Armstrong foi o primeiro ser humano a caminhar em outro corpo celeste.
Depois dele, outros 11 astronautas pisaram na Lua entre 1969 e 1972.
O primeiro homem a pisar na Lua, Neil Armstrong, morreu aos 82 anos nos Estados Unidos neste sábado (25), informou a família do astronauta à imprensa norte-americana.
Armstrong foi o comandante da Apollo 11, missão que chegou ao satélite da Terra em 20 de julho de 1969. Ao ser o primeiro ser humano a pisar em outro corpo celeste, Armstrong proferiu a frase: “Um pequeno passo para um homem, um grande salto para a humanidade.”
Além de Armstrong, outros 11 homens caminharam na Lua entre 1969 e 1972.
Armstrong foi o primeiro ser humano a pisar na
Lua (Foto: Nasa)
1- Neil Armstrong, na nave Apollo 11, em 1969
Nasceu em 1930 e morreu em 2012.
2- Buzz Aldrin, na Apollo 11, também em 1969.
Ele nasceu em 1930.
3- Charles "Pete" Conrad, na Apollo 12, em 1969.
Nasceu em 1930 e morreu em 1999.
4- Alan L. Bean, na Apollo 12, em 1969.
Nasceu em 1932.
5- Alan Shepard, na Apollo 14, em 1971.
Nasceu em 1923 e morreu em 1998.
6- Edgar D. Mitchell, na Apollo 14, em1971.
Nasceu em 1930.
7- David Scott, na Apollo 15, em 1971.
Nasceu em 1932.
8- James B. Irwin, na Apollo 15, em 1971.
Nasceu em 1930 e morreu em 1991.
9- John Young, na Apollo 16, em 1972.
Nasceu em 1930.
10- Charles M. Duke Jr., na Apollo 16, em 1972.
Nasceu em 1935.
11- Eugene A. Cernan, na Apollo 17, em 1972.
Nasceu em 1934.
12 - Harrison "Jack" Schmitt, na Apollo 17, em 1972.
Nasceuem 1935.
Fonte: G1
25.8.12
Veja a lista dos 12 homens que caminharam na Lua
Morre Neil Armstrong, primeiro homem na Lua
Armstrong passou por uma cirurgia de coração em 7 de agosto.
Americano comandou a Apollo 11 e pisou na Lua em 20 de julho de 1969.
Do G1, em São Paulo
em 1969. (Foto: Nasa)
O primeiro homem a pisar na Lua, Neil Armstrong, morreu aos 82 anos nos Estados Unidos neste sábado (25), informou a família do astronauta em nota à imprensa.
"Estamos de coração partido ao dividir a notícia de que Neil Armstrong faleceu após complicações ligadas a procedimentos cardiovasculares", diz a nota. "Neil foi um marido, pai, avó, irmão e amigo amoroso."
Em 7 de agosto, ele passou por uma cirurgia de emergência no coração, após médicos encontrarem quatro entupimentos em suas artérias, e desde então estava se recuperando no hospital em Cincinnati, onde morava com a esposa.
No Twitter, a Nasa ofereceu "seus sentimentos pela morte de Neil Armstrong, ex-piloto de testes, astronauta e primeiro homem na Lua."
Conheça a biografia
Armstrong foi o comandante da Apollo 11, missão que chegou ao satélite da Terra em 20 de julho de 1969. Ao ser o primeiro ser humano a pisar em outro corpo celeste, Armstrong proferiu a frase: “Um pequeno passo para um homem, um grande salto para a humanidade.”
Nascido em 5 de agosto de 1930, Armstrong foi piloto da Marinha dos Estados Unidos entre 1949 e 1952 e lutou na Guerra da Coreia. Em 1955, se formou em engenharia aeronáutica pela Universidade de Purdue e se tornou piloto civil da agência que precedeu a Nasa, a Naca (Conselho Nacional de Aeronáutica).
Lá, entre outras aeronaves, pilotou o X-15 – avião experimental lançado por foguete onde ocorreram as primeiras tentativas americanas de chegar aos limites da atmosfera e à órbita do planeta. Em 2012, o X-15 ainda mantém o recorde de velocidade mais alta já atingida por um avião tripulado.
Em 1962, ele deixou a função de piloto de testes e passou a ser astronauta – com a Naca já transformada em Nasa. Sua primeira missão espacial foi como comandante da Gemini 8, em março de 1966, onde ele e o astronauta David Scott fizeram a primeira acoplagem de duas naves espaciais. Na ocasião, ele se tornou o primeiro civil americano a ir ao espaço.
Durante o voo, os dois quase morreram. Enquanto a nave estava sem contato com a Terra, a Gemini 8, acoplada na sonda Agena, começou a girar fora de controle. Inicialmente, Armstrong achou que o problema era com a Agena e tentou diversas opções para parar o giro – sem sucesso. Ao desacoplar as duas naves, o problema piorou. A instantes de perder a consciência pela velocidade com que a Gemini 8 girava, Armstrong usou os motores que serviam para a reentrada na Terra para controlar a espaçonave. A Gemini parou de girar e a dupla fez um pouso de emergência próximo ao Japão, sem completar outros passos da missão, como uma caminhada espacial que seria realizada por Scott.
Armstrong no módulo lunar Eagle, após pouso na Lua (Foto: Johnson Space Center Media Archive)
Após a missão, Armstrong acompanhou o presidente americano Lyndon Johnson e outros astronautas em uma viagem à América do Sul que incluiu o Brasil. Segundo sua biografia oficial, escrita por James R. Hansen, Armstrong foi especialmente bem recebido pelas autoridades brasileiras por conhecer e conversar bem sobre a história de Alberto Santos Dumont.
Apollo 11 e a ida à Lua
Com o fim do programa Gemini e o início do Apollo, Armstrong foi selecionado como comandante da Apollo 11. Segundo a Nasa, não houve uma escolha formal inicial de quem deveria ser o primeiro a pisar na Lua. Todos os astronautas envolvidos no Apollo, segundo eles, teriam chances iguais.
As missões eram organizadas para cumprir uma crescente lista de tarefas. Assim, a Apollo 7 era um voo de teste do módulo de comando – o que era chamado de “missão tipo C”. A seguinte, 8, testou a viagem até a Lua. A 9 testou o módulo lunar, uma missão tipo “D”. Se houvesse qualquer problema em uma dessas missões, ela deveria ser retomada até dar certo.
Por isso, embora Armstrong e sua tripulação, Buzz Aldrin e Michael Collins, estivessem com a primeira missão do tipo “G”, que tentaria um pouso – não estava garantido que eles de fato fossem ser os primeiros a fazer isso. Qualquer problema nas missões anteriores e a 11 poderia ter que assumir etapas preparatórias.
Um pequeno passo para um homem, um grande salto para a humanidade."
Neil Armstrong, em 20 de julho de 1969
Quando ficou razoavelmente claro que a Apollo 11 seria a primeira missão a tentar o pouso, a mídia americana passou a informar que Buzz Aldrin seria o primeiro homem na Lua. A lógica dos jornalistas seguia o fato de que no programa Gemini o piloto – não o comandante – era quem saia da nave. Além disso, os primeiros materiais de divulgação feitos pela Nasa mostravam o piloto saindo primeiro e o comandante depois.
Em uma coletiva de imprensa feita em abril de 1969, a Nasa informou que a decisão de fazer Armstrong sair primeiro foi técnica, já que a porta do módulo lunar estava do lado dele. Em entrevistas dadas mais tarde, Deke Slayton, chefe dos astronautas na época, disse que a decisão foi “protocolar”: ele achava que o comandante da missão deveria ser o primeiro na Lua. As opiniões de Armstrong e Aldrin, segundo ele, não foram consultadas.
Após a decolagem em 16 de julho, Armstrong e Aldrin começaram a descida até a Lua em 20 de julho no módulo lunar, apelidado de “Eagle”. Durante a descida, a menos de dois mil metros de altura, dois alarmes soaram indicando que o computador estava sobrecarregado. Seguindo a orientação do controle de missão, Armstrong os ignorou e manteve o pouso.
Ao olhar pela janela, viu que o computador os estava levando para uma área com muitas pedras. O americano então assumiu o controle manual da nave e pousou. Ao encostar na Lua, restavam apenas 25 segundos de combustível no Eagle.
As primeiras palavras de seres humanos na Lua foram, na verdade, Armstrong e Aldrin fazendo a checagem pós-pouso. Termos técnicos como “parada de motor”, “controle automático ligado”, “comando do motor de descida desligado”. Apenas ao final dessa lista, Armstrong falou com a Terra: “Houston, Base da Tranquilidade aqui. A Águia [“Eagle” em inglês] pousou”.
Durante todo o processo de pouso, o controle na Terra se manteve em silêncio, permitindo que a dupla se concentrasse. Com o contato de Armstrong, o astronauta Charlie Duke, em Houston, respondeu bem humorado: “vocês têm um monte de caras quase ficando azuis aqui, estamos respirando de novo.”
Armstrong e Aldrin ficaram 21 horas e 36 minutos na Lua – duas horas e 36 minutos caminhando por ela. O tempo fora da nave foi progressivamente aumentado a cada missão Apollo – na última, a 17, os astronautas ficaram mais de 22 horas fazendo caminhadas lunares.
Retorno à Terra e vida pessoal
Armstrong, em imagem de 2006, após receber prêmio (Foto: NASA Kennedy Center Media Archive Collection)
Neil Armstrong foi recebido como herói após sua volta, com condecorações de diversos países. A mais recente foi uma medalha do Congresso americano, dada a ele e a outros pioneiros espaciais em novembro de 2011.
Eu sou e sempre serei um engenheiro nerd, com meias brancas e protetores de bolso."
Neil Armstrong, em 2007
Logo após o voo, ele assumiu uma posição de gerência na Nasa e participou da investigação do acidente da Apollo 13. Ele se aposentou da agência em 1971. Em 1970, obteve um mestrado em engenharia aeroespacial da Universidade do Sul da Califórnia. Depois, virou professor na Universidade de Cincinnati, onde morava, até 1979. Armstrong também fez parte da mesa diretora de algumas empresas americanas. Em 1986, a convite do presidente americano Ronald Reagan, participou da investigação do acidente do ônibus espacial Challenger.
Armstrong casou com Janet Shearon em 1956 , com quem teve três filhos: Eric, Karen e Mark. Karen morreu de câncer no cérebro em 1962, aos três anos, e jamais viu o pai ir ao espaço. Ele e Janet se divorciaram em 1994, após 38 anos de casamento. No mesmo ano, ele se casou com sua segunda esposa, Carol Knight.
Armstrong viveu uma vida de reclusão após a Apollo 11. Convidado frequentemente por partidos americanos, ele se recusou a concorrer a um cargo político. Armstrong também raramente era visto em público e quase nunca dava entrevistas, além de não costumar tirar fotos ou dar autógrafos, porque não gostava que eles eram vendidos por valores que ele considerava “absurdos”. Sua única biografia autorizada foi publicada em 2005. Ele também costuma processar empresas que usam sua imagem sem autorização e doar as indenizações recebidas à faculdade em que se formou. Em 2005, processou seu barbeiro por ter vendido fios de seu cabelo por US$ 3 mil. O barbeiro teve que doar o valor para a caridade.
Em 2007, 38 anos após a viagem à Lua, em uma rara aparição em público, Armstrong se definiu como "um engenheiro nerd". "Eu sou e sempre serei um engenheiro nerd, com meias brancas e protetores de bolso. E eu tenho um grande orgulho das realizações da minha profissão," disse.
Em 2009, ele fez uma viagem "secreta" ao Brasil, onde passou por São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
A nota da família sobre a morte de Armstrong é encerrada com um pedido: "Para aqueles que perguntam o que podem fazer para honrar a Neil, temos um simples pedido. Honrem seu exemplo de serviço, feitos e modéstia, e a próxima vez que você der um passeio em uma noite clara e vir a Lua sorrindo para você, lembre de Neil Armstrong e dê uma piscadela para ele.
22 de agosto de 1981 – Morre Glauber, o gênio do cinema brasileiro
por: Alice Melo
Exilado em Portugal desde o início da década de 70, Glauber Rocha, o maior cineasta que o Brasil já teve, voltou a seu país para morrer. Transferido já doente de Lisboa para uma clínica no Rio de Janeiro, com septicemia e choque bacteriano, Glauber resistiu três dias até que a morte o levasse de vez. “Um dos mais extraordinários, lúcidos e honestos intelectuais desse país”, escreveu o médico no atestado de óbito do Homem.
Controvertido, polêmico, considerado dos mais geniais cineastas brasileiros, Glauber foi, em seu funeral, protagonista também de um filme. Ele que procurou fazer da morte de Di Cavalcanti uma obra de arte, que revolucionou o cinema brasileiro, seria desta vez o tema de uma homenagem, registro indispensável decidido por cineastas e representantes da Embrafilme.
Gênio, louco, radical, apocalíptico, caótico, santo guerreiro ou dragão da maldade, Glauber parece ter sido um produto de suas contradições. Foi o mais importante nome da história do nosso cinema e reconhecia isso. Desde que Fritz Lang (Metrópolis, 1927) e Luis Buñuel (O cão Andaluz, 1928) reconheceram em Deus e o Diabo na Terra do Sol (1963) uma obra-prima ao nível das melhores já produzidas no mundo, nunca mais teve dúvidas de sua genialidade. Com Deus e o Diabo ganhou prêmio de melhor diretor em Cannes, no ano seguinte, por unanimidade.
Veja mais fotos de Glauber aqui
Em Terra em Transe (1967), no entanto, Glauber recebeu críticas negativas ferrenhas dos intelectuais brasileiros, que acusaram-no de louco, mistificador ou irresponsável. Ali Glauber critica a conjuntura brasileira pré-golpe de 64, incluindo todos os que participaram, de alguma forma deste processo, incluindo camadas da esquerda brasileira.
“Os senhores que antes me chamaram de gênio, agora me chamam de burro. Devolvo a genialidade e a burrice. Sou um intelectual subdesenvolvido como os senhores, mas, diante do cinema e da vida, tenho pelo menos coragem de proclamar minha perplexidade”, escreveu ele.
As críticas não contiveram o gênio. Logo depois, lançou Câncer, O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, Cabeças Cortadas, todas obras-primas, premiadas, discutidas e reverenciadas por críticos e espectadores do mundo inteiro.
Fonte: JBLOG
1976 - JK morre em acidente de carro
por: Ana Paula Amorim
O ex-Presidente Juscelino Kubitschek morreu, quando o Opala em que viajava de São Paulo para o Rio, dirigido pelo seu motorista Geraldo Ribeiro, desgovernou-se e chocou-se contra uma carreta. O acidente ocorreu no quilômetro 165 da rodovia, no Município de Rezende. O Opala ficou totalmente destruído e seus ocupantes irreconhecíveis.
Juscelino tinha tido os seus direitos políticos suspensos pelo regime militar, e em face disto D. Sarah Kubitschek não permitiu nenhuma manifestação oficial ao marido. A família recusou, inclusive, a sugestão do governador de Minas Gerias, Aureliano Chaves para que o corpo fosse velado no Palácio da Liberdade. O velório seria no edifício da Rua do Russel.
Quinze dias antes correra o boato da sua morte. Uma equipe de reportagem foi até a fazenda do ex-Presidente, que os recebeu com um largo sorriso - "Agora sou eu?". Ele estava com alguns familiares e amigos em volta de uma mesa com garrafas e copos de uisque, assistindo o filme O Homem de Seis Milhões de Dólares, e convidou o repórter e o motorista para um drinque: "A ocasião merece, não é? Afinal, eu acabei de ressuscitar".
O acidente encerrava definitivamente a carreira do político propulsor das vertiginosas reformas estruturais a que o país assistiu durante o Plano de Metas, que alavancou os setores de energia, transporte, alimentação, indústria de base e educação. Sua vida pública foi marcada por inúmeros atos de fé nos destinos do país. Em política, foi um obstinado quando entendia que a meta colimada coincidia com os interesses do Brasil. Era um homem que se caracterizava pela cordialidade e por uma imensa e poderosa imaginação. JK completaria 74 anos no dia 12 de setembro.
O homem que construiu uma capital
"A glória do meu Governo foi manter o regime democrático malgré tout, apesar de todas as tentativas, todos os esforços para derrubá-lo. Em 40 anos de vida republicana eu fui o único Governo civil que começou e terminou no dia marcado pela constituição." JK
Governou o Brasil entre 1956 e 1961. Promoveu o crescmento econômico sob o slogan 50 anos de progresso em 5 anos de governo. Político de qualidades singulares, inaugurou em 1960 um polêmico sonho moldado arquitetonicamente por Oscar Niemeyer no meio da imensidão do planalto central, e para lá levou a Capital do País - Brasília.
Fonte: JBLOG
22 de agosto de 1942: O Brasil entra na II Guerra Mundial
por: Lucyanne Mano
Diante das frequentes agressões dos submarinos alemães à navegação costeira do Brasil, que culminaram com o afundamento de cinco navios da nossa marinha mercante, o Presidente da República Getúlio Vargas convocou uma reunião com todo o seu ministério no Palácio Guanabara, sede do governo, no Rio de Janeiro, para examinar e definir a posição do Brasil perante o andamento da II Guerra Mundial. Atendendo aos anseios da população, expressos nas ruas de todo país, o governo tomou a decisão histórica de se juntar aos Aliados, cujas principais forças eram a URSS, os EUA e o Império Britânico, contra as potências do Eixo, liderados pela Alemanha, Itália e Japão. Após a reunião, o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) divulgou um comunicado no qual o Brasil declarava guerra aos países do Eixo.
A população brasileira recebeu a decisão do governo com grande entusiasmo e mostras de patriotismo. No Rio de Janeiro, logo após a divulgação do comunicado do DIP, centenas de cariocas se deslocaram às ruas do centro da cidade, improvisando comícios onde oradores saudavam o apoio aos Aliados, e as pessoas cantavam o hino nacional.
Além do comunicado à população, o governo brasileiro enviou uma mensagem aos governos da Alemanha e da Itália informando-os da decisão do país. No nota, além dos ataques a seus navios, o Brasil evocou as declarações de solidariedade americana votadas na Oitava Conferência Internacional de Lima e na Primeira, Segunda e Terceira Reuniões de Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas Americanas como justificativa para sua decisão
A Força Expedicionária Brasileira
O governo brasileiro somente enviaria tropas para as zonas de conflito cerca de dois anos depois da declaração de guerra à Alemanha e à Itália. Em 2 de julho de 1944, o primeiro escalão das Forças Expedicionárias Brasileiras (FEB), sob o comando do general Mascarenhas de Morais, saiu do Brasil com destino à Nápoles, e entrou em combate com tropas alemães em meados de setembro do mesmo ano. Em 6 de junho de 1945, o Ministério da Guerra do Brasil ordenou que as unidades da FEB na Itália se subordinassem ao comandante da primeira região, no Rio de Janeiro, o que significava a dissolução do contingente. No total, foram enviados para a zona de guerra cerca de 25.300 brasileiros, que auxiliaram os Aliados nos momentos finais de vitória do conflito na Europa.
Existe alguma diferença entre rei e imperador?
Na prática, rei e imperador são a mesmíssima coisa: soberanos de países que têm regimes políticos monárquicos. As variações dessas denominações, porém, estão associadas, na maior parte das vezes, à noção de superioridade que cada país ou governante atribui a si próprio. Assim, um rei geralmente governa uma área prédeterminada. Já um imperador pode ter suas terras aumentadas – na maioria das vezes, resultado de guerras e dominações. A França de Napoleão Bonaparte, no século 19, ou a Rússia do czar Nicolau II, no começo do século 20, são exemplos – “czar” significa “césar”, título dos antigos imperadores romanos. No Brasil, tivemos imperadores (Pedro I e II) porque eles governavam um país remanescente do império ultramarino português. Fatores como tradição e hereditariedade também contam. A Inglaterra, por exemplo, que sustenta um regime monárquico governado por reis desde o século 9 (hoje uma monarquia parlamentarista), teve em sua história períodos de expansão imperialista, com colônias na América do Norte, África, Ásia e Oceania. Mas seus soberanos sempre foram chamados de reis.
Fonte: http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/existe-alguma-diferenca-rei-imperador-435776.shtml
Atenas
A vida civil de Atenas foi muito diferente do viver militar dos espartanos.
Atenas era uma cidade jônica, situada na pequena península da Ática. Desde os tempos dos antigos, seus habitantes se entregavam a navegação marítima e, em contato com outros povos de civilizações adiantadas aprenderam e desenvolveram os elementos de uma vida espiritual e materialmente superior.
As tradições davam a cidade como fundada por Cécrope, colono egípcio. Um dos seus monarcas lendários teria sido o herói Teseu. O último desta fase foi Codro que sacrificou a própria vida para salvar o país da invasão dos dórios. A fim de honrar-lhes a memória, os atenienses aboliram a realeza, declararam que ninguém possuía dignidade bastante para substituir um rei com aquelas qualidades.
A organização social de Atenas
A população de Atenas dividia-se em três classes: cidadãos, metecos e escravos.
A cidadania era um privilégio que se adquiria pelo nascimento. Somente filhos de pai e mãe atenienses se reservava o direito de serem cidadãos. Os estrangeiros e seus descendentes, domiciliados em Atenas, formavam a classe dos metecos, excluídos, como os escravos, da vida política. Diz-se em resumo, que em Atenas, todos cidadãos tinham direitos políticos, mas nem todos habitantes eram cidadãos.
A organização política de Atenas
Tal como nas demais cidades da Hélade, havia em Atenas a classe dos aristocratas, os eupátridas (bem nascidos), como ali eram chamados. Estes, apos a morte de Codro, elegeram um magistrado vitalício, com o título de Arconde, responsável pelo governo, mas despojado das prerrogativas reais. Mas tarde, tornaram aquele cargo temporário, limitando-o a dez anos de mandato. Por fim, o Arcontado foi anual e passou a ser exercido por nove arcondes, um dos quais chamado arconde-rei, encarregado das funções religiosas.
Ao lado do Arcontado, com poderes administrativos militares e religiosos, funcionava o Aerópago, assembléia ou conselho formado pelos ex-arcondes, com poderes judiciários e também políticos.
