23.7.13
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Brasileiro pioneiro da aviação Alberto Santos Dumont em um vôo que contornou a Torre Eiffel, 1901
Alberto Santos-Dumont (1873 - 1932) foi um pioneiro da aviação brasileira. O herdeiro de uma rica família de produtores de café, Santos Dumont dedicou-se ao estudo aeronáutico e experimentação em Paris, França, onde passou a maior parte de sua vida adulta. Santos-Dumont projetou, construiu e voou o primeiro dirigível prático, demonstrando que a rotina , vôo controlado era possível. Esta "conquista do ar", em particular a sua vitória a Deutsch de la Meurthe prêmio em 19 de outubro de 1901 em um vôo que contornou a Torre Eiffel, fez dele uma das pessoas mais famosas do mundo durante o século 20.
Fonte: http://www.vintag.es/2013/07/brazilian-aviation-pioneer-alberto.html
Personagem | Ludwig, o Rei Louco da Bavaria Castelos e sonhos
Ludwig II, conhecido como o "rei sonhador", deixou para posteridade um dos castelos mais impressionantes de todos os tempos, o Neuschwanstein Castle, digno de um verdadeiro conto de fadas
Por Avany França
"Eu quero continuar para sempre um enigma - para mim mesmo e para os outros". (Ludwig II)
Se existisse uma escola das excentricidades, com certeza, ele seria o mais propenso a mentor, mas Ludwig II imperou em outro cenário. Como rei da Bavaria em meados do século 19, ele não passou de um louco esquisito para a sociedade da época. Em vida, acrescentou pouco para a efervescente Alemanha que passava por um processo de unificação. Enquanto príncipe, mal era conhecido pelos súditos e cidadãos da Bavaria, mas foi a partir de 1864, com a morte de seu pai, o rei Maxilliano II, que o despreparado Ludwig II veio a emergir do seu casulo e expor o verdadeiro contos de fadas em que vivia desde criança. E assim, a Bavaria, por 22 anos, teve em seu comando um rei sonhador, conhecido e aclamado como o "Rei Louco da Bavaria".
Na Europa do século 19, das várias ocupações, batalhas e unificações, o jovem empossado rei aos 18 anos parecia alheio a tudo isso. No ano em que foi coroado, por exemplo, o mundo vivia uma verdadeira miscelânea, a Polônia enfrentava o Império Russo, a Espanha iniciava uma guerra na busca por recuperar algumas de suas colônias, enquanto nas Américas, paraguaios iniciava uma guerra baseada em grandes ambições e os Estados Unidos passava por uma reconstrução, tornando-se uma das maiores potências militares, políticas e econômicas do mundo. Mas, o jovem inexperiente parecia não se importar com a sua posição de novo rei da Bavaria e muito menos com o que estava acontecendo no mundo.
Vista do pátio superior do Castelo de Neuschwanstein
Castelo de Neuschwanstein visto de Marienbrücke
A personalidade do jovem Ludwig II
Para quem desembarca na cidade de Fussen, nos alpes da Alemanha, quase sempre o faz no intuito de conhecer um dos pontos turísticos mais visitados do país, aquele que teria inspirado Walt Disney e o seu Castelo da Bela Adormecida, porém, ao adentrar no interior do Neuschwanstein, o castelo revela muito mais que uma construção de contos de fadas. Ao percorrer seus cômodos de arquitetura e decoração extravagante fica evidente a personalidade do excêntrico monarca da Bavaria dos anos de 1864-1886.
"Seu paraíso era arte, sua vida um drama, seu ideal a liberdade, deu destino a isolação, seu amor jamais seria preenchido. Sua morte num lago negro - Um mistério, mesmo nos dias atuais." O trecho escrito por Jin Chen, em "The Fairy -Tale King and His Dream Castle: Ludwig II e Neuschwanstein" (O Rei do Conto de Fadas e Seu Castelo dos Sonhos: Ludwig II e Neuschwanstein), é apenas uma das inúmeras demonstrações da complexidade em entender o eterno sonhador Ludwig.
Entre outras peculiaridades, desde muito jovem, mostrava-se um menino extremamente sensível e de atitudes reclusas. Muito cedo se recusara a ter um relacionamento mais próximo com a própria mãe, a rainha Maria da Prússia, pelo simples motivo dela não ser apreciadora das artes, avessa a livros e ao universo intelectual, para o romântico Ludwig II, esse fato era inaceitável no seu fantasioso mundo de faz de conta. Com uma mãe pouco interessada em livros e um pai pouco presente, a infância do jovem foi marcada pela tutela de estranhos. Maxilliano II teria dito uma vez: "O que poderia falar com ele? Nós não temos nada em comum."
Passagens como essa explicam o porquê de mais tarde Ludwig II ter virado prisioneiro no seu próprio castelo.
Incompreendido pela própria família, restava pouco a esperar dos demais. Mas, se por um lado, seus pais nada comungavam com ele, outro membro da família representava um modelo de referência para o jovem rei. Seu avô, Ludwig I, que aliás, de quem ele teria herdado a paixão pelas artes, construções e pelo romantismo, foi seu verdadeiro herói. Apaixonado pelo universo das artes, Ludwig I deixou um grande legado arquitetônico durante o seu reinado (1825-1848), além de ser um incentivador das artes mesmo depois de ter abdicado ao trono, após consecutivos escândalos amorosos envolvendo prostitutas.
Lento para o aprendizado, Ludwig II desenvolveu pouco suas habilidades, mal conseguiu concluir a escola de francês e, ao contrário de outros príncipes, exibia pouco ou nenhum interesse pelo universo militar e político. Quando tinha apenas seis anos, já demonstrava sensibilidade excessiva. Teria escrito sua mãe nessa fase: "Esse menino mostra grande interesse pelas artes. Ele adora brincar de construir com seus brinquedos, principalmente igrejas-monastérios". Desde muito cedo, o jovem de beleza incontestável demonstrou sua paixão pela pintura, música e excessivamente pelo teatro.
Casamento? Fugiu de todos e não foram poucos, o único noivado que aceitara foi o que lhe concederam como noiva, sua prima, a princesa Sofia, duquesa da Bavaria. Mas, misógino, Ludwig simplesmente a rejeitara como aconteceu com as demais candidatas. Entre outras esquisitices associadas ao rei bávaro, conta-se que seu vício por doces e uma doença dentária crônica o fizera perder quase todos os dentes mesmo antes de completar 40 anos e, para evitar constrangimentos, quase sempre comia solitariamente. Nem mesmo seus súditos eram permitidos a observar a lambança realizada pelo rei ao alimentar-se. Para evitar eventuais situações de desconforto, no castelo Neuschwanstein, uma mesa elevatória foi construída para ir da sala de jantar ao andar inferior, onde era abastecida com a alimentação servida ao monarca, assim todo e qualquer contato era evitado.
Salão dos Cantores
Sala do Trono
Um rei às avessas
Diferentemente dos soberanos da sua época, o desinteressado Ludwig só tinha olhos para o teatro, óperas e seus ambiciosos projetos de construir castelos que se encaixassem no seu mundo de fantasia. Obsessivamente, desenvolveu apreço pelo compositor Richard Wagner desde muito jovem e uma vez declarado rei, logo se incumbiu de se tornar seu mecenas. A relação que envolvia troca de cartas constantes e muitos investimentos artísticos por parte do rei causaria grandes conflitos entre o monarca e o governo da Bavaria, que naquela época era parlamentarista.
Avesso a guerras e ao universo político, mal respondia aos convites de encontros com ministros. Recusavase simplesmente apontando dores de cabeças e mal-estar. Em algumas das oportunidades, após informar indisposição, era possível encontrar o rei entre brincadeiras no meio da noite com alguns de seus empregados, entre os bosques nos arredores do castelo, ou assistindo apresentações solitárias organizadas por Wagner. No mundo lúdico de Ludwig, brincadeiras infantis eram muito mais importantes que os entediantes encontros de Estado. A única real participação política do rei durante o seu reinado aconteceu por volta de 1866, quando fora pressionado pelo governo a assinar uma mobilização contra a Prússia. Durante as três semanas de guerra, o monarca se recusara por diversas vezes a dar ordens a sua tropa, ou mesmo exercer as atribuições exigidas pelo parlamento.
Por fim, acabou sendo forçado a aceitar um acordo de paz.
Maximiliano II, Maria da Prússia, Ludwig II e seu irmão Otto da Bavaria
Os descabidos projetos arquitetônicos, quase sempre associados a castelos e à organização de grandes festivais de óperas, construção de teatros e até mesmo a compra de uma casa para Wagner, acabou lhe rendendo não apenas o reinado, mas também a vida. Por volta de 8 de junho de 1886, ele foi declarado mentalmente incapaz, por uma comissão médica dirigida pelo dr. Von Gudden. Com o histórico de loucura na família, protagonizado pelo seu único irmão Otto da Bavaria, três anos mais jovem e declarado doente mental desde a juventude, não seria difícil convencer aos demais que o monarca bávaro também não possuia saúde mental das mais satisfatórias.
Teria sido também nessa ocasião que ambos, médico e monarca, foram encontrados mortos boiando no Lago Starnberg, depois de uma inocente e casual caminhada nos arredores do Neuschwanstein. Os motivos reais das mortes jamais foram revelados, porém, com o atestado de loucura realizado sem ao menos tê-lo examinado, não fica difícil imaginar a conspiração para afastar definitivamente o rei e suas malucas ações.
O suntuoso quarto do rei
O rei e seu legado
Falar em legado quando se tem uma figura monárquica tão contraditória como Ludwig é quase uma heresia, no entanto, o estranho rei incompreendido, que construira castelos romantizados e bem diferentes dos cinzentos e inóspitos construídos na mesma época, deixaria um legado para a humanidade. Seus maiores projetos foram três castelos. O Schloss Linderhof, Schloss Herrenchiemsee e Neuschwanstein. Destes, Ludwig apenas vira concluído o primeiro.
A veneração pelo compositor Richard Wagner é amplamente citada na biografia do Rei Louco. O apreço exacerbado levaria o rei a dedicar a sua obra mais famosa ao artista, o castelo Neuschwanstein. Acostumado à vida reclusa, adorava o mundo fantasioso e fazia das suas noites verdadeiras reproduções de dramáticas óperas, para isso, em Linderhof, construira um teatro em formato de gruta na parte inferior do castelo, a Venus Grotto, com direito a pequeno barco de onde apreciou em muitas ocasiões as operetas orquestradas por Wagner, sendo ele o único expectador.
A gruta teria recebido o primeiro sistema de iluminação do país especialmente para suprir os caprichos do rei desvairado. No entanto, foi no Neuschwanstein, o seu mais famoso castelo que o monarca cometera as mais absurdas aberrações para a época e também para os dias de hoje. O castelo é uma verdadeira exposição esquizofrênica dos devaneios de Ludwig. Os números são grandiosos, só o quarto do rei levara cerca de quatro anos para ser construído, exigindo a presença de 14 artesãos que esculpiram todos os cantos do pequeno dormitório em madeira de lei talhada. Outro cômodo do castelo, o Singers' Hall (Salão dos Cantores) foi erguido com acústica impecável, capaz de impressionar os mais rígidos críticos de música clássica. No entanto, em seu tempo, nenhum tenor ou orquestra utilizara o local.
Cisnes, pavões e mais cisnes. Para quem visita o interior do castelo, além dos castiçais exorbitantes e de outras pequenas curiosidades, uma delas a vista para uma cachoeira estrategicamente posicionada para favorecer a a visão de diversos ângulos do castelo, as aves são presença constante: das maçanetas das portas a esculturas gigantes passando pelo próprio nome do castelo, que significa "Cavaleiro do Cisne". Atestando o seu mundo de faz de conta, Ludwig exigira também a construção de uma sala-igreja com representação de todos os santos da época. A sala deveria ter ainda um trono em vez de um altar (que jamais fora construído). No conto de fadas de Ludwig, essa era a sua representação de reinado. Jesus, seus apóstolos, os reis sagrados e Ludwig fazendo a conexão entre Deus e o resto do mundo diretamente do seu trono.
Seu terceiro projeto, o Schloss Herrenchiemsee, teve como objetivo atender ao capricho do rei que queria recriar o Palácio de Versalhes na Bavaria. O castelo que recebera seu monarca uma única vez custou muito mais que o Neuschwanstein e o Linderhof juntos.
Ludwig teria dito: "Meus castelos são como lugares sagrados."
