Como mulher ou estrategista política, não houve ninguém como Cleópatra. Nariguda e feia ou não.
No ano passado, não se falou de outra coisa. A descoberta de uma moeda cuja cara exibia Cleópatra – feita pela Universidade de Newcastle na Inglaterra – arranhou a lenda de que a rainha egípcia seria um monumento de beleza. Nela, Cleópatra aparecia nariguda e com olhos protuberantes. Antes disso, outros já conjecturaram que ela raspava a cabeça completamente, devido às pragas de piolho que infestavam o Egito. Uma coisa, porém, é certa: a rainha foi genial na conjugação de sexo e política. Se ela de fato foi tão feia, a genialidade aumenta muito mais.
Cleópatra VII Téa Filopator (seu nome completo) não tinha sangue egípcio. Descendia de uma dinastia grega, a dos ptolomeus. Nascida em Alexandria em 69 a.C., foi coroada aos 18 anos, depois que seu pai (o rei) morreu. Alexandria então era uma das capitais mais cultas do Mediterrâneo, e Cleópatra, educada com os melhores professores da cidade, cedo aprendeu matemática, astronomia, filosofia, política e nove idiomas. A barra deve ter sido pesada para uma monarca vista como estrangeira pelos próprios súditos. Além disso, o Egito vivia um período turbulento, de crise financeira e corrupção. Cleópatra, porém, não se intimidava com essas coisas. Para manter o poder político nas mãos de sua família, casou com seus dois irmãos mais jovens – um hábito das famílias reais de então. É provável que eles não tivessem vida íntima em comum. O primeiro morreu, o outro ela envenenou, após uma disputa pelo poder. Na corte egípcia, Cleópatra não tinha amigos, mas sim interesses. A pessoa mais próxima a ela era o conselheiro, um eunuco. Cleópatra, depois, seduziu dois imperadores romanos, Júlio César, em 47 a.C., e Marco Antônio, em 41 a.C. O objetivo? Manter o Egito soberano. Sem sua diplomacia, feita na cama, era certa a anexação do país do rio Nilo pela Roma imperial. A estratégia pode ter dado certo, mas teve um preço. Em 44 a.C., Júlio César foi assassinado. Depois, em 30 a.C., Marco Antônio suicidou-se no Egito, deixando Roma à beira da guerra civil e desordem militar. Para não ser presa e executada pelos oficiais romanos, Cleópatra preferiu dar cabo de sua vida. Deixou-se picar, em seu quarto, por uma cobra. Uma naja, segundo versões. Não tinha ainda 40 anos de vida. Mas que vida.
"Eu era careca"
Morta antes de completar 40 anos, Cleópatra é a rainha mais famosa de todos os tempos. Nesta entrevista póstuma, ela só fala sobre coisas fúteis
História – Há quem diga que sua beleza é um mito. Como então conseguiu seduzir tantos homens?
Cleópatra – Não posso forçar ninguém a me achar linda, mas negar que sou muito interessante ninguém pode.
Interessante?
Sim, interessante – e inteligente. Aliás, conhecimento nunca é suficiente.
Como aprendeu a arte da sedução?
Eu não tinha mãe ou pai. A pessoa mais próxima era meu conselheiro. Mas não poderia perguntar a um eunuco como seduzir um homem.
E então...
Simples: ordenei que trouxessem até mim uma hetaíra, uma cortesã. Ela me deu boas demonstrações, que pus em prática no primeiro momento com César. Me senti pequena demais diante daquele homem. Com o tempo fui ficando mais segura. Consegui me soltar, tomar a iniciativa e dominar a situação na cama. Os homens adoram isso.
Algum segredo de beleza?
Os óleos deixam a pele macia e muito atraente. Com o sol forte do Egito, era preciso um cuidado especial. Eu recebia massagens com diversos óleos e tomava banhos de leite de jumenta.
Você sabe que a maquiagem se originou do kohl negro, que você usava para pintar os olhos?
Sim. Às vezes, eu usava o pó demalaquita, um kohl verde. Essa pintura deixava os olhos lindos e os protegia do excesso de claridade.
E para os cabelos, algum segredo?
Que cabelo? O piolho foi uma praga do deus hebreu e tivemos de depilar todo o corpo para não propagar a desgraça. Chegamos a usar cera de abelha no alto da cabeça para espantar as moscas, outra praga divina. Eu era careca.
Mas a sua franja foi eternizada por Elizabeth Taylor no filme Cleópatra...Mas era filme. Ouvi dizer que essa atriz só usou o que quis durante as filmagens. Foi tratada como rainha.
Fonte: Aventuras na História