As primeiras leis escritas
O governo dos nobres era opressor e indiferente à sorte do povo. Com o tempo, formou-se uma nova classe social: a dos comerciantes e de industrias que desejavam participar dos atos de governo. Uniram-se, por isso, aos demais e deram começo a uma série de lutas, visando a melhores condições de vida de toda a população. No século VII a.C., surgiram as primeiras leis escritas, atribuídas a Drácon e que se tornaram famosas pela severidade e rigor. era um passo à frente na conquista dos direitos humanos, embora a maior parte das coisas se mantivessem praticamente no mesmo estado anterior.
Sólon
Em 594 a.C., os atenienses elegeram para o Arcontado um dos "sete sábios da Grécia", Sólon, homem de grande inteligência, que realizou importante reforma no sentido democrático, inspirado no desejo de favorecer os direitos do povo. Começo por libertar os devedores reduzidos à escravidão, suprimindo o cativeiro por dívidas; garantiu a liberdade individual; estabeleceu um imposto progressivo sobre os rendimentos, para o que dividiu os cidadãos em quatro categorias, repartindo entre estas os cargos e os direitos em forma proporcional e eqüitativa.
Os poderes do governo foram divididos em quatro corpos políticos: o Arcontado, o Bulé, a Eclésia e o Aerópago.
Para o primeiro, só podiam ser eleitos os cidadãos da primeira classe, isto é, os mais ricos; o Bulé, era um conselho de 400 cidadãos, eleitos entre os membros das primeiras três classes, a Eclésia, ou assembléia do povo , pertenciam vinte mil cidadãos, incluindo-se os que nada possuíam. O Aerópago manteve a estrutura anterior.
Pisístrato
As reformas de Sólon originaram descontentamento: os eupatridas se viram prejudicados e o povo achou que devia ter mais direitos. Das lutas aproveitou Pisístrato, jovem endinheirado que, apoiado no partido popular, apoderou-se do governo.
Deu-se- o qualificativo de tirano, que, como sabemos, designava os que se elevavam ao poder por meios irregulares.
Pisístrato administrou com justiça e acerto, respeitando as leis de Sólon e procurando melhorar as condições dos menos favorecidos. A ele se atribui a iniciativa de determinar a compilação das obras de Homero. quando morreu, sucederam-lhe os filhos Hiparco e Hípias: aquele foi morto numa conjuração e este foi obrigado a fugir, por força de uma sublevação de nobres atenienses (510 a.C.).
A democracia ateniense
O governo de Atenas coube, depois de algumas lutas, a Clístenes, homem de origem aristocrática, mas de tendências populares. Nomeado arconde realizou reformas políticas de grande importância, aboliu a divisão de classes e permitiu que todos os domiciliados em Atenas fossem considerados cidadãos. Depois dividiu politicamente o território dez tribos com direitos iguais e deu à Eclésia maior qualidade de poderes.
Para evitar influências de indivíduos que pudessem atentar contra a liberdade instituiu o ostracionismo, votação realizada pela Eclésia, que tinha por fim exilar, pelo prazo de dez anos, os que visem a incidir naquela suspeição.
A partir de 503 a.C., data em que tivessem aplicação as reformas de Clístenes, o Estado ateniense passou a ser uma democracia, embora estivesse longe se assemelhar-se as democracias de nosso tempo (havia ainda muita desigualdade, mais do que a existente hoje).
Fonte: http://greek.hp.vilabol.uol.com.br/atenas-espart.htm
http://www.grupoescolar.com/pesquisa/atenas.html
Max Weber
Max Weber e a relação política, burocrática e jurídica
Jéferson dos Santos Mendes[1]
Se a política esta em toda a história humana, logo passa de uma atividade do ser humano, porém não se pode confundir com o Estado, que corresponde a “[...] racionalização da civilização humana” (FREUND, 1987, p. 159). Logo, a política é anterior ao Estado.[2] Na visão de Weber o Estado[3] se define como “[...] a estrutura ou o agrupamento político que reivindica com êxito o monopólio do constrangimento físico legítimo” (FREUND, 1987, p. 159).
Dessa forma, de um lado atuaria a racionalização do direito,[4]consequentemente a especialização do poder legislativo e judiciário, voltado para uma política que tem o objetivo de manter a segurança dos indivíduos, logo procura assegurar a ordem pública, do outro lado se vincula a uma administração racional, que estaria baseado em “regulamentos explícitos”, que pode intervir nos mais diversos domínios, exemplo cultura, saúde economia, dispondo de uma força militar permanente.[5]
A atividade política se define segundo Weber de três formas, primeiro necessita de um território delimitado, mesmo que pode ocorrer variáveis, o território particulariza agrupamento, sem esse agrupamento não se pode falar em atividade política; segundo, os indivíduos que atuam no interior desse território acabam se comportando de acordo com o território em que estão inseridos; em terceiro lugar “[...] o meio da política é força, eventualmente a violência” (FREUND, 1987, p. 161).
[...] o domínio (Herrschaft) está no âmago do político é antes de mais nada um agrupamento de domínio. Pode-se, pois, definir a política como a atividade que reivindica para a autoridade instalada em um território o direito de domínio, com a possibilidade de usar em caso de necessidade a força ou a violência, quer para manter a ordem interna e as oportunidades que dela decorrem, quer para defender a comunidade contra ameaças externas. A atividade política consiste, em suma, entravar, deslocar ou perturbar as relações de domínio. (FREUND, 1987, p. 161).
A idéia de domínio[6] necessário que existe na physis da política, sendo dessa maneira a manifestação do poderio, Weber definiu poderio como a oportunidade do indivíduo mostrar as suas vontades os seus desejos, contrapondo qualquer tipo de resistência. Já o domínio o que o indivíduo está disposto a obedecer. Esses dois aspectos não estão condicionados ao aspecto político, pelo fato do homem precisar manter as suas relações de vontades próprias.[7]
Logo, “Tornam-se políticas quando a vontade se orienta significativamente em função de um agrupamento territorial, com vistas a realizar um fim, que só tem sentido pela existência desse agrupamento” (FREUND, 1987, p. 161). Porém, a base que torna significativamente o domínio como um processo existente, ou melhor, fundamental para a sua manutenção é senão o mando e a obediência.[8]
A obediência é reconhecida como necessidade pelo indivíduo, o mando já parte como processo da natureza para que os indivíduos se organizem em agrupamentos,[9] logo, “O uso legítimo da violência é a melhor demonstração desse processo de distribuição do poder que é feita de maneira fria, calculada e livre de emoções apaixonadas” (CARVALHO, 2005, p. 43).
A relação de orgulho político, a honra, o poderio e a grandeza da-se a entender pela compreensão de prestígio.[10] Onde todo o poderio político tende a elencar em suas ações. O imperialismo segundo Weber exprime idéias de prestígio. Logo, “A nação é antes de mais nada a expressão de uma potência que tem por base o pathos do prestígio”. (FREUND, 1987, p. 163). O prestígio é senão o espírito particular de cada nação.
Weber identifica três tipos diferentes de domínio legítimo. O primeiro, domínio legal, parte de um caráter racional, “[...] tem por fundamento a crença na validade dos regulamentos estabelecidos racionalmente e na legitimidade dos chefes designados nos termos da lei” (FREUND, 1987, p. 167). O segundo, chamado de domínio tradicional, “[...] tem por base a crença na santidade das tradições em vigor e na legitimidade dos que são chamados ao poder em virtude de costume” (FREUND, 1987, p. 167). E o terceiro, chamado de domínio carismático,[11] que “[...] repousa no abandono dos membros ao valor pessoal de um homem que se distingue por sua santidade, seu heroísmo ou seus exemplos” (FREUND, 1987, p. 167).
Logo nas palavras do próprio Weber:
Existen tres tipos puros de dominación legítima. El fundamento primario de su legitimidad puede ser:
1. De carácter racional: que descancia em la creencia em la legalidad de ordenaciones estatuidas y de los derechos de mando de los llamados por esas ordenaciones a ejercer la autoridad (autoridad legal).
2. De carácter tradicional: que descansa em la creencia cotidiana em la santidad de lãs tradiciones que rigieron desde lejanos tiempos y em la legitimidad de los señalados por esa tradición pr ejercer la autoridad (autoridad tradicional).
3. De carácter carismático: que descansa en la entrega extracotidiana a l santidad, heroísmo o ejemplaridad de uma persona y a las ordenaciones por ella creadas o reveladas (llamada) (autoridad carismática). (WEBER, 1996, p. 172).
Dessa forma, “O domínio legal é mais impessoal, o segundo se baseia na piedade, e o terceiro é da ordem do excepcional” (FREUND, 1987, p. 167). O tipo mais puro de dominação legal é a dominação burocrática.[12] A dominação “legal” não corresponde apenas a estrutura moderna do Estado e do município, mas também a relação de domínio numa empresa capitalista privada, numa associação com fins utilitários ou numa união de qualquer outra natureza que disponha de um quadro administrativo numeroso e hierarquicamente articulado.[13]
Desde o início Weber identifica como sendo tipos ideais,[14] e que estes muito pouco ou raramente se encontram em seu estado puro. Logo, “Foi com o desenvolvimento dos “tipos ideais”, percebidos como um novo instrumento conceitual, [...]” (DIEHL, 2004, p. 34).
[...] Weber não quis dizer que os seus tipos ideais fossem, em algum sentido, bons ou nobres: “ideal”, aqui, significa, simplesmente “o que não está concretamente exemplificado na realidade”. Não está envolvido qualquer elemento de valor. Segundo, não pretendeu com o seu “método típico ideal” inventar qualquer novo instrumento de análise. Apenas quis com isso explicar e refinar o que os cientistas sociais e historiadores realmente fazem. O tipo ideal começa por tornar manifesta a metodologia tácita e real de outros homens; e, ao tornar publicamente clara essa metodologia, Weber esperava aperfeiçoar o caráter autoconsciente e rigoroso das ciências sociais. (MACRAE, 1995, p. 70).
As posições de Weber em entendimento mais metódico e claro, se baseiam em argumentações precisas, sempre procurando identificar as defesas e as dificuldades de conceituação. Logo, “O paciente de Weber é a sociedade. O seu principal expediente de diagnóstico é o “tipo ideal”” . (MACRAE, 1995, p. 70). Weber tem seu nome canonizado na sociologia.[15] Por meio desses conceitos e argumentos dentro da sociologia.
Pois, quando se empregam conceitos como “capitalismo”, “feudal”, “empresário”, “romântico”, carismático”, etc., está se usando, conscientemente ou não, tipos ideais.[16] Logo, todos esses complexos tipos descritivos e genéricos são tipos ideais, na esfera das ciências sociais.[17]
Burocracia[18] segundo Weber faz parte da sociedade moderna, “A burocracia esparrama seus tentáculos por toda à parte, [...]” (CARVALHO, 2005, p. 21), porém está fundada na sociedade desde muito tempo, ultrapassado momentos históricos, desde o Egito até os dias atuais, “A burocracia moderna desenvolveu-se sob a proteção do absolutismo real no começo da era moderna” (FREUND, 1987, p. 171).
Para Weber as burocracias modernas eram essencialmente patrimoniais,[19] logo os funcionários não gozavam de remuneração em espécie. “As formas de dominação burocrática estão em ascensão em todas as partes”. (WEBER, 1982, 130). Já a burocracia[20] que conhecemos se desenvolveu através de uma economia financeira moderna, tendo da mesma forma a manifestação de outros fatores importantes.
[...] a racionalização do direito, a importância do fenômeno de massa, a centralização crescente por causa das facilidades de comunicações e das concentrações das empresas, a extensão da intervenção estatal aos domínios mais diversos as atividade humana e sobretudo o desenvolvimento da racionalização técnica (FREUND, 1987, p. 171-72).
A questão da administração patrimonial que ignorava as noções de competência e de especialização das funções para apenas perceber a noção de honra como fonte de bagagem individual. Logo, como deveria ser feito, ou melhor, estar identificado o direito,[21] de forma mais lógica estaria identificado pelo costume.[22] Na realidade o tipo de direito primitivo possuía nada menos que um caráter carismático.[23]
É necessário que se tenha um aparelho coercitivo para a manutenção da sociologia do direito, “Não é indispensável que o aparelho de coerção se assemelhe à instância judiciária que nos é familiar. Um clã e uma família podiam outrora exercer essa autoridade [...]” (FREUND, 1987, p. 180). Desde que as ordens sejam reconhecidas pelos membros do agrupamento.
O direito em Weber inicia por identificar o direito privado e o direito público, num primeiro momento pode-se definir como direito privado “[...] o conjunto das normas que se referem às atividades não compreendidas pelo Estado” (FREUND, 1987, p. 182). Assim, o direito público,[24] “[...] conjunto de normas que regulam a atividade relacionada com a instituição estatal, [...]” (FREUND, 1987, p. 182).
Outra distinção é a de direito positivo e direito natural, o direito natural “[...] dá origem a instituições constatáveis e analisáveis cientificamente” (FREUND, 1987, p. 182). O direito natural não deve ser desconsiderado pelossociólogos , como uma não determinante nas sociologias jurídicas, “[...] ignorar esse direito significa que se toma partido a favor de certa dogmática contra a ciência sociológica do direito” (FREUND, 1987, p. 183).
As outras duas concepções de direito, é senão o esqueleto da sociologia jurídica de Weber, direito objetivo e direito subjetivo. Entende por direito objetivo, “[...] o conjunto de regulamentos que valem indistintamente para todos os membros de um agrupamento [...]” (FREUND, 1987, p. 183). Já o direito subjetivo, trata-se da “[...] possibilidade para o indivíduo recorrer ao aparelho de coerção com vistas a garantir seus interesses materiais e espirituais. [...] proporcionam a segurança a pessoas que dispunham de um poder sobre outros indivíduos ou sobre coisas (propriedade, por exemplo); eles os autorizam a impor, proibir ou permitir aos outros uma conduta determinada” (FREUND, 1987, p. 183). Essas formas de direito não passam de interesses protegidos juridicamente da qual Weber validou.
A distinção entre direito formal e o direito material, direciona diretamente o direito racional. Weber entende por direito formal, “[...] o conjunto do sistema do direito puro do qual todas as normas obedecem unicamente a lógica jurídica, sem intervenção de considerações externas ao direito” (FREUND, 1987, p. 184). O direito material, possuindo outra conotação, “[...] leva em conta os elementos extrajurídicos e se refere no curso de seus julgamentos aos valores políticos, éticos, econômicos ou religiosos”. (FREUND, 1987, p. 184).
Daí, duas maneiras de conceber a justiça: uma se atém exclusivamente às regras da ordem jurídica; é justo o que é estabelecido e conforme à letra ou a lógica do sistema; a outra leva em conta a situação, as intenções dos indivíduos e as condições gerais de sua existência. No mesmo sentido o juiz pode pronunciar um veredito contestando-se em aplicar estritamente a lei, ou consultando sua consciência para compreender o que lhe parece mais justo. A racionalidade do direito pode, consequentemente, ser também formal ou material, o que quer dizer que não será nunca perfeita, pois todos os conflitos jurídicos nascem do antagonismo insuperável entre essas duas espécies de direitos. Certamente, a legalidade e a eqüidade podem ambas servir de critérios para uma conduta jurídica significativa e as duas podem ser arbitrárias e irracionais e racionais. É claro que uma justiça exclusivamente material acabaria servindo de negação do direito. Por outro lado, nunca existiu e sem dúvida jamais haverá justiça puramente formal que possa dispensar toda e qualquer consideração estranha ao direito. (FREUND, 1987, p. 184).
Geralmente os comentaristas de Weber distinguem quatro tipos ideais de direito primeiro, o direito irracional e material, “[...] quando o legislador e o juiz se fundamentam em puros valores emocionais, fora de qualquer referencia a uma norma, para consultarem apenas a seus próprios sentimentos” (FREUND, 1987, p. 184). O segundo, o direito irracional e o direito formal, onde “O legislador e o juiz se deixam guiar por normas que escapam à razão, porque se pronunciam com base em uma revelação ou em um oráculo (Ordalios)” (FREUND, 1987, p. 185). O terceiro seria, o direito racional e material, onde “A legislação ou o julgamento se referem a um livro sagrado (por exemplo, o Corão), à vontade política de um conquistador ou de uma ideologia” (FREUND, 1987, p. 185). E quarto, o direito racional e o direito formal, onde “[...] a lei e o julgamento são estabelecidos unicamente com base em conceitos abstratos, criados pelo pensamento jurídico” (FREUND, 1987, p. 185).
Depois do curso dos quatro estágios, cai a um retorno ao formalismo, que partia da finalidade de conciliar a lógica jurídica com as exigências materiais extrajurídicas, logo as liberdades individuais e aos imperativos coletivos. O formalismo de forma ambígua tendo que conviver com todas as especializações.
Bibliografias:
ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. [tradução Sérgio Bath]. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
CARVALHO, Alonso Bezerra de. Max Weber: modernidade, ciência e educação. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2005.
DIEHL, Astor Antonio. Max Weber e a história. 2. ed. Ver. E ampl. Passo Fundo: UPF, 2004.
FREUND, Julien. Sociologia de Max Weber. Rio de Janeiro: Forense, 1987.
MACRAE, Donald Gunn. As idéias de Weber. [tradução Álvaro Cabral]. São Paulo: Cultrix, 1985.
WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. [tradução de Leônidas Hegemberg e Octany Silveira da Mota]. São Paulo: Editora Cultrix, 19–.
WEBER, Max. Sociologia / organizador [da coletânea] Gabriel Cohn; [tradução de Amélia Cohn e Gabriel Cohn]. 2. ed. São Paulo: Atica, 1982.
Charles Darwin, resumo, biografia, seleção natural e evolucionismo
Charles Darwin – Biografia, evolucionismo e seleção naturalFonte: A British Council Exhibition
1. A Família Darwin
Charles Darwin (1809 – 1882) nasceu em 12 de fevereiro de 1809, o quinto de seis irmãos, na família de um bem sucedido médico de interior. Seu avô paterno, Erasmus, uma figura muito respeitada embora algo controvertida, desfrutava da amizade de outra personalidade de grande destaque no século XVIII, Josiah Wedgwood I, fundador da Cerâmica Wedgwood. Esta amizade viu-se coroada com o casamento da filha mais velha de Wedgwood, Susannah, com Robert, filho de Erasmus Darwin.
2. Shrewsbury e Maer
Apesar do interesse de ambos pelas plantas, as inclinações de Charles eram subestimadas pelo pai, que o considerava um fracasso acadêmico. Foi no seu segundo lar, junto de seu tio Josiah, em Maer, a vinte milhas de Shrewsbury, que Charles foi realmente feliz, tendo-se tornado o companheiro preferido de seus primos Wedgwood.
3. Escola e Universidade
Charles cursou a Escola de Shrewsbury desde os nove anos, onde era freqüentemente rejeitado como o menino"que brinca com gases e outras porcarias". Aos dezesseis anos, esforçando-se para agradar ao pai, Charles iniciou os estudos de medicina na Universidade de Edinburgh e posteriormente, dedicou-se à Teologia, em Cambridge.
Não estava porém destinado o ser médico ou pastor. Em ambas as universidades distinguiu-se sobretudo em ciências naturais, área em que nunca se matriculara oficialmente.
4. A Grande Oportunidade
Depois de uma expedição geológica pelo Norte do País de Gales, Charles retornou ao lar, e encontrou à sua espera uma carta de John S. Henslow, professor de botânica em Cambridge. Nesta carta, Henslow informava-lhe que o havia recomendado como a pessoa mais qualificada que conhecia para o cargo de naturalista na expedição do ‘Beagle’, que se iniciaria proximamente. Esta chance única parecia estar perdida quando o pai se opôs ao plano. Dr. Darwin cedeu, contudo, ante a insistência do tio Josiah. E no dia 11 de setembro de 1831 Darwin foi pela primeira vez a Plymouth visitar o ‘Beagle’ e seu capitão, Robert FitzRoy.
5. A Viagem
Apesar da natureza pacífica de sua missão, o retorno do ‘Beagle’ à Inglaterra com segurança não estava assegurado. O risco do encalhe nas águas costeiras pouco conhecidas da América do Sul era profundo. Em terra, o viajante corria o risco do levar um tiro ou ser esfaqueado pelos revolucionários ou pelos indígena;, rebeldes, duvido ao descontentamento político que pairava no ar, mais do que nunca, como rescaldo das guerras de independência. E o rigor da pesquisa exigia que o ‘Beagle’ velejasse por toda a extensão da costa sul-americana, retornando repetidamente aos mesmos portos. O projeto ofereceu a Darwin oportunidades para explorar, a pé ou a cavalo, sozinho ou na companhia de guias, algumas das regiões mais selvagens do mundo. Ele enviou vários engradados repletos de plantas, insetos, conchas, pedras e fósseis para a Inglaterra, e suas cartas para Henslow provocaram tanto interesse nos meios científicos que alguns extratos chegaram a ser publicados pela Sociedade Filosófica de Cambridge, em 1835. Darwin cita, em sua autobiografia, que sua coleção de fósseis também "despertou muita atenção entre paleontologistas". E quando recebeu notícia deste interesse, na Ilha de Ascenção, escalou as montanhas "aos pulos, e fiz as rochas vulcânicas ressoarem sob meu martelo geológico".
6. Brasil
A exploração empreendida por Darwin no Brasil, de 28 de fevereiro a 5 de julho de 1832, foi uma das experiências mais felizes de sua viagem. Após seu primeiro dia na Bahia, em 29 de fevereiro, registrou suas impressões da seguinte forma: "prazer em si só, porém, é um termo fraco para expressar os sentimentos de um naturalista que, pela primeira vez, vagueia sozinho numa floresta brasileira."
8. Terra do Fogo
No dia 28 de novembro de 1832, o ‘Beagle’ zarpou da Baía de San Blas para a Terra do Fogo, e em meados de dezembro já se encontrava próximo ao Cabo de São Sebastião, uma parte da Terra do Fogo desconhecida de todos que estavam a bordo. Após penetrar pelo famoso Estreito do Lo Maire, ancorou na Baía do Bom Sucesso.