Viciado por velas, outra mania latente do rei, o Hall of Mirrors (Salão dos Espelhos) dispunha de imensos castiçais, exigindo-se 35 homens e pelo menos meia hora para se acender todas as 2 mil velas dispostas neles, reproduzindo, assim, o tom dourado ouro idealizado pelo rei. E, se por um lado, conhecer a olho nu o interior do Neuschwanstein e descobrir as inimagináveis excentricidades do monarca bávaro dos anos de 1800 pode elucidar dúvidas quanto a sua sanidade, por outro, pode-se atestar que louco ou não, as construções idealizadas por Ludwig II são hoje preciosidades arquitetônicas impressionantes.
Na Bavaria do século 19, de uma das dinastias mais potentes em toda a sua história, existe uma grande lacuna, um vácuo de 22 anos, quando o país viveu um verdadeiro conto de fadas tendo como personagem principal o louco e postumamente adorado Ludwig II, o Rei Louco da Bavaria!
Gruta de Vênus - A orquestra ficava na parte iluminada, à direita. Todo o espaço foi construído... é artificial!
Visitas ao Castelo Neuschwanstei
Para apaixonados pelo mundo das artes e arquitetura, a visita ao interior do castelo Neuschwanstein é possivel durante todo o ano, porém, apenas com a presença do guia do castelo. Além dos idiomas alemão e inglês, tradutores eletrônicos são oferecidos durante a visita, incluindo em português.
A personalidade do jovem Ludwig II
Para quem desembarca na cidade de Fussen, nos alpes da Alemanha, quase sempre o faz no intuito de conhecer um dos pontos turísticos mais visitados do país, aquele que teria inspirado Walt Disney e o seu Castelo da Bela Adormecida, porém, ao adentrar no interior do Neuschwanstein, o castelo revela muito mais que uma construção de contos de fadas. Ao percorrer seus cômodos de arquitetura e decoração extravagante fica evidente a personalidade do excêntrico monarca da Bavaria dos anos de 1864-1886.
"Seu paraíso era arte, sua vida um drama, seu ideal a liberdade, deu destino a isolação, seu amor jamais seria preenchido. Sua morte num lago negro - Um mistério, mesmo nos dias atuais." O trecho escrito por Jin Chen, em "The Fairy -Tale King and His Dream Castle: Ludwig II e Neuschwanstein" (O Rei do Conto de Fadas e Seu Castelo dos Sonhos: Ludwig II e Neuschwanstein), é apenas uma das inúmeras demonstrações da complexidade em entender o eterno sonhador Ludwig.
Entre outras peculiaridades, desde muito jovem, mostrava-se um menino extremamente sensível e de atitudes reclusas. Muito cedo se recusara a ter um relacionamento mais próximo com a própria mãe, a rainha Maria da Prússia, pelo simples motivo dela não ser apreciadora das artes, avessa a livros e ao universo intelectual, para o romântico Ludwig II, esse fato era inaceitável no seu fantasioso mundo de faz de conta. Com uma mãe pouco interessada em livros e um pai pouco presente, a infância do jovem foi marcada pela tutela de estranhos. Maxilliano II teria dito uma vez: "O que poderia falar com ele? Nós não temos nada em comum."
Passagens como essa explicam o porquê de mais tarde Ludwig II ter virado prisioneiro no seu próprio castelo.
Incompreendido pela própria família, restava pouco a esperar dos demais. Mas, se por um lado, seus pais nada comungavam com ele, outro membro da família representava um modelo de referência para o jovem rei. Seu avô, Ludwig I, que aliás, de quem ele teria herdado a paixão pelas artes, construções e pelo romantismo, foi seu verdadeiro herói. Apaixonado pelo universo das artes, Ludwig I deixou um grande legado arquitetônico durante o seu reinado (1825-1848), além de ser um incentivador das artes mesmo depois de ter abdicado ao trono, após consecutivos escândalos amorosos envolvendo prostitutas.
Lento para o aprendizado, Ludwig II desenvolveu pouco suas habilidades, mal conseguiu concluir a escola de francês e, ao contrário de outros príncipes, exibia pouco ou nenhum interesse pelo universo militar e político. Quando tinha apenas seis anos, já demonstrava sensibilidade excessiva. Teria escrito sua mãe nessa fase: "Esse menino mostra grande interesse pelas artes. Ele adora brincar de construir com seus brinquedos, principalmente igrejas-monastérios". Desde muito cedo, o jovem de beleza incontestável demonstrou sua paixão pela pintura, música e excessivamente pelo teatro.
Casamento? Fugiu de todos e não foram poucos, o único noivado que aceitara foi o que lhe concederam como noiva, sua prima, a princesa Sofia, duquesa da Bavaria. Mas, misógino, Ludwig simplesmente a rejeitara como aconteceu com as demais candidatas. Entre outras esquisitices associadas ao rei bávaro, conta-se que seu vício por doces e uma doença dentária crônica o fizera perder quase todos os dentes mesmo antes de completar 40 anos e, para evitar constrangimentos, quase sempre comia solitariamente. Nem mesmo seus súditos eram permitidos a observar a lambança realizada pelo rei ao alimentar-se. Para evitar eventuais situações de desconforto, no castelo Neuschwanstein, uma mesa elevatória foi construída para ir da sala de jantar ao andar inferior, onde era abastecida com a alimentação servida ao monarca, assim todo e qualquer contato era evitado.
Salão dos Cantores
Sala do Trono
Fonte: http://leiturasdahistoria.uol.com.br/ESLH/Edicoes/61/artigo290415-4.asp
Doutrinas Sociológicas
Estão associadas às transformações sociais e econômicas ocorridas na Europa e ao aparecimento do operariado como classe antagônica à burguesia, num panorama de luta de classes marcado por greves, reformas e revoluções. As doutrinas socialistas são contrárias ao liberalismo e capitalismo e favoráveis ao restabelecimento da soberania do trabalho.
Socialismo Utópico
Também chamado de socialismo romântico, surge no início do século XIX e concebe a organização de uma sociedade ideal sem conflitos ou desigualdades. Os pensadores buscam no Iluminismo e nos ideais da Revolução Francesa os fundamentos de sua crítica à sociedade capitalista. O inglês Thomas Morus é o precursor, com o livro Utopia (1516), no qual afirma que a propriedade particular é a fonte de toda injustiça social. Os principais representantes são o inglês Robert Owen, que defende a sociedade autogerida, e os franceses Charles Fourrier, que pretende uma organização em que todos vivam harmonicamente, e Saint-Simon, que idealiza o domínio da ciência sobre uma sociedade sem classes.
Robert Owen (1771-1858), rico industrial inglês que se transforma em um dos mais importantes socialistas utópicos. Sua contribuição nasce da própria experiência. Instala em New Lanark (Escócia) uma comunidade inspirada nos ideais utópicos. Monta uma fiação no centro de uma comunidade operária e promove a organização de serviços comunitários de educação, saúde e assistência social. A comunidade passa a se autogerir e todos os integrantes pertencem à mesma classe. No lugar de dinheiro circulam vales correspondentes ao número de horas trabalhadas.
Charles Fourrier (1772-1837) nasce em Besançon, França, filho de um comerciante de tecidos. Trabalha como comerciante mas acaba falindo e decide servir o Exército. Afastado da ativa por problemas de saúde, volta a trabalhar com o comércio e começa a escrever sobre questões sociais e econômicas. Em 1822 lança o jornal O Falanstério (depois mudado para A Falange), defendendo sua ideias, influenciadas pelo idealismo de Rousseau. Propõem que a sociedade se organize em comunidades chamadas falanstérios, espécie de edifícios-cidades onde as pessoas trabalham apenas no que querem. Fourrier defende assim o fim da dicotomia entre trabalho e prazer. Nos falanstérios os bens são distribuídos conforme a necessidade. A educação deve se adaptar às inclinações de cada criança e não existem restrições morais à prática de sexo.
Saint-Simon (1760-1825) é como fica conhecido o pensador francês Claude Henri de Rouvroy, conde de Saint-Simon, um dos principais socialistas utópicos. Nasce em Paris e entra para o Exército com 17 anos. Luta na guerra de Independência dos Estados Unidos e, de volta à França, abandona seu título de nobreza e adere à Revolução Francesa. Retoma os estudos aos 40 anos, depois de ter sido preso durante o Período de Terror. Cursa medicina e a Escola Politécnica. Começa a se projetar como teórico do socialismo em 1802, com o livro Cartas de um habitante de Genebra a seus contemporâneos, no qual defende uma nova religião baseada na ciência e dedicada ao culto de Newton. Suas ideias são retomadas pelo tecnocratas no século XX.
Socialismo Científico
Teoria política elaborada por Karl Marx e Friedrich Engels entre 1848 e 1867. Essa corrente deriva da dialética (resultado da luta de forças opostas) hegeliana e é influenciada pelo socialismo utópico e pela economia inglesa. A partir do materialismo histórico, prevê o triunfo final dos trabalhadores sobre a burguesia. Marx chama de comunismo essa sociedade e de socialismo o processo de transição do capitalismo ao comunismo.
Materialismo histórico – Segundo Marx, o homem e suas atividades são reflexos das condições materiais que o cercam. Estas são determinadas pela História, que é resultado do confronto de classes sociais antagônicas que lutam pela hegemonia. A luta de classes é o motor da história e só desaparece com a instalação de uma sociedade comunista, sem divisão de classes ou exploração do trabalho, e baseada na solidariedade. O Estado é o instrumento pelo qual a classe dominante exerce essa hegemonia sobre as demais.
Karl Heinrich Marx (1818-1883), filósofo, economista e militante revolucionário alemão de origem judaica. Estuda filosofia nas universidades de Berlim e Iena. Em 1842 assume em Colônia a chefia da redação do Rheinische Zeitung. Seus artigos pró-democracia irritam as autoridades e o levam a exilar-se em Paris dois anos depois. Ali conhece Friedrich Engels, com quem manteria colaboração até o fim da vida. Em 1848 o início de revoluções na França e na Alemanha coincide com a publicação do Manifesto comunista, em que Marx e Engels afirmam que a solidariedade internacional dos trabalhadores em busca de sua emancipação supera o poder dos Estados nacionais. Junto com Engels prega uma revolução internacional que derrube a burguesia e implante o comunismo, nova sociedade sem classes. Publica em 1867 o primeiro volume de sua obra mais importante, O capital. Os volumes seguintes dessa obra, para a qual reuniu vasta documentação, seriam publicados somente depois de sua morte. Para Marx, o capitalismo é a última forma de organização social baseada na exploração do homem pelo homem. Marx é sustentado por Engels durante a maior parte de sua vida e morre no exílio em Londres.
Friedrich Engels (1820-1895), filho de um rico industrial de Barmen (Alemanha), é o principal colaborador de Karl Marx na elaboração das teorias do materialismo histórico. Na juventude, fica impressionado com a miséria em que vivem os trabalhadores das fábricas de sua família. Quando estudante, adere a ideias de esquerda, o que o leva a aproximar-se de Marx. Assume por alguns anos a direção de uma das fábricas do pai em Manchester e suas observações nesse período formam a base de uma de suas obras principais, A situação das classes trabalhadoras na Inglaterra, publicada em 1845. Muitos de seus trabalhos posteriores são produzidos em colaboração com Marx, o que lhe valeria a fama injusta de ser apenas um ajudante. Escreve sozinho, porém, algumas das obras mais importantes para o desenvolvimento do que viria a ser chamado de marxismo, como Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia alemã, A evolução do socialismo de utopia a ciência e A origem da família, da propriedade privada e do Estado.
Anarquismo
Movimento que surge no século XIX, propondo uma organização da sociedade onde não haja nenhuma forma de autoridade imposta. Para os anarquistas, uma revolução não deve levar à criação de um novo Estado porque este seria sempre uma nova forma de poder coercitivo. O anarquismo tem duas correntes importantes. Uma, pacífica, que tem como principal representante o francês Pierre-Joseph Proudhon. Para ele qualquer mudança social deve ser feita com base na fraternidade e na cooperação entre os homens. A outra corrente afirma que a modificação da sociedade só pode ser feita depois de destruída toda a estrutura social existente. Para isso é válida a utilização da violência e do terrorismo. O russo Mikhail Bakunin, considerado um dos principais teóricos e militantes do anarquismo, chega a participar de atentados, influenciado por Serguei Netchaiev, um dos defensores dessa corrente.
Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), principal teórico do movimento anarquista, nasce em Besançon, França. Como sua família não tem condições de mantê-lo na escola, torna-se autodidata. Aos 18 começa a trabalhar como tipógrafo. Em 1840 publica O que é a propriedade?, onde defende a ideia de que toda propriedade é uma forma de roubo. Sua crítica à sociedade passa a sensibilizar um grande número de trabalhadores e em 1848 ele é eleito para a Assembléia Nacional. Participa pouco das atividades parlamentares mas suas ideias, divulgadas também em seu trabalho como jornalista, contribuem para a transformação do anarquismo em movimento de massas. Para ele a sociedade deve organizar sua produção e consumo em pequenas associações baseadas no auxílio mútuo entre as pessoas. Seus livros mais importantes são Sobre o princípio federativo, de 1863, e Sobre a capacidade política das classes trabalhadoras, de 1865. Morre de cólera em Paris.
Mikhail Aleksandrovitch Bakunin (1814-1876), anarquista russo, nasce em Premukhino, filho de um grande latifundiário. Em 1840 começa a estudar na Universidade de Berlim e no ano seguinte começa a se dedicar a atividades políticas. Entre 1843 e 1848 viaja por toda a Europa. Participa de movimentos revolucionários na Alemanha e acaba condenado à morte. Foge para a Rússia, onde é preso e deportado para a Sibéria, de onde foge para o Japão. Volta para a Europa e se envolve em movimentos revolucionários na Polônia e na Itália. Adere à Primeira Internacional. Em 1868 funda a Aliança Internacional Democrática Social, entidade de destaque na introdução do anarquismo na Espanha. A partir de 1869 promove atentados junto com o russo Netchaiev. A intensa militância não impede que Bakunin deixe uma obra teórica. Propõe a revolução universal baseada no campesinato e defende o uso de violência. Entre seus livros mais importantes estão Deus e o Estado, de 1871, Federalismo, socialismo e antiteologismo, de 1872, e O Estado e a anarquia (1873). Morre em Berna, Suíça.
Comuna de Paris – Estado revolucionário formado em 1871 pelos operários de Paris. Dirigidos pelos socialistas blanquistas (partidários de Louis Blanc), e diante da situação criada pela guerra franco-alemã (tropas alemãs ocupam a capital), os operários realizam uma insurreição e assumem o poder. São derrotados pelas tropas estrangeiras. Cerca de 20 mil operários são executados. Seu fracasso contribui decisivamente para o declínio da I Internacional, que é extinta em 1876.
Estado Novo, A educação vigente no Brasil pós era Vargas
Com a instalação do regime militar no Brasil em 1964, a sociedade, a economia e a própria educação passou por profundas transformações. O ensino universitário passa a atender o Estado vigente, um estado militar e autoritário.
A educação assim como o ensino universitário passa por reformas, que consolidam a atuação do Estado vigente. Um estado preocupado com parte da sociedade brasileira, a parte da burguesia emergente, que buscava com o golpe militar à volta de uma política econômica em condições de retomar o crescimento econômico e financeiro do país.
A educação segue os rumos desta sociedade e deste Estado autoritário, enquanto que a outra parte da sociedade, o proletariado, as classes populares enfrentava a crise do desemprego, os baixos salários, a submissão à fábrica (ao emprego). Essa política foi fundamental para o desenvolvimento econômico do Brasil (milagre econômico 1968-1973), porém estrangulou economicamente a classe operária.
A economia cresce a taxas superiores a 10% ao ano, impulsionado a ideia de “Brasil-potência”. O clima reinante no país se caracteriza, ao mesmo tempo, por uma combinação de medo da repressão do Estado e de euforia em decorrência do crescimento econômico. (GERMANO, 2005, p.159-160)
Consequentemente o trabalho é mais importante que a educação, neste contexto, e os filhos da classe operária são criados nesta perspectiva; a do trabalho, da profissionalização. E a educação profissionalizante daria a essa classe as condições de bons empregos, sem se preocupar com o processo ensino-aprendizagem, nem com a formação e o desenvolvimento do cidadão pleno.
Cenário econômico, político e educacional pós era Vargas
Com o fim da era Vargas onde o Brasil estava sob o jugo de uma constituição outorgada, ocorre a formulação de uma nova constituinte promulgada em 1946, a quinta constituição brasileira ocorre juntamente com a restauração da democracia no país, logo após a ditadura de Vargas. Houve a reconstituição partidária e consequentemente a volta dos três poderes atuantes, o executivo, o legislativo e o judiciário.
Essa constituição teve um cunho liberal e marcado pela abertura democrática no país.
[...] a constituição de 1946 é, pois, um documento de inspiração ideológica liberal-democrática...;os princípios liberais da Carta de 1946, que asseguravam direitos e garantias individuais inalienáveis, estavam visivelmente impregnados do espírito democrático tão próprio das reivindicações sociais do século em que vivemos. (ROMANELLI, 1998, p.171)
O Brasil faz assim uma composição com o liberalismo econômico, alinha se com países dessa área, e o país passa a receber capitais externos. O mundo desenvolvido era inspirado pela filosofia liberal do laissez-faire, isto é, a não interferência do Estado na economia, ou a menor interferência possível do Estado na economia. O país caminhava para o desenvolvimento econômico com a expansão do parque industrial e a educação deveria caminhar na mesma direção do modelo de desenvolvimento que estava proposto.
No período do regime militar houve um forte favorecimento às multinacionais e estatais no processo de acumulação, enquanto que a pequena burguesia sentia-se prejudicada.
O trabalhador estava preocupado com a demissão que o circundava, ele estava subordinado à fábrica. A numerosa oferta de mão de obra proporcionava uma rotatividade de empregos e de baixos salários gerando uma margem de lucros maior para o empresário. Esta política foi fundamental para o crescimento econômico pós 68, porém ela vai estrangular a classe operária.
O país se endividou nesse período diminuindo o crescimento econômico, ainda existia uma crise mundial do petróleo (1973) que gera uma crise interna. E a indústria multinacional por sua vez, fazia a descapitalização, não havendo capital para reinvestir internamente. Essa crise era mundial e ficou ainda mais grave com o segundo choque do petróleo em 1979. A sociedade brasileira passava por transformações nesse período, pois até a década de 1960 o Brasil ainda era predominantemente rural, já na década de 1970 o Brasil passa a ter a maioria da população no meio urbano.
A indústria era o principal setor da mão de obra, que precisava de uma escolarização melhor para acompanhar a modernização que o país passava. Buscando um conceito para modernização, diremos que a maioria de autores a entende como “o processo pelo qual as sociedades têm sido e vêm sendo transformadas sob o impacto de uma revolução científica e tecnológica (MATTOS, 1977, p.54).
A reforma universitária pós-ditadura
Nesse cenário ocorre uma proposta para uma ampla reformulação da educação nacional. O projeto foi proposto em 1948, mas só foi votado em 1961 (Lei 4.024). Essa paralisação foi por conta da reforma Capanema.
Capanema era contrário à descentralização, propunha que o Estado era quem deveria ter a competência para gerenciar a educação, isso só foi modificado com Carlos Lacerda.
Essa proposta de liberdade de ensino que foi aprovado pela Lei 4024, que dava igualdade de direitos para ambas as escolas pública e privada, politicamente vai de encontro com os ideais da classe dominante.
A reforma universitária vivida no início dos anos de 1960, não vinha só, juntamente com ela vinha reivindicações sociais como reforma agrária, econômica – social, como a reforma tributária, além do medo de uma mudança político econômico no caminho do socialismo. É nessa época entre 1960 e 1970 é que o Brasil passa ter a maioria da população no meio urbano, sendo o setor industrial o que mais contratava trabalhadores nessa época, consequentemente ocorre também uma melhor distribuição de renda, pois o salário urbano era maior que o salário do meio rural.
Nesse sentido tanto a democracia quanto o desenvolvimento econômico caminhavam juntos, o ensino também deveria seguir o processo de democratização, nos moldes da sociedade vigente da época.
Porém contra os argumentos da privatização do ensino, podemos observar a partir de 1967 o ensino público ultrapassa o ensino particular em número de matriculas no ensino médio. A reforma universitária está calcada no AI – 5 e no decreto de lei número 477/69, essa reforma seria o ponto fundamental para segurar a crise dentro das instituições escolares, principalmente dentro do seio universitário.
AI-5 foi o quinto Ato Institucional decretado pela ditadura militar que se instalou no Brasil em março de 1964. Decretado pelo presidente ditador Artur da Costa e Silva em 13 de dezembro de 1968.
Por: Helder Henrique Jacovetti Gasperoto
Referências
GERMANO, J. W., Estado Militar e Educação no Brasil (1964-1985). 4.ed. São Paulo: Cortez, 2005.
ROMANELLI, O. História da Educação no Brasil (1930/1973). 20.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.
MATTOS, C. de M.. A Geopolítica e as Projeções do Poder. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1977.
Fonte: http://www.algosobre.com.br/historia/estado-novo-a-educacao-vigente-no-brasil-pos-era-vargas.html
Populações indígenas do Brasil: experiências antes da conquista, resistências e acomodações à colonização
O início do domínio europeu e as tentativas de resistências indígenas na américa hispânica colonial
Antes de analisarmos este processo de conquista na América Continental devemos fazer uma rápida passagem pela conquista inicial nas ilhas da América. Lá foram implantados os “repartimentos” que consistia na distribuição de indígenas a indivíduos espanhóis, conhecidos como encomendeiros, estes tinham que cuidar dos índios e instruí-los forçadamente na fé cristã, em troca teriam uma mão de obra indígena gratuita. Em 1500 a coroa espanhola tornou os indígenas livres e não mais sujeitos a servitude, porém se podiam escravizar os indígenas através da “guerra justa”.
O estabelecimento formal do trabalho forçado entre a população indígena somente precipitou um processo que já estava resultando na sua extinção total. Aos 20 anos da chegada de Colombo, a população que havia sido densamente povoada, desapareceu por guerra, pelas enfermidades e pelos maus tratos. No ano de 1512 surgiu a lei de burgos que tentou regular o funcionamento da encomienda, porém nas ilhas não se encontravam autoridades para fazer executar as leis, estava-se também começando a observar que a mão de obra indígena estava se tornando insuficiente para a economia agroexportadora.
A chegada dos conquistadores com os seus cavalos na América hispânica continental lhe deram uma grande vantagem inicial, porque causou um choque e estranheza nas populações nativas, e também os espanhóis mesmo em menor número tinham uma confiança de superioridade moral, organizacional, técnica e religiosa, estes acreditavam que os cristãos teriam uma superioridade natural a simples “bárbaros”.
Na mesoamérica e nos Andes, os espanhóis encontraram sociedades indígenas acostumadas a guerras em grande escala, era um tipo de guerra com um ritmo e um ritual diferente a dos europeus, as armas de pedra e madeira não se podiam comparar com as armas trazidas pelos espanhóis (muitas armas indígenas se quebravam contra a armadura do europeu). Então podemos notar que em uma batalha campal as forças dos indígenas astecas e incas apesar de sua superioridade numérica teriam poucas esperanças de derrotar a força espanhola composta de cavalaria e infantaria, talvez a melhor possibilidade da vitória indígena fosse atrair pequenos grupos de espanhóis desprevenidos e fora de suas guarnições, com essa desorganização espanhola estaria a oportunidade da vitória nativa.
Notamos que as populações nativas submetidas aos impérios (asteca e inca) estavam vinculadas a um poder centralizado exercido por um único indivíduo, os espanhóis se aproveitaram deste fato e voltaram suas forças para tirar de cena este único indivíduo, estas populações indígenas ficavam desestruturadas e desorganizadas. No caso Asteca, a rendição dos últimos elementos de resistência indígena nas ruínas de tenochtitlan foi mais um triunfo das enfermidades levadas pelos espanhóis do que as suas armas. Ainda os espanhóis tiveram a ajuda de populações indígenas inimigas aos Astecas, estes indígenas não eram submetidos ao poder do império asteca, a derrota asteca significou tanto a vitória dos espanhóis como a das populações nativas contrárias a seus senhores supremos. Porém estas populações nativas aliadas aos espanhóis acabaram por ter um fim trágico semelhante a dos astecas.
