[...] produzir uma interpretação do modus vivendi de um povo que não fique limitada pelos horizontes mentais daquele povo [...] nem que fique sistematicamente surda às tonalidades de sua existência [...]" [43]. A fim de captar o ponto de vista do nativo, Geertz afirma que é preciso "[...] não se deixar envolver por nenhum tipo de empatia espiritual interna com seus informantes." [44]. Nesse sentido, para compreender o que as pessoas de uma cultura percebem sobre si mesmas, sobre sua própria cultura e sobre o que acontece em seu cotidiano é preciso entender a concepção destes sobre sua realidade. Ao nos relatar sua experiência sobre a Resistência, Agnès permite nos aproximarmos da sociedade francesa ocupada pelas forças alemãs. Não foi preciso a vivência dos mesmos fatos de Humbert para entender o que estava acontecendo na França. Uma realidade pontual nos permitiu o entendimento de parte da realidade da época. Para compreender uma sociedade, deve-se ter em vista tanto os menores detalhes quanto as estruturas globais. Assim, deve-se oscilar dialeticamente "[...] de uma visão da totalidade através das várias partes que a compõem, para uma visão das partes através da totalidade que é a causa de sua existência [...]" [45], para que "[...] uma seja explicação para a outra." [46]. A fim de entender a sociedade francesa na época da Resistência deve-se compreender o evento histórico da Resistência de forma global, a participação de outras mulheres, as opiniões e ações de outras pessoas. Como anteriormente afirmado, o diário de Agnès nos proporciona apenas uma perspectiva, ainda que de grande relevância, do evento histórico da Resistência. 3.Conclusão: A participação de Agnès Humbert na resistência contra a ocupação alemã, registrada em seu diário, nos evidencia certos aspectos da sociedade francesa nos anos de 1940 como as tensões pré-ocupação nazista em Paris e a libertação dos prisioneiros franceses na Alemanha pelo exercito estadunidense em 1945. A atuação feminina nos movimentos sociais, as contradições das atitudes humanas e o cenário político do período são apenas alguns elementos que retratam a conjuntura social da França na Segunda Guerra Mundial. Agnès destacou-se por sua colaboração na criação de Rèsistance. Sua trajetória desde a atuação nas reuniões de formação do movimento, sua reclusão em Cherche-midi, sua deportação para Alemanha na cidade de Wanfried e depois sua libertação e volta para Paris, tornaram perceptíveis as movimentações de seus companheiros assim como a heterogeneidade das ações coletivas e vontades individuais. Tais aspectos são importantes para demonstrar como a abordagem micro-histórica e a análise interpretativa evidenciam as características psicológicas e antropológicas dos indivíduos além das relações estabelecidas na sociedade. Seus escritos, tomados como fonte histórica, proporcionam um reconhecimento de aspectos até então não observados nas macro-dimensões, o que torna a leitura dos acontecimentos mais realista, permitindo um olhar mais próximo de casos particulares e de suas peculiaridades. A descrição das situações participadas e dos símbolos interpretados por Agnès tornam visíveis e compreensíveis os fatos por evidenciar as particularidades do acontecimento, integrando de forma pontual as "realidades" e suas "possibilidades." [47] Destarte, colocamos que uma abordagem micro-histórica não tem por objetivo retratar os fatos tal como aconteceram, mesmo estando mais próxima dos sujeitos. Ou seja, além do estudo de foco micro "[...] a compreensão depende de uma habilidade para analisar seus modos de expressão, aquilo que chamo de sistemas simbólicos." [48]. Em suma, a micro-história visa compreender a multiplicidade dos comportamentos considerando que os significados são entendidos e condicionados pelos interesses de dado grupo na sociedade em seu tempo. Nesta perspectiva, os relatos Agnès são de grande relevância para a compreensão do movimento de Resistência. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: CASTRO Hebe. "História Social". In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo.Domínios da história: ensaios de teoria e metodologia. RJ: Campus, 1997. (pp. 45 – 59) DARTON, Robert. "História e antropologia". In: O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução. Tradução Denise Bottmann. São Paulo: Cia da Letras, 1990, (pp. 284 – 303) GEERTZ, Clifford. "Uma descrição densa: por uma teoria interpretativa da cultura". In: - -, A Interpretação das Culturas. RJ: LTC, 1989. ________________. "'Do ponto de vista dos nativos': a natureza do entendimento antropológico". In: O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Clifford Geertz; tradução de Vera de Mello Joscelyne – Petrópolis, RJ: Vozes, 1979, (pp. 85 – 107). GUINZBURG, Carlo. Provas e possibilidades à margem de "Il ritorno de Martin Guerre", de Natalie Davis. In: A micro-história e outros ensaios. Lisboa: Difel, Rio de Janeiro: Bertrand Brail, 1991, (pp. 179 – 202) HALBREICH, Rebecca G. Women In The French Resistance. Disponível em: HUMBERT, Agnès. Resistência: a história de uma mulher que desafiou Hitler. Agnès Humbert; [posfácio de Julien Blanc]; tradução Regina Lyra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2oo8. LEVI, Giovanni. "Sobre a micro-história" In:BURKE, Peter (org.) A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Ed. UNESP, 1992, (pp. 133 – 161) REVEL, Jacques. Sobre a escala na micro-história. In: Jogos de escala: a experiência da micro-análise. RJ: FGV, 1998, (pp. 77 – 102), p. 84. SILVA, Fernando Teixeira da. História e Ciências Sociais: zonas de fronteira. In: História[online]. São Paulo, v.24, n.1, (pp. 127 – 166), 2005, (p.150). Disponível em: VAINFAS, Ronaldo. Os protagonistas anônimos da história. São Paulo, SP: Campus, 2002, p.68 [1] Esse artigo foi originalmente produzido como uma das avaliações da disciplina antropologia histórica ministrada pelo professor Dr. Antônio Maurício Dias da Costa, que realizou as correções no mesmo. O título original do artigo (Resistência: micro-história e antropologia interpretativa) foi modificado por motivos estéticos [2] Os autores são graduandos do curso de história pela Universidade Federal do Pará. [3] GEERTZ, Clifford. "Uma descrição densa: por uma teoria interpretativa da cultura". In: - -,A Interpretação das Culturas. RJ: LTC, 1989, p.31 [4] COLASANTI, Marina. "Prefácio". In: Resistência: a história de uma mulher que desafiou Hitler. Agnès Humbert; [posfácio de Julien Blanc]; tradução Regina Lyra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2oo8. [5] "As mulheres sempre perdem a guerra. Não a querem, mas perdem. Perdem quando estão no caminho dos exércitos e se tornam botim. Perdem quando batalham em silêncio nas cidades esvaziadas dos homens, para manter sólida a retaguarda e conservar a ordem do país. Perdem quando recebem seus homens no caixão ou quando eles voltam com o equilíbrio despedaçado. Perdem quando se apaixonam pelo inimigo e quando o inimigo se apaixona por elas.". (Ibidem, p. VII) [6] Cf. GEERTZ, C."O crescimento da cultura e a evolução da mente". In: - -, A Interpretação das Culturas. RJ: LTC, 1989, p.88 [7] LEVI, Giovanni. "Sobre a micro-história" In:BURKE, Peter (org.) A escrita da história:novas perspectivas. São Paulo: Ed. UNESP, 1992, (pp. 133 – 161) [8] HALBREICH, Rebecca G. Women In The French Resistance. Disponível em: <http://userwww.sfsu.edu/~epf/1994/resist.html>. Acessado em: 5 dez. 2009 [9] Idem, (tradução nossa) [10] HUMBERT, Agnès. "Paris, 18 de