9. Argentina e Uruguai
Deixando as Ilhas Falkland em abril de 1833, o ‘Beagle’ rumou para o norte, em direção a Montevidéu e Maldonndo. Darwin permaneceu em lona por várias semanas. semanas, explorando a região do Maldonado e colecionando pássaros e animais. Dos registros em seu diário consta que "por alguns réis contratei todos os rapazes da cidade para meus serviços; e poucos são os dias que não me trazem alguma criatura curiosa". No dia 29 de junho embarcou novamente, com toda sua coleção.
Deixando o Brasil, o ‘Beagle’ rumou para o sul, e pesquisou a costa oriental do continente por muiltos meses, aportando reiteradamente em Montevidéu e em Buenos Aires.-Darwin esperava impacientemente pela chegada a Bahia Blanca pois estava ansioso para explorar o território, recentemente conquistado, que servia de bastião fronteiriço contra os indígenas.
10. Terra do Fogo e Patagônia
No dia 6 de dezembro de 1833, o ‘Beagle’ deixa o porto de Montevidéu, rumando novamente à Terra do Fogo via Port Desire e Port Famine.
11. Chile
Em maio de 1834, o ‘Beagle’ toma o rumo do Estreito de Magalhães e o Canal de Madalena, descoberto havia pouco tempo. No dia 28 de junho ancorou ao largo do Cabo Turn, próximo ao Monte Sarmiento, e dois dias depois adentrou o Oceano Pacífico. O comandante FitzRoy tinha a intenção de velejar para Coquimbo, mas ventos contrários conduziram o ‘Beagle’ para a costa da ilha de Chiloé.
12. Os Andes
No dia 23 de julho de 1834, o ‘Beagle’ aporta em Valparaíso. Enquanto os marujos se recuperavam e o navio era submetido a pequenos reparos, Darwin escalou sua primeira montanha no Chile, o Sino de Quillota.
Este foi um prelúdio estimulante para suas expedições através dos Andes no ano seguinte.
13. O Arquipélago de Galápagos
No período de 16 de setembro a 20 de outubro de 1835, Darwin explorou o arquipélago de Galápagos. Encontrou fauna e flora sem termo de comparação com outras regiões, e que variavam de ilha para ilha. "Nunca pudera imaginar que estas ilhas, distando entre si cinqüenta ou sessenta milhas, e a maioria visível das demais, formadas exatamente das. mesmas rochas, submetidas a um clima bem similar, com quase a mesma altitude, pudessem ser tão diferentemente povoadas
14. O Pacífico e a Australásia
No dia 20 de outubro de 1835 o ‘Beagle’ tomou a direção de Taiti, iniciando o longo percurso de 3.200 milhas marítimas através do Pacífico.
15. Rumando para Casa
O ‘Beagle’ aportou na Austrália pela última vez em King George’s Sound. Lá permaneceu até 14 de março de 1836, retido pelo mau tempo. Seu curso levou-o então para o Oceano Índico, de retorno à Europa.
16. O Problema das Espécies
O período mais ativo da vida de Darwin na Inglaterra começou imediatamente após seu regresso da expedição do ‘Beagle’. Para ele, não havia nada de mais remoto do que a aposentadoria "numa pacata paróquia". Embora tivesse então vinte e poucos anos, tomou seu lugar entre os principais cientistas de sua época.
17. O Grande Debate
O grande debate sobre a origem da vida foi iniciado pelos geólogos britânicos em meados do século XIX. Inevitavelmente, os conceitos de tempo foram alterados com os avanços nos conhecimentos. Enquanto Darwin encontrava-se a bordo o ‘Beagle’, grassava a controvérsia entre aqueles que tentavam reconciliar as descobertas geológicas com a Bíblia e aqueles que, liderados por Lyell, refutavam a interpretação literal das Sagradas Escrituras com base em evidências cientificas.
O interesse do público foi despertado particularmente pelas dramáticas descobertas de fósseis de monstros pré-históricos na Europa e na América. Os fatos que deviam ser esclarecidos eram quando essas criaturas extraordinárias habitaram a Terra eporquê se extinguiram.
18. Casamento
Ao debater consigo mesmo se deveria ou não casar-se, Darwin elaborou uma lista de prós e contras. Como solteiro, argüia, ele poderia perseguir suas pesquisas científicas sem o peso de preocupações domésticas. Mas os dons e encantos de sua prima Emma Wedgwood preponderaram sobre os contras, e a 29 de janeiro de 1839 celebrou-se o casamento de ambos.
19. Down House
Em 1842, os Darwins mudaram-se para seu lar permanente, Down House, no povoado de Downe, condado de Kent. A alegria de Darwin teria sido completa não fosse a doença que o tornou semi-inválido para o resto de seus dias. Contudo, o entusiasmo pelo trabalho científico operava como um analgéstico, e Darwin desfrutava animadamente da companhia de seus familiares e amigos. Encontravam-se todos lá, segundo Hooker, "para discutir questões em qualquer ramo de conhecimento biológico ou físico".
20. Darwin e os Evolucionistas
A especulação filosófica sobre a evolução data dos gregos antigos,,
mas até o século XVIII era desprovida de bases científicas. Os principais evolucionistas da época, o avô de Darwin, Erasmus, além de Buffon e Lamarck, viam-se tolhidos pela insuficiência de evidências e devido à poderosa oposição que suas opiniões causavam.
A essência da teoria do neto foi expressa por Erasmus Darwin em verso:
First form minute, unseen by spheric
glass,Move on the mud, or pierce the
waterymass; These, as successive generations
bloom, New powers acquire, and larger limbs
assume.
(Primeiras formas diminutas,
invisíveis ao vidro esférico,
Movem-se na lama,
ou cortam a massa aquosa;
Estas, com o florescer de sucessivas gerações,
Adquirem poderes novos, e membros de maiores proporções.)
21. A Origem das Espécies
Darwin não perdeu mais tempo com hesitações acadêmicas. Em julho de 1858 iniciou um trabalho para a Sociedade Linnean que veio a constituir A Origem das Espécies, publicado no ano seguinte por John Murray. Marcou história, expondo o mecanismo básico da evolução: a seleção natural.
Darwin havia acumulado tantos fatos para fundamentar sua teoria que seus argumentos eram difíceis de refutar. Mas a implicação de que todos os seres vivos descendem de um ancestral comum insere o Homem no esquema evolutivo, dando início a uma das maiores controvérsias científicas, e cujos efeitos se fazer sentir até os nossos dias.
22. Últimos Anos
Após a publicação de ,4 Origem das Espécies, Darwin aparentemente abandonou os estudos evolucionistas, dedicando-se à área menos controversa das plantas e minhocas. Na realidade, porém, continuou a acumular evidências para sua teoria na vida das plantas, acreditando que estas se prestavam mais adequadamente às suas experiências do que os animais. Em 1876 Darwin redigiu uma curta autobiografia, dedicada a seus filhos, em que registra suas atividades científicas. Suas investigações e experiências levaram-no a fazer muitas descobertas importantes, pelo que é hoje considerado como um dos pioneiros não apenas da teoria da evolução como também no campo da taxionomia dos percevejos, do comportamento animal, da genética, da fisiologia vegetal e da polinização ecológica.
23. Reconhecimento
Darwin viveu o suficiente para ver sua teoria da evolução ganhar aceitação geral. É de Huxley a queixa irônica de que "será um mundo monótono. As idéias que os homens desprezavam há 25 anos logo serão ensinadas nos livros escolares". No dia 19 de abril de 1882 Darwin faleceu em Down, e foi sepultado próximo à tumba de Isaac Newton, na Abadia de Westminster. Huxley, Hooker e Wallace carregaram seu caixão. Sua maior realização foi ter lançado as bases da biologia moderna.
História do Banho
Introdução
Nossa relação com a água remete a nossa própria existência, partindo do princípio que nos desenvolvemos em uma bolsa de água durante nove meses e a partir daí esta relação coexiste em nossas vidas: água para beber, para lavar, curar e purificar.
A cada época e lugar sentimos essa incontrolável necessidade de se relacionar com esse elemento da natureza. Nosso enredo é uma viagem pela relação entre a humanidade e a água. Mais do que um hábito de higiene, o banho reflete a história e o desenvolvimento cultural de um povo e suas crenças, a história do banho traça a trajetória da civilização.
Partimos de 3 mil anos atrás até a atualidade. Trazemos à tona esse longo banho, misturando as suas gotas, significados, símbolos e desejos, personagens anônimos e lendários que, através dos tempos, testemunharam as transformações ocorridas com esta prática e os rituais relativos à ela, bem como alguns aspectos imutáveis ao longo do tempo, que fazem do banho uma necessidade inquestionável e eterna.
É com a limpidez de espírito e com orgulho que a Beija-Flor de Nilópolis conta este enredo, lavada e perfumada, em seu momento de estrela, e vem banhar-se de alegria e beleza, agitando as águas da história e envolvendo a todos com uma suave espuma de prazer e felicidade.
Sinopse
Hoje o samba vem mergulhar de corpo e alma no azul cristalino das águas do tempo, abrindo as comportas da história, num rio mágico de fantasia que jorra em cores nesta folia, lavando as manchas do passado, passando a limpo a humanidade, dando um banho de alegria nesta maravilhosa cidade.É o Beija-Flor que navega nas espumas flutuantes, atravessando eras, remando em asas, nas águas claras e fascinantes, da sua fértil imaginação. E inventa assim um céu para seu vôo encantado, no espelho mágico que reflete líquido, o néctar doce e puro de sua fonte de inspiração.No borbulhar da história, faz emergir o limiar de um hábito, um milenar costume que o Egito nos ensinou, um misto de mito, rito e de prazer. Uma dádiva do Nilo, que ao banhar esse povo moreno, nos legou esse saber.
Saber quão salutar é esta prática, uma receita de bem viver, um instrumento de beleza. Segredo de uma mulher que se fez símbolo maior de realeza, a rainha do deserto, deusa a se banhar de leite e perfume de flor, com tempero de sedução, que balançou impérios e conquistou corações.Vai atravessando a cortina de fumaça que transpõe o tempo e chega ao Oriente, de onde exala o aroma das ervas que inebria a alma de água e calor, desvenda essa nuvem que limpa o corpo e a mente, que transpira os males, que renova o vigor. Bruma de saúde a se espalhar em vapor, como sopro divino, vindo do Olímpio de Zeus, como presente de Grego que o Império Romano recebeu e que a ele deu ares de festa, erguendo palácios de luxúria e lazer.Vai viajar no espaço dos séculos, de um povo a desfrutar desta alegria limpa e líquida, descobrindo as delícias da água e do prazer de ser banhar. Segue a vastidão de um Império, se expandindo e fluindo até chegar o momento do ocaso desse reinado, como um rio que seca, o fim de um sonho dourado de ter o mundo conquistado.
Por ordem da cruz, em nome de Deus, o hábito é condenado. E o que outrora dava prazer, ora se torna pecado, e o suor é o que lava o “corpo fechado” da humanidade, que adentra na imunda “idade das trevas”, onde o banho é excomungado.
Vai viajar no espaço dos séculos, de um povo a desfrutar desta alegria limpa e líquida, descobrindo as delícias da água e do prazer de ser banhar. Segue a vastidão de um Império, se expandindo e fluindo até chegar o momento do ocaso desse reinado, como um rio que seca, o fim de um sonho dourado de ter o mundo conquistado.
Por ordem da cruz, em nome de Deus, o hábito é condenado. E o que outrora dava prazer, ora se torna pecado, e o suor é o que lava o “corpo fechado” da humanidade, que adentra na imunda “idade das trevas”, onde o banho é excomungado.
Na escuridão da noite eterna, vai enxugando a intolerância de um tempo que cobriu a sujeira em vestes brancas, na busca de um corpo puro, casto e imune, e vai testemunhar que da mesma cruz e espada que reprime, se ascende o lume de uma nova era a se despertar. É o tempo de se lançar às águas em grandes aventuras, rumo ao descobrimento, tempo de lavar a mente e iluminar a razão, de procurar um novo mundo e nele encontrar a pureza. E nos corpos nus, reaprender a lição; se despir dos valores e mergulhar sem medo no lago natural do conhecimento, num banho de civilização.
Faz transpirar no velho mundo, esta limpa liberdade nativa, como a força e a luz do Renascimento, já que a suja Europa busca na ciência a alternativa misturando óleos e essências, lançando perfume no ar, num banho de cheiro a disfarçar o asseio de uma imunda nobreza que, de cara branca, perucas, jóias e rendas, veste a hipocrisia em fantasia de limpeza.
Vem mostrar ao povo mal acostumado que os “humores do corpo” decorrem do hábito abandonado, que assim disse um cientista que o micróbio mora ao lado daquilo que não é lavado, pois o que os olhos não enxergam, um bom banho tira o “mau olhado”.
Traz à tona um novo tempo, tempos modernos de saúde e bem viver, onde o banho vira moda e a humanidade assim limpa e prosa, reinventa esse prazer.
Quando o sabão se torna sabonete, perfume a alcance do povo, este povo que ao tempo que passa inventa mais um banho novo e segue cantando no chuveiro, dançando na chuva, dourando ao sol ou na fria luz da lua, de luxo sob as espumas, de lama e de loja, pura beleza, se amando de fato num banho de gato na mais louca safadeza.
E assim, entre pingos e gotas, jorros e ondas, seguimos na correnteza deste banho de alegria, que nos traz a certeza de quem banha o corpo, hoje também lava a alma nesta folia. O samba, que traz no seu batuque a Africana magia, depois de dar um banho de história e cultura, vem se banhar em sua fé, e a Beija-Flor vem lavar a passarela nas cores de uma aquarela, saudando seus orixás e purificando toda cidade ao se banhar de axé.
SEGMENTAÇÃO DO ENREDO
Egito – Origem do Banho
Os primeiros registros do ato de se banhar individualmente ocorreram por volta de 3.000 a.C., e pertencem ao antigo Egito. Os egípcios realizavam rituais sagrados na água e banhavam-se diariamente, dedicando os banhos a divindades como Thot e Bes.
Thot era o Deus do conhecimento, da sabedoria, da escrita e da medicina, considerado a melhor divindade para cuidar das pessoas que se banhavam. Depois dele, vinha Bes, o Deus da fertilidade e do casamento, que cuidava do parto e do banho das crianças e mulheres.
Mais do que limpar o corpo, os egípcios presumiam que a água purificava a alma, e esta crença era válida tanto para a realeza - cortejada com óleos aromáticos e massagens aplicadas pelos escravos, quanto para as populações mais pobres, que recorriam inclusive a profissionais de rua quando não conseguiam tratar da própria beleza. Os egípcios foram os inventores dos primeiros cosméticos.
Termas – Luxúria Líquida
Babilônia, Turcos, Gregos, Romanos
A Grécia foi um dos locais em que o banho prosperou, sendo possível encontrar bem preservados palácios de 1700 a.C. a 1200 a.C. que, mesmo nos dias atuais, surpreendem devido a avançadas técnicas de distribuição da água. Afirma-se que naquela época, os banquetes precisavam ser luxuosos e incluíam uma sessão de banho para os convidados.
Na Grécia, o banho também era uma extensão necessária da prática de ginástica, e comumente os gregos antigos invocavam a proteção de Hera, a mulher de Zeus (também conhecida como Deusa Juno), durante o banho.
Os gregos tomavam banhos por prazer e para ter uma vida saudável, motivados pela higiene, espiritualidade e práticas desportivas, sendo que os médicos louvavam as virtudes ocasionadas em função dos diferentes tipos de banho, aconselhando o uso de óleos na água para untar o corpo antes de as pessoas se secarem.
Embora os gregos tenham iniciado a prática dos banhos públicos no Ocidente, os pioneiros nos balneários coletivos foram os babilônios.
Materiais saponificantes anteriores a 2.800 a.C. foram encontrados em cilindros escavados nas ruínas da antiga Babilônia. As inscrições indicam que aquele material era utilizado para a limpeza dos cabelos e para auxiliar na confecção de penteados.
Por volta de 650 a.C a cidade da Babilônia, na Mesopotâmia, tornou-se o centro comercial de especiarias e perfumes da época.
Já no século II a.C., os romanos construíram enormes complexos de banho para homens, sendo que os romanos foram o povo da Antiguidade que mais se importaram em transformar o banho num evento, construindo suntuosas termas públicas onde qualquer cidadão pudesse desfrutar dos prazeres proporcionados pelo banho. O banho referia-se à idéia de repouso e de convívio, pois era uma prática social e um ritual simbólico.
Os romanos herdaram muito da cultura grega, incluindo a adoração pelo banho. Porém, entre eles, esse hábito adquiriu proporções inéditas. As visitas diárias às termas tinham fundo religioso, visto que o banho público era um ato de adoração à deusa Minerva.
Os romanos consideravam Minerva, a deusa do comércio, da educação e do vigor, especialmente bem dotada para cuidar do banho. Fortuna, a deusa do destino, também era representada nas casas de banho, para proteger as pessoas quando estavam mais vulneráveis. Além disso, havia incontáveis ninfas e espíritos associados a fontes e poços locais, venerados como guardiões do banho.
E o costume não era restrito somente às classes mais abastadas: boêmios, prostitutas, imperadores, filósofos, políticos, velhos e crianças, todos se banhavam no mesmo espaço, sem constrangimento.
Os gregos e os romanos mantiveram o hábito de reunir-se em "banhos públicos", que se tornaram em verdadeiros locais de discussões e decisões políticas e sociais. As termas eram um ponto de encontro e de troca de informações, que se tornaram símbolos de luxo e, muitas vezes, das decadências dos costumes.
Os romanos e os gregos - precursores de sistemas hidráulicos que canalizavam águas pluviais e fluviais, conduzindo-as para as residências e termas - fizeram do banho um ritual de luxo e influenciaram o mundo com suas criações de óleos, ungüentos e maneiras prazerosas de banhar-se.
Os árabes não só compreendiam e apreciavam os prazeres dos perfumes, mas também possuíam conhecimentos avançados de higiene e medicina. Muito celebrados por suas maravilhosas descobertas, eles ofereceram à humanidade o primeiro alambique, e a partir desta invenção foi possível destilar as matérias-primas e preparar a primeira água de rosas do mundo, isolando o perfume de pétalas em forma de óleo.
Associar os famosos banhos turcos a rituais amorosos é uma das primeiras reações dos ocidentais ao imaginar as sofisticadas casas dos muçulmanos. O hamman, a cerimônia islâmica do banho, estimulava a imaginação dos europeus, ao descrever dezenas de belas mulheres se banhando e se embelezando em um ambiente ricamente ornamentado.
Mas o hamman supera essa carga erótica. É um preceito da fé islâmica lavar e perfumar o corpo para a oração. E os banhos em conjunto, demorados, são a melhor maneira de se purificar para a prece. O hamman serve, então, como meditação entre os pecados do corpo e a limpeza do espírito.
Na Europa, somente no século XVII houve a introdução das casas de saunas e banhos turcos.
Idade Média – Proibição do Banho
Durante a Idade Média, os ocidentais abandonaram os sofisticados rituais de limpeza da Antiguidade e mergulharam numa profunda sujeira. A maneira de ver o banho mudou. As idéias religiosas foram levadas ao exagero e as saunas passaram a ser consideradas locais de pecado, porque as pessoas se viam nuas umas às outras.
Não é exagero afirmar que a Idade Média foi o período em que a cristandade varreu da Europa as termas e demais atividades em que as pessoas se expusessem demais. Com tantos pudores, o prazer de tomar banho de corpo inteiro passou a ser visto como um ato de luxúria. Lavar as mãos e o rosto bastava, às vezes nem isso. Quando muito, era aceitável tomar um só banho por ano.
Os banhos foram totalmente proibidos, aumentando as doenças, em especial a peste. Dizia-se que a água "amolecia" a alma. Dizia-se ainda, que o fato de a água quente dilatar os poros da pele facilitava a entrada de doenças no corpo. Desta forma, nesta época, a higiene basicamente resumia-se em vestir uma roupa limpa e usá-la até ficar suja, pois acreditava-se que a roupa funcionava como uma espécie de “esponja”, absorvendo a sujeira. Sendo que muitas vezes a roupa sequer era lavada, apenas sacudida e carregada de perfume.
Os banhos eram escassos, quase inexistentes. Em famílias pobres, quando eles aconteciam, a água servia para banhar a família inteira em uma tina. Primeiro os homens, depois os filhos e por último as mulheres.
A Idade Média foi muito apropriadamente chamada de Idade das Trevas, protagonizando o total sepultamento dos hábitos de higiene. A Igreja, poder político e cultural absoluto, abominava os banhos, tratando-os como “Orgias Pecaminosas”.
Iniciou-se um período de imundície com conseqüências desastrosas para a Europa. Segundo os sanitaristas, as constantes epidemias que assolaram o Velho Mundo durante a Idade Média foram provenientes da total ausência de higiene por parte da população. As necessidades fisiológicas eram “despejadas” pelas janelas!
Esta falta de asseio pessoal, aliada às condições de vida insalubres, contribuíram sobremaneira para as grandes epidemias da Idade Média e, em especial, para a Peste Negra do século XIV.
Com os grandes surtos epidêmicos instala-se a convicção de que a água, por efeito da pressão e sobretudo do calor, abria os poros e tornava o corpo receptivo à entrada de todos os males.
Desde o século XV, os médicos condenavam a utilização dos balneários públicos e das estufas. Defendiam a teoria que, “depois do banho, a carne e o hábito do corpo amolecem e os poros abrem-se, e assim, o vapor empestado pode entrar prontamente no corpo e provocar a morte súbita”.
A ideologia cristã instaurou preconceitos e impôs uma nova moral e conseqüentes novos costumes. A Igreja temia pela sujidade das almas, pois os hábitos promíscuos eram uma porta aberta para o pecado. Havia assim, que se evitar os banhos públicos, locais “propícios à devassidão e ao amolecimento dos costumes”.
Renascimento – Dos Maus Odores ao Banho de Civilização
No século XIII, frades dominicanos iniciaram as atividades farmacêuticas relativas à produção de essências, pomadas, bálsamos e outras preparações medicinais.