A resistência inca após a conquista espanhola foi possível devido à atitude dos espanhóis de fundarem a nova capital em lima, uma cidade costeira, deixando Cuzco, terras de grande altitude, nas mãos de seus subordinados incas, também a discórdia crescente entre os conquistadores na distribuição de botins, fez com que mano inca passa-se a reagrupar o resto das forças incas em uma tentativa desesperada para derrotar os espanhóis, as revoltas de 1536-1537 sacudiram temporariamente esta região, mas não detiveram o processo de conquista, estes indígenas conseguiram assimilar alguns métodos de guerras empregados pelos espanhóis, mas não eram suficientes. Até 1572 a fortaleza inca de Vilcabamba não havia caído em mãos europeias, neste caso a geografia física dos Andes deu uma grande vantagem e permitiu a continuação de um movimento de resistência indígena, outra vantagem indígena seria a de operar entorno do familiar, os europeus teriam que aclimatar-se, combater os efeitos do calor e da altura.
As populações nativas que se encontravam nas periferias destes impérios, asteca e inca, fizeram uma grande resistência a conquista espanhola, isto somente foi possível porque possuíam um poder descentralizado e a assimilaram rapidamente o modo de lutar europeu. Por exemplo, os araucanos em 1533 derrotaram os espanhóis em Tucapel. A resistência indígena através das Guerras de Arauco no final do século XVII significou uma grande perda para a economia colonial chilena, pois estava havendo enormes gastos para a defesa europeia nesta região. A resistência Chichimeca deteve o avanço europeu no norte do México central, a Rebelião Mixteca de 1540-1541, originada entre as numerosas tribos ainda não pacificadas da nova Galícia e expandida até o sul, mostrava, em tom alarmante a ameaça da resistência constante que existia nestas inquietas regiões fronteiriças para as zonas mais colonizadas da conquista.
O domínio português: resistência indígena como forma de conter a opressão.
Desde a chegada dos primeiros colonizadores houve uma batalha contra os indígenas, essa luta não raro se fez com a permissão do governo metropolitano português até com a utilização de suas tropas militares e mercenárias. No primeiro século de colonização, foram os indígenas do litoral leste e sudeste do Brasil os que entraram em choque com os brancos. Estes não somente desejavam se apropriar das terras dos indígenas para fazer suas lavouras de cana de açúcar, como queriam se apoderar dos próprios indígenas com o objetivo de transformá-los em escravos. Durante o período pré-colonial, houve várias expedições, nos relatos feitos pelos portugueses ocorria a antropofagia (portugueses sendo comidos pelos indígenas ), ao surgir as pequenas feitorias houve uma tentativa de manter uma vida amistosa com determinados tribos destas regiões.
No século XVII, a economia brasileira já era dominada pela lavoura e a indústria da cana de açúcar, o gado estava avançando pelo interior do nordeste e pelo rio São Francisco, moviam-se lutas contra tribos que habitavam esta região, as quais eram dizimadas. O governo português promovia a ocupação do Maranhão e do Pará, e combates sangrentos se davam entre os brancos e os indígenas destas regiões. No sul, os paulistas começavam a realizar expedições contra os indígenas do interior, com o objetivo de obter novos escravos. Um século depois a economia brasileira se caracterizou pela a exploração do ouro, novas lutas se deram entre brancos e índios destas regiões auríferas, são índios de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Nessa época começavam a desaparecer os Kayapó do Sul, que habitavam o triângulo mineiro, já no maranhão, os criadores de gado invadiram as terras dos índios Timbíra. Outra frente agrícola seria a dos colonos alemães em Santa Catarina, que entrou em choque com os índios xokléng (na capitania do espírito santo não houve um grande desenvolvimento colonial devido às ações de resistência dos indígenas que travavam duras batalhas contra os colonizadores). A frente pastoril no século XVI, por todos os lugares onde avançou, acabou encontrando índios, que dizimou, chegou mesmo a empregar os serviços de bandeirantes no combate aos índios.
Nem todas as tribos indígenas desapareceram devido aos choques armados com os brancos ou devido à escravização. Um grande número de indígenas desapareceu devido às doenças que eram desconhecidas por seu meio, nos primeiros tempos da colonização, quando os missionários reuniam índios de vários lugares num só aldeamento para facilitar a catequese cristã, o surto de qualquer uma doença era algo desastroso, pois o ajuntamento de um grande número de indígenas facilitava o contágio. As epidemias da varíola de 1562-1563, na Bahia, mataram muitos índios assim aldeados.
Durante todo o período colonial, o governo português no que concerne à legislação sobre os indígenas, oscilou entre os interesses dos colonos, que desejavam escravizar os índios, as ações oficiais e privadas são regulamentadas na condução das expedições punitivas, os bugreiros eram caçadores profissionais de índios que tiveram importância no combate aos kaingang (São Paulo e Paraná) e nas lutas contra os índios de Goiás, Mato Grosso, Maranhão e Pará, e os esforços dos missionários, que tinham por objetivo convertê-los ao cristianismo e ao mesmo tempo fazê-los adotar forçadamente os costumes dos “civilizados”.
No primeiro governo geral em um regimento se dizia que a conversão dos indígenas é que constituía o motivo do povoamento do Brasil, sendo recomendado que fossem bem tratados, mas este mesmo documento permitia que se desse combate aos índios que agissem como inimigos, que se matassem e fossem feitos prisioneiros, esta lei entre outras eram cercadas de contradições. De todas as medidas legais ficou famoso o regimento aprovado em 1758, essa legislação reconhecia os índios como livres, sem nenhuma ressalva. Também esta legislação retirava dos missionários todo o poder temporal/religioso sobre os indígenas. Desta data em diante houve um novo retrocesso na legislação indígena, em 1808, ordenou-se a guerra contra os botocudos de minas gerais e a índios de São Paulo, estabelecia-se um governo que ao declarar guerra aos indígenas, podiam-se organizar bandeiras contra eles e os que fossem presos estavam sujeitos a um cativeiro de 15 anos.
A entrada dos bandeirantes e sua ida para o interior nada tinha a ver com a expansão territorial e a busca de metais preciosos, e sim a captura de índios, este índios iriam para a economia paulista, os índios do maranhão é que iam para as lavouras de cana. Com a historiografia é omitido o escravo indígena, o estado fazia alianças com determinadas populações/tribos indígenas com o objetivo de chegar a outras populações (os indígenas também participavam do tráfico), em algumas situações os indígenas e os negros se aliavam e formavam grupamentos miscigenados de resistência. Os bandeirantes foram responsáveis pelo despovoamento do Brasil, o Brasil não era despovoado (as populações indígenas se encontravam em grandes quantidades nas margens dos rios da Amazônia), se despovoou devido aos aprensamentos e os aldeamentos, este último referido aos jesuítas. A escravidão já fazia parte de algumas culturas indígenas, já existiam grandes rotas de comércio entre os indígenas, isto gerava alianças ou rivalidades entre as populações indígenas. Na Amazônia a coroa deu grande importância aos aprensamentos indígenas, isto se fez através do financiamento de expedições, a fuga dos escravos indígenas eram constante, a justiça colonial foi utilizada por alguns indígenas para poder obter a liberdade. As missões acabaram não somente pelos bandeirantes e pombal, mas também porque os índios morriam, fugiam e resistiam.
No litoral brasileiro foi a região onde se implantou os primeiros núcleos coloniais e onde ocorreu, ainda no século XVI, processos despopulativos radicais que exterminaram quase toda a população indígena. Em um primeiro contato com os portugueses, no início da colonização em Belém, os índios se mostraram pacíficos e acolhedores, mas a experiência real foi desde o início brutal. Os tupinambás diante dos maus tratos praticados pelos portugueses e de suas dissensões internas, foram se tornando cada vez mais hostis, recusando-se a estabelecer relações de paz com quem o traía e nem sequer tinha paz interna. Diante desta atitude dos tupinambás, ocorreram várias expedições com o objetivo de puni-los. O primeiro contato dos índios da foz do rio negro, onde haveria mais tarde um grande foco de resistência indígena, foi também desfavorável, por ocasião da expedição de Pedro Teixeira, quando os soldados queriam a todo custo subir o ri0 para fazer escravos com o objetivo de compensarem o custo da expedição. Semelhante comprovação de um primeiro contato com os conquistadores, como experiência de traição e brutalidade, foi o caso também dos pacíficos tapajós, estes índios eram inofensivos, mas logo que partiu a expedição de Pedro Teixeira, desencadeou-se uma luta contra os indígenas, violações, abusos sexuais e até mesmo escravizações, a partir destas ocorrências os índios tapajós assumiram uma atitude de inimigos dos seus opressores.
Uma vez “descidos” para os aldeamentos, engenhos, etc... os índios iriam tomar contato com toda uma experiência de trabalho “violentador” de seu modo de ser, trabalho que tomaria a forma de escravidão. O abuso da mão de obra indígena, tanto pelos colonos quanto pelos próprios missionários, dava ocasião a atos rebeldes dos índios, os atos de violência praticados pelos índios mostravam-se pequenos e ineficazes diante da violência maior do aprensamento. Desde o século XVI, os missionários jesuítas e de outras ordens haviam adotado o expediente de reunir grupos culturalmente diversos e, não raro, inimigos tradicionais, nos mesmos aldeamentos, com propósito de destruir a autonomia e a funcionalidade das várias tradições culturais específicas.
No período inicial da colônia o cativeiro dos indígenas tinham dois objetivos básicos para a colonização, primeiro, a questão militar, segundo, o fornecimento de mão de obra para a economia açucareira. Os grupos indígenas que se mostravam resistentes às pretensões dos conquistadores europeus estavam sujeitos a guerras movidas pelos portugueses e seus aliados indígenas, e os prisioneiros seriam distribuídos ou então vendidos como escravos. Devido às guerras justas passou-se a organizar poderosas expedições militares que tinha o objetivo final de derrotar os focos de resistência tupi ao longo do litoral de São Vicente a Paraíba e fornecer, mão de obra a economia açucareira. Muitas destas guerras feitas pelos europeus contra os indígenas tinham como um ponto de partida um falso pretexto, vejamos o exemplo da investida portuguesa contra os índios caeté, os conquistadores alegaram que os caetés mataram um bispo em rituais de antropofagia, porém esta denúncia somente foi feita seis anos após este incidente ocorrido. Conclusão, os colonos baianos realizaram guerras contra estes índios, logicamente estes portugueses aumentaram consideravelmente os seus números da sua mão de obra cativa.
Muitos povos indígenas submetidos ao controle dos senhores de engenho ou dos jesuítas procuravam resgatar a sua liberdade através de violentas revoltas, outros articulavam complexos movimentos de protesto e resistência. Porém a estratégia mais eficaz a alternativa ao confronto e a submissão residia na fuga coletiva e na reconstituição da sociedade em regiões distantes dos conquistadores, durante o século XVI, muitos grupamentos tupi abandonaram o litoral e foram para áreas longínquas com o objetivo principal de reestabelecer a sua autonomia.
Em São Paulo, sempre quando a camada senhorial aperfeiçoava seus mecanismos de controle e opressão, os indígenas desenvolviam contra estratégias para visar um espaço para a sua sobrevivência humana, as revoltas organizadas, embora tenham existido, não foram tão frequentes, estas revoltas poderiam ser dar de várias maneiras. Fugindo do cativeiro, furtando seus senhores e vizinhos, invadindo propriedades e negociando seus produtos livremente. Neste último caso apresentado, os índios por volta do ano de 1650 estavam ameaçando as atividades dos mascates portugueses ao se envolverem em uma economia informal. Em diversos casos na São Paulo colonial os índios apelavam para a violência para combater a injustiça do seu cativeiro, nestas revoltas eram normais os índios aniquilarem seus opressores e depois destruir as plantações e criações que estavam nas fazendas, muitos destes levantes chegaram a balançar as bases da escravidão indígena. Também no Maranhão e no Pará a resistência à escravização começava ainda no sertão, vide o caso do grupamento indígena juruna que ao sofrerem repetidos ataques dos conquistadores se fortaleceram rapidamente ao desenvolverem estratégias de ataque e defesa.
Existe abundante documentação sobre as guerras de extermínio movidas contra vários grupos amazônicos. Os Mura foram enormemente visados durante o século XVIII, com a pacificação dos índios Mura em 1784, nada se fez para aldeá-los ou assisti-los, ao contrário do que ocorreu com os indígenas maué e mundurucu. Abandonados e hostilizados, os Mura voltaram a atacar os colonos, matando em 1820 dois soldados da guarnição de Crato. Um ano antes, os mura já tinham voltado a dificultar as comunicações fluviais entre o Pará e o Mato Grosso; os portugueses logo trataram de mobilizar os mundurucus contra os muras com o objetivo de enfraquecê-los, era possível que a hostilidade entre os mura e os mundurucu, documentada desde o século XVIII, fosse mais antiga, estendendo-se a épocas pré-coloniais. Com isso, as autoridades regionais e os colonos passaram a capitalizar, em seu proveito, as tensões e rivalidades tradicionais que existiam entre os indígenas. A guerra contra os uaimiri-atroari foi um exemplo da continuidade dos esforços pela eliminação de um grupo considerado “incivilizável”, sofrendo as primeiras agressões ainda no século XVII.
