18.11.13

HISTÓRIA DE SANTA CATARINA




Expedições Exploratórias

A revelação do Litoral catarinense foi feita pelas primeiras expedições exploradoras do Brasil. Em 1515 Juan Dias de Solis passou em direção ao Prata. Onze náufragos dessa expedição foram bem recebidos pelos índios carijós e iniciaram com eles uma intensa miscigenação. A esses aborígenes considerou-se "o melhor gentio desta costa", e " manso e propenso às coisas de Deus", segundo Anchieta.


Várias expedições se assinalam em Santa Catarina: D. Rodrigo de Acuña (1525), que deixa 17 tripulantes na Ilha, onde se fixaram voluntariamente; Sebastião Caboto (1526), que ali se abastece, segue para o Prata e retorna. Dele recebeu a Ilha, que antes era denominada dos Patos, o nome de Santa Catarina. Após Caboto, nela aportaram Diego Garcia e, muito mais tarde, em 1541, o adelantado Alvar Nuñez Cabeza de Vaca, sucessor de D. Pedro de Mendonza, fundador de Buenos Aires, que dali havia mandado, antes, a Santa Catarina, seu sobrinho Gonzalo de Mendonza, em busca de mantimentos e gente, auxílio este que permitiu aos espanhóis subirem o Rio Paraná e fundarem Assunção, em 1537. Para socorrer D. Pedro de Mendonza havia partido da Espanha, no mesmo ano, uma expedição comandada por Alonso Cabrera, da qual um dos navios arribou à Ilha de Santa Catarina, deixando nela missionários franciscanos (freis Bernardo de Armenta e Alonso Lebrón).

Mantendo sempre o propósito de tomar posse do Brasil Meridional, o governo espanhol nomeou Juan Sanabria governador do Paraguai, com a missão de colonizar o Rio da Prata e povoar também o porto de São Francisco, em Santa Catarina. Morrendo Juan Sanabria, foi substituído por seu filho Diogo. Alguns dos navios da expedição lograram chegar à Ilha de Santa Catarina, onde os espanhóis permaneceram dois anos. Divididos em dois grupos, um deles rumou para Assunção; o outro, chefiado pelo piloto-mor Hermando Trejo de Sanabria, estabeleceu-se em São Francisco, de onde, após as maiores privações e sempre sob a ameaça de ataques pelos silvícolas, seguiu para Assunção. Merecem revelo na passagem da expedição Sanabria a participação de Hans Staden, que legou interessante narrativa da viagem, e o nascimento, em São Francisco, de Herdinando Trejo de Sanabria, filho de Hernando, futuro bispo e fundador da Universidade de Córdoba, na República da Argentina. Ainda em 1572, Ortiz de Zarate, a caminho de Assunção, esteve sete meses em Santa Catarina, onde praticou incríveis e inúteis violências. Foi esta a última expedição espanhola à região.

Os portugueses, inicialmente, não demonstraram grande interesse pelo território catarinense, que pertencia a capitania de Santana cujo donatário era Pero Lopes de Souza, havendo numerosas bandeiras vicentistas (séc. XVII) mas apenas com o intuito de aprisionamento dos índios que viviam na região para escravizá-los. O contigente indígena (tupis - guaranis, chamados de carijós do litoral e o grupo Jê, os Xokleng e os Kaigang no interior) foi bastante reduzido graças a expedições como as de Manoel Preto, Antonio Raposo Tavares e Jerônimo Pedroso de Barros.

O choque entre Portugal e Espanha era fatal. O primeiro conflito foi o ataque à capitania de São Vicente, o qual deu pretexto aos portugueses para combater os carijós, aliados dos espanhóis, conduzindo-os escravizados àquela capitania. Só os jesuítas se ergueram em defesa dos índios, e Nóbrega conseguiu do Governador-Geral ordem de reconduzi-los livres a Santa Catarina. Nova guerra e novo esforço jesuítico, de que resultou a lei de liberdade dos índios, de 1595.