Muitas dessas fórmulas, produzidas até os dias de hoje, foram estudadas durante a corte de Catarina de Médici, nobre florentina que se mudou para a França em 1533, para se casar com o Rei Henrique II.
Os perfumes de Catarina de Médici eram feitos em Grasse, uma pequena cidade ao sul da França, localizada aos pés dos Alpes mediterrâneos. Grasse era então um centro da indústria de couro e, até aquele momento, não existia nenhum produto para limpar e perfumar o couro, especialmente o das delicadas luvas das senhoras. Desenvolveu-se, então, uma arte refinada, tarefa dos ‘maîtres gantier parfumeurs’- mestres perfumistas de luvas, que prosperaram em torno de Grasse.
Aos poucos, a era das águas perfumadas com flores foi cedendo espaço a composições à base de almíscar. A preocupação com a higiene e os cuidados com o corpo permanecia. Também se considerava importante o cultivo de jardins, capazes de repelir os odores pestilentos comuns na época.
Diz-se que Luis XIV, o “Rei Sol”, era muito sensível a odores, e tinha um perfume para cada dia da semana. Em sua corte, rosas e flores de laranjeira eram usadas para perfumar luvas, e os sabonetes de óleo de oliva faziam parte da higiene diária. As fragrâncias apreciadas por Luís XIV eram produzidas no sul da França.
No Renascimento, a idéia de manter o corpo limpo foi abandonada e os “banhos de água” foram substituídos por “banhos com fortes perfumes e essências”, sendo Catarina de Médici a grande responsável pela difusão do perfume na França.
A fomentação da expansão marítima conduz os europeus ao descobrimento de novas terras, denominadas de ‘Novo Mundo’; e a realidade da Europa (o ‘Velho Mundo’) mostrava-se paradoxal aos costumes demonstrados pelos habitantes dos territórios localizados na atual América do Sul.
A chegada dos brancos impressionou aos índios, devido à aparência suja e grotesca dos europeus, chamados de “mal cheirosos e porcos”.
Observando os hábitos dos indígenas, nativos das terras recém-descobertas, os europeus aprenderam diversos conhecimentos sobre limpeza e higiene, pois era comum e freqüentemente os naturais banharem-se em rios, lagos, lagoas e cachoeiras. De modo que os indígenas em muito contribuíram para o progresso nos costumes dos europeus, promovendo um verdadeiro banho de civilização.
Corte de França – Banho de Cheiro Disfarçando a Sujeira
A fundação da primeira boutique de perfumes em Paris impulsionou a produção e a comercialização de produtos aromáticos. A opulência, o esplendor, a extravagância e o refinamento surgiam nas famílias aristocratas e dominavam a corte européia.
A moda dos banhos estimulou a difusão dos perfumes por toda a Europa. A “Corte perfumada”, fiel ao estilo Rococó, bem como toda a nobreza francesa, habitualmente se utilizavam de bálsamos e perfumes - nas roupas, nos corpos e nos cabelos - para disfarçar a sujeira e amenizar o mau cheiro.
Pasteur – Corpo Limpo, Corpo São
Louis Pasteur (1822-1895) foi um cientista francês que fez descobertas que tiveram grande importância tanto na área química como na medicina.
O conceito de higiene surge apenas no século XIX, depois das descobertas de Pasteur e dos seus trabalhos sobre a importância da higiene na saúde. Assim, os hospitais e outros locais de contato com doenças passaram a ser limpos regularmente. Cabe frisar que as noções de assepsia por ele implantadas no âmbito da medicina foram fundamentais para que muitas vidas se salvassem.
Constante defensor da adoção de medidas profiláticas para evitar doenças contagiosas causadas por agentes externos, realizou uma obra científica notável, que não só abriu caminhos aos estudos sobre a origem da vida, como contribuiu de forma decisiva para a evolução da indústria. Sua contribuição foi essencial ainda na evolução da medicina preventiva, dos métodos cirúrgicos (com a prevenção das infecções), das técnicas de obstetrícia e dos hábitos de higiene.
Em Paris, criou o primeiro Instituto Pasteur (1888), que se tornou um dos mais importantes centros mundiais de pesquisa científica, com filiais em vários países, inclusive no Brasil (Rio de Janeiro).
O Banho Vira Moda: de Sol, de Lua, de Gato, de Loja e de Cheiro. Dançando na Chuva e Cantando no Chuveiro
Ao longo da História, o banho já foi considerado sagrado e profano, artigo de luxo e diversão das massas, receita de saúde e até causador de doenças e mortes.
Este ritual, tal como o conhecemos hoje, é resultado de uma mescla dos costumes de diferentes povos ao longo dos tempos.
Atualmente, o banho é associado ao cuidado com a pele e ao bem-estar em todo o mundo. Além de deixar o corpo limpo e cheiroso, as composições dos sabonetes, sais e óleos são enriquecidos com essências que podem transmitir sensações diferentes como relaxamento ou vigor que, associados às diferentes temperaturas da água, têm seu efeito potencializado.
Ou seja: refrescar, seduzir, relaxar e estimular são apenas algumas das variadas finalidades dos mais diferentes tipos de banho, que propiciam vastos benefícios para o corpo e para a mente das pessoas.
Muitas são as delícias que esta experiência é capaz de proporcionar; são efeitos estimulantes, afrodisíacos e relaxantes, dentre outros.
Com isso, o banho terminantemente virou moda: no chuveiro, em banheiras, e ofurôs. Banho de cheiro, de sol e de sais, de mar e de piscina; banho de cachoeira e banho de lua, banho de loja e banho de gato; dançando na chuva, cantando no chuveiro!
Quem Banha o Corpo, Lava a Alma – Banho dos Orixás
Os rituais de diferentes tipos de banho também são práticas religiosas, uma vez que o ato de banhar-se foi e ainda é visto em muitas religiões como um rito de purificação do corpo e da alma. Tal fato é observável no espiritismo, por exemplo, pois acredita-se que quem banha o corpo, lava a alma, afastando as energias negativas e atraindo a positividade.
Os banhos de cunho litúrgico podem ter finalidades diversas: defesa, sacudimento, defumação, cura, regeneração, elevação espiritual, auxílio no desenvolvimento de novos médiuns.
A benção e a proteção dos orixás abrem os caminhos através de sessões de descarrego, limpeza da aura, energização e purificação; com a utilização, inclusive, de utensílios tais como a pipoca, ervas e sal grosso, dentre outros.
No Brasil, país onde grande parte da população é praticante do sincretismo religioso, tais práticas afro-descendentes são bastante usuais.
Fonte: www.beija-flor.com.br
História do Banho
Na escala da história humana, o hálito perfumado, o cabelo sedoso, a axila desodorizada (e depilada, se feminina) são novidades absolutas. A higiene pessoal, tal como é concebida hoje na maioria dos países, só se estabeleceu em efetivo no século XIX. Antes disso, as pessoas não apenas toleravam a sujeira como ainda, muitas vezes, se compraziam com ela. A evolução dos cuidados íntimos deu-se aos trancos, com pequenos avanços seguidos de longos recuos. E até mesmo produtos de utilidade óbvia, como o papel higiênico (que recém-completou 150 anos), não só demoraram a ser inventados como encontraram resistência para ser aceitos. Dois livros lançados na Inglaterra e nos Estados Unidos, Clean – A History of Personal Hygiene and Purity (Limpo – Uma História da Higiene Pessoal e da Pureza), da inglesa Virginia Smith, e The Dirt on Clean (algo como O Lado Sujo da Limpeza), da canadense Katherine Ashenburg, reconstituem a trajetória da higiene na civilização ocidental. Com detalhes sórdidos – e anedotas sujas.
Virginia Smith, pesquisadora associada do Centro de História da Saúde Pública da London School of Hygiene and Tropical Medicine, tomou um caminho mais acadêmico, que parte de considerações biológicas sobre os cuidados de macacos e outros mamíferos com o corpo para então compor a moldura histórica mais ampla. Katherine Ashenburg, jornalista que já havia escrito um livro sobre as práticas de luto ao longo dos séculos, toma um caminho mais cultural, discutindo os hábitos íntimos de uma larga galeria de personagens.
As duas obras coincidem em uma constatação potencialmente polêmica: o cristianismo representou um retrocesso na história da higiene. Praticamente todas as civilizações da Antiguidade deram grande valor ao cuidado com o próprio corpo e com o bem-estar físico. Os egípcios já fabricavam sabão. A religião grega previa uma série de libações antes de sacrifícios animais e refeições, e o banho era uma instituição cotidiana, registrada até nos mitos – em seu retorno da Guerra de Tróia, Agamenon é assassinado na banheira por sua mulher, Clitemnestra. O Império Romano criou aquedutos para abastecer suas principais cidades. O romano abastado freqüentava diariamente os banhos públicos, onde o corpo era lavado em uma sucessão de piscinas com temperaturas variadas e esfregado vigorosamente – não se usava sabão – para retirar todas as sujeiras. Tudo isso desapareceu com a queda do império e a prevalência dos cristãos.
É claro que o banho não sumiu da paisagem européia da noite para o dia. Katherine Ashenburg observa que alguns dos primeiros patriarcas do cristianismo, como o teólogo Tertuliano e os santos Agostinho e João Crisóstomo, ainda freqüentavam a casa de banho. Aos poucos, porém, esses locais foram sendo associados ao pecado e à dissolução dos costumes pagãos. Mais voltado para a interioridade do que o judaísmo, o cristianismo desconfiava de qualquer atenção conferida ao próprio corpo. Místicos mais extremados como São Francisco de Assis consideravam a sujeira um modo de penalizar o próprio corpo, aproximando o espírito de Deus (o mesmo São Francisco, no entanto, era conhecido pelo desprendimento com que lavava as feridas de leprosos). Ao codificar no século VI algumas das regras da vida monástica, são Bento determinou que só os monges doentes ou muito velhos fossem autorizados a se banhar. Na maioria dos conventos e monastérios da Europa medieval, o banho era praticado duas ou três vezes ao ano, em geral às vésperas de festas religiosas como a Páscoa e o Natal. Supõe-se que a média de banhos entre a população que vivia fora do claustro não tenha sido muito superior.
Uma vez perdida na poeira medieval, a prática de lavar o corpo todos os dias demoraria séculos para se restabelecer (e em alguns países europeus ainda não se restabeleceu). O banho foi no máximo uma moda episódica – cavaleiros que voltaram das cruzadas, por exemplo, trouxeram o hábito do banho quente, comum entre os muçulmanos, então muito mais asseados do que seus contendores cristãos. No século XIII, o popular Romance de La Rose, poema francês repleto de conselhos eróticos, trazia uma série de recomendações para o asseio feminino. As mulheres deveriam manter unhas, dentes e pele limpos – e, sobretudo, deveriam zelar pela limpeza da "câmara de Vênus". No século seguinte, jogos eróticos no banho também compareceriam no Decameron, do italiano Giovanni Boccaccio. O prestígio do banho, porém, parece ter sido apenas literário. O cristão europeu médio seguiu lavando o rosto e as mãos antes da refeição e esfregando seus dentes com paninhos – e a tanto se resumia sua higiene pessoal.
A transição para a era moderna não trouxe nenhuma melhora higiênica – pelo contrário, o progressivo inchaço das cidades gerou catástrofes sanitárias. Em Londres, Paris ou Lisboa, a disposição de lixo e de dejetos humanos era feita na rua mesmo. No suntuoso Palácio de Versalhes, um decreto de 1715, baixado pouco antes da morte do rei Luís XIV, estipulava que as fezes seriam retiradas dos corredores uma vez por semana – do que se deduz que o recolhimento era ainda mais esparso antes. Versalhes não tinha banheiros, mas contava com um quarto de banho equipado com uma banheira de mármore encomendada pelo próprio Luís XIV – objeto que serviria apenas à ostentação, caindo no mais absoluto desuso. Os médicos certa vez recomendaram banhos ao Rei Sol como forma de terapia para as convulsões que ele andava sofrendo – mas interromperam esse tratamento dramático quando o monarca se queixou de que a água lhe dava dor de cabeça. Acreditava-se então no poder de cura da imersão em água para certas doenças.
Contraditoriamente, porém, também se atribuíam perigos ao banho: lavar o corpo todo abriria os poros, facilitando a infiltração de doenças (ironicamente, as práticas precárias da higiene pessoal facilitaram epidemias européias, como a peste e a cólera). Significativo é um caso de 1610 envolvendo o avô de Luís XIV, Henrique IV. Esse rei fez a deferência de dispensar o duque de Sully de uma convocação para comparecer ao Palácio do Louvre. Em vez disso, foi Henrique IV que visitou Sully, para tratar de assuntos de estado – isso tudo apenas porque o duque havia se banhado recentemente e, portanto, estaria suscetível demais para sair à rua.
Outra crença curiosa do mesmo período diz respeito ao poder purificador da roupa: acreditava-se que o tecido "absorvia" a sujeira do corpo. Bastaria, portanto, trocar de camisa todos os dias para manter-se limpinho. Já no século XIX, o rei português dom João VI – o fujão que estabeleceu sua corte no Rio de Janeiro – mostrava-se descrente até da troca de camisas, que ele literalmente deixava apodrecer no corpo. A porquice de dom João VI, extraordinária até para os baixos padrões sanitários de seu tempo, está bem descrita em outro livro lançado neste ano, Passado a Limpo – História da Higiene Pessoal no Brasil, do jornalista Eduardo Bueno. Mesmo coberto de feridas e contaminações na pele, dom João VI fugia da água.
Foi só no século XIX, com a propagação da água encanada e do esgoto e com o desenvolvimento de uma nova indústria da higiene – principalmente nos Estados Unidos –, que o banho foi reabilitado. O sabão, conhecido desde a Antiguidade, mas por muito tempo considerado um produto de luxo, foi industrializado e popularizado. Em 1877, a Scott Paper, companhia americana pioneira na fabricação de papel higiênico, começou vender seu produto em rolos, formato que se mostra até hoje insuperado. O século XX prosseguiria com a expansão da higiene. Os desodorantes modernos datam de 1907 e a primeira escova de dentes plástica é dos anos 50.
A divulgação de produtos e práticas de higiene pessoal passou a contar com um aliado poderoso: a publicidade.
Lançado em 1917, o Kotex, tido como o primeiro absorvente íntimo feminino, foi divulgado em 1946 por um filme de animação produzido pelos estúdios Disney. "O sabonete e a publicidade cresceram juntos", diz Katherine Ashenburg em seu livro.
Foi daí que surgiu a expressão em inglês que designa a telenovela: soap opera, "ópera de sabonete", referência aos patrocinadores desses programas.
Katherine sugere que o avanço da assepsia pode ter chegado a extremos, especialmente nos Estados Unidos. Alguns cientistas já aventaram a hipótese de que a superproteção com que as crianças hoje são educadas está debilitando resistências imunológicas e aumentando a incidência de doenças alérgicas.
A história dos séculos sujos que nos precederam pode ser uma lição moderadora: a humanidade, afinal, sobreviveu a toda essa imundície.
As vantagens de viver na era do desodorante e do fio dental mentolado são auto-evidentes, mas convém lembrar sempre a frase de Henry J. Temple, nobre inglês da virada do século XVIII para o XIX: "Sujeira é só matéria fora do lugar".
As invenções mais essenciais da higiene pessoal
Papel higiênico
Por séculos, a limpeza íntima foi feita com folhas, sabugos de milho – ou com a mão. A primeira fábrica de papel higiênico surgiu nos Estados Unidos, em 1857 – e o produto demorou a vencer a resistência do mercado
Banho
Os romanos tinham casas de banho, que caíram em desuso na Europa medieval. A prática de lavar o corpo só seria efetivamente retomada a partir do século XIX. Em 1867, o francês Merry Delabost inventou o chuveiro. Pois é, um francês
Privada
A primeira privada, ainda muito rudimentar, foi inventada para o uso da rainha Elizabeth I, da Inglaterra, no século XVI. Mas foi em 1884 que o inglês George Jennings criou o modelo moderno, com descarga
Sabonete
O sabão já era conhecido pelo menos desde o antigo Egito – embora os romanos não o utilizassem. Por muito tempo, porém, foi um artigo de luxo. Sua popularização plena só se deu no século passado, por obra da produção industrializada americana
Cuidados dentários
As primeiras escovas de dentes datam do século XV, provavelmente inventadas na China. Mas pastas variadas, feitas de vegetais, já eram usadas na limpeza bucal dos antigos egípcios e indianos. As pastas modernas, alcalinas, surgiram nos Estados Unidos, no início do século XX.
História suja
Grandes personagens que não eram amigos da água
Vasco da Gama (1460-1524)
O navegador português levantou reações enojadas em sua viagem à Índia. Os indianos pediram que ele só falasse com a mão na frente da boca, para conter o bafo
Napoleão (1769-1821)
O imperador era asseado – mas encontrava estímulo erótico no cheiro do corpo.
Em uma de suas campanhas militares, escreveu a sua mulher, Josefina: "Retorno a Paris amanhã. Não se lave".
Luís XIV (1638-1715)
O rei francês só tomava banho por ordem médica e vivia no imundo palácio de Versalhes, onde as fezes eram recolhidas dos corredores só uma vez por semana.
Isabel (1451-1504)
Relatos palacianos dão conta de que a rainha espanhola que comissionou a viagem de Cristóvão Colombo só tomou dois banhos de corpo inteiro em toda a vida.
Dom João VI (1767-1826)
O rei português que instalou sua corte no Rio de Janeiro em 1808 detestava banho e costumava vestir a mesma roupa até que apodrecesse.
Fonte: www.adur-rj.org.br
História do Banho
Origem do banho
As origens do banho são anteriores a pré-história, foram encontrados materiais, em ruínas da antiga babilónia, que serviam para o efeito. Algumas inscrições indicavam que aqueles produtos serviam para a limpeza de cabelos. Os egípcios também foram pioneiros neste sentido, pois em alguns papiros encontram-se referencias a sais e óleos usados para a higiene pessoal.
Já na civilização a ocidente, foi o povo Romano que criou e divulgou o hábito do banho. Em Roma existiam aquedutos onde os seus habitantes podiam tomar seu banho e os romanos foram construindo termas públicas onde o cidadão podia desfrutar do banho. O banho tornou-se efetivamente um hábito no Ocidente após o Século XVII, quando os químicos franceses Leblanc e Chevreul desenvolveram as técnicas para fabricação de sabonetes. Por esta altura é feita a descoberta dos micróbios o que dá um grande impulso ao conceito de higiene.
No Brasil, os povos indígenas já tinham o hábito de tomar banho todos os dias. E esse é um hábito bem presente, até hoje, em todo o Brasil, e é considerado uma das heranças culturais trazidas pelos indígenas.
Em cerca de 1880, os chuveiros já eram muito parecidos com os da atualidade e o banho acabou se tornando uma rotina. E que boa rotina! Nos dias que correm, todos nós recorremos a um bom banho por questões de higiene, estética e bem estar. Após um banho morno e relaxante, sabe sempre bem o toque de seu roupão de banho na pele. Tem também quem prefira um toalhão para se secar.
Importante é se secar bem, após o banho, para não ganhar um resfriado, e pelo conforto e suavidade que consegue com o seu roupão de banho, que é uma peça com tecido altamente absorvente, não vai ter esse problema! A higiene assume um papel muito importante na vida de todos, pois é importante, que em nossa casa ela esteja presente. Seja nos suaves lençóis de nossa casa, no nosso roupão, bem como , em nosso corpo.
Em nossos banheiros tem toalhas, roupão de banho, tapete, entre outros artigos de decoração. Também esses têm que ter nossa atenção, pois também a decoração de nossas casas, é importante para o nosso bem estar. A decoração de toda a sua casa ajuda no nosso astral, isso é, as cores que escolher em toda a decoração vão dar o ambiente que pretende para si e para sua casa. O confortoem toda a sua casa é também muito importante. Saiba escolher, seus lençois, suas toalhas, seus travesseiros, e tudo em sua casa para criar um ambiente positivo e de muito conforto.
Fonte: www.informaticaeinternet.com.br
História do Banho
Se bem que, para nós, é normal chegar ao fim do dia a casa e tomar uma banhoca, nem sempre foi assim nos tempos antigos. Nessa altura, a água não era lá muito bem vista, e houve mesmo uma época em que era pecado tomar banho!
Os primeiros registos históricos que existem do banho (no mundo ocidental) são do tempo dos egípcios. Sabe-se que este povo passava muito tempo a tomar banhos com óleos perfumados.
Os gregos e os romanos mantiveram estes hábitos: reuniam-se nos "banhos públicos", que se tornaram em verdadeiros locais de discussões e decisões políticas e sociais.
Bom, também não devemos esquecer que estes locais ficavam em zonas bem quentes, e um banhinho, num dia de calor, sabe muito bem.
Porém, na Idade Média tudo mudou. As ideias religiosas, levadas ao exagero, puseram um ponto final na limpeza.
As saunas eram consideradas locais de pecado, porque as pessoas se viam nuas umas às outras (uma coisa natural que acontece hoje nos balneários dos ginásios).
Os banhos foram totalmente proibidos, aumentando as doenças e em especial a peste. Dizia-se que a água "amolecia" a alma. Aliás, dizia-se ainda que o fato de a água quente dilatar os poros da pele facilitava a entrada de doenças no corpo! Ridículo! Mas era a "ciência" da altura.
Como não podia deixar de ser, os piolhos (e toda a restante bicharada do corpo) não faltavam, mas eram disfarçados pelo uso permanente de chapéus e (mais tarde) de perucas. Um nojo!
Assim, nesta época, a higiene passava por vestir roupa lavada e usá-la até ficar suja. A ideia é que a roupa absorvia a sujidade!
Os dentes eram lavados com um produto 100% natural: chichi e cinzas!!!
Quanto a lenços de assoar, nem se fazia a mínima ideia do que seriam: usavam-se os dedos ou as mangas! Surgiram mais tarde, nas classes altas, mas mais para andar com um na mão do que para a pessoa se assoar.
A roupa não era lavada, apenas sacudida e carregada de perfume.
As mãos eram lavadas apenas de três em três dias.
Lavar a cara estava fora de questão, para não estragar a pele que se podia desgastar. E a sujidade era escondida com doses enormes de maquilhagem.