Mesmo antes da carta régia de 1798, a situação nas comunidades indígenas era de intranquilidade e, mesmo, de revolta aberta quando os nativos eram ameaçados em seus bens ou em sua liberdade, um exemplo foram os índios sapará que se haviam revoltado na região do acre em 1781, abandonando as suas aldeias e atacando uma patrulha militar, matando seus membros e soltando os índios que estavam aprisionados. No caso dos tapuios estes se apresentaram muito mais vulneráveis que os indígenas tribais, pois a esses sempre restaram o recurso das áreas de refúgio de difícil acesso ou, como solução final, a hostilidade aberta. É provável que algumas comunidades tapuias contando com a aliança de um ou outro grupo tribal, tenham voltado à floresta para refazer as bases culturais de sua vida indígena autônoma.
Os levantes indígenas foram um dado constante na história da região amazônica, em alguns casos as forças disponíveis dos portugueses eram poucas em números e equipamentos, em uma guerra aberta contra os índios as forças portuguesas seriam inevitavelmente anuladas e absorvidas. Muitos portugueses levantavam alternativas a repressão armada e começavam a fazer planos para estabelecer relações pacíficas com os índios, porém estas relações pacíficas, como no caso dos índios mundurucu muitas vezes esbarraram nas decisões de governantes que determinavam as ações punitivas em direção as áreas rebeldes, mesmo assim os indígenas não se intimidavam e continuavam com as suas resistências. Portanto, as gestões de paz estavam sendo seriamente quebradas / ameaçadas junto com os programas de pacificações com as ações punitivas que resultava no massacre de indígenas, ressaltando que estas expedições punitivas representavam os interesses de determinados grupos portugueses que se beneficiavam.
Outros índios, os maué jamais conseguiram vencer a contradição entre as relações com os brancos e a preservação de sua identidade étnica, isto os levou a numerosos conflitos que se iniciaram a partir do século XVII, um século depois, ainda ocorrendo uma sucessão de conflitos e de expedições punitivas, os maué seguiam intratáveis. As consequências destes fatos se encontram na carta instrutiva datada em 3 de outubro de 1769, aos diretores do Pará e rio negro pelo governador Athaide Teive:
"ao cabo da canoa dará para você ordens em meu nome no ato da partida para o sertão de não entrar em rio grande conste que se poderá encontrar com índios da nação maués, porque tendo mostrado a experiência que estes miseráveis homens resistem as práticas que se lhe fizer, para caírem nas trevas do paganismo ... é necessário reduzí-los a necessidade, para deles tiremos os frutos de os descer, o que há de certamente vir a suceder, vendo-se destituídos do socorro que até aqui inconsideravelmente lhe tem levado...”
Podemos observar novamente nesta carta que os indígenas que teimavam a fazer resistência a vontade do europeu estavam condenado a ser exterminado. E através de uma continuada opressão e de uma política absurda destrutiva de suprir com força de trabalho indígena, os centros produtivos da Amazônia, à custa do esvaziamento sistemático das comunidades dos altos rios, que devem ser entendidas as causas da decadência e porque não das sucessivas “revoltas” que se perceberá em grande parte da população indígena da região.
Texto Escrito por Ricardo
Referências
ELLIOT, John. “la Conquista Española Y Las Colonias De America” In : Bethell, Leslie. “História De America Latina”. Editora Crítica, Barcelona, 1990. Pg. 128-169.
MOREIRA NETO, Carlos De Araújo. “Ííndios Da Amazônia, de Maioria a Minoria ( 1750-1850 )”. Editora Vozes, 1988.
Fonte: http://www.algosobre.com.br/historia/populacoes-indigenas-do-brasil-experiencias-antes-da-conquista-resistencias-e-acomodacoes-a-colonizacao.html
A centralização do poder nas monarquias européias
Quando falamos em Europa dificilmente imaginamos o continente europeu sem os países como França, Inglaterra, Portugal ou Espanha, não é mesmo? Esses países começaram a se consolidar a partir da Baixa Idade Média, paralelamente ao desenvolvimento do comércio e das cidades.
Até então, nos diversos reinos formados pela Europa com a desagregação do Império Romano do ocidente, os reis exerciam, principalmente, funções militares e políticas. Sem cumprir atividades administrativas, o rei tinha seus poderes limitados pela ação da nobreza feudal, que, por serem os senhores da terra, controlava de fato o poder. Essa organização do poder é chamada monarquia feudal e sua principal característica era a fragmentação do poder.
A partir do século XI, em algumas regiões da Europa, as monarquias feudais iriam servir de base para a formação de governos centralizados: é o caso da França, da Inglaterra e de Castela (atual Espanha).
Os reis começaram então a concentrar grandes poderes, em parte por causa do apoio e do dinheiro recebido dos burgueses. Ao longo de algum tempo, a aproximação entre o rei e a burguesia colocariam fim à fragmentação do poder. Entretanto, isso não significou a exclusão da nobreza feudal do poder. Ela se manteve ligada ao rei e usufruindo da sua política.
Além dos reis, ganharam importância nesse processo os burgueses, que se tornaram o grupo social de maior poder político e, sobretudo, econômico.
A formação das monarquias
Durante quase toda a Idade Média não existiam paises como os que conhecemos hoje. Assim, morar em Londres ou em paris não significava morar na Inglaterra ou na França. As pessoas sentiam-se ligadas apenas a uma cidade, a um feudo ou a um reino.
O processo de formação de monarquias com poder centralizado na Europa iniciou-se no século XI e consolidou-se entre os séculos XIV e XVI. Ao final de alguns séculos, esse processo daria origem a muitos dos paises atuais da Europa, como França, Portugal e Espanha. Entretanto, ele não ocorreu ao mesmo tempo e da mesma maneira em todos os lugares do continente. Em regiões como a península Itálica e o norte da Europa nem chegaria a se consolidar.
Quase sempre estiveram envolvidos nesse processo de centralização do poder os mesmos grupos sociais: os reis, a burguesia e os nobres feudais. Cada um desses grupos era movido por interesses próprios. Muitas vezes, esses interesses eram convergentes; outras vezes, radicalmente opostos.
Para a burguesia, novo grupo social se formava, a descentralização política do feudalismo era inconveniente. Isso porque submetia os burgueses aos impostos cobrados pelos senhores e dificultava a atividade comercial pela ausência de moeda comum e de pesos e medidas padronizados.
Burguesia: Retrato do casamento de Jan van Eyck, pintor de Bruges. Esta imagem retrata o comerciante Giovani Arnolfini, no dia do seu casamento.
Essas circunstâncias acabaram aproximando os burgueses dos reis, interessados em concentrar o poder em suas mãos. Nessa aliança, a burguesia contribuía com o dinheiro e o rei, com medidas políticas que favoreciam o comércio. O dinheiro da burguesia facilitava aos reis a organização de um exercito para impor sua autoridade à nobreza feudal.
Essa mesma nobreza feudal, por sua vez, encontrava-se enfraquecida pelos gastos com as Cruzadas e tinha necessidade de um apoio forte, até mesmo para se defender das revoltas camponesas, que se intensificavam. Procurou esse apoio nos reis, apesar de muitas vezes se sentir prejudicada com a política da realeza em favor da burguesia, que colocava fim a vários dos privilégios feudais. Dividido entre a burguesia e a nobreza feudal, o rei serviu como uma espécie de mediador entre os interesses dos dois grupos.
Ao final de um longo período, esse processo acabou possibilitando a formação de um poder centralizado e a consolidação de uma unidade territorial. Com isso, formar-se-iam em diversas regiões da Europa monarquias com poder centralizado, nas quais os reis detinham grande parte do poder.
Assim, a monarquia foi forma de governo sob a qual se organizou a Europa entre o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna.
Destacaremos a seguir, o processo de formação de algumas monarquias européias desse período.
A Monarquia Francesa
Ao longo da Idade Média, o território francês sofreu com o processo de desfragmentação política motivado pelo surgimento do feudalismo. Somente no século XII, ainda durante a dinastia capetíngia, o processo de centralização política francês foi iniciado pelo rei Filipe II. Usando dos conflitos contra os ingleses pelo controle do norte da França, este monarca conseguiu formar um grande exército sustentado pelos impostos cobrados ao longo do território nacional.
A formação desse imponente exército e a vitória contra os ingleses permitiu a ampliação do poder político real. A partir de então, o rei francês criou um articulado corpo de funcionários públicos que deveriam impor a autoridade real em oposição aos senhores feudais. Paralelamente, a burguesia passou a ceder grandes quantias para que o rei garantisse a liberdade das cidades através de uma carta de franquia, documento concedido pelo próprio monarca que liberava os centros urbanos das taxações feudais.
Durante o governo do rei Luís IX, o poderio real foi ampliado com a criação de instituições jurídicas subordinadas às leis nacionais e a economia comercial se fortaleceu com a instituição de uma única moeda nacional. Tempos depois, no governo de Filipe IV, o Belo, a autoridade monárquica já era uma realidade presente. No ano de 1302, a assembléia dos Estados Gerais – composta pelo clero, a nobreza e os comerciantes – foi criada com o intuito de reafirmar a ação política do rei.
Através desse órgão, o rei Filipe IV conseguiu impor taxas sobre as propriedades da Igreja. A ação do monarca francês foi imediatamente repreendida pelo papa Bonifácio VIII, que ameaçou o rei de excomunhão. Com a morte do papa, Filipe IV interferiu para que o cardeal francês Clemente V fosse escolhido como papa e, além disso, forçou que a sede do Vaticano fosse transferida para a cidade de Avignon. Nas décadas seguintes, esse episódio marcou uma rixa entre o Estado francês e a Igreja conhecida como o “cativeiro de Avignon” ou “Cisma do Ocidente”.
A essa altura, a supremacia da autoridade monárquica francesa parecia não ter mais nenhum tipo de obstáculo. No entanto, as disputas fiscais e territoriais com a Inglaterra inseriram o Estado francês nos prolongados e penosos conflitos que marcaram a Guerra dos Cem Anos. Ao longo do século XIV, os gastos com a guerra e as conturbações sociais provenientes da Peste Negra e das revoltas camponesas abalaram a supremacia monárquica. Somente no século seguinte, uma série de levantes populares conseguiu interromper as seguidas vitórias dos britânicos na guerra.
Foi nesse contexto que surgiu a mítica figura de Joana D’Arc, uma humilde filha de camponeses que comandou diversas lutas contra a Inglaterra, alegando cumprir ordens divinas. Essas vitórias fortaleceram politicamente Carlos VII, que foi coroado como rei da França e reorganizou a reação militar contra os britânicos. Mesmo sendo queimada em 1430, acusada de heresia, os feitos heróicos de Joana serviram para que os franceses voltassem a se empenhar na luta.
No ano de 1453, o rei Carlos VII concluiu o processo de expulsão dos britânicos do território francês e passou a comandar com amplos poderes. Com o apoio dos grandes burgueses, centralizou o governo nacional, criou novos impostos e financiou a instituição de um exército permanente. A partir de então, a França tornou-se o exemplo máximo do absolutismo real europeu.
Carlos VII e Filipe IV: personagens centrais do processo de formação da monarquia na França.
A Monarquia Francesa se consolidou, definitivamente, nos séculos XIV e XV, durante a Guerra dos Cem Anos contra a Inglaterra. Aliás, esse conflito foi importante também para a Inglaterra consolidar seu poder central.
A Monarquia Inglesa
Nas Ilhas Britânicas, em meados do século XI, havia quatro reinos: Escócia, pais de Gales e Irlanda, formados por povos celtas, e Inglaterra, formada por povos anglo-saxões.
Em 1066, o duque Guilherme, da Normandia (região do norte da França) invadiu e conquistou a Inglaterra.
Guilherme, o Conquistador, como ficou conhecido, era vassalo do rei francês. Ele dividiu a Inglaterra em condados, para os quais nomeou um funcionário para representá-lo. Esse funcionário tinha autoridade sobre todos os habitantes, fossem eles senhores ou camponeses. Com isso Guilherme acabou fortalecendo o seu poder.