agosto de 1940". In: Resistência: a história de uma mulher que desafiou Hitler. Agnès Humbert; [posfácio de Julien Blanc]; tradução Regina Lyra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2oo8. [11] Idem [12] BLANC, Julien. "Posfácio". In: Resistência: a história de uma mulher que desafiou Hitler. Agnès Humbert; [posfácio de Julien Blanc]; tradução Regina Lyra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2oo8. [13] CASTRO, Hebe. "História Social". In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo.Domínios da história: ensaios de teoria e metodologia. RJ: Campus, 1997, p.51 [14]GEERTZ. "Uma descrição densa: por uma teoria interpretativa da cultura". Op. Cit. [15] Idem [16]SILVA, Fernando Teixeira da. "História e Ciências Sociais: zonas de fronteira". In:História [online]. São Paulo, v.24, n.1, (pp. 127 – 166), 2005, (p.150). Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/his/v24n1/a06v24n1.pdf>. Acessado em: 22 out. 2009 [17] GEERTZ. Op. Cit., p.25 [18] DARTON, Robert. "História e antropologia". In: O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução. Tradução Denise Bottmann. São Paulo: Cia da Letras, 1990, (pp. 284 – 303) [19] Ibidem, p.31 [20] VAINFAS, Ronaldo. Os protagonistas anônimos da história. São Paulo, SP: Campus, 2002, p.68 [21] REVEL, Jacques. Sobre a escala na micro-história. In: Jogos de escala: a experiência da micro-análise. RJ: FGV, 1998, (pp. 77 – 102), p. 84 [22] GUINZBURG, Carlo. Provas e possibilidades à margem de "Il ritorno de Martin Guerre", de Natalie Davis. In: A micro-história e outros ensaios. Lisboa: Difel, Rio de Janeiro: Bertrand Brail, 1991, p.192 [23] LEVI. Op. Cit., p.139. [24] Humbert. Resistência, 20 de junho de 1940, p. 11 [25] Ibidem, p. 12 [26] Cf. Humbert, A. "Paris, final de dezembro de 1940", p.31 [27] "A vida de minhas companheiras se enrosca na minha como as gavinhas de uma videira. [...] minha vida particular, minha casa, minha família aos poucos vão ficando fora de foco.[...] foi uma outra vida que começou aqui, uma outra vida, ou melhor, uma morte provisória." (Ibidem, Cherce-Midi, 24 de abril de 1941, p. 61 [28] Cf. "Humbert, A. Op. Cit., "A prisão de Cherche-Midi", p.72 e "Krefeld, 21 de abril de 1942", p.114, como exemplo desses posicionamentos. [29] BLANC. Op. Cit. [30] Ibidem, "Na fábrica 'Phrix', a tecelagem de seda artificial", p.165 [31] Ibidem, "Doze ofícios, treze mazelas", p.190 [32] Ibidem, "Na fábrica 'Phrix', a tecelagem de seda artificial", p. 159 [33]Ibidem, "Na fábrica 'Phrix', a tecelagem de seda artificial", p. 170 [34][34] Ibidem, "Na fábrica 'Phrix', a tecelagem de seda artificial", p. 144 *Notre Guerre é o nome da versão francesa do diário de Agnès. Agès Humbert, Notre Guerre: souvenirs de Résistance. Paris: Éditions Émile-Paul Frères, 1946, 413 p. [35] BLANC. Op. Cit., p. 248 [36] Cf. Humbert. Op. Cit., "A prisão de Cherche-Midi", p. 77 [37]HUMBERT. Op. Cit., "Wanfried, 15 de abril de 1945", p.214 [38] LEVI. Op. Cit. [39] BLANC. Op. Cit., p.269 [40]Ibidem, p. 283 [41] Cf. HUMBERT, Op. Cit., "Prisão de Fresnes, 9 de janeiro de 1942", p. 89 e "Apêndice; documentos sobre a resistência", p. 301, Op. Cit. [42] Cf. Geertz, C. "'Do ponto de vista dos nativos': a natureza do entendimento antropológico". In: O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Clifford Geertz; tradução de Vera de Mello Joscelyne – Petrópolis, RJ: Vozes, 1979, (pp. 85 – 107). [43] Ibidem, p.88 [44] Idem [45] Ibidem, p.105 [46] Idem [47] GUINZBURG. Op. Cit., p.183 [48] GEERTZ. "'Do ponto de vista dos nativos': a natureza do entendimento antropológico".Op. Cit. FONTE:
Um ''olhar sobre ombros'' a partir da experiência de Agnès Humbert
http://www.webartigos.com/articles/36313/1/Os-Nazistas-Ocupam-Paris/pagina1.html.