Chegou-se a um ponto tal que, durante a época das Descobertas, os europeus eram conhecidos pelos povos que visitavam como "mal-cheirosos e porcos"! Que vergonha... É que o Oriente manteve os hábitos saudáveis de limpeza e higiene dos povos antigos.
Durante o século XVII os banhos continuaram a ser olhados como algo perigoso e desaconselhado a pessoas doentes.
Sabias que foi nesta época que, para disfarçar o cheiro, as classes altas começaram a importar e a usar perfumes? A indústria cosmética teve um enorme avanço!
E sabias que o rei francês Luís XIV (séc. XVII) tomou banho apenas duas vezes na vida? Quando nasceu e quando casou!
Há um relato que conta que o príncipe Filipe II de Portugal (séc. XVI-XVII) lavou as pernas, pela primeira vez, aos 7 anos!
O conceito de higiene surge apenas no século XIX, depois das descobertas de Pasteur (1822-1895) e dos seus trabalhos sobre a importância da higiene na saúde.
Assim, os hospitais e outros locais de contato com doenças passaram a ser limpos regularmente.
Ainda neste campo, contribuiu muito a ação e o empenho da enfermeira inglesa Florence Nightingale (1820-1910) que organizou os hospitais, e aplicou noções de higiene básica a locais e pessoas.
Estudos médicos provaram que a maior causa de morte nos doentes tinha a ver com infecções provocadas por falta de higiene dos médicos, que não lavavam as mãos antes e depois de verem e tratarem os doentes. Passaram, então, a ser obrigados a desinfetar sempre as mãos.
Foi apenas no século XX que o duche entrou nos hábitos dos europeus e, mesmo se ainda não se trata de um momento diário, estamos certamente muito melhor.
No entanto, um longo caminho teve de ser percorrido em nome da higiene e da saúde. E um caminho por vezes demasiado seco!
Fonte: www.junior.te.pt
História do Banho
A maioria dos livros sobre a Idade Média européia fala muito pouco ou quase nada sobre um fenômeno que marcou profundamente o continente e de certa forma deixou cicatrizes que permanecem até nossos dias, a terrível "morte negra", a pandemia de peste bubônica que assolou a Europa em meados do século XIV.
Durante todo o período conhecido como Baixa Idade Média, entre os séculos XI e XV, as condições de vida dos camponeses europeus foram mais ou menos às mesmas, independentemente do local em que vivessem. Pode-se dizer o mesmo em relação à população urbana e até quanto aos nobres e senhores feudais.
Basicamente, a habitação medieval européia consistia em um único grande recinto, sem divisões internas. Tal configuração estava presente tanto na miserável casa camponesa, feita de madeira e adobe, quanto nos imponentes castelos de pedra dos senhores mais poderosos. Esta concepção de moradia gerava alguns problemas bastante graves, principalmente no que diz respeito à saúde.
Esta configuração era bastante típica, e podia ser aplicada de forma mais ou menos geral para todo o continente europeu. Os pontos principais são a coabitação com os animais de criação, a ausência de divisões internas, o pequeno número de móveis e a falta de ventilação, já que geralmente havia uma única janela, quase sempre fechada para manter o calor da casa. O piso era de terra batida, às vezes forrado com palha ou junco.
O aquecimento era proporcionada por uma fogueira, quase sempre acesa no centro do ambiente. Não havia chaminé, apenas um buraco no teto, que além de deixar sair a fumaça também permitia a entrada da chuva, o que costumava apodrecer a palha do piso no inverno. Este desenho básico era uma constante em quase todo o território europeu, e só viria a mudar a partir do século XVI.
As camas, quando haviam, eram geralmente fechadas com cortinas, para proporcionar um pouco de privacidade. Eram mais largas que compridas, já que nelas dormiam de duas a oito pessoas. O homem medieval geralmente dormia despido, com a cabeça protegida por uma touca. O móvel mais utilizado era a arca, devido às suas múltiplas funções, já que o fator limitante quanto ao número de móveis era o seu custo, bastante elevado na época.
Os ambientes úmidos e enfumaçados, a falta de privacidade e a promiscuidade facilitavam sobremaneira a transmissão de doenças. Neste tipo de ambiente, quando um membro da família adoecia era praticamente impossível evitar o contágio.
A residência urbana seguia praticamente os mesmos padrões. A única diferença era a presença ocasional de um segundo piso, mais comum na casa do artesão, que usava o térreo como oficina e loja. A existência do segundo piso geralmente implicava na melhoria de algumas estruturas, tais como um piso aperfeiçoado e a construção de lareiras ou saídas laterais para a fumaça. Entretanto, tais melhorias não ajudavam a melhorar a salubridade do ambiente, já que as cidades medievais eram locais apinhados de gente, com esgotos a céu aberto, o que as tornava muito mais insalubres que as casas camponesas.
A enfermidade e a peste rondavam a vida das pessoas. Obter água limpa para beber e cozinhar era um problema, pois o conteúdo das fossas infiltrava-se no solo e contaminava os poços. Lixo, resíduos de curtume e matadouros poluíam os rios.
Quanto aos castelos, apesar de sua imponência usava-se a mesma configuração da casa camponesa, pelo menos até o final do século XIII. A partir daí houve progressos notáveis, principalmente na Inglaterra, com os castelos construídos por Eduardo I no País de Gales. Foi o talento e a criatividade de homens como Mestre James de Saint Georges, o arquiteto saboiano de Eduardo, que começou a mudar o conceito da habitação medieval, através da introdução de melhorias como o uso de divisões internas permanentes, a construção de latrinas, e principalmente a colocação de lareiras em todos os ambientes das áreas habitacionais, o que ajudava a reduzir a umidade e aumentava a salubridade dos mesmos. Fica mais fácil entender a moradia medieval se levarmos em conta que os homens da época passavam muito pouco tempo em casa.
Os pobres trabalhavam do nascer ao pôr do sol, e os nobres viajavam a maior parte do tempo. A vida era levada ao ar livre, e a residência, tanto a choupana do camponês quanto o castelo do senhor feudal, não passava de um dormitório ou um providencial refúgio contra as intempéries ou o frio do inverno.
Somente com o passar do tempo o conceito de "lar" foi tomando forma, e só a partir daí houve melhorias significativas no desenho do espaço privado.
Durante a Idade Média, um dos aspectos mais fundamentais da higiene, o banho, era considerado prejudicial se tomado em excesso. E "banhar-se em excesso" geralmente significava fazê-lo mais de duas ou três vezes por ano. O cheiro de corpos não lavados impregnava todas as casas. Mesmo os monges da abadia de Cluny, a mais opulenta da Europa, banhavam-se apenas duas vezes por ano, antes da páscoa e antes do natal. Nas áreas urbanas, o esgoto e a água usada eram simplesmente atirados pela janela, muitas vezes na cabeça do transeunte que tivesse a infelicidade de estar no lugar e hora errados.
As roupas eram lavadas muito raramente, geralmente duas ou três vezes por ano, devido à raridade e ao custo do sabão, e conseqüentemente viviam infestadas de pulgas, percevejos, piolhos e traças. Catar piolhos era uma atividade regular das famílias, sendo mesmo uma forma de lazer.
Quem mais corria risco eram os recém-nascidos, já que as mulheres costumavam forrar as camas com lençóis sujos e velhos para dar à luz, pois assim não estragavam os bons. Entre um quarto e um terço das crianças morriam antes de completar um ano e muitas outras antes dos dez anos. De cada dois nascimentos bem-sucedidos podia resultar um único adulto saudável. As casas eram ninhos de ratos, que disputavam com os animais de criação os restos de comida.
A dieta camponesa era imprópria e mal balanceada, consistindo basicamente de cereais, na forma de pão. Em alguns pontos da Europa o pão chegava a constituir mais de 65% da quantidade de calorias ingeridas (80% se não contarmos com o vinho). Todo o resto, vinho, carne, peixe, legumes, gorduras e queijo, não passava de "acompanhamento", ou seja, aquilo que acompanha o pão. As classes mais abastadas tinham direito ao pão fino, enquanto os pobres comiam o pão escuro, ou mesmo o chamado "pão de escassez", feito de aveia. Como diziam alguns cronistas da época "A hierarquia das pessoas define-se pela cor do pão que comem".
A verdadeira causa da doença era ignorada (e continuaria a sê-lo até o século XIX). Mesmo no final da Idade Média a medicinapreventiva limitava-se ao isolamento e quarentena. Atribuía-se quase tudo à influência dos astros, e não era raro que os médicos mais famosos fossem também astrólogos.
Para os pobres e ignorantes, a resposta era bem simples: todos os males eram castigos de Deus, irado com os constantes pecados cometidos pelo homem.
Para quase tudo se receitava a sangria, além de infusões ervais e misturas estranhas, quase sempre inócuas. Dentre alguns tratamentos exóticos, podemos citar o usado para eliminar a solitária, que consistia em lavar o couro cabeludo com a urina de um menino. Os pacientes com gota eram tratados com um emplastro de excremento de bode misturado com rosmaninho e mel. Para evitar marcas, envolvia-se o doente de varíola num pano vermelho, mantendo-o deitado numa cama com cortinas também vermelhas. Estes tratamentos não eram baratos, e o que era repugnante, bem como o que era raro ou difícil de obter, tinha um valor maior.
O pensamento médico, preso à teoria das influências astrais, ressaltava o ar como o meio de transmissão das doenças, principalmente as pestes. Era o ar envenenado, os miasmas e as névoas pesadas e pegajosas, provocados por todos os tipos de agentes naturais e imaginários, desde lagos estagnados até a conjunção negativa dos planetas, que espalhavam a doença e a morte entre os homens.
O homem medieval via a peste como um castigo divino. Entretanto, se analisarmos todos os dados referentes à habitação, higiene, alimentação e saúde, veremos que o caráter pandêmico da praga derivou da precariedade de todos estes aspectos, e de sua homogeneidade mais ou menos acentuada em todo o território europeu. A "morte negra" provavelmente não teria ocorrido se as condições de moradia ou higiene fossem outras, pelo menos não na extensão que ocorreu.
Durante o apogeu do Império Romano, havia cidades muito maiores, mas as condições de habitação e saúde eram muito superiores.
A peste foi um fenômeno característico de um mundo em mutação. Foi o alto preço pago por um continente que começava a se abrir para o resto do mundo através do aumento das relações comerciais, mas que ainda vivia em um ambiente concebido para uma vida isolada e auto-suficiente. Sob este aspecto, a praga teve um lado positivo, ao obrigar o homem ocidental a mudar a sua forma de se relacionar com o meio ambiente, ensinado-o o valor do planejamento urbano e da higiene, além de expor a fragilidade da ciência médica medieval e, conseqüentemente, possibilitar sua evolução, livrando-a, pelo menos para alguns, da ignorância e da superstição.
Contexto Europeu do século X ao século XIII:
Visando desmistificar, oprimir e reduzir a ideologia pejorativa “Idade das Trevas”, apresento as mais variadas criações e invenções inseridas no contexto de desenvolvimento do período medieval, percorrendo um vasto campo temporal e espacial (que aqui estudado a Europa do ano de 900 a 1200 da era cristã) investigando e estudando este recorte do medievo através de variados fatores, positivos e negativos, que são notáveis mais aspectos positivos de uma bela época do que um lado obscuro de trevas.
“Idade das Trevas” foi o termo adotado pelos humanistas do século XVII, aonde generalizaram toda a civilização da Europa do século IV ao século XV como um tempo de ruína e flagelo. Esta ideologia de obscuridade das trevas é resultado de fatos e acontecimentos negativos ocorridos no longo período da Idade Média, tais como, as guerras, as invasões bárbaras, as crises da agricultura, as epidemias, a imposição da Igreja, a inquisição em relação aos hereges, a centralização da economia restrita aos feudos, as desigualdades sociais, dentre outros aspectos, mas que não justificam criar uma terminologia pejorativa para uma gigante e envolvente civilização que em contraste com esse lado negativo muito criou, muito inventou e muito desenvolveu, lembrando que o período medieval é o carro chefe da historiografia contemporânea.
Então empregar uma ideologia pejorativa a uma vã sociedade, é demonstrar preconceito, calúnia, difamação e mais altamente uma insuficiência de conhecimento desta mesma, que conforme o renomado historiador medievalista Jacques Le Goff, a Idade Média foi “... uma época que não foi de trevas nem imune ao progresso; ao contrário, foi uma época fértil de invenções vitais e importantes ...” .(LE GOFF, 2007, capa), aí nesta citação Le Goff trata a Idade Média de uma forma clara, objetiva e “com os pés no chão”, aonde expõe suas idéias sem condenar qualquer coisa, afinal a função do historiador é de compreender, e não de julgar o passado. Através de comparações de fontes de diferentes linhas teóricas, e através do estudo,da pesquisa e da análise de várias fontes secundárias proponho dissertar a Idade Média (dos séculos X ao XIII), visando mostrar o lento desenvolvimento, porém grandioso, que de uma forma foi marcado pela fome, pobreza, miséria, doenças e todos os obstáculos possíveis, mas que também levou a Europa a várias invenções e criações tendo um papel de suma importância e fundamentação para a formação de uma alta sociedade, que refletiu também nas novas sociedades modernas, aonde vários aspectos foram legados a nós contemporâneos. “(...) o período entre os séculos IV e XVI é tradicionalmente conhecido por Idade das Trevas, Idade da Fé ou, com mais freqüência, Idade Média. Todos eles rótulos pejorativos, que escondem a importância daquela época na qual surgiram os traços essenciais da civilização ocidental. Nesta, mesmo países surgidos depois daquela fase histórica –caso do Brasil- têm muito mais de medieval do que à primeira vista possa parecer. Olhar para a Idade Média é estabelecer contato com coisas que nos são ao mesmo tempo familiares e estranhas, é resgatar uma infância longínqua que tendemos a negar mas da qual somos produto. De fato, para o homem do Ocidente atual compreender em profundidade a Idade Média é um exercício imprescindível de autoconhecimento.
As criações do medievo (de aproximadamente dez séculos) atingiram um alto número, dentre elas estão: os moinhos, a charrua, a pólvora, a plaina, o pisão, o arco triangular, os algarismos arábicos, a anestesia, o anno domini, a árvore genealógica, os bancos, os botões, a bússola, o carnaval, o carrinho de mão, as cartas de jogo, o cavalo como força motriz, o garfo, gatos como animais domésticos, a hora de sessenta minutos, a lareira, os livros, o macarrão, a marca d´água, o óculos, os nomes das notas musicais, o papai Noel, o papel, a prensa de tipos móveis, o purgatório, as roupas de baixo, o tarô, as universidades, os vidros coloridos, o xadrez, o zero, o relógio, as cidades, as moedas, as feiras, a cavalaria, os castelos, as cruzadas, o leme, o astrolábio, as ferraduras, a roda d’ água, o poço artesiano, o estilo gótico(...), entre várias outras coisas, sendo que alguns dos itens inovadores já existiam na antiguidade, só que não eram utilizados por falta de conhecimentos e técnicas.
O que definia a riqueza, o poder político e o poder social era a terra e a economia agrária, que são fundamentados pelo modo de produção feudal2 (teve suas origens no século IV, com o comitatus germânico e o colonato4 romano), no qual dividia a sociedade em classes, aonde era efetivado o contrato de vassalagem entre um senhor (que entrava com o meio de produção, a terra) e um camponês (que entrava com o serviço braçal). A agricultura do século X era pouco desenvolvida devido aos instrumentos rudimentares e pela falta de técnicas, mudando esse contexto no século XI com os progressos agrícolas e demográficos, aonde se denominou “revolução agrícola” por causa das transformações positivas, sendo a agricultura influenciada pelos moinhos, pela charrua, pela enxada, pela foice e pelo cavalo. No século XII foi empregada a utilização do adubo, em geral o esterco de vaca, que era de alta poder aquisitivo na época.
A cidade medieval se afirma entre os séculos X e XIII, sendo inicialmente pequenos centros de trocas, aonde firmaram os burgos (lugares fortificados), essas cidades tinham populações basicamente bárbaras, que devido o processo evolutivo foram sendo separadas, tais como, os artesãos, os senhores de terras, os reis, os bispos, os condes, os cônsules, a burguesia, os pequenos comerciantes, os pedreiros, os rebocadores, os carpinteiros, os mineiros, os metalúrgicos, as domésticas e os intocáveis ou minorias excluídas.
A Igreja do século XI não mantinha um bom desenvolvimento em relação ao cristianismo, ameaçando assim a existência dessa instituição e da cristandade. O papa através da Igreja criou as cruzadas, que consistia em servir a Deus, peregrinar, disputar a reconquista da terra sagrada e estimular a caridade aos cristãos oprimidos, sendo que quem participasse era denominado monge guerreiro, e por ter características de guerra (matança, pilhagens) ficou denominado Guerra Santa. Todos que participavam das cruzadas eram pessoas que tinham a ideologia de se redimir dos pecados, defendendo ou visando à libertação dos cristãos detidos, sendo que estes participantes tinham a terminologia de santos (os que sobreviviam) e mártires (os que morriam), e nesse contexto de defesa e expansão do cristianismo surge a Ordem dos Cavaleiros Templários, fundada em Jerusalém, em 1118, por nove cavaleiros, para defender os peregrinos cristãos na Terra Santa durante as cruzadas.
As moedas surgem especialmente depois do avanço agrícola no século XI, pois são muitas mercadorias no comércio, gerando uma alta circulação monetária, que também influenciou nas cruzadas, pois se tornava mais viável levar uma quantia de moedas do que um navio de cevada. Assim o grande comércio e o demasiado aumento demográfico foram o motor da expansão econômica monetária, a moeda tornava-se cada vez mais necessária para efetuar pagamentos e trocas, sendo que esse crescimento da economia monetária começou a substituir a economia natural, que resultou no enfraquecimento dos senhores feudais que caracterizou a primeira crise do feudalismo no século XIV. Dentre as moedas medievais encontravam-se de vários matérias, como ouro, prata, estanho e cobre (nem sempre puros), aonde variavam de acordo com o local e soberano, sendo utilizadas com várias formas e estampas, representando fatos, datas, pessoas, tais como, coroação, morte, ascensão, guerras, nascimento, poder, local, imperador, príncipe e acontecimentos em geral.
É interessante destacar as relações entre as cruzadas, o crescimento econômico do século XI e a expansão das cidades, que estão relacionadas de tal forma aonde cada fato vai surgindo e resultando de um outro. As cruzadas são compostas por milhares de pessoas, que vão peregrinando de cidade em cidade, e para custear os víveres destes cruzados são gastas enormes quantias de moedas em cada cidade, nascendo desse contexto às feiras e gerando assim um grande crescimento econômico que vai expandir as cidades transformando-as em importantes centros comerciais, aonde se destacam principalmente Gênova, Veneza, Constantinopla, Paris, Montpellier, Limoges, Londres, Ratisbona, Hamburgo, Colônia, Reims, dentre outras.
A Europa Ocidental medieval era rica em madeira, que permitiu um grande número de exportações de carvalho (madeira de luxo na época) para o mundo muçulmano. Surge aí o descobrimento e a utilização do ferro, que foi usado na maioria das vezes para a produção de ferramentas e para o armamento militar.
No século XIII foram criadas ferramentas de ferro para trabalhar toda essa abundância de madeira, como por exemplo machados, trados e serras. O ferro foi utilizado também anteriormente para inovar na agricultura, com a criação da enxó (enxada). O grande avanço sobre a madeira ocorreu quando foi substituída por pedras nas construções, em especial no desenvolvimento dos castelos.
As novas fontes de energia do século XIII trouxeram um certo nível de desenvolvimento para a Europa medieval.
Os moinhos inovaram muito, dentre eles estão: os moinhos de cânhamo (papel), moinhos curtidores, moinhos de pisão (tecidos), moinhos de cerveja e moinhos de amolação. Outra grande fonte de energia foi à criação anteriormente da atrelagem (XI) que pôs os animais como boi e cavalo a trabalharem nas lavouras.
Neste momento o boi foi considerado inferior ao cavalo, chegando a valer dois bois por um cavalo, porém em Órleans o asno valia mais. Apesar das novas fontes energéticas substituírem a energia humana, os trabalhadores prevaleceram em vários setores, como no transporte de trigo e na navegação, que era utilizado remos manuais.
Os navios eram construções simplificadas e limitadas, existiam poucos nas frotas ocidentais.
Transportavam vários artigos, grãos, madeiras e especiarias em geral, as principais rotas foram: em direção a Chipre e Armênia, a Flandres e a România. Em meados do século XIII foi introduzido o leme, que tornou os navios mais fáceis de serem conduzidos. As navegações intensificaram-se no inverno devido à criação da bússola (XIII-1280).
Os avanços tecnológicos de maior significância no campo “industrial’ foram: a criação da pólvora e das armas de fogo (XIII), que revolucionaram as guerras; o vidro (XIII) aparece como industria, pois já era conhecido na antiguidade, mas não era trabalhado, trouxe o desenvolvimento para cristandade, onde era utilizado para formar os vitrais; a industria têxtil surge para fabricar os vestuários, geralmente os técnicos e os inventores da idade média foram os artesãos.
Um grande progresso comercial acontece com o surgimento do câmbio, a troca de moedas. O centeio foi a mais inovadora semente desenvolvida no período medieval, complementando a cadeia alimentar.
Tratando do desenvolvimento do período medieval é impossível deixar de fora a esplêndida instituição que surgiu em fins do século XII e destacou-se principalmente no século XIII, sendo ela a universidade, que marcou o renascimento urbano e o nascimento dos chamados intelectuais, sendo caracterizada por defender os interesses das comunidades em geral, aonde constituiu vários aspectos políticos e sociais sendo praticamente autônoma, porém prestava satisfação ao Estado e ao papa. A universidade era composta por mestres, doutores e alunos, formando um local de produção de saberes, de pesquisas, de questionamentos, de debates e de estudos específicos. Esta instituição utilizou o trivium (gramática, retórica e dialética) e o quadrivium (música, geometria, matemática e astronomia) como estudo básico para as faculdades oferecidas, tais como direito, artes, teologia e medicina, nos níveis de bacharelado, licenciatura, mestrado e doutorado.