Imagem de Guilherme, o Conquistador
Em 1154, um nobre frances, Henrique Plantageneta, parente de Guilherme, herdou a Coroa do Reino da Inglaterra, passando a chamar-se Henrique II (1154-1189). Nesse período ocorre de fato a centralização do poder na Inglaterra.
Henrique II foi sucedido por seu filho, Ricardo Coração de Leão (1189-1199). Dos dez anos de seu governo, Ricardo ausentou-se da Inglaterra por nove anos, liderando a Terceira Cruzada e lutando no continente europeu para manter seus domínios nas Ilhas Britânicas. Essa longa ausência causou o enfraquecimento da autoridade real e o fortalecimento dos senhores feudais.
No reinado de João Sem-Terra (1199-1216), irmão de Ricardo, o enfraquecimento da autoridade real foi ainda maior. Após ser derrotado em conflitos com a França e com o papado, João Sem-Terra foi obrigado, pela nobreza inglesa, a assinar um documento chamado Magna Carta. Por esse documento, a autoridade do rei da Inglaterra ficava bastante limitada. Ele não podia, por exemplo, aumentar os impostos sem prévia autorização dos nobres. A Magna Carta estabelecia que o rei só podia criar impostos depois de ouvir o Grande Conselho, formado por bispos, condes e barões.
Henrique III (1216-1272), filho e sucessor de João Sem-Terra, além da oposição da nobreza, enfrentou forte oposição popular. Um nobre, Simon de Montfort, liderou uma revolta da aristocracia e, para conseguir a adesão popular, convocou um Grande Parlamento, do qual participavam, além da nobreza e do clero, representantes da burguesia.
No reinado de Eduardo I (1272-1307), oficializou-se a existência do Parlamento. Durante os reinados de Eduardo II e de Eduardo III, o poder do parlamento continuou a se fortalecer. Em 1350, o parlamento foi dividido em duas câmaras: a Câmara dos Lordes, formada pelo clero e pelos nobres, e a Câmara dos Comuns, formada pelos cavaleiros e pelos burgueses.
Como podemos ver, na Inglaterra o rei teve seu poder restringido pela Magna Carta e pelo Parlamento. Mas isso não significou ameaça à unidade territorial ou um poder central enfraquecido , muito pelo contrário. Comandada pelo rei, conforme os limites impostos pelo Parlamento, a Inglaterra tornar-se-ia um dos países mais poderosos da Europa, a partir do século XVI. Até hoje, a Inglaterra é uma monarquia parlamentarista.
A Torre de Londres foi, durante a Idade Média, o centro do poder real na Inglaterra. À medida que o Parlamento foi conquistando seus poderes, ela teve sua importância diminuída.
A Monarquia Portuguesa
Portugal foi um dos primeiros países da Europa a consolidar um governo forte, centralizado na pessoa do rei. A formação da Monarquia Portuguesa iniciou-se nas lutas pela expulsão dos árabes que, desde o século VIII, ocupavam a península Ibérica. Essas lutas ficaram conhecidas como guerras de Reconquista.
Durante o domínio árabe, os povos cristãos ficaram restritos ao norte da península. A partir do século XI, pouco a pouco eles conseguiram ampliar seu território. Foram fundados, então, vários reinos, entre os quais Aragão, Navarra, leão, Castela. Com isso os muçulmanos começaram a recuar em direção ao litoral sul.
Durante as guerras de Reconquista, destacou-se o nobre Henrique de Borgonha. Como recompensa, ele recebeu do rei de Leão e Castela, Afonso VI, a mão de sua filha e as terras do condado portucalense.
O filho de Henrique de Borgonha, Afonso Henriques, proclamou-se então rei de Portugal em 1139, rompendo os laços com Leão e Castela. Tinha início, assim, a dinastia de Borgonha. Afonso Henriques, o Conquistador, estendeu seus domínios para o sul, até o rio Tejo, e fez de Lisboa sua capital.
Em 1383, com a morte do último rei da dinastia de Borgonha, D. Fernando, o Formoso, a Coroa portuguesa ficou ameaçada de ser anexada pelos soberanos de Leão e Castela, parentes do rei morto. Os portugueses não desejavam que seu país fosse governado por um rei estrangeiro. A burguesia, por sua vez, temia ver seus interesses comerciais prejudicados pelos nobres castelhanos.
Para evitar a perda da independência, os portugueses aclamaram D.João, meio- irmão do rei morto, como novo rei. João, mestre da cidade de Avis, venceu os espanhóis e assumiu o trono. O apoio financeiro da burguesia foi decisivo nessa vitória. Assim, durante toda a dinastia Avis, os reis favoreceram e apoiaram as atividades burguesas.
A Monarquia Espanhola
A formação da monarquia espanhola também está ligada às guerras de Reconquista da península Ibérica. Vimos que durante esse processo diversos reinos foram constituídos. Em 1469, o casamento de Fernando (herdeiro do trono de Aragão) com Isabel (irmã do rei de Leão e Castela) uniu três reinos. Era o primeiro passo para a formação da Espanha.
Em 1492, os exércitos de Fernando e Isabel apoderaram-se de Granada e expulsaram definitivamente os árabes da península Ibérica, consolidando a monarquia espanhola.
No século XVI, com Carlos I, a Monarquia Espanhola fortaleceu-se ainda mais.
As rebeliões camponesas
Além das guerras internas e externas e dos interesses da burguesia, outro movimento contribuiu para o fortalecimento do poder dos reis: as revoltas camponesas.
Essas revoltas eram conseqüência da fome, da miséria e da exploração dos camponeses. Assustados com as rebeliões, os senhores feudais aceitavam a autoridade do rei, que, fortalecido, podia organizar exércitos para reprimir os numerosos movimentos de contestação.
Na França, as principais rebeliões ganharam o nome de jacqueries. Isso em virtude da expressão “Jacques Bonhomme”, designação desdenhosa usada pelos nobres para referir-se a qualquer camponês (algo como Zé Ninguém). Na Inglaterra, os rebeldes foram liderados por um camponês artesão chamado Wat Tyler e por um padre de nome John Ball.
Os camponeses na França e Inglaterra lutavam por melhores condições de vida. Não suportando mais as pesadas taxas exigidas pelos nobres, eles invadiam os castelos e saqueavam os depósitos de alimento.
As revoltas não duraram muito tempo, pois foram reprimidas com violência pelos exércitos ligados ao rei. Mesmo assim, contribuíram para mostrar a capacidade de organização e de luta dos camponeses.
Os jacques são massacrados em Meaux. Gaston Phébus, conde de Foix, liberta as donzelas da Normandia e de Orleães. (9 de junho de 1358) (BNF , FR 2643), fol. 226v, Jean Froissart, Chroniques, Flandre, Bruges XVe s. (170 x 200 mm)
Fonte: http://www.sohistoria.com.br/ef2/centralizacaopoder/p3.php
Reforma Agrária
Reforma Agrária
A mudança da distribuição ou da estrutura de propriedade da terra, em geral efetuada a partir de iniciativas governamentais. Os sistemas de propriedade da terra variam consideravelmente e têm grande importância para estrutura social e política de um país. As terras podem ser mantidas de forma cooperativa por famílias ou em pequenos lotes individuais, ou por um pequeno número de latifundiários (propriedades de grandes extensões de terra). Dependendo do contexto social e político, a reforma agrária pode ter propósitos diversos e adquirir diferentes formatos: pode visar à criação de uma sociedade mais igualitária, abolindo relações de tipo feudal e conquistando o apoio dos camponeses, e dando-lhes maior participação na sociedade; pode também objetivar maior eficiência econômica, criando um padrão de propriedade de terras maximiza o investimento e a produtividade; ou pode procurar impor um padrão socialista de propriedade, no qual em geral não é permitida a propriedade de terras por indivíduos isolados. As medidas aplicadas variaram desde a redistribuição geral das terras à imposição de um limite máximo para cada proprietário, e da completa abolição da propriedade privada a tentativas de alterar os termos sob os quais arrendatários trabalham a terra de um latifundiário. Nos tempos modernos, a primeira redistribuição de terras ocorreu na França, após a Revolução de 1789, que criou o padrão de pequenas fazendas familiares que se mantêm no país até hoje.
A QUESTÃO AGRÁRIA HOJE
As reivindicações dos trabalhadores rurais
A reforma agrária que os trabalhadores rurais em geral reivindicam não é a pulverização antieconômica da terra; é sim uma redistribuição da renda, de poder e de direitos, aparecendo as formas multifamiliar e cooperativa como alternativas viáveis para o não fracionamento da propriedade. Em resumo, não desejam a mera distribuição de pequenos lotes, o que apenas os habilitaria a continuarem sendo uma forma de barateamento da mão-de-obra para as grandes propriedades. Mas almejam uma mudança na estrutura política e social no campo, sobre a qual se assenta o poder dos grandes proprietários de terras.
A política de crédito rural subsidiado ilustra bem essa tríplice aliança entre indústria, bancos e latifundiários, hoje, no Brasil. Como regra, apenas os grandes proprietários têm acesso ao crédito, pelo menos naqueles programas que são mais vantajosos. De um lado, porque o crédito é para comprar: tratores, colhedeiras, adubos e defensivos químicos, etc. De outro, porque a burocracia bancária dá preferência ao grande, porque o custo operacional de um financiamento, por exemplo, de mil reais é o mesmo que o de um bilhão. Resumindo, ganham os grandes fazendeiros que recebem o crédito subsidiado. Ganham os bancos que fazem o empréstimo, e garantem mais um cliente. E ganham também os fabricantes de tratores, de adubos químicos, de defensivos, etc., de quem esses fazendeiros compram os produtos.
Falamos das reivindicações mais amplas dos trabalhadores rurais em geral. Mas existem outras reivindicações que dizem respeito especificamente a este ou àquele grupo de trabalhadores rurais. Ou seja, as reivindicações mais específicas dos trabalhadores rurais variam em função de suas diferenciações internas e das desigualdades do desenvolvimento regional do país, dando origem a um grande número de lutas específicas.
A retomada da solução “Reforma Agrária”
A reforma agrária é a aspiração maior dos trabalhadores rurais brasileiros nos dias de hoje. Mas por que a reforma agrária, e qual reforma agrária?
Esse debate também não é novo no país. Mas hoje ele tem uma conotação muito distinta da que teve em períodos anteriores. Por exemplo, nos anos cinqüenta, o debate da reforma agrária estava ligado à discussão mais geral dos rumos das industrialização brasileira.
O importante a ressaltar aqui é que a reforma agrária aparecia no fim dos anos cinqüenta como o remédio para a crise agrária e para a crise agrícola por que passava o país. A reforma agrária visava então a alterar a estrutura de posse e uso da terra no Brasil, para que pudesse haver um desenvolvimento mais rápido das forças produtivas no campo. Como se dizia na época, era preciso acelerar a penetração das relações capitalistas de produção na agricultura brasileira. Pretendia-se assim exorcizar os fantasmas dos “restos semifeudais” escondidos nos latifúndios que atormentavam a vida dos trabalhadores rurais. A reforma agrária, entregando esses latifúndios para os camponeses, suprimiria as “relações pré-capitalistas”(isto é, resolveria a questão agrária) e faria aumentar a produção, uma vez que colocaria as terras ociosas dos latifúndios em cultivo ( isto é, resolveria a questão agrícola ).
Sabemos que essa reforma agrária não foi feita. Que não houve redistribuição de terras, até pelo contrário: o dados mais recentes mostram que a concentração da propriedade aumentou e os trabalhadores rurais se tornaram ainda mais miseráveis. E, no entanto, a estrutura agrária brasileira não constituiu empecilho ao processo de industrialização do país.. De maneira resumida, podemos dizer que o desenvolvimento das relações de produção capitalistas na agricultura brasileira conseguiu grandes avanços na solução das questões agrícolas, isto é, dos problemas ligados à produção propriamente dita. Mas esse desenvolvimento só fez agravar a questão agrária, ou seja, o nível de miséria da população rural brasileira.
É nesse contexto que o remédio da reforma agrária ressurge hoje no Brasil em nova embalagem, como reaparece sempre nas épocas de crise das economias capitalistas. A solução “reforma agrária” coloca-se especificamente hoje dentro do contexto de ser uma resolução para a crise agrária brasileira e não mais para a crise agrícola: ela é apenas uma reivindicação dos setores populares e não mais da burguesia, se é que o foi algum dia.