Povoamento Vicentista

Portugal, que já manifestara interesse em fundar uma colônia na margem esquerda do Rio da Prata, começa a encarar com muito interesse e cuidado a preservação da Ilha de Santa Catarina e avançam pacificamente. O gado, vindo de São Vicente, através dos campos, atinge o Paraguai. A notícia de minas atrai diversas levas vicentista. Em 1642 ergue-se uma capela em São Francisco que em 1660 já passa a vila. Em 1637 é o grande patriarca Francisco Dias Velho que se fixa com filhos criados e escravos na Ilha de Santa Catarina, fundando a ermida de Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis), nome da futura povoação. O mesmo faz em Laguna em 1676, Domingos de Brito Peixoto. A fundação da colônia de Sacramento em 1680 realça a importância dos núcleos catarinense. Apesar dos ataques de piratas, já existe, em 1695, comércio regular entre Paranaguá, São Francisco e Itajaí, expandindo-se os lagunenses até a colônia do Sacramento.

Capitania Real de Santa Catarina

Desmembrada de São Paulo, a nova capitania cuja capital é o povoado de Nossa Senhora do Desterro - fundado pelo bandeirante paulista Francisco Dias Velho em 1673 -, nasce com o objetivo de ser uma base de apoio aos enfrentamentos militares com os espanhóis. Esses viam Sacramento como uma ameaça ao monopólio sobre a boca do rio do Prata, que funcionava como uma porta de extrema importância para mais da metade de suas colônias da América do Sul.

A criação da capitania que tem administração própria e um comandante militar que também atua como governador diretamente subordinado aos vice-reis do Brasil, coloca em cena o Brigadeiro José da Silva Paes, escolhido para ser seu primeiro governante.

Santa Catarina passa a ser, oficialmente, a partir de 1739, o posto mais avançado da soberania portuguesa na América do Sul.

Fortificação da Ilha de Santa Catarina

Alertado sobre a importância estratégica da Ilha de Santa Catarina, situada entre o Rio de Janeiro e a fronteira portenha, pelo general Gomes Freire de Andrade, D. João V, rei de Portugal, em 1738 incumbiu Silva Paes de fortificar os pontos estratégicos da Ilha.

Sob a orientação de Silva Paes, e seguindo seus próprios planos, teve início a construção das primeiras fortalezas da Ilha. Planejou um sistema de fortificações permanentes que, apesar dos bons objetivos e da monumentalidade, não teve o utilitarismo necessário à boa defesa das entradas das barras do Norte e do Sul da Ilha. Entretanto, historicamente o sistema acabou se constituindo no maior conjunto arquitetônico militar do sul do Brasil.

Para a entrada de Barra Norte, por exemplo, implantou um sistema de triangulação formado por três fortalezas, duas situadas nas ilhotas de Anhatomirim e Ratones e a terceira na Ponta Grossa (atual Praia do Forte), na Ilha de Santa Catarina. Foram denominadas respectivamente, de Santa Cruz, Santo Antônio e Ponta Grossa. Outras fortificações foram construídas posteriormente, sem contudo fechar-se o perímetro da Ilha.

Apesar da excelente situação estratégica dessas obras o material bélico existente em cada uma delas estava aquém das necessidades. Haveria também a necessidade de tropas para guarnecer estas fortalezas e criou-se um batalhão, mais tarde transformado em regimento - o Regimento de Infantaria da Ilha de Santa Catarina - e, ainda, dada a fraca densidade populacional da região, haveria necessidade de braços para prover o sustento, produzindo alimentos, bem como para preencher os claros na tropa: daí a proposta do povoamento açoriano.

Colonização Açoriana

A sede de colonos na nova capitania coincide com a crise de superpopulação nos Açores e Madeira. Há um movimento espontâneo de vinda para o Brasil. Resolve então o Conselho Ultramarino realizar a maior migração sistemática de nossa história. Em várias viagens foram transportados cerca de 4.500 colonos. Deu-lhes boa acolhida o Governador Manuel Escudeiro, sucessor do Brigadeiro Paes. Mas nem todas as promessas da administração colonial podiam ser cumpridas, por falta de recursos. Além disso, nem todos os imigrantes, entre os quais muitos nobres, estavam dispostos a dedicar-se à agricultura ou aos ofícios mecânicos, em obediência às ordens régias, que tinham o propósito de evitar a entrada de escravos.