Movimentos sindicais e transformação no mundo do trabalho
As profundas mudanças que temos vivenciado, especialmente nas últimas décadas, a partir de uma acumulação intensa do capital financeiro e especulativo, favorecendo a introdução de novas tecnologias, provocaram uma crise profunda na classe trabalhadora, criando formas inovadoras de exploração. Se de um lado, num primeiro momento, a máquina contribuiu com o operário brasileiro, por outro vemos a substituição do trabalho humano por máquinas, na maioria dos processos produtivos, conseqüentemente gerando o fechamento de diversos postos de trabalho. Hoje, sabe-se que o que está em jogo, é a capacidade da classe trabalhadora se manter atuante dentro de organizações sindicais. Ao analisar toda a luta reivindicatória do operariado brasileiro, percebemos que muitas conquistas foram obtidas, mas hoje, é necessária uma luta ainda maior para que o trabalhador possa se manter no trabalho. Ao analisarmos o período do pós Segunda Guerra, verificamos um rápido crescimento econômico, mas percebemos que esse crescimento não refletiu de forma proporcional na melhoria das condições de vida da maioria da população brasileira, pelo contrário, o resultado dessa política tem sido o aumento do desemprego em nosso país. MUNDOS DO OPERARIADO NO BRASIL (1889-1930) No final do século XIX, muitos imigrantes transformavam-se em grandes industriais em todo o país. Os Irmãos Hering, artesãos têxteis, alemães emigrados em 1878, montaram sua tecelagem em Blumenau, em 1914, e criaram também uma fiação ampliando o número de operários e a produção do grupo. Em Joinville, Karl Doehler inaugurava a primeira indústria de tecidos de Santa Catarina; a empresa têxtil União Fabril, fundada por Rheingantz em 1874, já possuía, em 1896, três fábricas no Rio Grande do Sul, empregando um total de 900 operários. Em São Paulo, os italianos Nicolau Scarpa, Rodolfo Crespi e Francisco Matarazzo lideravam o setor de tecelagens, sendo que esse último, construiu um verdadeiro império industrial, as Indústrias Matarazzo, com fábricas de fósforos, óleo, sabão, moinho de trigo e massas alimentícias. No Rio de Janeiro, despontavam o português Domingos Alves Bibiano, ligado à Cia. América Fabril, de tecidos e o inglês Walter Clarkson, da Cia. Henry Rogers, fabricante de tecidos e máquinas têxteis. O número de indústrias foi crescendo rapidamente. Em 1919, já havia, 13.336 indústrias, com 275.512 operários. Junto com as fábricas, cada vez mais mecanizadas, surgiam inúmeras máquinas que prometiam transformar o mundo do trabalho. Os automóveis, os telefones, o telégrafo elétrico, a fotografia e o cinema foram algumas das novidades mecânicas do século XX, as quais encurtavam distâncias, reproduziam a realidade e alteravam o ritmo do tempo. Alguns ficaram seduzidos por esses novos tempos conforme abaixo: A era da máquina traz no seu bojo (...) a única liberdade a que o homem seriamente aspira, a de se libertar da natureza pela técnica, a de se tornar senhor e não escravo da máquina (Oswald de Andrade. Ponta de Lança). A partir de toda a sedução em torno das máquinas, girava em torno do operariado uma triste realidade, pois trabalhavam muitas horas por dia, inclusive aos sábados e quando havia muitas encomendas, também aos domingos. O ambiente era o pior possível, insalubre, com calores intensos dentro dos barracões sem janelas e sem ventilação. Juntamente com os operários, havia também a exploração do trabalho infantil, onde crianças perdiam completamente sua infância, conforme relato de Jacob Penteado, um imigrante italiano e operário da indústria vidreira, no início do século. “Os meninos sempre foram indispensáveis, nas fábricas de vidro. Muitas tarefas auxiliares só eles podiam executar, sem contar que representavam mão-de-obra a preços dos mais vis”. Nas fábricas também trabalhavam muitas mulheres, as quais sob péssimas condições de higiene e segurança viviam doentes ou se acidentavam constantemente no trabalho. É importante ressaltar que os salários praticados aos trabalhadores eram os mais baixos possíveis. Dentro das fábricas havia um controle muito grande, não sendo possível