A universidade foi formada em três tipologias: as universidades espontâneas, que eram criadas por mestres e alunos, como por exemplo à universidade de Paris, Bolonha e Oxford; seguindo tinham as universidades nascidas por migrações, tais como a de Cambridge, em 1318, que nasceu por secessão da de Óxford, a de Orleans nasceu em 1306 pela de Paris; e outro tipo de universidade era a criada por soberanos, como a de Nápoles, criada por Frederico II, em 1224.
Essa instituição promoveu uma verdadeira revolução intelectual, que fez a sociedade desenvolver através do conhecimento, do raciocínio e de influências greco-árabes, que não chegou ao povo anteriormente graças a Igreja que triunfou apoiando-se na estagnação da “sociedade burra” educada pelo monopólio da Igreja. Esse nascimento dos intelectuais firmou o florescimento de belas obras culturais, tais como literatura, arte e música. Também de grande influência foi à contribuição dos gregos e dos árabes que entrou no ocidente através dos interesses dos intelectuais tendo como via de passagem o comércio, nas feiras, através de manuscritos, que foram traduzidos por vários poliglotas.
Os complementos culturais principais foram: a filosofia, a matemática, a astronomia, a medicina, a física, a lógica, a ética, a agronomia, a alquimia e os seus respectivos métodos de utilização.
Seria o mundo medieval um inferno de misérias e obscuridade? Descobre-se o contrário onde o desenvolvimento expandiu em enormes ramificações através de permanências e rupturas que permeiam um campo muito além da ideologia de obscuridade imposta pelos humanistas modernos do século XVII. Para uma suposta sociedade subdesenvolvida não cabem invenções geniais e de grande repercussão, portanto a Europa ocidental medieval não foi uma idade de trevas nem imune ao desenvolvimento, teve obviamente alguns aspectos negativos, que de um modo geral faz parte de qualquer civilização em construção ou propriamente dita “pronta”, afinal no mundo contemporâneo é notável civilizações com demasiados atritos e aspectos negativos, se não maiores do que nos dez séculos do período medieval. O progresso medieval constituiu vários alicerces que resultaram nas nações monárquicas da idade moderna, como a bela França, a Inglaterra, a Itália, a Alemanha, Portugal e a esplêndida Espanha, que sem sombra de dúvida não existiriam sem a superestrutura formulada pelos homens medievais, que por causa de suas necessidades muito inventaram e desenvolveram, atingindo um alto nível de progresso, portanto o período entre os séculos IV e XV é sinônimo de uma bela época.
Limpo como na Idade Média, época que cultou a higiene
A higiene não é uma descoberta dos tempos modernos, mas “uma arte que o século de Luiz XIV menosprezou e que a Idade Média cultuou com amor”, escreveu a historiadora Monique Closson, autora de numerosos livros sobre a criança, a mulher e a saúde no período medieval. No estudo de referência “Limpo como na Idade Media”, a historiadora mostra com luxo de fontes que desde o século XII são incontáveis os documentos como tratados de medicina, ervolários, romances, fábulas, inventários, contabilidades, que nos mostram a paixão dos medievais pela higiene. Higiene pessoal, da cozinha, dos talheres, etc. As iluminuras dos manuscritos são documentos insubstituíveis onde os gestos refletem o “clima psicológico ou moral da época”. O zelo pela higiene veio abaixo no século XVI, com a Renascença e o protestantismo. Milhares de manuscritos, diz Closson, ilustram o costume medieval. Bartolomeu o inglês, Vicente de Beauvais, Aldobrandino de Siena, no século XIII, com seus tratados de medicina e de educação “instalaram uma verdadeira obsessão pela limpeza das crianças”.
Eles descrevem todos os pormenores do banho do bebê: três vezes ao dia, as horas, temperatura da água, perto da lareira para não pegar resfriado, etc..
As famosas Chroniques de Froissart, em 1382, descrevem a bacia no mobiliário do conde de Flandes, de ouro e prata. As dos burgueses eram de metais menos nobres e as camponesas em madeira. A Idade Média atribuía valor curativo ao banho, como ensinava Bartolomeu o Inglês no Livro sobre as propriedades das coisas. Na idade adulta os banhos eram quotidianos. Os centros urbanos tinham banhos públicos quentes copiados da antiguidade romana. Mas era mais fácil tomar banho quente todo dia em casa. Na época carolíngia os palácios rivalizavam em salas de banho com os monastérios, que muitas vezes tinham ambulatórios para doentes e funcionavam como hospitais. Em Paris, em 1292, havia 27 banhos públicos inscritos. São Luis IX os regulamentou em 1268. Nos séculos XIV e XV, os banhos públicos tiveram um verdadeiro apogeu. Bruxelas, Bruges, Baden, Dijon, Digne, Rouen, Strasbourgo, Chartres… grandes ou pequenas as cidades os acolhiam em quantidade. Eram vigiados moral e praticamente pelo clero que cuidava da saúde pública. Os hospitais mantidos pelas ordens religiosas, eram exímios e davam o tom na matéria. Regulamentos, preços, condições, etc., tudo isso ficou registrado em abundantes documentos, diz Closson.
Dentifrícios, desodorantes, xampus, sabonetes, etc., tirados de essências naturais, são elencados nos tratados conhecidos comoervolários feitos nas abadias.
Historiadores como J. Garnier descreveram com luxo de detalhes os altamente higienizados costumes medievais. As estações termais também eram largamente apreciadas. Flamenca, romance do século XIII faz o elogio da estação termal de Bourbon-l’Archambault. Imperadores, príncipes, ricos-homens os freqüentavam na Alemanha, Itália, Países Baixos, etc. A era do ensebamento começou com o fim da Idade Média e durou até o século XX, conclui Monique Closson.
Ao menos até que os movimentos hippies, ecologistas, neo-tribais, etc. voltaram a pôr na moda andar sujo , sem barbear, vestido com blue-jeans e outras peças que estão ou fingem estar em farrapos ou com manchas, que vemos todos os dias na rua, nos transportes, aulas e locais de festa!
Banhos na Idade Média
Romanos e Árabes haviam trazido para a península práticas que, em Portugal, iriam perdurar mesmo na Idade Média. Banhar o corpo, porém, não implicava então um estrito conceito de limpeza.
Na Grécia, o banho era uma extensão necessária da prática de ginástica: um banho revigorante, frio e breve.
Em Roma e no Islão estava implicita a ideia de repouso e de convívio: uma prática social, um ritual simbólico.
O banho comunal na Idade Média e o banho Turco, nas numerosas formas que assumiu na Europa, tinham fins semelhantes.
A isso se refere Georges Vigarello em "O Limpo e o Sujo": «Em setembro de 1462, o duque Philippe le Bon ofereceu um jantar aos embaixadores do rico duque da Baviera e do conde de Würtenberg e mandou servir cinco pratos de carne para festejar nos banhos».
A ideologia cristã, no entanto, viria a instaurar preconceitos e a impor uma outra moral e consequentes novos costumes. Não que a igreja não se ativesse à limpeza dos corpos.
Mais temia, contudo, pela sujidade das almas: os hábitos promiscuos eram uma porta aberta ao pecado. Havia assim que evitar os banhos públicos, locais «propícios à devassidão e ao amolecimento dos costumes»("A Sociedade Medieval Portuguesa" de A.H. de Oliveira Marques).
O elemento essencial na casa medieval é a sala, onde se reúne toda a família. Refeições, baptismos, casamentos, veladas dos mortos, reuniões de família,....
Isto acontece tanto nas casas de camponeses como nos castelos. As mesas são simples tábuas que se montam sobre cavaletes no momento de servir e que se guardam seguidamente junto às paredes para não estorvarem. As outras divisões são apenas acessórias, mas existem. A cozinha é separada, ocupando um edifício à parte para limitar os riscos de incêndio.
Os quartos são mobilados com mais conforto do que geralmente se crê. O mobiliário compreende as camas bem adornadas e cobertas de colchas e de tapetes, com lençois brancos e peles, os tamboretes, as cadeiras de espaldar alto e esses baús e cofres esculpidos, onde se guarda a roupa. Adjacente os quartos existiam os redutos chamados privados, aquilo que nos habituamos a chamar de W.C.. Por espantoso que possa parecer não faltava em nenhuma casa da Idade Média.
A delicadeza ia mesmo muito longe neste aspecto, pois parecia pouco refinado não possuir as suas retretes particulares.A regra manda que cada um tenha as suas e seja o único a utiliza-las. Os costumes só se tornaram grosseioros neste ponto a partir do século XVI, que aliás viu serem desprezadas quase todas as práticas de higiene que a Idade Média conhecia.
Se não se tomava banho todos os dias na Idade Média (poder-se-à afirmar que se trata de um hábito generalizado na nossa época?), pelo menos os banhos faziam parte da vida corrente. A banheira é uma peça do mobiliário. Não passa muitas vezes de uma simples tina, e o seu nome dolium, que significa também tonel, pode prestar-se a confusões. Gostava-se muito de ir, no Verão, folgar para os rios, na mais simples indumentária, pois a ideia de pudor de então era muito diferente da que temos hoje em dia, e tomava-se banho nú, tal como se dormia nú entre os lençois.
Tudo isto está longe das ideias aceites acerca do asseio na Idade Média, e contudo os documentos existem. O erro proveio de uma confusão com as épocas que se seguiram.
Com os grandes surtos epidémicos instala-se a convicção de que a água, por efeito da pressão e sobretudo do calor, abria os poros e tornava o corpo receptivo à entrada de todos os males. Desde o século XV que os médicos condenavam a utilização dos balneários públicos e das estufas. defendiam a teoria de que «depois do banho, a carne e o hábito do corpo amolecem e os poros abrem-se e, assim, o vapor empestado pode entrar prontamente no corpo e provocar a morte súbita» ("O Limpo e o Sujo"). As normas de civilidade ca corte, a aprtir do século XVI preconizam que lavar é antes friccionar; limpeza a "seco".«As crianças limparão o rosto e os olhos com um pano branco, que desengordura e deixa a pele na sua constituição e tom natural. A água prejudica a vista, provoca dores de dentes e catarro» ("O Limpo e o Sujo").
Séculos de imundície
História
Na escala da história humana, o hálito perfumado, o cabelo sedoso, a axila desodorizada (e depilada, se feminina) são novidades absolutas. A higiene pessoal, tal como é concebida hoje na maioria dos países, só se estabeleceu em efetivo no século XIX. Antes disso, as pessoas não apenas toleravam a sujeira como ainda, muitas vezes, se compraziam com ela. A evolução dos cuidados íntimos deu-se aos trancos, com pequenos avanços seguidos de longos recuos. E até mesmo produtos de utilidade óbvia, como o papel higiênico (que recém-completou 150 anos), não só demoraram a ser inventados como encontraram resistência para ser aceitos. Dois livros lançados na Inglaterra e nos Estados Unidos, Clean – A History of Personal Hygiene and Purity (Limpo – Uma História da Higiene Pessoal e da Pureza), da inglesa Virginia Smith, e The Dirt on Clean (algo como O Lado Sujo da Limpeza), da canadense Katherine Ashenburg, reconstituem a trajetória da higiene na civilização ocidental. Com detalhes sórdidos – e anedotas sujas.
Virginia Smith, pesquisadora associada do Centro de História da Saúde Pública da London School of Hygiene and Tropical Medicine, tomou um caminho mais acadêmico, que parte de considerações biológicas sobre os cuidados de macacos e outros mamíferos com o corpo para então compor a moldura histórica mais ampla. Katherine Ashenburg, jornalista que já havia escrito um livro sobre as práticas de luto ao longo dos séculos, toma um caminho mais cultural, discutindo os hábitos íntimos de uma larga galeria de personagens (veja quadro nas págs. 194 e 195).
As duas obras coincidem em uma constatação potencialmente polêmica: o cristianismo representou um retrocesso na história da higiene. Praticamente todas as civilizações da Antiguidade deram grande valor ao cuidado com o próprio corpo e com o bem-estar físico. Os egípcios já fabricavam sabão. A religião grega previa uma série de libações antes de sacrifícios animais e refeições, e o banho era uma instituição cotidiana, registrada até nos mitos – em seu retorno da Guerra de Tróia, Agamenon é assassinado na banheira por sua mulher, Clitemnestra. O Império Romano criou aquedutos para abastecer suas principais cidades. O romano abastado freqüentava diariamente os banhos públicos, onde o corpo era lavado em uma sucessão de piscinas com temperaturas variadas e esfregado vigorosamente – não se usava sabão – para retirar todas as sujeiras.
Tudo isso desapareceu com a queda do império e a prevalência dos cristãos.
É claro que o banho não sumiu da paisagem européia da noite para o dia. Katherine Ashenburg observa que alguns dos primeiros patriarcas do cristianismo, como o teólogo Tertuliano e os santos Agostinho e João Crisóstomo, ainda freqüentavam a casa de banho. Aos poucos, porém, esses locais foram sendo associados ao pecado e à dissolução dos costumes pagãos. Mais voltado para a interioridade do que o judaísmo, o cristianismo desconfiava de qualquer atenção conferida ao próprio corpo. Místicos mais extremados como São Francisco de Assis consideravam a sujeira um modo de penalizar o próprio corpo, aproximando o espírito de Deus (o mesmo São Francisco, no entanto, era conhecido pelo desprendimento com que lavava as feridas de leprosos). Ao codificar no século VI algumas das regras da vida monástica, são Bento determinou que só os monges doentes ou muito velhos fossem autorizados a se banhar.
Na maioria dos conventos e monastérios da Europa medieval, o banho era praticado duas ou três vezes ao ano, em geral às vésperas de festas religiosas como a Páscoa e o Natal. Supõe-se que a média de banhos entre a população que vivia fora do claustro não tenha sido muito superior.
Uma vez perdida na poeira medieval, a prática de lavar o corpo todos os dias demoraria séculos para se restabelecer (e em alguns países europeus ainda não se restabeleceu). O banho foi no máximo uma moda episódica – cavaleiros que voltaram das cruzadas, por exemplo, trouxeram o hábito do banho quente, comum entre os muçulmanos, então muito mais asseados do que seus contendores cristãos. No século XIII, o popular Romance de La Rose, poema francês repleto de conselhos eróticos, trazia uma série de recomendações para o asseio feminino. As mulheres deveriam manter unhas, dentes e pele limpos – e, sobretudo, deveriam zelar pela limpeza da "câmara de Vênus". No século seguinte, jogos eróticos no banho também compareceriam no Decameron, do italiano Giovanni Boccaccio. O prestígio do banho, porém, parece ter sido apenas literário. O cristão europeu médio seguiu lavando o rosto e as mãos antes da refeição e esfregando seus dentes com paninhos – e a tanto se resumia sua higiene pessoal.
A transição para a era moderna não trouxe nenhuma melhora higiênica – pelo contrário, o progressivo inchaço das cidades gerou catástrofes sanitárias. Em Londres, Paris ou Lisboa, a disposição de lixo e de dejetos humanos era feita na rua mesmo. No suntuoso Palácio de Versalhes, um decreto de 1715, baixado pouco antes da morte do rei Luís XIV, estipulava que as fezes seriam retiradas dos corredores uma vez por semana – do que se deduz que o recolhimento era ainda mais esparso antes. Versalhes não tinha banheiros, mas contava com um quarto de banho equipado com uma banheira de mármore encomendada pelo próprio Luís XIV – objeto que serviria apenas à ostentação, caindo no mais absoluto desuso. Os médicos certa vez recomendaram banhos ao Rei Sol como forma de terapia para as convulsões que ele andava sofrendo – mas interromperam esse tratamento dramático quando o monarca se queixou de que a água lhe dava dor de cabeça. Acreditava-se então no poder de cura da imersão em água para certas doenças.
Contraditoriamente, porém, também se atribuíam perigos ao banho: lavar o corpo todo abriria os poros, facilitando a infiltração de doenças (ironicamente, as práticas precárias da higiene pessoal facilitaram epidemias européias, como a peste e a cólera). Significativo é um caso de 1610 envolvendo o avô de Luís XIV, Henrique IV. Esse rei fez a deferência de dispensar o duque de Sully de uma convocação para comparecer ao Palácio do Louvre. Em vez disso, foi Henrique IV que visitou Sully, para tratar de assuntos de estado – isso tudo apenas porque o duque havia se banhado recentemente e, portanto, estaria suscetível demais para sair à rua.
Outra crença curiosa do mesmo período diz respeito ao poder purificador da roupa: acreditava-se que o tecido "absorvia" a sujeira do corpo. Bastaria, portanto, trocar de camisa todos os dias para manter-se limpinho. Já no século XIX, o rei português dom João VI – o fujão que estabeleceu sua corte no Rio de Janeiro – mostrava-se descrente até da troca de camisas, que ele literalmente deixava apodrecer no corpo. A porquice de dom João VI, extraordinária até para os baixos padrões sanitários de seu tempo, está bem descrita em outro livro lançado neste ano, Passado a Limpo – História da Higiene Pessoal no Brasil, do jornalista Eduardo Bueno. Mesmo coberto de feridas e contaminações na pele, dom João VI fugia da água.
Foi só no século XIX, com a propagação da água encanada e do esgoto e com o desenvolvimento de uma nova indústria da higiene – principalmente nos Estados Unidos –, que o banho foi reabilitado. O sabão, conhecido desde a Antiguidade, mas por muito tempo considerado um produto de luxo, foi industrializado e popularizado. Em 1877, a Scott Paper, companhia americana pioneira na fabricação de papel higiênico, começou vender seu produto em rolos, formato que se mostra até hoje insuperado. O século XX prosseguiria com a expansão da higiene. Os desodorantes modernos datam de 1907 e a primeira escova de dentes plástica é dos anos 50.
A divulgação de produtos e práticas de higiene pessoal passou a contar com um aliado poderoso: a publicidade. Lançado em 1917, o Kotex, tido como o primeiro absorvente íntimo feminino, foi divulgado em 1946 por um filme de animação produzido pelos estúdios Disney. "O sabonete e a publicidade cresceram juntos", diz Katherine Ashenburg em seu livro.
Foi daí que surgiu a expressão em inglês que designa a telenovela: soap opera, "ópera de sabonete", referência aos patrocinadores desses programas.
As invenções mais essenciais da higiene pessoal
Papel higiênico
Por séculos, a limpeza íntima foi feita com folhas, sabugos de milho – ou com a mão. A primeira fábrica de papel higiênico surgiu nos Estados Unidos, em 1857 – e o produto demorou a vencer a resistência do mercado
Banho
Os romanos tinham casas de banho, que caíram em desuso na Europa medieval. A prática de lavar o corpo só seria efetivamente retomada a partir do século XIX. Em 1867, o francês Merry Delabost inventou o chuveiro. Pois é, um francês.
Privada
A primeira privada, ainda muito rudimentar, foi inventada para o uso da rainha Elizabeth I, da Inglaterra, no século XVI. Mas foi em 1884 que o inglês George Jennings criou o modelo moderno, com descarga
Sabonete
O sabão já era conhecido pelo menos desde o antigo Egito – embora os romanos não o utilizassem. Por muito tempo, porém, foi um artigo de luxo. Sua popularização plena só se deu no século passado, por obra da produção industrializada americana.
Cuidados dentários
As primeiras escovas de dentes datam do século XV, provavelmente inventadas na China. Mas pastas variadas, feitas de vegetais, já eram usadas na limpeza bucal dos antigos egípcios e indianos. As pastas modernas, alcalinas, surgiram nos Estados Unidos, no início do século XX.
Grandes personagens que não eram amigos da água
Vasco da Gama (1460-1524)
O navegador português levantou reações enojadas em sua viagem à Índia. Os indianos pediram que ele só falasse com a mão na frente da boca, para conter o bafo
Napoleão (1769-1821)
O imperador era asseado – mas encontrava estímulo erótico no cheiro do corpo.
Em uma de suas campanhas militares, escreveu a sua mulher, Josefina: "Retorno a Paris amanhã. Não se lave"
Luís XIV (1638-1715)
O rei francês só tomava banho por ordem médica e vivia no imundo palácio de Versalhes, onde as fezes eram recolhidas dos corredores só uma vez por semana.
Dom João VI (1767-1826)
O rei português que instalou sua corte no Rio de Janeiro em 1808 detestava banho e costumava vestir a mesma roupa até que apodrecesse
Isabel (1451-1504)
Relatos palacianos dão conta de que a rainha espanhola que comissionou a viagem de Cristóvão Colombo só tomou dois banhos de corpo inteiro em toda a vida.
As águas do tempo: a história do banho
Públicos ou privados, sagrados ou profanos, os banhos são uma tradição milenar. Em nome da religião, da beleza e da saúde, civilizações celebraram - e amaldiçoaram - o ato de se lavar.
A humanidade melhora com o passar dos séculos, certo? Nem sempre. Prova disso é o que ocorreu com um de nossos hábitos mais comuns, o banho.
Durante a Idade Média, os ocidentais abandonaram os sofisticados rituais de limpezada Antiguidade e mergulharam numa profunda sujeira. Principalmente por causa da religião, o homem medieval comum achava suficiente tomar um banho por ano. Foi preciso muito tempo – e alguns bons exemplos dos povos orientais e indígenas – para que voltássemos às nossas asseadas origens. Pesquisadores acreditam que todos os povos, desde tempos imemoriais, tenham praticado alguma forma de higiene pessoal. Os primeiros registros do ato de se banhar individualmente pertencem ao antigo Egito, por volta de 3000 a.C. Os egípcios realizavam rituais sagrados na água e tomavam ao menos três banhos por dia, dedicados a divindades como Thot, deus do conhecimento, e Bes, deus da fertilidade.
“Mais do que limpar o corpo, eles presumiam que a água purificava a alma”, diz o egiptólogo francês Christian Jacq, fundador do Instituto Ramsés, em Paris. “A crença valia tanto para a realeza, cortejada com óleos aromáticos e massagens aplicadas pelos escravos, quanto para as populações mais pobres, que recorriam inclusive a profissionais de rua quando não conseguiam tratar da própria beleza.”
O apreço pela higiene é o motivo ao qual arqueólogos atribuem a sobrevivência dos egípcios às pragas e doenças que assolaram a Antiguidade.