Outro problema era o da localização. Recomendava a Metrópole que os colonos não se concentrassem na Ilha, mas formassem, também, núcleos no litoral, sob normas urbanísticas, insistindo ainda que casais se encaminhassem para o Rio Grande do Sul. Essas determinações que, apesar das dificuldades, foram sendo cumpridas, levaram a migração açoriana até o extremo sul do país, implantando as características do seu tronco racial: fortaleza de ânimo, simplicidade e vivacidade. E aos seus descendentes transmitiram modismos, hábitos, linguagem, que ainda neles se notam, principalmente na Ilha de Santa Catarina e no litoral que vai até o Rio Grande do Sul.

Radicados os casais na Ilha e no litoral, foram tentadas várias culturas agrícolas: o trigo, sem êxito devido a "ferrugem" que o atacava; o linho e o cânhamo, com relativo aproveitamento, e o algodão, cujo cultivo a Metrópole forçava, sob penalidades severas. Mas na realidade, a cultura que prevaleceu foi a da mandioca, que os colonos aprenderam no novo continente e dela conseguiram safras promissoras, permitindo até a sua exportação. Houve no séc. XVII a criação da cochonila, mas que desapareceu n o séc. XIX, por falta de incentivo.

Invasão Espanhola

Em 1777, o governador de Buenos Aires, D. Pedro de Cebalos, desembarcou suas forças invasoras na enseada de Canasvieiras sem que as fortalezas disparassem um só tiro de canhão. A tomada da ilha foi tranqüila, até hoje é difícil compreender com não houve resistência de uma força de quase 2.000 homens, dos quais faziam parte tropas do Reino, do Rio de Janeiro e contigentes locais. Só em julho de 1778, em virtude do Tratado de Santo Ildefonso, obtido pelos estadistas do governo de D. Maria I, foi a Ilha restituída. Mas ficara completamente arrasada. O próprio hospital estava destruído, desde os alicerces.

Entre o novo governador, Veiga Cabral da Câmara, e o vice-rei, Marquês de Lavradio, foi decidida, após troca de importante correspondência, a distribuição de casais pelo litoral, estabelecidos em lotes que lhes permitissem a manutenção, evitando-se, assim, a sua concentração na Ilha, onde empobreciam. O último governador da capitania foi Tomás Joaquim Pereira Valente, depois general e Conde do Rio Pardo.

Brasil Independente

Proclamada a Independência, aderiu Santa Catarina, já com o título de Província, ao movimento constitucional, elegendo seu representante às Cortes de Lisboa o Padre Lourenço Rodrigues de Andrade, que assinou a Constituição do Reino Unido em 1822. Em seguida cooperou a Província com as demais no movimento da Independência, elegendo deputado à Constituinte brasileira, em 1823, Diogo Duarte Silva. Em decorrência da Carta Imperial de 1824 passou a ser governada por presidentes nomeados pelo poder central. Logo após a aceitação dessa Carta, instalou-se o Conselho Provincial e, até 1889, foram 39 os que ocuparam o Executivo. Em 1834 o Ato Adicional transformou o Conselho em Assembléia Provincial, com poderes muito mais amplos.

Colonização Européia

Foi no final do Primeiro Reinado que se iniciou um grande movimento de colonização em todo o país. A província de Santa Catarina foi um dos setores em que ele produziu resultados mais promissores, quer o de iniciativa oficial, quer o particular. Do primeiro tipo foram: São Pedro de Alcântara, de alemães (1829); Itajaí, de nacionalidades diversas (1836); Piedade, de alemães (1847); Santa Tereza (1854), com soldados agricultores, destinada a ligação entre Lages e a capital; Teresópolis, de alemães (1860); Brusque, idem (1860); Angelina, de diversas nacionalidades (1862); Azambuja, de italianos (1877); Luís Alves, de diversas nacionalidades (1877).

De iniciativa particular foram: Nova Itália, de italianos (1836); Flor da Silva, com elementos mistos (1844); Blumenau, com alemães (1850); D. Francisca, com alemães (1851), que deu origem à cidade de Joinville; Leopoldina, com nacionais, belgas, e alemães (1853); Príncipe D. Pedro, com irlandeses e americanos (1860); o Grão-Pará, com italianos, espanhóis, russos, polacos, franceses, ingleses e holandeses (1882).