ao trabalhador conversar com colegas, fumar, ou estar fora do posto de trabalho. Para ir ao banheiro, o operário tinha que pedir permissão ao encarregado, devendo pedir licença e explicar o que ia fazer. A introdução de máquinas nos processos produtivos serviram para aliviar a carga imposta ao operário, pois não era mais preciso ter muita força física, já que a força mecânica fazia o trabalho mais pesado. Vivendo em péssimas condições, alimentando-se mal e pouco e trabalhando muitas horas seguidas, era de se esperar que as condições de higiene e saúde dos trabalhadores fossem muito precárias. Eram comuns doenças como a tuberculose, a desinteria, o tifo, o sarampo e a lepra, nos bairros operários. Isso sem falar da mortalidade infantil. Muitas epidemias começavam nos bairros operários, que não tinham água encanada e onde o lixo ficava amontoado pelas ruas, atraindo ratos e mosquitos. OS OPERÁRIOS SE ORGANIZAM As péssimas condições de vida e trabalho dos operários, motivaram as organizações de trabalhadores no início do século XIX. Uma das principais características do movimento operário brasileiro do início do século era seu internacionalismo, isto é, a crença em ideais comuns a todos os operários, a união dos trabalhadores no mundo todo em torno de lutas e interesses coletivos. Uma das reivindicações comuns aos operários em todo o mundo era a jornada de oito horas de trabalho, como foi o caso do manifesto da Federação Operária que realizou uma greve geral que paralisou várias fábricas de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Recife, Santos entre outras. Esse movimento durou mais de um mês e envolveu operários de todos os ramos da indústria, como metalúrgicos, pedreiros, sapateiros, marmoristas e canteiros, gráficos, tecelões, chapeleiros, costureiras, trabalhadores em madeira. É importante destacar que os salários não eram pagos durante as greves, sendo assim, muitas vezes os operários acabavam voltando ao trabalho sem nada conseguir. As conquistas obtidas com as greves nunca eram definitivas. Por isso, de tempos em tempos, os operários entravam em greve; em 1906, os ferroviários de São Paulo pararam por melhores condições de trabalho e salários; em 1912-1913, operários de várias categorias fizeram greves contra a carestia da vida e por melhores salários. O primeiro grande movimento grevista da história sindical no Brasil que paralisou a cidade de São Paulo em 1917, iniciou-se com greves localizadas em fábricas têxteis, nos bairros da Moóca e do Ipiranga. Os líderes grevistas reivindicavam melhores salários e melhores condições de trabalho, além da exigência de supressão da contribuição "pró-pátria" (campanha de apoio financeiro à Itália, desenvolvida pela burguesia imigrante de São Paulo, chegando até a fazer descontos dos salários dos trabalhadores, como foi o caso do Cotonifício Crespi). As manifestações de rua foram duramente reprimidas pela polícia, culminando com o assassinato do sapateiro anarquista Antonio Martínez. Durante um mês a cidade de São Paulo viveu a agitação dos comitês de greves, que apesar de mostrar uma considerável capacidade de mobilização do operariado, não serviam para sensibilizar o estado. Ao longo de toda República Velha (1889-1930) os governos oligárquicos tratavam a questão social como "caso de polícia", preferindo assim, adotar medidas arbitrárias, como espancamento e prisão das lideranças grevistas e expulsão dos estrangeiros do país. Apesar da forte repressão, o movimento grevista liderado pelo sindicalismo de inspiração anarquista e com a participação maciça de imigrantes italianos e espanhóis, estendeu-se praticamente até 1919 para várias regiões do território brasileiro. Se por um lado as greves não alcançaram seus objetivos mais imediatos, certamente contribuíram para promover debates no meio operário sobre os rumos do movimento sindical. A fundação da Confederação Operaria Brasileira (COB) em 1906, por iniciativa de sindicatos do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul e Pernambuco foi um dos mais importantes marcos no processo de mobilização do operariado brasileiro. Na esfera ideológica, desde 1892, verificava-se