Embora os gregos tenham iniciado a prática dos banhos públicos no Ocidente, os pioneiros nos balneários coletivos foram os babilônios. A diferença é que, na Grécia, o banho não era motivado apenas pela higiene e espiritualidade. Entre 800 a.C. e 400 a.C., o esporte, particularmente a natação, era um dos três pilares da educação juvenil – ao lado das letras e da música. Bom cidadão era aquele que sabia ler e nadar, como comprovam imagens presentes em centenas de vasos de cerâmica pintados naquela época.
Os romanos herdaram muito da cultura da Grécia, incluindo a adoração pelo banho. Mas, entre eles, esse hábito tomou proporções inéditas. Enquanto construíam um dos maiores impérios de todos os tempos, os romanos levavam a suntuosidade de suas termas (enormes balneários públicos) aos mais diversos lugares. Por causa disso, algumas cidades européias ganharam nomes que incluem, literalmente, a palavra “banho” – é o caso de Bath, na Inglaterra, Baden Baden e Wiesbaden, na Alemanha, e Aix-le-Bains, na França.
Mas as maiores termas ficavam mesmo na capital do império, Roma: eram as de Caracala, inauguradas em 217, e as de Diocleciano, do ano 305. Esses edifícios, cujos nomes homenageavam imperadores, tinham capacidade para receber, respectivamente, 1600 e 3200 pessoas.
A engenharia romana teve que se desdobrar para acompanhar o frenesi dos banhos. Na onda das termas surgiu o hipocausto, uma espécie de assoalho construído sobre câmaras de gás subterrâneas. Esse sistema ajudava a esquentar os cômodos e mantê-los climatizados. Cada salão das termas era decorado com estatuetas e mosaicos. Ao redor de um pátio central, havia uma espécie de sauna, um vestiário e piscinas de água quente, morna, fria e ao ar livre. Os complexos de banho do Império Romano tinham ainda jardins, bibliotecas e restaurantes (como se fossem antepassados dos spas e resorts de hoje).
As visitas diárias às termas tinham fundo religioso, já que o banho público era um ato de adoração à deusa Minerva. E o costume não era restrito às classes mais abastadas. Boêmios, prostitutas, imperadores, filósofos, políticos, velhos e crianças, todos se banhavam no mesmo espaço, sem constrangimento. Ponto de encontro e de troca de informações, era o lugar onde um aristocrata podia medir sua popularidade de acordo com a quantidade de cumprimentos que recebia. “Em épocas de plebiscito, os plebeus nem precisavam pagar a pequena taxa que geralmente era cobrada. Os custos da entrada eram cobertos pelos ricos e nobres”, escreveu o historiador francês Jérôme Carcopino no livro Aspects Mystiques de la Rome Païenne (“Aspectos místicos da Roma pagã”, não lançado em português). Prazeres perdidos A liberdade que os romanos tinham de se banhar e ficar nus em público foi entrando em declínio à medida que uma nova religião se tornava popular por todo o império. Era o cristianismo, que pregava a castidade e se tornou a crença oficial de Roma no ano 380. Menos de um século depois, o império viria abaixo, junto com vários de seus costumes. Enquanto isso, a Igreja seguiria cada vez mais forte. Foi a gota d’água para que os prazeres do banho fossem boicotados durante cinco séculos.
Começava a Idade Média, época em que a cristandade varreu da Europa as termas, o esporte e outras atividades em que as pessoas se expusessem demais. Gregório I, o Grande, que foi papa entre 590 e 604, chegou a qualificar o corpo de “abominável vestimenta da alma” – ou seja, a carne era o depósito de tudo o que era pecado. Com tantos pudores, o prazer de tomar banho de corpo inteiro passou a ser visto como um ato de luxúria. Lavar as mãos e o rosto (às vezes nem isso) bastava. Quando muito, era aceitável tomar um banho por ano. Um único barril de água servia para toda a família, sem que a água fosse trocada. “O privilégio do primeiro mergulho era do homem da casa, enquanto as crianças ficavam por último, na sopa suja que sobrava”, escrevem as consultoras Renata Ashcar e Roberta Faria no livro Banho – Histórias e Rituais. Sem água corrente, as pessoas se viravam como podiam.
A limpeza da pele era feita friccionando-a com um pano úmido. Mas, mesmo entre os nobres, o ritual era repetido apenas a cada dois dias. Os cabelos deviam ser escovados com um tipo de pó que supostamente mantinha os fios limpos. E, como não podia deixar de ser, era preciso muita maquiagem e perfume – nas roupas, nos corpos e nos cabelos – para amenizar o mau cheiro.
Toda essa falta de higiene abriu as portas para epidemias devastadoras, propagadas principalmente por roedores. Foi o caso da peste, que matou cerca de 200 milhões de pessoas ao longo da Idade Média. Ao notar que muitos judeus não pegavam a doença, a Inquisição chegou a julgá-los e executá-los, acusados de bruxaria. Mas eles, na verdade, não agiam de má-fé – muito pelo contrário.
O que fazia os judeus serem menos suscetíveis a doenças era uma recomendação religiosa que seguiam: lavar as mãos antes das refeições e tomar banho ao menos uma vez por semana.
Foi só durante as Cruzadas, as guerras religiosas travadas entre os séculos 11 e 13, que muitos europeus puderam redescobrir as delícias da água, na aproximação – ainda que violenta – entre Oriente e Ocidente. É que, fora dos territórios dominados pela Igreja, onde ocorreram muitos combates, os banhos públicos da Antiguidade haviam sido mantidos, com seus rituais e instalações sofisticados. Nas hamans, casas de banho turco-árabes, os muçulmanos aproveitavam o prazer de alternar águas quentes e frias. Sessões de banhos completos incluíam depilação, massagem, hidratação, branqueamento dos dentes e maquiagem missão de tomar a Terra Santa dos – ritual que, até hoje, é seguido meticulosamente. Os cavaleiros cristãos que partiram para o Oriente com a muçulmanos não se fizeram de rogados. prática de jogar água pelo corpo quando “Não só passaram a se banhar por lá mesmo, como espalharam pela Europa a retornavam dos combatespopulação européia medieval e alguns ”, contam Renata Ashcar e Roberta Faria. A certa altura, a atitude contagiou o restante da banhos públicos chegaram a reabrir as portas.religião voltou a suprimir os
Nem só aos sábados. Depois do fim da Idade Média, a banhos no Ocidente. Nos séculos 16 e 17, irredutíveis cristãos bradavam que a água dilatava os poros da pele, por onde a saúde escaparia e o mal penetraria, em formas como a friagem e os germes. Todo mundo acreditou nisso, incluindo os médicos. E, enquanto nações como Portugal e Espanha descobriam, na América, populações que amavam tomar banho, os europeus voltavam para o mundo da sujeira.medidas de higiene, é verdade.
Existiam algumas medidas de higiene, é verdade. Mas elas não eram lá essas coisas. Antes ou depois de qualquer atividade física e após as refeições enxugava-se a pele com um pano e simplesmente mudava-se de camisa. Supunha-se que a roupa branca agia como ser sinônimo de se lavar – e, para se sentir “esponja” e absorvia a sujeira. Assim, trocar de roupa passou a limpas, as pessoas usavam punhos e colarinhos impecáveis.
A privação de água durou até o século 18, quando originavam não do banho, mas da falta dele. O iluminismo, que celebrava a razão e defendia a tese de que o mundo deveria ser esclarecido pela ciência, ajudou a fazer do ato de se lavar o símbolo da saúde. Banhos públicos para poucos, sendo reabilitados.
Mas, após higiene, esporte e terapia foram, aos anos de religiosos dizendo o contrário, não foi todo mundo que voltou a tomar banho, mesmo com insistentes conselhos médicos. Quando a célebre rainha Vitória subiu ao trono, em 1837, ainda não havia local para banho no palácio de Buckingham, sede da coroa inglesa. Até os anos 1870, eram raras as casas ocidentais que tinham um cômodo para seus habitantes se lavarem.
Já cientes do bem que a água podia fazer pela saúde, médicos banhavam doentes à força em hospitais. “Não era difícil encontrar um sujeito que, tendo de enfrentar a experiência do primeiro banho, demonstrasse verdadeiro terror, gritasse, tentasse escapar da sensação de sufocamento e palpitação que a água fria proporcionava”, diz um relato da época, citado pelo historiador americano Lawrence Wright no livro Clean and Decent: The Fascinating History of the Bathroom (“Limpo e decente: a fascinante história do banheiro”, não editado no Brasil).
Os banhos rotineiros reapareceram definitivamente nas grandes cidades ocidentais apenas por volta dos anos 1930. Mas, no começo, eles não eram lá tão freqüentes. Eram tomados aos sábados, dia em que também eram trocadas as roupas de baixo das crianças. Nessa época, navios ofereciam cabines de banho e barcos delimitavam áreas em rios que serviam como piscinas naturais. Após o fim da Segunda Guerra, em 1945, quando boa parte das casas européias teve que ser reconstruída, elas ganharam banheiros, abastecidos com a cada vez mais comum água encanada. A França foi a pioneira nas inovações sanitárias, seguida pela Inglaterra e pela Alemanha.
Hoje, voltamos a expor nossos corpos sem pudor, como fazíamos na Antiguidade. Mas isso não ocorre mais durante o ato de se lavar, e sim depois dele. “Ao mesmo tempo em que os trajes começam a valorizar o corpo e deixar adivinhar suas formas, realçando-as e, por vezes, revelando o bronzeado e a pele lisa e firme, o banho se transforma num hábito estritamente íntimo”, escrevem os historiadores franceses Gerard Vincent e Antoine Prost na obra História da Vida Privada: da Primeira Guerra aos Dias Atuais. Tomar banho virou um método individual de se preparar para a exposição pública. Não é à toa que todo banheiro contemporâneo que se preze tem um espelho – um objeto que, há cerca de dois séculos, dificilmente seria visto num lugar como esse.
Escova de dentes: como fazíamos sem
Sem a escova de dentes, não havia romântico que resistisse a um beijo de bom dia. Amor, carinho, lábios... e aquela carninha que restou de refeições anteriores.
Algum egípcio notou esse problema: a primeira escova de que se tem notícia foi encontrada numa tumba de 5 mil anos. Na verdade, era um pequeno ramo de planta que foi desfiado até as fibras aparecerem – elas eram esfregadas nos dentes para limpá-los.
O mau hálito deve ter incomodado os povos antigos. Tanto que outras alternativas para auxiliar na higiene bucal foram criadas com o passar dos anos. Além dos dedos, de folhas e de gravetos, pequenas varetas com a ponta amassada também eram utilizadas para limpar os dentes. Diocles de Caristo, um médico grego do século 4 a.C., deixou escrito um documento em que recomendava a seus clientes que todas as manhãs colocassem uma fina camada de hortelã pulverizada nos dentes e nas gengivas e a esfregasse com os dedos para remover restos de alimentos. Já os romanos limpavam seus dentes com um pó bem diferente – os ingredientes eram cinzas de ossos e dentes de animais, ervas e areia. A importância da escovação já era tão grande que os aristocratas tinham escravos apenas para limpar seus dentes.
Na Idade Média, as escovas ainda não haviam evoluído muito, mas as pastas de dentes já tinham melhorado bastante. Nessa época, eram preparadas à base de ervas aromáticas, como a sálvia. Mas, para eliminar o mau hálito, eram recomendados bochechos com urina.
A escova de dentes de cerdas só foi inventada em 1498, pelos chineses. Porém, além do fato de serem muito caras – e, por isso, famílias inteiras terem que dividir uma peça –, eram feitas de pêlos de porcos atados a pedaços de bambus ou ossos. Com a umidade, os pêlos mofavam e enchiam a boca de fungos.
O problema só seria resolvido em 1938, nos Estados Unidos, com o surgimento de cerdas de náilon. Na Segunda Guerra Mundial, os soldados americanos eram obrigados a usar a escova de dentes. De lá para cá, ela só foi se aperfeiçoando.
Uma pesquisa feita em 2003 nos Estados Unidos pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts supreendeu pelo resultado: para os americanos, a escova de dentes é a invenção mais importante da história da humanidade.
Difícil higiene
Saiba como os antigos se viravam sem sabão, chuveiro ou xampu
Ferro no couro
Uma espátula de ferro de mais ou menos 30 centímetros, o strigil era usado pelos antigos gregos e romanos para esfregar vigorosamente a pele, untada com um óleo verde-oliva. Entre os ricos, essa limpeza era feita por escravos.
Cascata caseira
Sem rede encanada, os povos antigos tomavam banho com água derramada de bacias e jarros. Às vezes a pessoa ficava dentro de uma banheira rasa de pedra, mas o mais comum era se inclinar num banco de pedra.
Limpeza pesada
Os babilônios ferviam gordura animal com cinzas vegetais para passar sobre a pele e os cabelos. Já no Egito, uma mistura de bicarbonato de sódio, cinzas e argila fazia as vezes do sabão.
Arranca-cascão
No Oriente, materiais ásperos feitos de rocha ou cerâmica eram (e ainda são) usados para esfoliar a pele e retirar a sujeira. O ritual se completava com o uso de água de flor de laranjeira, pentes, pastas e perfumes.
Asseio preguiçoso
As banheiras portáteis se popularizaram no fim do século 19, primeiramente entre os ingleses. Quando um fidalgo ia tomar banho, camareiras carregavam a banheira para o quarto e a enchiam à mão, com água aquecida.
Mania de brasileiro
A higiene dos índios demorou a ser aceita pela elite portuguesa
Quando aportaram por aqui, em 1500, os portugueses se assustaram com a limpeza dos índios, que mergulhavam em rios e no mar até 12 vezes ao dia.
Pero Vaz de Caminha, escrivão da esquadra de Cabral, chegou a escrever, surpreso: “São tão limpos e tão gordos e tão formosos que não podem ser mais”.
Os portugueses acabaram cedendo aos hábitos dos nativos brasileiros, percebendo que eles eram muito mais saudáveis que os da Europa. Os membros da corte, entretanto, resistiram aos deleites da água, pois estavam acostumados a passar meses sem sequer mudar de camisa. Já os mais humildes aceitaram o banho mais facilmente – começaram lavando os pés diariamente em bacias. “Com o tempo, o rio se tornou extensão da casa. Sem rede encanada, era nele onde se lavavam as roupas, as louças e o corpo”, escrevem Renata Ashcar e Roberta Faria no livro Banho – Histórias e Rituais. No século 18, algumas cidades já usavam a água de poços e chafarizes mantidos pelo Estado. Quando a família real portuguesa chegou ao Brasil, em 1808, fez do Rio de Janeiro o primeiro município a contar com água encanada no país – benefício que ainda está longe de atingir todos os brasileiros.
O corpo na Idade Média
O que se pensava sobre o corpo na Idade Media
Esta pesquisa tem o objetivo de descrever como era e o que se pensava sobre o corpo no período histórico chamado de Idade Média, conhecido também como “idade das trevas”, como cita TAVARES DE JESUS (1994). Para isso, contamos com estudos e reflexões de diversos autores. Para compreendermos a visão de corpo da época, é necessário analisar os contextos histórico, social e cultural que influenciaram o pensamento das pessoas que viveram neste período.
A Idade Média
Segundo a ENCICLOPÉDIA BRITÂNICA (1999), a Idade Média é o período da história européia que começa com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476. Da formação dos reinos germânicos, a partir do século V, até a consolidação do feudalismo entre os séculos IX e XII, temos o período denominado alta Idade Média. Neste período, para SOUTO MAIOR (1969), a terra era sinônimo de poder e, como complementam FARACO E MOURA (1995), disputada através de constantes batalhas. Na baixa Idade Média, que vai até o século XV, o capitalismo afirma-se sobre o modo de produção feudal. FARACO E MOURA (1995) afirmam que o declínio da Idade Média se dá com o crescimento da burguesia, a chegada do comércio e as grandes navegações, no fim do século XV. Já SOUTO MAIOR (1969) sugere que este longo período de tempo chega ao fim com a peste negra e as cruzadas. Para PEREIRA (2004), o fim da Baixa Idade Média dá-se, oficialmente, com a queda do Império Romano do Oriente, derrubado pelos Turcos, conhecida como a tomada de Constantinopla.
A supremacia da igreja na Idade Média
De acordo com TAVARES DE JESUS (1994), a Idade Média teve uma grande influência da Igreja. FARACO E MOURA (1995) afirmam que a Igreja era vista como o lugar do mundo terreno onde estava Deus. Como a base da sociedade era o teocentrismo, ou seja, Deus era o centro de todas as coisas, a Igreja influenciava de maneira muito forte o comportamento das pessoas no campo moral, nos relacionamentos interpessoais, na vida familiar e na forma de pensar e vestir.
Segundo FARACO E MOURA (1995), as camadas sociais, dentre as quais o clero e a nobreza estavam no comando, eram determinadas por Deus e, como mostra SOUTO MAIOR (1969), o desejo de mudança estaria indo contra a vontade divina. BESEN (2004) diz que uma das características do homem medieval é “aceitar-se num lugar social determinado: forte ou fraco, rico ou pobre, guerreiro ou trabalhador, religioso ou leigo. Nesta posição, ele vê a vontade de Deus”.
O homem medieval, segundo FARACO E MOURA (1995), preocupava-se muito com a salvação eterna da sua alma e, sob influência da Igreja, renunciava seus bens materiais e os prazeres terrenos. Acreditava que, assim, iria para o “paraíso” depois de sua morte na Terra. BESEN (2004) menciona que foi no século XII que se fixaram os sete vícios capitais: orgulho, avareza, gula, luxúria, ira, inveja e preguiça.
O conhecimento, a cultura e as manifestações artísticas
TAVARES DE JESUS (1994) diz que os monges eram “os únicos letrados em um mundo onde nem os servos nem os nobres sabem ler”. Segundo SOUTO MAIOR (1969), eram conhecedores de línguas clássicas, grego e latim; por isso, somente eles tinham acesso às obras.
A Igreja dominava a ciência e as artes. Os mosteiros eram os locais onde a cultura estava depositada e eram vistos como um local próprio para a meditação e para exercitar as “atividades do espírito”. Para TAVARES DE JESUS (1994), a filosofia é conhecida como “serva da teologia” e divide-se em dois grandes momentos. O primeiro, chamado de patrístico, corresponde ao pensamento dos chamados “padres” da Igreja, preocupados em relacionar fé e ciência. Santo Agostinho foi um deles, defendendo uma “iluminação” divina para a aquisição da verdade. O segundo momento é denominado escolástico. Há uma preocupação com a reflexão filosófico-teológica, e surgem as escolas monaicas e catedrais, além das Universidades.
FARACO E MOURA (1995) citam a religiosidade expressada nas manifestações artísticas. Na arquitetura, destacam-se as grandiosas catedrais. Elas eram projetadas para o céu devido à crença na existência de uma de um Deus que vive num plano superior. As esculturas não eram vistas de forma autônoma; geralmente ilustravam os ensinamentos da Igreja ou eram vistas na decoração de edifícios. Na pintura, encontramos personagens pouco volumosos, cobertos por muita roupa, com o olhar direcionado para o céu. SOUTO MAIOR (1969) nos mostra a música sacra e mais especificamente os cantos gregorianos como marcas do período medieval.
Já na literatura, FARACO E MOURA (1995) apresentam o estilo de época predominante (em Portugal), conhecido como trovadorismo, que vai de 1189 a 1434. O nome vem devido à sua apresentação, em forma de texto musical, através de cantigas com viola e lira. SOUTO MAIOR (1969) destaca Santo Agostinho e Tomás de Aquino como os escritores da época, representando, respectivamente, alta e baixa Idade Média.
De acordo com BESEN (2004), na Idade Média surgiu o culto pelas imagens. Via-se na imagem esculpida, pintada ou retratada num vitral, um meio para instruir sobre o significado do anúncio da salvação àqueles que não sabiam ler. As imagens narram a história da salvação, reforçam a recordação e elevam a piedade.
Para PEREIRA (2004), a alta Idade Média pode até ser considerada época de trevas e de atraso cultural. Mas a baixa Idade Média, época em que foram construídas catedrais e igrejas magníficas em estilo gótico, castelos e mosteiros, e onde viveram incomparáveis pintores, escultores, poetas, escritores e filósofos, não pode ser apontada como período de trevas culturais, crueldades e desrespeitos à dignidade humana, em hipótese alguma.
A literatura moral e o gesto
Para SCHMITT (1995), a base da teologia moral da Igreja está na reunião das três virtudes mencionadas por São Paulo – fé, esperança e caridade, e de quatro virtudes que Cícero diz serem as componentes da “beleza moral” – scientia, o discernimento do verdadeiro, a prudência e a sabedoria; beneficientia, o ideal de justiça, dando a cada um o que lhe é devido; fortitudo, a força e a grandeza da alma, que inspiram o desprezo às coisas humanas e temperantia ou modestia, que consiste em cumprir toda ação e pronunciar toda palavra com ordem e medida.
De acordo com SCHMITT (1995), a palavra latina gestus significa os movimentos e atitudes do corpo em geral, e não somente determinado gesto particular. Na alta Idade Média, a palavra gestus e as reflexões relacionadas a ela desaparecem aos poucos.
O autor cita o que Cícero diz traduzir para o exterior a excelência do espírito: “os movimentos e as atitudes do corpo”, “a atitude, o caminhar, a maneira de sentar, de se inclinar à mesa, o rosto, os olhos, o movimento das mãos”. Os gestos, como o andar, não devem ser “vivos demais”, nem “débeis demais” ou efeminados; a virtude reside no justo meio.
SCHMITT (1995) nos traz ainda alguns tratados de edificações, destinados a soberanos, que fazem parte da chamada literatura moral.
O tratado do bispo Martim de Braga, escrito para o rei Miro de Galícia, recomenda a continentia: a alimentação, a linguagem, o riso e o andar devem ser feitos sem “tumulto”. O tratado destinado a Isidoro de Sevilha, escrito por P. Pascal e P. Riche, recomenda “um movimento de corpo cheio de constância e gravidade, sem ligeireza vaidosa e sem desordem, e um andar que não pareça, por sua insolência, imitar as contorções dos mímicos e os gestos dos bufões que correm daqui para ali”.