Referência especial merece a colônia de Saí (1842), tentativa malograda de concretização das idéias comunistas de Fourier, na Baia da Babitonga. Desse núcleos surgiram outros, e o território ficou coberto por uma rede de colônias, no seio das quais foram surgindo cidades, vilas e povoados.

Revolução Federalista

Os fuzilamentos do Forte de Anhatomirin, aconteceram porque o estilo despótico e centralizador de Floriano Peixoto encontrou resistências no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná. Setores da Marinha Brasileira, comandados pelo almirante Custodio José de Mello insurgiram-se na Baia da Guanabara e mandaram para o Sul três navio: o cruzador "República", o "Palas" e o "Marcílio Dias". No dia 25 de setembro de 1893, liderados pelo capitão de mar-e-guerra Guilherme de Lorena, aportaram em Desterro, que unidos ao Exército Federalista Gaúcho, foram aclamados pela população local, e declararam a independência da Região Sul, sendo Desterro a sua capital. A nova Republica capitulou em 14/04/1894, quando após diversas batalhas os "legalistas" que Floriano arregimentou em outros estados, e que eram comandados pelo Coronel Moreira Cesar, em virtude de sua grande superioridade numérica e bélica, tomaram a cidade. Na seqüência a cidade foi palco de cenas de violenta repressão, com torturas e prisões arbitrárias que atingiu a população civil.

No dia 25/04/1894, o capitão Guilherme de Lorena, o barão de Batovi e seu filho, o desembargador Francisco Vieira Caldas, o coronel Luiz Gomes Caldeira de Andrade, o juiz Joaquim Lopes de Oliveira, os capitães José Evangelista Leal, José Bittencourt, e Romualdo de Barros, e mais 179 personalidades políticas, lideranças estudantis e expoentes da intelectualidade foram sumariamente fuzilados na fortificação da Ilha de Anhatomirin, sem qualquer julgamento ou direito de defesa, por ordem expressa de Floriano Peixoto, cumprida a risca pelo tristemente famoso Moreira Cesar. Logo a seguir, mudou-se o nome da cidade passando a chamar-se "Florianópolis", em "homenagem" a quem trucidou seus filhos.

Para resgatar esta vexação, o Movimento 100 Anos de Humilhação, juntamente com o Centro Acadêmico de História, promoveu um júri simulado, que foi realizado no auditório da UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina. O júri foi presidido pelo advogado e presidente do Instituto dos Advogados de Santa Catarina, Carlos Silveira Lenzi. Foi montada uma banca de acusação e outra de defesa. Foram chamados a depor os participantes da "Novembrada", fato que ocorreu em 1970, quando o então presidente João Batista de Figueiredo foi escorraçado da Ilha por tentar descarregar uma placa em homenagem a Floriano Peixoto. Uma das testemunhas ouvidas, o poeta Cláudio Alvim Barbosa, afirmou em depoimento contundente, que "Florianópolis não é um nome, é um palavrão", e que o hino oficial da cidade (Rancho de Amor a Ilha), não cita nenhuma vez o atual nome da cidade.

A defesa tentou isentar Floriano Peixoto, imputando a culpa da violência praticada contra a população, a Moreira Cesar, que era violento e sanguinário por natureza. Argumentou ainda que Floriano não havia autorizado as execuções. Foram apresentados documentos históricos, relatos de escritores da época para descrever o comportamento truculento do coronel intervencionista. De nada adiantou a defesa para manter o nome Florianópolis, pois Floriano Peixoto foi condenado por este júri simulado, por seus atos de violência contra a cidade, não sendo justa a homenagem que lhe foi prestada.

Espera-se, agora, que a sensibilidade de nossa classe política, a quem esta afeta a responsabilidade legal de denominar nossos logradouros e cidades, resgate esta vexatória homenagem, sepultando e substituindo definitivamente o atual nome da capital catarinense. A medida impõe-se, não apenas para retificar o erro histórico e resgatar nosso ferido orgulho, mas porque os homenageados deveriam ser os que tiveram suas vidas imoladas em defesa da liberdade e da autonomia, e não o que ordenou seus assassinatos.

Fonte: http://pampasturismo.com.br/terrasdosul/historiasc.htm