a presença de princípios socialistas entre elementos da classe operária, que até a década de 1920 era mais influenciado pela ideologia anarquista e anarco-sindicalista, inspirada nas doutrinas dos russos Bakunin e Kropotkin e no francês Proudhon. Para o anarquismo, o operariado deve ter como objetivo final a implantação de uma sociedade igualitária, antecedida da destruição do Estado capitalista. O anarquismo, contrário a toda forma de governo, entende o Estado e a política como invenções burguesas, negando qualquer forma de poder institucionalizado. Apesar de os anarquistas terem dominado o movimento operário em todo o Brasil até pelo menos os anos 20, existiam outras idéias e divergência quanto às formas de luta e organização operárias. Junto com esses movimentos pela organização dos operários, difundia-se a idéia de que eram os trabalhadores que sustentavam toda a sociedade, no mundo inteiro. Eram os operários que trabalhavam e produziam toda a riqueza e, por isso, o mundo deveria ser controlado pelos trabalhadores. Assim, a terra, as fábricas e as máquinas, as matérias-primas, não deveriam ser propriedades de algumas pessoas, os capitalistas, mas de todos os trabalhadores. E o resultado do trabalho de todos deveria ser não apenas de algumas pessoas, mas sim distribuído entre todos. Dessa forma, não haveria mais nem ricos nem pobres, nem dominadores nem dominados. Esse tipo de sociedade, em que todos seriam iguais. A IMPRENSA OPERÁRIA Além de sua intensa militância sindical e política, os operários brasileiros do início do século produziram diversos jornais, editados em diferentes línguas, voltados para a discussão dos problemas do operariado. Os jornais eram uma das formas de divulgar as propostas políticas dos trabalhadores e lutar contra a exploração e a opressão capitalista. Dentre os jornais operários destaca-se: A Terra Livre; o Trabalhador Gráfico; O Trabalhador Vidreiro; Avanti!; Nossa Voz; A Plebe; A Voz do Trabalhador entre outros. O TEATRO OPERÁRIO O Teatro Operário foi outra ferramenta de luta para o operariado. Militantes anarquistas fizeram do teatro uma força de apoio às suas lutas e à construção de uma nova sociedade quase tão grande quanto a imprensa. Vários foram os grupos amadores de teatro, vinculados diretamente a associações operárias, surgidos no início do século XIX em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Santos, entre outras. Eles propunham um teatro social de conteúdo crítico e voltado para os interesses do proletariado, sendo as peças, às vezes representadas pelos próprios operários em salões dos bairros operários e nas sedes dos sindicatos. Foram várias as experiências e iniciativa de dirigentes do operariado, sempre ligadas à política cultural dos anarquistas. Em 1904, no Rio de Janeiro, foi fundada a Universidade Popular de Ensino Livre, sob a iniciativa de líderes sindicalistas locais, tendo em seu corpo docente intelectuais famosos, bem como dirigentes operários. A educação era pensada e termos de instrução imediata. Através de palestras, debates e conferências, levantavam-se questões relacionadas com o cotidiano operário. Uma instrução de caráter classista, que enfatizasse os interesses opostos da classe dominante e trabalhadora, era proposta dentro dos sindicatos e fora deles pelos diferentes grupos. Os estatutos dos sindicatos traziam, na época, como pauta central, a fundação de escolas, bibliotecas, cursos de alfabetização para os sindicalizados. O dia 1º de maio passou a ser comemorados pelos trabalhadores em todo o mundo a partir de 1890, quando foi realizada a primeira paralisação simultânea, em vários países, como símbolo da memória de luta dos trabalhadores. Desde 1890, o 1º de maio tornou-se uma data dos trabalhadores. Não era um dia de feriado, ao contrário, era um dia de falta coletiva ao trabalho, um dia de paralisação definido e defendido pelos operários em todo o mundo. Era um dia para lembrar as lutas passadas, para protestar, para reafirmar a disposição de continuar lutando, para levantar bandeiras e reivindicações e expressar a vontade de mudar o mundo. CONSIDERAÇÕES FINAIS O período de 1889-1930, foi