Hoje está claro que o processo de desenvolvimento capitalista no Brasil, como em todas as partes, criou riqueza em poucas mãos e miséria generalizada. Muita gente tinha esperança de que esse processo fosse representar não apenas a redenção da burguesia nacional, mas também a dos trabalhadores brasileiros em geral. Por isso, as alianças propostas eram as dos trabalhadores (rurais e urbanos) com a burguesia nacional, contra seus inimigos comuns: o latifúndio e o imperialismo. Hoje, o latifúndio se aburguesou e se internacionalizou. Não são mais apenas os velhos coronéis do Nordeste. Os grandes latifundiários, hoje, são também os bancos e as grandes multinacionais: o BRADESCO, a Volkswagen, a Jari...
O capitalismo brasileiro mostrou no campo uma face do seu desenvolvimento profundamente prejudicial e parasitária, não só do ponto de vista dos trabalhadores, mas também da sociedade no seu conjunto. É ilustrativo, por exemplo, o nível que atingiu a especulação imobiliária, com a propriedade da terra funcionando apenas como reserva de valor contra a corrosão inflacionária e meio de acesso aos favores fiscais e creditícios das políticas governamentais. Isso porque, no sistema capitalista, pouco importa que um pedaço de chão produza soja ou cana-de-açúcar ou feijão. O que interessa é que produza lucros. Nem mesmo interessa se esse lucro advém da utilização produtiva do solo ou não...
E enquanto milhões de hectares de terras férteis e bem localizadas são retidos improdutivamente, outros milhões são apropriados à custa de trambiques e violência, por grandes empresas capitalistas que, como já destacamos não são mais apenas os “velhos latifúndios”, mas também os bancos e as empresas multinacionais. Como resultado disso são expulsas do campo, a cada ano que passa, milhares de famílias, que não têm para onde se dirigir a não ser às favelas das periferias das cidades. Ë por isso que a reforma agrária aparece hoje como a única solução democrática possível para a questão agrária. Evidentemente, há outras soluções, como, por exemplo, deixar os migrantes morrerem de fome, continuar confinando esses excedentes de população em novas favelas.
A questão agrária se alia hoje a uma série de “outras” questões, como a questão energética, a questão indígena, a questão ecológica, a questão urbana e a questão das desigualdades regionais. Ou seja, a questão agrária permeia hoje uma série de problemas fundamentais da sociedade brasileira. No fundo, todos eles têm a ver com o caráter parasitário que atingiu a forma específica como se desenvolveu o capitalismo neste país.
Assim, o remédio “reforma agrária” tem que se apresentar hoje não apenas com uma nova embalagem, mas tem que ter também um outro conteúdo. A reforma agrária já não é mais hoje no Brasil uma reivindicação do desenvolvimento capitalista, e sim um questionamento da forma que assumiu esse desenvolvimento.
Por isso, a reforma agrária é hoje - mais do nunca - uma questão eminentemente política. Ela não visa fundamentalmente aumentar a produção, embora isso também seja desejável e possível de obter. A reforma agrária é hoje a expressão da reivindicação dos trabalhadores rurais pela apropriação dos frutos do seu trabalho. E é nesse sentido que a reforma agrária não é mais apenas uma reivindicação dentro da “legalidade capitalista”: não é mais o direito de cada um à sua propriedade, mas o direito dos trabalhadores ao resultado da sua produção.
A reforma agrária é agora uma bandeira de luta política capaz de unificar não só os trabalhadores do campo, mas inclusive de se estender aos trabalhadores urbanos. A reforma agrária começa a se apresentar hoje como uma luta pela transformação da própria sociedade brasileira para um outro sistema, onde o trabalhador não só trabalhe, mas também se aproprie dos frutos do seu trabalho.
Evidentemente, não basta desejarmos isso. Essa é uma luta política de muitos, durante muito tempo. E apenas a organização dos trabalhadores do campo e da cidade em sindicatos livres e autênticos poderá levá-la à frente.
Resumindo em poucas palavras, o futuro da agricultura brasileira depende basicamente do futuro da democracia brasileira.
BRASIL SURREALISTA “O REI DO GADO”
Em matéria publicada no dia 18 de agosto próximo passado, no jornal da Tarde, da lavra de Fátima Fonseca, com o sugestivo título “Um reinado só na ficção”, pudemos apreciar uma apresentação objetiva, crítica e bem elaborada a respeito do impacto que a novela “O Rei do Gado”, vem suscitando em diferentes e específicos setores ligados às atividades agropecuárias e dos grandes fazendeiros ou latifundiários, há tempo em evidência na mídia.
Observando os acontecimentos que ocorreram no Senado, a atitude da bancada ruralista, firme, na manutenção dos grandes latifundiários, em oposição até à manifestações do próprio Presidente da República e de outros setores mais progressistas da sociedade, que sentindo a agudez do problema da Reforma Agrária e dos sem-terra especialmente, pela maneira brutal como vêm sendo tratados, com sacrifícios de vidas indefesas, que cometem um único pecado.
E qual é? Desejar e lutar por um pedaço de terra, para trabalhar e garantir o sustento de seus familiares, na busca da solução para um, dentre os outros tantos percalços que perseguem o Brasil e o inviabilizam rumo a uma legítima democracia.
Podemos arrolá-los todos, situando-os em três afirmações que ninguém ousará negar: 1) corrupção; 2) injustiça social; 3) desvirtuada distribuição de renda, beneficiando privilégios de minorias.
Mas voltemos a matéria de Fátima Fonseca, levantando opiniões a respeito da novela da Globo, que tanto interesse vem provocando.
Critica-se que “tradicionalmente coesos na defesa de seus interesses: fazendeiros, pecuaristas e representantes de entidades de classe enfrentam agora uma cisão”.
A dúvida coloca como ponto crucial em desentendimento, a não aceitação da figura do personagem Bruno Mezenga, interpretado por Antônio Fagundes, que na opinião de indivíduos ligados à essas vivências, não representa fielmente a figura do poderoso proprietário rural do Brasil.
“Outros entendem que o personagem se aproxima em muitos pontos da realidade dos senhores do campo”.
A persistir a dúvida quanto à fidelidade ou não do enfoque, uma restrição, em meu entendimento é evidente.
O Conteúdo da novela enfatiza em fato, que é preocupação hoje, para uma grande parte dos proprietários rurais, que vem sendo comentado com muita freqüência na mídia; o endividamento que está forçando numerosos ruralistas a entregar terras e bens a bancos, para saldar dívidas.
Já comentei muitas vezes em minhas matérias a equivocada política agrícola do governo, envolvendo também os mais sofredores, os médios e pequenos agricultores, que no ano passado, preferiram não extrair da terra o produto, que apresentava mais altos custos do que o comercialização, devido aos baixíssimos preços, pela grande oferta, enterrando-os todos sem que qualquer alternativa oportuna pudesse vir em seu socorro. Nada...
Hoje, já se fala em importar grãos da Argentina, para quem arcar com as conseqüências da insensatez, da incompetência? O povo, naturalmente!
O qual se pode fazer, se não existe nem vontade, nem decisão política para beneficiar os desprotegidos?
É realmente uma “Democracia” sui-generis.
Mas, voltemos ao “Rei do Gado”. Na apreciação da jornalista, fruto de pesquisa, verifica-se a existência de um ponto comum entre os ruralistas: A maneira tranqüila, sem agressões, como está sendo encarada e sugerida a Reforma Agrária, no seu caráter mais conflitante, a ocupação de propriedades para assentamento de sem-terras, por meio do diálogo.
Merece nosso respeito só por esse particular, a sugestão oferecida pelo competente Benedito Ruy Barbosa, que vem merecendo aplausos e elogios.
Atente-se também para a maneira firme e corajosa, como o autor vem mostrando a realidade cotidiana do Senado Brasileiro, despertando o povo para suas tramas e suas mordomias, ao mesmo tempo que sugere a figura autêntica do Senado da República, representado por Carlos Vereza, o “Senador Caxias”, honesto, preocupado com os problemas de seu país e com aquilo que é do povo.
Parabenizo a Rede Globo, por lançar esta novela em horário nobre, ao qual todos têm acesso e a Benedito Ruy Barbosa, que desta feita deixa bem clara sua politização, sem amor patriótico e seu comprometimento com os problemas do país, este Brasil tão desarmado por numerosos integrantes da Classe Política e por administradores inconseqüentes.
BRASIL SURREALISTA. O MOVIMENTO DOS SEM-TERRA
Evidentemente, que existem opiniões dividas em relação movimento dos sem-terra; desde aquele embuidos do mais grosseiro radicalismo, que cegos pelos preconceitos culturais, de uma sociedade, cristalizadas em estratificações sociais e por isso mesmo, mutilados no seu “EGO”, se deixam levar por esses impulsos e pelo ímpeto da violência, que nada resolve e que freqüentemente leva aos mais exacerbados atos, que podem se transformar numa agressão à própria vida. Disto temos, infelizmente, muitos e muitos exemplos.
O problema dos sem-terra tem que ser entendido como um aspecto em ebulição, assim como muitos outros que bem conhecemos e que só ganham sentido, quando analisados no contexto global e cultural, onde se acham inseridos.
De nada adianta e nada resolve ficar-se afirmando por aqui e por ali, que os sem-terra constituem grupos de marginais, que agredindo o Conceito Legal da Propriedade Privada, da terra se apossam e se mantêm como verdadeiros forasteiros da “LEI” e consequentemente passíveis das “PENAS”, que se aplicam a esses quadros específicos.
Diz-se por aí a Imprensa Falada e Escrita e particularmente a televisão trás até nós notícias, que não compreendidas na sua totalidade, distorcem o significado dos acontecimentos, desinformando e criando situações muito delicadas, capazes de levar às diferentes manifestações de eclosão.
Afirma-se que determinados Partidos Políticos estão solitários a esses movimentos e que defendendo semelhantes atos, são igualmente responsáveis por tantos confrontos de dolorosas conseqüências.
Disse ainda, que indivíduos oportunistas, estariam se infiltrando em tais movimentos, com objetivos concretos e inaceitáveis.
Por outro lado pode também afirmar, que está mal fadada Reforma Agrária, vem se arrastando há dez anos e que durante todo esse tempo, somente dois assentamentos, entre tantos outros foram totalmente, bem sucedidos, ambos no Rio Grande do Sul, que conseguiram até a organização de cooperativa, que permitiram a comercialização da “mais valha “, desfrutam hoje de condições de vida de tal qualidade, que a todos os brasileiros dever-se-ia oferecer.
E o que dizer da Bancada Ruralista no Congresso, lutando com unhas e dentes para defender seus afilhados? Por acaso este não é um comportamento anti-ético e imoral, vindo de que vem?
Por acaso, não existem uma enorme quantidade de terras devolutas pertencentes à Municípios, Estados e União, que são vergonhosamente ofertadas como “benesses” nas barganhas politiqueiras?
Por acaso, não existem por todo esse nosso tão rico e fértil Brasil, extensões e mais extensões de terras, que foram “griladas” simplesmente e nada aconteceu a esses honrados cidadãos, tão zelosos do patrimônio Brasileiro?
Terras e mais terras mantidas improdutivas, que não sofrem a tributação obrigatória sobre as mesmas, pela própria inércia que mantêm os privilégios. Isto está correto? Semelhantes proprietários, não merecem por parte de ninguém, qualquer recriminação, qualquer certo de conta, para esclarecimento da verdade?
E vai por aí afora a brutalidade dos privilégios ostensivos, que maculam nosso País e enchem de tristeza e angústia aqueles, que tiverem a infelicidade de não ficarem aquém, e compreender as manipulações impunes.
Por isso tudo é que afirmam que um análise do movimento dos sem-terra, na sua luta desesperada por um pedaço de terra e de uma infra-estrutura, que permita sua exploração produtiva, só poderá ser entendida, no seu universo sócio-político e cultural.
Todas a considerações devem avaliadas objetivamente, porém, o caminho para solução desses conflitos está efetivamente e acima de tudo, na disposição e vontade política.