Cita outro texto de Cícero, presente em De officiis, que enuncia regras da moderação do corpo: “que a face seja bem reta, que os lábios não se contorçam, que uma abertura imoderada não distenda a boca, que o rosto não se volte para trás, que os olhos não mergulhem em direção ao sol, que a nuca não se incline, que as sobrancelhas não estejam nem levantadas, nem caídas.”
O corpo
SCHMITT (1995) afirma que, no século VI, vários autores mencionam o uso do corpo a propósito dos vícios – a gula em Pomerius, a fornicação (relacionamento sexual ilícito) em Cassiano e o orgulho em Gregório.
Já na baixa Idade Média, surge uma nova visão de corpo, que não é mais apenas a “prisão da alma”: quando bem governado, o corpo pode se tornar meio e lugar de salvação do homem.
De acordo com MATOS E GENTILE (2004), na Idade Média, o corpo foi considerado perigoso, em especial o feminino, visto como um "lugar de tentações".
Alguns teólogos chegaram a dizer que as mulheres tinham mais conivência com o demônio porque Eva havia nascido de uma costela torta de Adão, portanto nenhuma mulher poderia ser reta.
Segundo RODRIGUES (1999), a abertura do corpo humano e a dissecação de cadáveres, para a mentalidade medieval, era uma ação inconcebível, um gesto do mais supremo sacrilégio e por este motivo, conforme nos mostra PEREIRA (1988), a anatomia passa por um período de estagnação – representando um período negativo para a Educação Física – tendo seus estudos retomados com a chegada do Renascimento. O corpo jamais poderia ser considerado como objeto; para os medievais, a putrefação era continuidade da vida, era húmus. Existiam valas coletivas que ficavam abertas até serem preenchidas por corpos e era comum tê-los em putrefação em casa. Há imagens da época que retratam homens dançando com cadáveres que se desfaziam.
RODRIGUES (1999) diz ainda que, com freqüência, os reis da França, ao morrer, tinham seus corpos esquartejados e seus fragmentos espalhados pelas Igrejas importantes do território. Os medievais acreditavam que tais “relíquias reais” propiciariam boas colheitas. Além disso, de acordo com BESEN (2004), havia também o culto às “relíquias dos santos”, ocorrendo até roubos de partes dos corpos. Não se concebia fundar uma cidade sem o túmulo de um santo, havendo, deste modo, lutas violentas para garantir o corpo, que traria proteção.
Segundo BESEN (2004), a festa de Corpus Christi nasce na Idade Média com a finalidade de fazer a adoração pública da Hóstia, o “corpo de cristo”.
Com o propósito de libertar o Santo Sepulcro de Cristo do domínio muçulmano, surgiram as Cruzadas – lutas em busca da posse de Jerusalém e da Terra Santa, onde estava a sepultura do filho de Deus.
O sexo
Segundo FRANCO JÚNIOR (2001), a vida sexual tornou-se inexistente e a virgindade passou a ser vista com grande valor, seguindo os modelos de Cristo e sua mãe. Na Idade Média, a palavra latina verecundia toma o sentido de vergonha ligado a carne e ao pecado sexual, segundo SCHMITT (1995).
A castidade, para FRANCO JÚNIOR (2001), era vista como compensatória por quem já havia pecado e deveria se abster de sexo pelo restante da vida.
A vida sexual era possível ao cristão desde que acontecesse numa relação definida e supervisionada: o matrimônio.
Esse só era permitido entre heterossexuais, combatendo-se a prática da bestialidade (sexo entre humano e animal). O pecado da homossexualidade era explicado por proporcionar apenas prazer e não procriação.
FRANCO JÚNIOR (2001) diz ainda que a prática sexual deveria ser apenas vaginal, ficando a mulher debaixo do homem e no escuro, para evitar a visão da nudez. O sexo oral ou sodomita, as bruxarias para seduzir alguém, práticas anticoncepcionais e abortivas e as relações incestuosas ou adúlteras eram vistas como pecado e castigadas, com pena de seis a quinze anos de jejum e excomunhão, acompanhados geralmente de interdição perpétua de qualquer relação sexual e de casamento. Porém, de acordo com SOARES (2004), “havia ainda liberdade sexual, até para bispos e papas”. Um exemplo é Arquibaldo, bispo de Sens, França, que instalou um harém na abadia de São Paulo, no século X.
Cultura física e práticas desportivas
De acordo com PEREIRA (1988), a preocupação estética e a cultura física eram contra os dogmas da Igreja e, portanto, foram proibidas. Havia um dualismo entre o corpo, visto como pecaminoso, e a alma, destinada à salvação. FRANCO JÚNIOR (2001) mostra que as formas encontradas pelos clérigos para evitar a ociosidade eram cantos, leituras e conversas entre si.
No ano 393, de acordo com MATOS E GENTILE (2004), o imperador romano Teodósio, convertido ao cristianismo, proibiu os Jogos Olímpicos (que seriam retomados somente no final do século XIX, vendo neles uma "manifestação pagã". Tal medida expressava as concepções do cristianismo, que comparava os antigos deuses a demônios e qualificava como pecado a exibição dos corpos nus dos atletas.
De acordo com SOUZA (2004), os exercícios físicos eram a base da preparação militar dos soldados, que durante os séculos XI, XII e XIII lutaram nas Cruzadas empreendidas pela Igreja.
Segundo OLIVEIRA (2004), durante a Idade Média verificou-se uma acentuada diferenciação entre as atividades das classes altas e baixas. Conforme PEREIRA (1988) as atividades hípicas eram comuns às camadas dominantes e SOUZA (2004) afirma que eram valorizadas a esgrima e a equitação como requisitos para a participação nas Justas e Torneios, jogos que tinham como objetivo enobrecer o homem e fazê-lo forte e apto. OLIVEIRA (2004) complementa, dizendo que “os nobres se dedicavam a desenvolver suas aptidões guerreiras em torneios e combates, além de praticar a equitação e a caça”.
SOUZA (2004) diz que “há registros de várias atividades praticadas neste período, como o manejo do arco e flecha, a luta, a escalada, a marcha, a corrida, o salto, a caça e a pesca e jogos simples e de pelota, um tipo de futebol e jogos de raquete”. OLIVEIRA diz que “o povo tinha grande apego aos jogos de bola”. Segundo PEREIRA (1988), entre os servos existiam lutas corpo a corpo e jogos populares, que, conforme FRANCO JÚNIOR (2001) tinham o objetivo de testar a força e as habilidades físicas. Nas festas populares, estavam presentes os saltimbancos e os acrobatas, como mencionam FARACO E MOURA (1995).
Vestimentas
MATOS E GENTILE (2004) dizem que, na Idade Média, a nudez sofreu uma repressão severa. FARACO E MOURA (1995) mencionam que homens e mulheres, nobres e camponeses, vestiam-se com roupas longas. Cobrir o corpo, além de proteger das variações climáticas, era uma questão moral e religiosa, decorrente do cristianismo. Contrarias esta crença, conforme SOUTO MAIOR (1969) seria considerado heresia.
Segundo MATOS E GENTILE (2004), até mesmo os nobres que se exercitavam regularmente e disputavam torneios de cavalaria escondiam o corpo com trajes volumosos, apesar do desconforto que o excesso de tecido causava aos praticantes. As pessoas conservavam as roupas até durante o banho.
Higiene
Conforme RODRIGUES (1999), animais conviviam em harmonia com homens. Nas casas os cômodos eram de uso comum; desconhecia-se o sentido de privacidade e as necessidades eram eliminadas sem um local específico.
De acordo com MATOS E GENTILE (2004), o banho era um hábito pouco freqüente nos castelos, conventos e entre a população em geral, pois se acreditava que a sujeira era uma proteção contra as epidemias (em especial, a peste negra), que ameaçavam a saúde pública. Há registros de que os monges do mosteiro de Cluny, na França, tomavam dois banhos completos por ano e segundo SOARES E MIRANDA, ainda não existiam tratamentos odontológicos na época.
Lazer
Segundo OLIVEIRA (2004), a organização dos lazeres era de base religiosa: todo dia de festa começava pelas cerimônias de culto; estas se prolongavam em espetáculos, que apresentavam cenas da vida de Cristo ou dos Santos. Havia também o teatro inspirado em romances e crônicas. FARACO E MOURA (1995) comentam que neste período, as manifestações teatrais eram simples e ocorriam ao redor das igrejas e mosteiros, nas ruas, que eram locais, como mostra RODRIGUES (1999) de grande ruído, estreitas e fedorentas, constituídas de espaços onde se praticavam os ofícios, os afazeres profissionais, as conversas, os espetáculos e as brincadeiras.
Depois do espetáculo, o divertimento mais apreciado era a dança: “dança dos donzéis” nos castelos e ronda em torno da árvore de maio ou ao redor da fogueira de São João. Havia os jogos do interior da casa, entre os quais era preferido o xadrez, a respeito do qual se encontraram tratados manuscritos em bibliotecas medievais.
A Inquisição
De acordo com a ENCICLOPÉDIA BRITÂNICA (1999), Inquisição foi a designação dada a um tribunal eclesiástico que julgava os hereges (aqueles que se opunham aos dogmas da Igreja) e as pessoas suspeitas de se desviarem da ortodoxia católica e dos costumes considerados corretos. A pena poderia ser a prisão, o exílio para lugares distantes e até o confinamento numa aldeia por toda a vida. Costumava-se, também, destruir a casa do herege.
A ENCICLOPÉDIA BRITÂNICA (1999) menciona que os acusados de crimes mais graves, os que se recusassem a renunciar suas opiniões ou os que reincidissem depois de alguma condenação, geralmente eram queimados nas fogueiras. O auge da Inquisição deu-se no século XIII, quando o papa Inocêncio IV autorizou o uso da tortura quando se duvidasse da veracidade da declaração dos acusados. Segundo GARCIA (1997), a não observância de alguns princípios éticos legitimou a mutilação, a destruição e a cremação de corpos, tornando-os sede de sofrimento.
De acordo com RODRIGUES (1999), a tortura presente na Idade Média era justificada como uma ação sobre o espírito por meio do corpo, visto que, na mentalidade medieval, o corpo é inseparável da alma. A dor era denominada por termos que designavam também amargura, tristeza, solidão e luto, entre outros estados não necessariamente ligados à pura corporalidade. GARCIA (1997) complementa dizendo que a tortura até a morte não era suficiente. Havia a necessidade da cremação, para o corpo ser purificado. Um corpo sepultado continuaria existindo fisicamente, seria ainda uma substância material; por isso era necessário destruí-lo completamente para que não deixasse nenhum rastro de vergonha e desonra. O corpo material era visto como portador do espírito; portanto, as idéias da pessoa só eram completamente anuladas com a destruição do físico, mesmo já sem vida.
O Renascimento
Segundo MATOS E GENTILE (2004), no final do século XII (baixa Idade Média), houve uma retomada do comércio e da vida urbana em boa parte da Europa ocidental e foram redescobertos, em traduções árabes, os textos dos pensadores greco-romanos, perdidos no início da Idade Média. Tudo isso levou a uma mudança da mentalidade vigente. Começou a surgir um novo tipo de intelectual, o humanista, que via no homem a medida de todas as coisas, como os filósofos gregos. Esse processo ficou conhecido como Renascimento.
De acordo com SCHMITT (1995), na baixa Idade Média, a atenção aos gestos é renovada. Essa redescoberta do gesto como objeto de pensamento e de reflexão ética deve-se muito ao Renascimento Intelectual do século XII.
MATOS E GENTILE (2004) dizem também que o pensamento renascentista influenciou pintores, escultores e artistas em geral, que retomaram os padrões da Antigüidade clássica em suas obras. A arte renascentista celebrou abertamente o corpo e a beleza física. Como mostra FARACO E MOURA (1995), o nu passa a mostrar uma nova ideologia de mundo, a “da concretude terrena, do material”. MATOS E GENTILE (2004) mencionam ainda que a mulher, antes ligada ao pecado, reapareceu, seminua e deslumbrante, em O Nascimento de Vênus, tela de Sandro Boticelli pintada em 1485. Leonardo da Vinci, na gravura conhecida como O Homem Vitruviano(1492) e Michelangelo, conforme FARACO E MOURA (1995), com A criação do homem (pintura) e David (escultura), imortalizaram o equilíbrio e as proporções da figura masculina.
Conclusões
Através desta pesquisa, pode-se concluir que o contexto histórico-cultural da Idade Média foi o responsável pela visão de corpo da época. Além do comportamento da população medieval ter sido extremamente controlado, também seu pensamento foi manipulado pelo poder dominante da época: o clero e a nobreza. Usando o nome de Deus, os poderosos obtinham muitos benefícios, e a população acreditava que, se contrariasse as ordens da Igreja, não teria a salvação da alma; portanto, não reagia.
As proibições e privações eram muitas, e praticamente tudo relacionado ao corpo era considerado heresia, pecado. Por isso, o corpo era escondido. Nem mesmo poderia aparecer em pinturas ou esculturas se não estivesse encoberto. E as atitudes do corpo deveriam ser contidas, os gestos deveriam ser discretos.
Porém, no final da Idade Média, com o Renascimento, o corpo foi saindo do anonimato e da escuridão. O período mais obscuro da história foi dando lugar à liberdade de expressão e pensamento.
Daniela Dressler Dambros
Liriana Correa Dalla Corte
Angelita Alice Jaeger
Bibliografia
BESEN, J. A. A religiosidade na Idade Média. Disponível em www.pime.org.br/pimenet/missaojovem/mjhistdaigrejamedia.htm, acessado em 28/10/2005
ENCICLOPÉDIA BRITÂNICA, 1999
FARACO & MOURA, Língua e Literatura – 2º grau, Vol.1, São Paulo: Editora Ática, 1995.
FRANCO JÚNIOR, H. A Idade Média: nascimento do Oriente. São Paulo: Brasiliense, 2001.
GARCIA, R. P. A evolução do homem e das mentalidades – uma perspectiva através do corpo. IN: Revista Movimento, ano III, n° 6, 1997.
MATOS, C. E., GENTILE, P. e FALZETTA, R. Em busca do corpo perfeito. IN: Revista Nova Escola. Abril, São Paulo: edição 173, ago. 2004
OLIVEIRA, C. H. S. Esporte. Disponível em www.cdcc.sc.usp.br/escolas/juliano/esporte.html, acessado em 28/10/2005
PEREIRA, O. A. S. Idade média, época de trevas? - A família imperial brasileira e sua sagrada estirpe medieval. Disponível em www.ihp.org.br/docs/oasp20000411.htm, acessado em 23/10/2005.
RODRIGUES, J. C. O corpo na História. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1999
SCHMITT, J. C. A moral dos gestos. D. B. Sant’Ana. Políticas do Corpo. São Paulo: Estação Liberdade, 1995.
SOARES, C.; MIRANDA, F.; RECIFE, E. Sorria, você está sendo estudado. IN: Super Interessante. Abril, São Paulo: edição 201, jun. 2004.
SOUTO MAIOR, A. História Geral. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969.
SOUZA, E. P. M. O universo da ginástica: evolução e abrangência. Disponível em www.denix.hpg.ig.com.br/a_ginastica.htm, acessado em 28/10/2005
TAVARES DE JESUS, A. A volta do mito de Prometeu. IN: Revista Motrivivência. Editora da UFSC, Florianópolis: n° 5, 6 e 7, dez. 1994.
Fonte: marypry.com.br
História do Banho
Ao longo de vários séculos a água foi olhada de formas diversas, ora como um elemento essencial ou como um inimigo da saúde e da alma imortal.
Chegar a casa, entrar na banheira, deixar que a água flua pelo corpo, passar um gel de banho e esfregar o cabelo com um champoo especial. Isto é rotina para si, mas nem sempre o banho foi um ato do dia a dia, chegando mesmo a ser considerado como um ato de luxúria e, portanto, pecaminoso.
Pioneiros nestas coisas de higiene, os egípcios gastavam muito do seu tempo em banhos refrescantes e com o uso de perfumes e óleos odorosos, prática em que foram seguidos pelos gregos, com os seus banhos e saunas e depois pelos romanos. Os muçulmanos também não dispensavam o banho ritual antes das orações e as salas de sauna foram tornadas por estas civilizações como verdadeiras áreas políticas e sociais. Mesmo os povos lusitanos aderiram à ideia e não são poucos os vestígios que ainda se encontram destes locais de prazer e convívio social.
A época das trevas da Idade Média e da Reconquista Cristã veio colocar um ponto final nestas atividades, consideradas que eram as saunas como locais de pecado e perversão, pelo contato com os corpos nus que proporcionavam. Mesmo assim, ainda se mantiveram algumas ideias de higiene, tendo os mais ricos instalado casas de banho privadas nos castelos que seguiam os princípios dos banhos romanos e nesse espaço organizavam festas e massagens para os convidados. Os camponeses mais pobres limitavam-se a lavar a cara e as mãos apenas com água e como não podia deixar de ser, os piolhos e outros ‘visitantes’ abundavam, disfarçados pelo uso permanente de chapéus ou barretes.
Em plena Idade Média, os banhos passaram a ser olhados com receio e mesmo proibidos em muitas cidades como propagadores de doenças, em especial da peste, e causadores do amolecimento da alma, se feitos com água quente, que era também o motivo que levava à dilatação dos poros e consequentemente à facilidade de entrada de doenças no corpo.
Nesta época, a higiene passava por vestir roupa lavada até que ficasse suja, porque existia o conceito que esta serviria como esponja da sujidade. Os dentes eram lavados com um dentífrico cem por cento natural – a urina, e usava-se o fio dental. Quanto a lenços de assoar, nem se fazia a mínima ideia do que seriam, usando-se para o efeito os dedos ou as mangas.
A sujidade chegava a um ponto tal que, durante a época das Descobertas, os europeus eram conhecidos pelos povos que visitavam como mal-cheirosos e porcos. Os membros do clero optavam pela sujidade para demonstrarem que não se preocupavam pelo corpo terreno e que dedicavam apenas os seus pensamentos a Deus.
Durante o século XVII os banhos continuaram a ser olhados como algo perigoso, desaconselhado a pessoas doentes, que sofressem de gota, obesos, doentes de nervos, e em algumas ocasiões. Foi uma época em que, para disfarçar o cheiro das classes altas, os melhores perfumes eram usados e a industria cosmética teve um enorme avanço.
O rei francês Luís XIV ficou conhecido por ter tomado banho apenas em duas ocasiões da sua vida: quando nasceu e quando casou.
A roupa não era lavada, apenas sacudida e carregada de perfume e as mãos eram lavadas apenas de três em três dias. Lavar a cara estava fora de questão, para não estragar a pele que se podia desgastar com lavagens frequentes e a sujidade era escondida com enormes doses de maquilhagem, renovada todos os dias. Felizmente para os narizes mais sensíveis, é neste século que surge o sabão à base de banha de porco, usado para lavar o rosto e as mãos, assim como as roupas.
O conceito de higiene surge apenas no século XIX, depois das descobertas levadas a cabo por Pasteur e as suas teses sobre a influência da higiene sobre a saúde pessoal e pública. Os hospitais passam a ser limpos regularmente, assim como outros locais onde possam proliferar doenças.
Os manuais de higiene começam a aparecer, arrastando consigo vários produtos para melhorar a condição da pele e dos cabelos, as pilosidades querem-se curtas, assim como as unhas e a pele é lavada com água e sabão. Para evitar as doenças é instituído o hábito de lavar as mãos várias vezes ao dia, antes e depois das refeições e as roupas são lavadas regularmente, abrindo-se para isso lavadouros públicos.
Estudos médicos provam que a maior causa de morte entre parturientes se fica a dever a infecções provocadas por falta de higiene dos médicos que não lavavam as mãos depois de ver os doentes, funcionando como focos infecciosos, transportando germes nas unhas. Estes passam a ser obrigados a desinfetar as mãos antes e depois de efetuar qualquer tipo de contato com doentes.
Foi apenas no nosso século que o duche entrou nos hábitos dos europeus e se ainda não se trata de uma atividade diária, para lá caminha. No entanto, um longo caminho teve de ser percorrido em nome da higiene e da saúde. E um caminho por vezes demasiado seco.
Fonte: www.mulherportuguesa.com
História do Banho
Depois do Banho, Edgar Degas (c. 1890)
O banho é geralmente praticado para higiene pessoal, mas em muitos lugares do mundo inteiro também é considerado ritual de purificação religiosa ou esotérica, tratamento de saúde, convívio social, celebração entre muitos outros propósitos.
Os primeiros registos históricos datam de 3000ac no antigo Egito, eles realizavam rituais sagrados na água, utilizavam óleos perfumados e os dedicavam a divindades.
Em 1700 a.C.
A mais antiga banheira já descoberta, em Creta, Grécia.
500 a.C.
Os gregos usavam chuveiros e banheiras rudimentares em banhos públicos. Eles se lavavam num pedestal com um ralo.
100 d.C. Termas Romanas.
Os romanos transformam o banho diário em um grande intercambio social. Elaboraram um sistema de abastecimento de água para as cidades. Foi o apogeu dos banhos como atividade social.
537
A queda do Império Romano, após as invasões dos bárbaros fez com que os banhos entrassem em declínio. Apenas no Império Bizantino se manteve a tradição dos banhos, que de romanos se transformaram em banhos turcos com o passar do tempo.
1000
Porém, na Idade Média tudo mudou. As idéias religiosas, levadas ao exagero, puseram um ponto final na limpeza.
Toda essa falta de higiene acarretou terríveis epidemias como a peste que matou por volta de 200 milhões de pessoas ao longo da Idade Média.
Somente por volta dos séculos XI e XIII durante as Cruzadas que os europeus puderam redescobrir as delicias da água, no Oriente, fora dos dominios da Igreja, os banhos públicos haviam sido mantidos com seus rituais e instalações luxuosos.Assim, quando os cavaleiros voltavam para casa espalharam pela Europa novamente o ato de se banhar.
No Brasil, os portugueses chegaram a se assustar com a limpeza dos índios que mergulhavam nos rios e mar até doze vezes ao dia; perceberam que eles eram muito mais saudáveis que os da Europa,e finalmente se renderam ao hábito dos nativos brasileiros.
Fonte: New York Times