um período de um vigoroso aumento da produção industrial que trouxe consigo o crescimento da massa de trabalhadores urbanos. Mas, é importante ressaltar que o desenvolvimento industrial não produziu a distribuição da riqueza nem melhorias na vida do proletariado industrial formado por migrantes que partiam do campo para as cidades. Pelo contrário, as condições de existência nos centros urbanos eram extremamente degradadas para a classe operária, com os trabalhadores cumprindo uma carga horária excessiva, em indústrias insalubres. Tal situação não poderia provocar outra coisa senão a organização de sindicatos e associações e a realização de inúmeras greves pelo país. Ao longo do trabalho percebemos que as lutas foram intensas, à fim de assegurar melhorias à classe trabalhadora. Muitas pessoas foram presas, torturadas, mortas em torno de uma bandeira de luta. Atualmente, o Movimento Sindical tem o papel de representar e defender os trabalhadores no conjunto dos seus interesses, tanto aqueles que se colocam na fábrica como os que estão ligados à sua vida cotidiana e que se referem à moradia, saúde, educação, lazer, entre outras necessidades da classe trabalhadora. REFERÊNCIA: MACIEL, Laura A. Fábrica, vida urbana, a trajetória do movimento operário. In: CNM/CUT, Caderno de matemática. Programa Integrar, 1998. PINHEIRO, Paulo Sérgio. “O proletariado industrial na Primeira República”. In: FAUSTO, Boris. História Geral da Civilização Brasileira. São Paulo, Difel, Tomo III, v. 2, 1977. FONTE:INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
http://www.webartigos.com/articles/36598/1/MUNDO-DO-OPERARIADO-NO-BRASIL-/pagina1.html.
Zapotecas
Durante o período pré-colombiano a civilização zapoteca foi uma das mais desenvolvidas de toda a Meso-América, que desnvolveu entre outros aspectos de sua cultura, a escrita. Vários indivíduos de ascendência zapoteca emigraram para os Estados Unidos por várias décadas, mantendo suas próprias organizações sociais nas áreas de Los Angeles e Central Valley, no estado norte-americano da Califórnia. Há quatro subgrupos principais dentro da etnia zapoteca: os “istmeños”, que vivem ao sul do istmo de Tehuantepec; os “serranos”, habitantes das montanhas a norte da Sierra Madre de Oaxaca; os “zapotecas do sul”, que vivem ao sul das montanhas de Sierra Sur e, finalmente, os “zapotecas do vale central”, que vivem ao redor do vale de Oaxaca. O termo zapoteca é na verdade uma derivação da palavra do idioma nahuatl “tzapotecah” (singular “tzapotecatl”) que significa “habitantes da região dos sapotizeiros” (sapotizeiro é uma árvore frutífera, produtora do sapoti, e de onde se retira o látex para fabricação da goma de mascar). Os zapotecas referem-se a si mesmos como “Beenaa”, ou “o povo”. Os primeiros zapotecas chegaram a Oaxaca vindos do norte, provavelmente cerca de 1000 a.C. Apesar de não tentarem remover nenhum dos povos vizinhos de suas terras, este terminaram por ser a etnia predominante naquela região. Construíram importantes cidades, sendo as mais famosas Monte Albán e Mitla. A religião atual que predomina entre a comunidade zapoteca é a cristã, de orientação católica. Algumas das antigas crenças e práticas, como por exemplo o enterro dos mortos com seus bens, ainda sobrevivem. A língua zapoteca está agrupada em cerca de 60 variantes, incluindo a língua Chatino que relacionada ao grupo zapoteca. A variante mais importante é a do istmo, popular na área litorânea ao sul do istmo de Tehuantepec. As mulheres zapotecas do estado de Oaxaca exercem vários papeis sociais em suas famílias e comunidades. Assim como em diversas culturas a mulher zapoteca assumiu diferentes posições sociais ao longo da história. Essas posições relacionam-se com o casamento, criação dos filhos e trabalho. Isto as tornam até os dias de hoje personagens de relevo no tecido social da Oaxaca zapoteca. Bibliografia:Por Emerson Santiago
Grande Enciclopédia Larousse Cultural – Volume 24;
http://www.almadeviajante.com/viagens/mexico/oaxaca.php – Página “Alma de Viajante” – Oaxaca
http://www.homines.com/arte/cultura_zapoteca/index.htm
http://www.allempires.com/article/index.php?q=Oaxaca