Fonte: GrupoEscolar.com: http://www.grupoescolar.com/pesquisa/reforma-agraria.html
Educação moral (De Aristóteles)
Antônio Rogério da Silva
Discursus:
Aristóteles (384-322 a.C.) morreu há mais de 2300 anos, mas suas teses e concepções são discutidas até hoje. Platão, seu principal preceptor, considerava-no a própria inteligência encarnada, apesar de sua gagueira. Durante a Idade Média, ele era tido, nada mais, nada menos, como o filósofo. Foi só a partir da era moderna, sobretudo depois de Thomas Hobbes e René Descartes, que seu prestígio foi empalidecido, muito por causa do ataque direcionado à doutrina escolástica medieval, verdadeiro alvo das críticas Iluministas. O século XX tratou de reabilitar as teorias mais importantes do antigo filósofo macedônio, graças ao desapontamento com as promessas racionalistas de amadurecimento da humanidade, mal cumpridas pela modernidade.
O projeto pedagógico de esclarecimento das idéias, característico dos filósofos modernos, não obteve o êxito esperado e, de fato, as atrocidades cometidas em nome da razão: o advento da guerra de extermínio e a possibilidade real de extinção da espécie humana, por obra de suas próprias invenções, puseram em xeque as "nobres" pretensões de autores da altura de John Locke, David Hume, Jean-Jacques Rousseau e Immanuel Kant. Assim, o ceticismo a respeito do projeto emancipatório da modernidade proporcionou o resgate de pensadores que se pretendia terem sido superados. Entre os antigos, aquele que obteve maior atenção dos chamados filósofos pós-modernos foi justamente o estagirita Aristóteles.
A retomada da filosofia aristotélica permitiu que se enfrentasse diretamente as teorias pedagógicas modernas, ponto dos mais caros para o Esclarecimento. Por ser um escritor completo, em Aristóteles também podem ser encontradas idéias próprias sobre como educar as gerações, embora o fato de ser estrangeiro (meteco) entre os helenos, não autorize seu vínculo a uma perspectiva típica da educação (paideia) helênica, propriamente dita. Porém, esse é um detalhe que, na maioria das vezes, se ignora no estudo da filosofia clássica.
Aprendendo a Ser Bom:
O ensaio "Aristotle on Learning to Be Good" (Sobre o Ensino do Bem em Aristóteles), de M.F. Burnyeat, incluído na coletânea Essay on Aristotle's Ethics (Ensaios sobre a Ética de Aristóteles), editada por Amélie Oksenberg Rorty, não se detém a esse "por menor" para traçar a pedagogia aristotélica do ensino da ética. A Ética a Nicômaco é o texto básico na apreensão da doutrina educacional de Aristóteles, mormente se levado a sério a lenda que diz ter sido essa obra escrita para seu filho Nicômaco. Talvez seguindo essa linha de raciocínio, é que Burnyeat se apoie exclusivamente no principal texto da ética aristotélica, com o objetivo de saber se, diante da imperfeição humana, é possível estabelecer uma prática de ensino que fomente o desenvolvimento moral, através do conhecimento da virtude.
A possibilidade de ensino da virtude e sua própria compreensão fora tema da filosofia clássica desde Sócrates -para quem aquela não poderia ser adquirida sem antes ser conhecida. Já no Platão da teoria das reminiscências, a virtude só poderia ser conhecida pela visão atenta que a alma teria de sua forma, num mundo das idéias ulterior. Só um contínuo ciclo de reencarnação possibilitaria a compreensão plena do bem por seres humanos imperfeitos. A alma platônica seria ainda dividida em três partes distintas responsáveis pelo movimento de áreas específicas do corpo: a superior relacionada com a cabeça, a média com o tronco e a inferior, os membros.
A meta de Burnyeat, diante desses antecedentes, é caracterizar a postura aristotélica como aquela que admitiria a possibilidade de seres humanos imperfeitos serem capazes de, em vida, vislumbrar o bem por meio de um desenvolvimento moral ao longo do tempo. Nesse sentido, sua interpretação parte dos conceitos de bem humano e fraqueza de vontade (akrasia), embora essa última não seja exaustivamente explorada. Visa-se, portanto, encontrar a matéria-prima que precisa ser trabalhada para o amadurecimento moral, além dos desejos e sentimentos que motivam uma pessoa responsável a refletir sobre sua vida como um todo, ao qual o seu comportamento atual está integrado. Essa investigação histórica da vida de uma pessoa, de um certo modo, contrasta com o ponto de vista intelectual, cuja preocupação está voltada apenas para as razões e o raciocínio que levam alguém a ser considerado responsável moralmente.
O autor admite que, apesar de simples, a teoria do desenvolvimento moral aristotélica, ao propor um crescimento moral por meio de estágios cognitivos e emocionais, ajuda a fornecer uma interpretação inovadora sobre a fraqueza da vontade. O ponto de partida de Aristóteles está na definição do que é o bem humano, ou seja a felicidade. Aquele que, de início, já possui esse potencial poderá por intermédio do ensino vir a saber o porque de sua necessidade. O homem ótimo já possui isso que é chamado bem e conhece o porque de sua necessidade. O homem bom sabe o que é esse bem, mas não o porque. A este a aprendizagem das práticas adequadas poderá ser útil para explicar e justificar a existência desse bem.
As coisas nobres e justas são um pré-requisito para o esclarecimento do que é tal bem. As ações que concordem com as virtudes viabilizam esse conhecimento. Entretanto, não será apenas pela aplicação geral de regras que isso ocorrerá. Além disso, faz-se necessária uma certa percepção orientada para reconhecer e praticar as virtudes em circunstâncias específicas. Para tanto, o iniciante deve ser introduzido aos bons hábitos. O método a ser empregado, então, não será o indutivo ou meramente perceptivo, mas de o de uma prática intensiva que acostume a pessoa a uma conduta nobre e justa. Essa prática ativaria o potencial cognitivo de aprendizagem moral. Gradualmente, a dificuldade inicial do jovem iria ceder ao desejado estado de engajamento no processo de formação, adquirindo um maduro senso de valores.
O aprendiz avançaria, assim, em estágios de internalização do entendimento do que é bom, fazendo com que o hábito aprimore a sabedoria prática do porque o bem é o ponto de partida e algo a ser buscado como fim último. O aprendizado do bem não simplesmente habilita a pessoa a nomear o nobre e o justo, mas guia a conduta na descoberta da verdade. O entendimento do porque complementa a correção e a perfeição final da percepção subjetiva do que é bom. Desse modo, para entender a teoria pedagógica de Aristóteles, dever-se-ia ter em mente que só alguns terão acesso aos benefícios de seu argumento em favor do bem. Outros precisarão ter a alma cultivada. Enquanto restará ainda aqueles que, só pela força, se deixarão ser guiados pela razão e não pela paixão.
A quem faltar o gosto pelas coisas nobres e justas não poderá conhecer a virtude. Esta só pode ser ensinada ou encorajada aos que tiverem inclinação para tal. A nobreza de caráter é o ponto de partida para o desenvolvimento moral de uma pessoa, pois o amante da nobreza é nobre. Ao longo do tempo, o prazer que alguém sente pelas ações nobres e justas cresce com seu cultivo e prática.
O sentido fraco de ensino como aquisição de informação deve ser suplantado por um mais forte em que o engajamento de cada um faz com que o prazer cresça à medida que o conhecimento é internalizado. A virtude da temperança permite que se distinga a justa medida dos prazeres, em detrimento do prazer animalesco exagerado. Com isso, surge o prazer de aprender a agir virtuosamente, por meio de uma correta educação. O caráter de cada prazer forma a conduta virtuosa ou a viciosa. Só o prazer das virtudes conduz às ações nobres. O seu cultivo faz com que se aprenda por si mesmo o prazer das boas ações na prática.
Contudo, a aquisição do prazer das ações nobres por si mesmo não garante o entendimento, apesar de fornecer o ponto de partida para educação moral. Além do mais, é preciso que haja um sentimento de vergonha para que o ensino pleno da virtude possa ser internalizado. Caso ele falte, só a punição externa e a dor farão com que a pessoa se abstenha das coisas erradas. A vergonha é o sentimento responsável pela recepção da educação moral(1).
Incontinência:
Em Platão, a condição tripartida da alma explicava o fato das motivações pelas coisas nobres e justas estarem na parte média, durante a juventude. Quando as avaliações da motivação são ainda irrefletidas ou precipitadas. Nesse sentido, tanto para Platão, como para Aristóteles e os antigos helenos em geral, só o cultivo contínuo alavancaria essa motivação na direção do desenvolvimento da deliberação correta sobre a coisa certa a fazer. A avaliação das ações dependeria, então, das suas fontes motivacionais. Para cada uma delas há um objeto ou razão respectivos, o que leva à consideração da fraqueza da vontade, no instante em que o desenvolvimento moral da pessoa não permitir que ela faça a relação adequada entre motivos razoáveis, objetos e ações nobres e justas.
O desenvolvimento integrado da sabedoria prática e da virtude depende, por conseguinte, de uma atribuição racional de valores. Pois os desejos, como diz Aristóteles, devem estar em consonância com os princípios racionais(2). E quem não tiver o ponto de partida necessário deve ser submetido por sanções externas. O amadurecimento do sentimento interno da vergonha proporciona à vontade um motivo novo e mais refletido para a conduta virtuosa. Afinal, a meta do estudo da ética é a ação e não meramente o conhecimento do bem humano(3).
O tema da fraqueza da vontade é introduzido, aqui, a fim de explicar o porque do entendimento se inclinar ora para os desejos corporais, ora para a virtude da temperança, que o relacionamento social molda. Para Aristóteles, a ética não serve ao incontinente, pois este se deixa levar diretamente pelas paixões(4). Porém, quanto à formação dos desejos, há dois tipos de pessoas e modos diferentes de condução. A deliberação é o procedimento prático que articula o bem geral desejado com uma ação particular que todos têm o poder de realizar. Esse desejo pelo bem é concretizado pela visão racional da boa vida. Ele é escolhido após uma deliberação do que está ao alcance da pessoa realizar. Isto é, os desejos são formados à luz de um raciocínio orientado pelo bem.
Nesse contexto, a incontinência consiste na influência de um desejo contrário ao desejo racional, o que caracteriza a imaturidade da pessoa. Doutro modo, a fraqueza de vontade pode ser resultado de uma confusão, ou deliberação equivocada. Neste caso, a precipitação é que produz o erro de raciocínio e não os apetites. Para agir bem, é preciso pensar nas conseqüências. Tais erros são evitados quando a vida da pessoa é encarada como um todo, envolvendo a compreensão do bem humano.
A fraqueza de vontade é um fato da natureza humana. O homem continente é aquele que, ao contrário do incontinente, está habilitado a escolher o melhor silogismo que oriente uma ação virtuosa. Os incontinentes agem segundo o momento e suas ações são isoladas. Mesmo, assim, eles são considerados responsáveis pelos seus atos. A natureza humana deve ser forjada por um hábito de longo prazo.
Tal como o que é bom, as paixões estão na raiz do crescimento das pessoas. Desejos e sentimentos fazem parte das categorias necessárias para educação, motivando as mudanças nas diversas etapas do desenvolvimento moral. Segundo Platão, as três partes da alma teriam concepções diferentes sobre o desejo a ser perseguido. O conflito entre elas seria a incontinência. Em Aristóteles, no entanto, as três categorias de valor -nobreza/vilania; prestígio/injúria, prazer/dor-, ao serem relacionadas com as três partes da alma, explicariam porque os continentes e incontinentes encontrariam o bem e o prazer em ações incompatíveis. Destarte, o papel da educação seria mostrar o que é nobre, justo e a concepção de bem a ser seguida racionalmente. O caráter do continente é firme e seguro. Por isso, o homem bem formado não pode ser incontinente(5).
Referência Bibliográfica:
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco; trad. Leonel Vallandro e Gerd Borheim. - São Paulo: Abril Cultural, 1973.
BURNYEAT, M. F. "Aristotle on Learning to Be Good", in RORTY, A.O.(Ed.). Essay on Aristotle's Ethics. - Berkeley: University of California Press, 1980.
Notas:
1. Veja BURNYEAT, M.F. "Aristotle on Learning to Be Good", pp.69-79.
2. Veja ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, 3, 12, 1119b 13-18.
3. Veja BURNYEAT, M.F. Op. Cit, pp. 79-81.
4. Veja ARISTÓTELES, Op. Cit, 1, 3, 1095a 2-11.
5. Veja BURNYEAT, M. F. Idem, pp. 82-88.
Fonte:
http://www.discursus.hpg.ig.com.br/antiga/burnyeat.html
GrupoEscolar.com: http://www.grupoescolar.com/pesquisa/educacao-moral-de-aristoteles.html