Após ter submetido à fogo e sangue a Ásia Menor, a Grécia e o Levante, esses povos, que passaram à posteridade sob o nome de "Povos do Ma", chegam as portas do Egito. O perigo e considerável: os invasores já destruíram a capital dos hititas e varreram seu império. Devastaram a Cilicia (a sudeste da Turquia atual), assolaram Creta e Chipre, pilharam e incendiaram as cidades do Levante. E foram engrossados por numerosas populações atraídas pelas riquezas das regiões circunvizinhas, Em 1189, a coalizão se apodera do estado de Amurru, na costa síria, e nele estabelece provisoriamente seu acampamento. Os refugiados afluem para o Egito, portadores de notícias alarmantes. Avançando rapidamente, os invasores logo cruzam a fronteira entre o extinto Império hitita e o Império Egípcio, fronteira que havia sido definida pelo tratado de paz assinado após a batalha de Kadesh. As guarnições egípcias resistem. No mesmo momento, navios inimigos dirigem-se para o delta do Nilo.
Uma reação enérgica
Consciente da gravidade da situação, Ramsés III prepara-se rapidamente para o enfrentamento. Reforça a fronteira terrestre entre o Egito e a Palestina com o envio de tropas, aferrolhando a costa mediterrânea e a foz do Nilo, graças à instalação de uma linha de defesa de navios. A seguir, em Pi-Ramsés, sua capital, situada no noroeste do Delta, convoca os responsáveis do governo e seu estado-maior para planejar a batalha e dar suas ordens. A administração egípcia, hierarquizada e disciplinada, mostra então aquilo de que é capaz.
As diretivas reais são executadas imediatamente e as unidades, convocadas para o arsenal real, desfilam em ordem para receber suas armas: arcos, Flechas e aljavas espadas e dardos, capacetes, escudos e couraças. A conta do material é cuidadosamente controlada pelos escribas. Paradoxalmente, entre os soldados figuram Shardanes, que pertencem aos Povos do Mar. Mas faz pelo menos três séculos que os homens desse povo se alistam no exército egípcio como mercenários: esses combatentes de elite, de resto, mostraram sua eficiência na batalha de Kadesh. Sem esperar mais, Ramsés III assume o comando do exército e marcha para a Palestina. Torna-se cada vez mais urgente aumentar as tropas que se esforçam em conter a pressão dos invasores.
A batalha terrestre
Ramsés III chegou à Judéia, entre as cidades de Gezer e Lakish, numa região de colinas, quando surpreende um comboio dos Povos do Mar. Os carros de combate, conduzidos por guerreiros armados com longas espadas e dardos e protegidos por couraças e escudos redondos, precedem pesados carros de rodas maciças, puxados por bois. Esses veículos transportam as mulheres, as crianças e as posses dos imigrantes.
A coluna forma provavelmente a vanguarda dos invasores, a caminho do Egito. Aproveitando sua vantagem, O exército de Ramsés III ataca o comboio por trás e o cerca. O adversário, surpreendido, sofre grandes baixas. Os sobreviventes são capturados. A vitória é completa, mas não garante ainda a segurança do Egito.
A batalha naval
De fato, a ameaça doravante vem do mar. Os invasores, amontoados em navios, tentam desembarcar na costa da Palestina, em Gaza, não muito longe do Egito. Mas o faraó reage prontamente de novo. Enquanto os inimigos manobram para desembarcar os combatentes na praia, a frota de Ramsés III, propelida por remadores, passa ao ataque. Cerca os barcos e os bombardeia com intenso arremesso de flechas e outros projéteis. A resistência dos Povos do Mar enfraquece. Alguns navios encalham, outros afundam, enquanto os egípcios se lançam à abordagem. Os atacantes que põem pés em terra são esperados por Ramsés III e seus arqueiros. Dispostas em fileiras cerradas, as tropas egípcias formam uma muralha intransponível. Para muitos invasores, a aventura termina aqui. Não há mais como contar os corpos que flutuam no mar ou que estão estendidos na praia. Os prisioneiros são inumeráveis.
Dessa vez, o rei triunfou definitivamente sobre os Povos do Mar. Por sua coragem e sue firmeza, evitou para o Egito o funesto destino que múltiplas cidades e estados do Oriente Médio conheceram. Mas o equilíbrio estabelecido na região pelos Impérios egípcio e Hitita é definitivamente terminado. A paz e a prosperidade desaparecem por longo tempo.
Referências Bibliográficas
AUDOIN-RUZEAU, Stéphane. As grandes batalhas da história: São Paulo, Larousse, 2009.